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terça-feira, 5 de novembro de 2013

2503 - Mancini e mancinetes



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4303                                 Data: 30 de outubro de 2013
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HENRY MANCINI NO RÁDIO MEMÓRIA

Após o “muitíssimo bom-dia” do titular do programa, ele anunciou a ausência do Sérgio Fortes e a justificou com os afazeres na Orquestra Sinfônica Brasileira e com o seu programa à uma da tarde na Rádio MEC aos domingos.
-Mas trago um convidado...
-Ainda bem que o Sérgio não veio, podemos falar mais. - disse o Simon Khouri, que dispensa apresentações.
-Simon Khouri tem entrevistas com inúmeros artistas da música popular brasileira e mais ainda com os do teatro e da televisão.
Em seguida, Jonas Vieira recomendou o livro “Bastidores”, do seu convidado, que retrata o trânsito dele pelo mundo artístico.
-Eu escrevi dois livros pela Civilização Brasileira, mas tenho ainda muitas fotos... desse tamanho...
-Simon, não estamos na televisão. - repreendeu-o o Jonas Vieira.
Certamente, ele mostrou o tamanho com os braços, ou outra parte do corpo humano, mas aos ouvintes só chega dele a voz, menos rouca do que da última vez.
-Jonas Vieira escreveu o prefácio.
-Não venha puxar o meu saco.
Vieram-me logo à mente as palavras do Sérgio Fortes sobre a amizade de cinquenta anos dos dois, entremeados por tantas brigas.
Simon Khouri, muito amigo do ator Cláudio Cavalcanti, recentemente falecido, aproveitou o programa e tratou de homenageá-lo e engrandecê-lo, como merecia.
-Cláudio adorava cinema, via tudo quanto era filme e de todos os países. Um dia perguntei a ele sobre o compositor de trilhas sonoras de sua predileção; ele citou inúmeros, mas destacou Henry Mancini.
E ficou estabelecido que o grande músico, para o gáudio dos ouvintes, seria ouvido naquela hora tanto como compositor como arranjador.
-”O Henry Mancini dizia que o brasileiro tem o que há de mais importante e, no entanto, copia o que não presta lá de fora.”
E o Simon Khouri completou citando funk e rap.
Jonas Vieira também criticou o mau gosto que graça pelo Brasil, e a palavra voltou para o convidado.
-Claudinho gostava muito de Lujon.
E o exuberante talento do Henry Mancini como compositor e arranjador se fez ouvir nessa peça musical.
-Que maravilha! Henry Mancini é sobrenatural. É a reencarnação de um gênio.
Houve considerações sobre espiritualidade, sérias pelo lado do Jonas Vieira, descontraídas, pelo lado do Simon Khouri, até que o titular do programa cortou para perguntar qual a pergunta “terrível” que ele fizera ao Cláudio Cavalcanti:
-Claudinho, você já foi corno?
Jonas Vieira aproveitou o gancho e leu trechos do livro, que não era o “Otello”, e sim “Bastidores”, sobre traições conjugais.
-Claudinho era louco por jazz. Gostava muito de o Henry Mancini expor o tema e dar oportunidade aos músicos de executarem os seus solos, que eram curtos. Ouçam o que ele fez com essa composição de Duke Ellington.
Ouvimos, e o Jonas Vieira verbalizou o nosso encantamento:
-Quanta beleza!
E enalteceu a qualidade incomparável dos músicos norte-americanos, afirmando que nós não temos os arranjadores do grande país do norte.
-Se o Pixinguinha e o Ernesto Nazaré tivessem nascido lá. - especulou o Simon Khouri.
Sem a menor dúvida, seriam mundialmente conhecidos, só isso, a nosso ver.  E lembramos Radamés Gnatalli que, caso vivesse nos Estados Unidos, não faria arranjos de mais de mil músicas, não teria essa trabalheira, porque no Brasil se contam nos dedos os números de arranjadores.
