O BISCOITO MOLHADO
Edição 5358 FM
Data: 22 de Março de 2018
FUNDADOR: CARLOS EDUARDO
NASCIMENTO - ANO: XXXV
São
várias as Vênus da História, uma delas tão famosa como as outras, pintada por
Sandro Botticelli - artista florentino, de talento excepcional, 1445-1510),
tornou-se um dos pintores mais disputados do seu tempo. Por volta de 1485, a
obra foi realizada, sob encomenda de Lorenzo di Pierfrancesco de Médici. Seu
destino, enfeitar sua residência, um belo e imenso palácio, numa sala em que o
quadro esteve pendurado numa parede, entre centenas de outros famosos. Teria
sido feita em homenagem ao amor de Juliano de Médici por Simoneta Vespúcio. No
clássico de quase três metros de comprimento por quase
dois metros de altura a Vênus nua emerge das águas do mar numa concha, sendo
soprada por Zéfiro), o deus Vento Oeste,
símbolo das paixões espirituais, cujo sopro significaria o início da
Primavera (acompanhado pela ninfa Clóris). Alguns especialistas argumentam que
a deusa não representaria a paixão terrena, carnal, e sim a paixão espiritual.
No quadro aparecem outros deuses menores e Haras, uma das quatro deusas das estações, que conduz um
manto bordado de flores, para cobrir Vênus.
O efeito
causado foi de paganismo, já que foi pintado numa época em que a maioria da produção artística se atinha
a temas católicos. Surpreende que tenha escapado das fogueiras que consumiram
muitas outras obras do autor, tidas como de “influências pagãs.” A anatomia da
Vênus, em vários detalhes, não revela o estrito realismo clássico da obra de da
Vinci ou Rafael. O pescoço é longo demais, os pés, de dedos finos e longos, com
o peito volumoso, não muito bem posicionados na concha (na antiguidade, a
concha marinha era uma metáfora para a vagina) de onde saíra do mar. Os detalhes,
contudo, não tiram o encanto da obra, tida como “licença artística”, sugerindo
presságios do vindouro Maneirismo. Essa história medieval está ligada à lenda
que diz que Urano, o primeiro deus do Universo, encarnava o impulso
fecundante primário da
natureza, personificava o céu e
era, ao mesmo tempo, filho e marido de Geia, deusa nascida imediatamente depois
do Caos original.
Dessa
união, das gotas de sangue que caíram dos testículos extirpados de Urano,
nasceram cerca de 45 deuses e semideuses, entre eles Cronos, os Titãs e
Afrodite. Preocupado com tamanha fertilidade, Urano passou a enterrar os filhos
recém-nascidos, no corpo de Geia. Esta, inconformada, pediu que os filhos a
vingassem, porém somente Cronos a atendeu. Orientado pela mãe, ele surpreendeu
o pai e o castrou, no momento em que ele se unia à esposa. Os testículos
decepados de Urano foram atirados ao mar, flutuando sobre as ondas que
quebravam ,na praia, criando
espumas, que formaram Afrodite (Vênus), a deusa do amor. Urano continuou
a deitar-se todas as noites sobre a Terra, sem poder fecunda-la. Encheu-se ele
de mágoa pela mutilação sofrida e morreu, sendo substituído por Cronos no
governo do mundo. De todas as Vênus da História e da Mitologia, nenhuma outra
teve tanta fama como a Vênus de Milo – uma estátua de mármore branco, sem braços, cuja origem é cheia
de mistérios. Foi descoberta em 1820, na ilha de Milo, no mar Egeu. Sobre sua
descoberta há controvérsias, dizendo-se ter sido encontrada pelo camponês
Yorgos Kentrota, que procurava pedras para construir um muro em torno do seu
campo. Removendo entulhos de uma capela soterrada, foram encontradas várias
partes da estátua. Pretendia dá-la de presente a um potentado turco.
Na
oportunidade, entrou nas negociações o embaixador francês Charles Riffardeau,
que adquiriu a obra, levando-a às escondidas para Constantinopla, de lá para a
França e oferecida ao rei Louis XVIII, que a doou ao Museu do Louvre.
Se pensarmos no absurdo da presença do homem na terra, sem conhecer de si mesmo, de onde veio, para que, e para onde vai, poderemos chegar a conclusão de que, sem suas belíssimas muletas metafísicas, talvez não tivéssemos chegado até aqui.
ResponderExcluirSempre em luta com seus instintos mais primários o homem cria filosofias, religiões e deuses na tentativa de explicá-los e com isto cria a própria Beleza.