Total de visualizações de página

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

3076 - FM No Nordeste da Europa...



O  BISCOITO  MOLHADO
Edição 5336 FM                           Data: 10 de novembro de 2017

FUNDADOR: CARLOS EDUARDO NASCIMENTO - ANO: XXXV

 A REVOLUÇÃO RUSSA – 100 ANOS


Há 100 anos, Lenin (47 anos), vindo da Suíça, onde estivera exilado por 12 anos, desembarcava na Estação Finlândia, em Petrogrado (São Petersburgo), depois de uma viagem de trem de oito dias, durante a qual estruturava a tese de que a revolução deveria ser violenta, dirigida por um grupo de vanguarda, com base na tese de Karl Marx de que a luta de classe era o motor da História. Foi um abalo na História, que teria muito a contar. 
   No começo do século XX, a Rússia era um país de economia atrasada, dependente da agricultura, com cerca de 80% da produção concentrada no campo. Faltavam alimentos, o emprego era escasso, o caos dominava. Os trabalhadores rurais viviam em extrema miséria, enquanto o czar Nicolau II governava de forma absolutista. Em 1905, ele manda reprimir com extrema violência manifestações populares, no dia 9 de janeiro, que faziam marcha pacífica até ao Palácio Imperial, de São Petersburgo, com a presença do padre George Gaspon, que colaborou com um membro da Polícia Secreta do czar, para destruir organizações de trabalhadores, quando foram contidos, no que ficou conhecido como Domingo Sangrento. O exército fuzila milhares de manifestantes, inclusive os marinheiros do encouraçado Potemkin. Para agravar, Nicolau II leva o país a entrar na guerra mundial, cujos gastos excessivos fizeram aumentar a insatisfação popular. As greves dos trabalhadores urbanos e rurais espalharam-se por todo o país.
   O mundo estava mergulhado na guerra (1914-18), quando ocorreu a rápida derrocada de um dos impérios mais antigos da Europa: a Dinastia dos Romanov, que governava a Rússia  há mais de 300 anos. O Czar Nicolau II (o verdadeiro Deus na Terra) foi morto com toda a sua família. Instaurava-se o caos no país, onde havia fome e miséria entre a  população. Kerensky, (Menchevique – minoria)  assume como governo provisório.
  Logo seguiu-se outra revolução, em outubro, que transformaria o mundo, dividindo-o irremediavelmente em duas partes antagônicas. Ocorria a primeira utopia socialista dos tempos modernos. Milhões de pessoas, em dezenas de países, passaram a ser governadas pelos comunistas, até que, setenta anos depois, com a retirada de alguns tijolos do Muro de Berlim, o poderoso sistema implodia, pressionado por suas próprias condições sociais e políticas. O fato  estarreceu mais uma vez todo o mundo, ao ter a surpreendente revelação de que o mito socialista chegara ao fim.
O começo:  A guerra entre a Rússia e o Japão, em 1904, o primeiro grande  conflito do século XX, pôs à mostra a fragilidade do Império, que foi derrotado por uma potência emergente. Um ano depois, ocorre violenta repressão a uma marcha pacífica, que se transformou numa insurreição. Em 1914, as contradições políticas, econômicas e sociais, sucessivas derrotas, seguidas de grandes baixas, causaram fome e descontentamentos, levando o país à beira de um colapso, que culminaria com a derrubada da monarquia. Os bolcheviques (maioria) assumem o poder quando Lenin retorna do exílio com 29 companheiros banidos do país, para ser o líder de um Revolução que seria a verdadeira transformação política e social em todo o mundo. Após anos de violenta guerra, com milhões de mortos, os bolcheviques vencem e criam a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
A Revolução Russa, a despeito das sucessivas crises, dos milhões de assassinatos ao tempo da ditadura Stalin, é tida como o acontecimento sócio-político mais importante do século XX, tanto em termos do que realizou no Império, transformando, em poucas décadas, um país atrasado, de camponeses analfabetos, na segunda potência industrial e militar do mundo, embora o preço a pagar tenha sido cruel, no período marcado pelo projeto  que pregava a implantação  de um socialismo marxista, que se projetou mundo afora, transformando algumas nações, que se deixaram dominar pelas lideranças comunistas, rejeitadas pelas democracia ocidentais. e pelos regimes nazifascistas. A despeito do que foi feito, muito deixou de realizar.    
A liberação do processo alienante decorrente do modo de produção capitalista, levaria a classe trabalhadora ao paraíso, criaria um mundo de liberdade, igualdade e plena realização dos potencialidades humanas. Essas ideias perduraram por 70 anos, sendo adotadas por várias nações, entre as quais China, Coreia do Norte  e Cuba. Exaltem-se os grandes feitos, como o primeiro voo espacial, pelo astronauta Gagarin, os grandes progressos científicos, os altos níveis de educação, os poderosos armamentos militares, com a fabricação de mais de 7.200 ogivas nucleares, o maior poderio de destruição do mundo.
     Para muitos, visava tomar o poder, sem levar em conta o caos social que reinava em toda a Rússia. Outros, entretanto sonham secretamente com a volta ao passado. Ainda existe o Partido Comunista, na oposição, que detém uns 17% do eleitorado, que serve para legitimar a ideia de um sistema democrático, com vistas a eleições que se realizarão em 2018.
 Há muito a contar. O processo de transformação da Rússia não terminou, embora a grande potência econômica e militar tenha tido sua influência diminuída. A História ainda não teve fim.



Obs.:  As datas são de acordo com o Calendário Gregoriano. A revolução de fevereiro (Calendário Juliano), que derrubou o czar, ocorreu em março, enquanto a revolução de 25 de outubro, quando os bolcheviques tomaram o poder, comemora seu aniversário a 7 de novembro (C.G.)

2 comentários:

  1. Bom dia.
    Domingo lindo, clima ameno aqui no Rio de Janeiro.
    Como é libertador poder apreciar um texto isento de doutrinação, apenas pelo conhecimento, pelo valor histórico e literário contido nele.
    Lembro de uma piada muito antiga contada nas aulas de História.
    "Diante da pegunta, pelo professor, de quem mais matou comunistas desde o início da revolução russa?
    - O Partido Comunista, respondia o mesmo, e passava a relatar os nomes dos líderes depostos e mortos."
    Muito triste também a morte de Trotsky que me fez pensar ainda na na adolescência sobre a importância negativa de todas as doutrinações fundamentalistas.
    Belo texto!

    ResponderExcluir
  2. OBRIGADO, MAS SAIU COM UM ERRO DE DATA. DEPOIS DE 70 ANOS, VEM JANEIRO DE 1991, QUANDO O CERTO É 1986. JÁ PEDI AO EDITOR PARA CONSERTAR.

    ResponderExcluir