Simon Khouri tratava agora dos problemas de saúde do Cláudio Cavalcanti que desconhecíamos e que o elevaram expressivamente no nosso conceito.
-Cláudio Cavalcanti era glabro, não tinha um pelo no corpo.  Outro problema, que meu pai também tinha: se tomasse remédio para o paladar, não dormia. Ele dizia que era o estigma da sua vida; sentia a textura dos alimentos, mas não o gosto.
Jonas Vieira aludiu aos obstáculos que ele, como ator, enfrentou, enquanto Simon Khouri lembrou aqueles que, saudáveis, ainda se queixam da vida.
Para descontrair, Jonas Vieira leu trechos dos “Bastidores” que trata do relacionamento do Claudio Cavalcanti com o Fábio Sabag, ator e, posteriormente, diretor.
E a vez voltou para o convidado:
-Os americanos, às vezes, devem muito ao Brasil. Ouçam o que Henry Mancini fez com o ritmo de uma música brasileira. Atentem para o vocal. 
Depois da audição musical e dos louvores, Jonas Vieira informou que, daqui a pouco, se falaria da Tonia Carrero.
A vontade dos ouvintes saberem de fatos da vida da grande atriz, pelo menos a minha, cresceu exponencialmente quando o titular do programa enveredou para uma notícia recente ocorrida em São Paulo: o resgate dos cães da raça beagle.
-Vão abanar o vento. - criticou os que invadiram o Laboratório Royal.
Logo depois da Pausa para Espinafração, entrou a Pausa para Meditação, crônica do Fernando Milfond sobre a emoção de ouvir música.
-A música é a arte maior e não há invenção igual a da orquestra. - foi o acréscimo que o Jonas Vieira fez aos dizeres do cronista.
E o Simon Khouri transferiu sua atenção do Claudio Cavalcanti para a Tonia Carrero.
-Pena que ela anda meio ausente.
E narrou o seu drama: ao pegar uma garrafa de vinho na adega, caiu e bateu com a cabeça, como consequência, é submetida, eventualmente, a drenagens de água do cérebro.
Retornando à sua costumeira alegria, falou da discussão dos dois que envolveu até aposta: Cabul era capital do Nepal ou do Afeganistão, e Catmandu?... era capital de qual dos dois países.
E, acima dos desentendimentos geográficos, entraram “Os Girassóis da Rússia” de Henry Mancini, que não são tão valorizados quanto os de Van Gogh, mas encantam.
Em seguida, Simon Khouri anunciou Moon River, antes, informou que o produtor do filme “Bonequinha de Luxo” não gostou dessa canção e pediu a Henry Mancini outra música.
Exacerbada a nossa curiosidade, Simon Khouri prosseguiu:
-Henry Mancini foi até Audrey Hepburn e lhe comunicou o desagrado do tal diretor com Moon River. A atriz, ameaçando sair do filme, defendeu a criação de Henry Mancini, cantada por ela no filme, que receberia o Oscar de melhor música.
E entrou no áudio Moon River no ritmo de cha-cha-cha.
O programa seguiu com o titular do programa falando de futebol, mais precisamente do Flamengo.
Se rememorasse, ao menos, “O Mundo da Bola”, de Antônio Cordeiro.
-Jonas, estamos na Roquette Pinto. - alertou-o o seu amigo de 50 anos.
Ainda bem que Henry Mancini não fez arranjo algum do hino do Flamengo. - pensei, aliviado.
 Restabelecida a normalidade, Simon Khouri se deteve nas opiniões da Fernanda Montenegro. Ela gostou do filme, sem superlativos, elogiou o trabalho da Ingrid Bergman, mas se comoveu mesmo com “As times goes  by”.
E seguiram mais duas músicas, uma criada, outra com arranjo do músico homenageado: uma, do filme “A Vingança da Pantera Cor de Rosa”, a outra, do “Cinema Paradiso”. Esta com a melodia do Ennio Morricone embelezada pelo piano do Henry Mancini.
A Rádio Memória se encerrou com o Simão Khouri prometendo trazer depoimentos do ator Jorge Dória.
-É de morrer de rir. - garantiu. 

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