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terça-feira, 8 de março de 2016

3020 - Eleição de síndico



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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5269L                                Data: 08 de março de 2016

FUNDADOR: CARLOS EDUARDO NASCIMENTO - ANO: XXXIII

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VIDA LONGA AOS POLEMISTAS
 Desde que passei a ter raciocínio lógico e poder de conclusão, me manifesto diante das notícias dos jornais, dos registros da história e de tudo em que noto relevância. Principalmente, na condição de cidadão, por viver entre família e no âmbito profissional, aí então, correndo sérios riscos.
E, por ser assim, possuía o adjetivo de polêmico, carregado de conotação pejorativa. Isso, de fato, me irritava sobremaneira, e me fazia um impaciente controverso, mas sempre munido de argumentos, que julgava serem convincentes.
“- Por que não te calas?!...” – frase jogada em cima do finado Hugo Chaves, então Presidente da Venezuela, pelo Rei da Espanha, Juan Carlos, numa discussão entre líderes políticos.
 Neste caso, não discuto de quem é a razão, mas penso que ambos são autoritários, pelos cargos que detinham, e pequenos, pela ausência de recursos para um debate. Sendo assim, jamais seriam polemistas.
 Quando eu chorava, pelo exílio no colégio interno, apesar de criança, já polemizava, discordando daquela situação que me haviam imposto. E meu pranto era uma vitória, posto que os que lá me internaram, com lágrimas também lamentavam, quando iam me visitar.
 Acho que alguns dos que me leem sabem que os saudosos Carlos e Vagner e mais o casal Claudio e Gina, eu e Daniel fundamos o “Sabadoido”. Era uma modestíssima versão satírica do famoso “Sabadoyle”, reunião esta que acontecia aos sábados, na casa do importante advogado e bibliófilo Plínio Doyle.
Nessa reunião, havia uma ata, as regras eram rígidas, determinando que não se podia discutir sobre política, futebol e religião, em nenhuma hipótese.
Lá, exceto os temas já mencionados, falava-se de tudo, com muito apuro. Predominavam os assuntos sobre o que de melhor havia na literatura, sendo que o poeta Carlos Drummond de Andrade era um participante assíduo desses encontros.
Em nossas reuniões, não. Valia tudo. Era uma confraria desregrada e mambembe, mas com uma hospitalidade constante, sempre regada a whisky, rum, batida de limão, cachaça e, para os abstêmios, coca-cola e água gelada.
Éramos todos polêmicos, no melhor sentido. Por sermos amigos de infância, havia o momento das recordações, o que era muito bom, porque “recordar é viver”.
Quando o assunto era cinema, virava aula. Claudio é um compêndio e Carlos não ficava atrás. Teatro, literatura, futebol, religião, nossas vidas e as vidas alheias estavam sempre em pauta. A polêmica se instalava e o pau comia. Depois, era tudo registrado, em forma de crônica, com muita propriedade, pelo Carlos.
A famigerada política nunca deixou de ser discutida e, por atravessarmos um dos piores e mais revoltos momentos da democracia brasileira, acabava não dando certo, terminando com as reuniões. Aí, eu concordava com Plinio Doyle – política não era um assunto para ali se discutir.
Tínhamos em mente um “Sabadoido” antológico – convidaríamos ilustres como: Elio Fischberg, Roberto Dieckmann, Sergio Fortes, Reinaldo Pinta e Borda. O Redator Carlos Eduardo iria reproduzir o evento, no mínimo em cinco partes. E eu juro, em falso, que ficaria caladinho, só ouvindo ...
Mas, infelizmente, não conseguimos polemizar com a morte.
Acho que a polêmica, se bem fundamentada, vem à luz. Eu sempre polemizei, nunca arrumei subterfúgios para evitá-la. Divergir, opor-se e controverter é salutar, quando se tem critérios éticos, mantendo a discussão em nível elevado, jamais querendo que suas ideias prevaleçam por caminhos que possam gerar hostilidade.
Lembro-me que ainda muito jovem, com uns dezoito anos, entrei em um debate com um senhor classificado como idoso, pois fazia questão de dizer que já passara dos sessenta.
Debatia-se sobre eutanásia, assunto que até hoje não está definido, pela complexidade que apresenta.
Em dado momento, concluímos que não tínhamos base suficiente para uma opinião definitiva. Foi então que o sexagenário, usando a prerrogativa de ser mais velho, reivindicava a razão para ele. Então, em defesa das minhas teses, incorretas como as dele, disse que diante do exposto, vencia eu, já que, sobre o tema, faltavam-nos mais conhecimentos, só que eu desconhecia há quase duas décadas e ele há mais de meio século ...
Que bom seria ver, nos plenários, nos tribunais e até nas malfadadas reuniões condominiais, polêmicas que resultassem em novas leis, que se adequassem à realidade atual, em detrimento das arcaicas e ineficazes, que estão se perpetuando.
Que a Justiça se encarregasse apenas de coisas que lhe dissessem respeito, desocupando magistrados de resolver banalidades.
E as polêmicas escolhas dos síndicos, guardadas as devidas proporções, tivessem semelhança com a eleição de um governador.

2 comentários:

  1. "Nossas vidas e as vidas alheias estavam sempre em pauta. A polêmica se instalava e o pau comia. Depois, era tudo registrado, em forma de crônica, com muita propriedade, pelo Carlos."

    Menos, Batista, menos! Sem querer polemizar com o polemista autor, até pode ser verdade que depois era tudo registrado pelo Carlos, mas só talvez em algum BC (Biscoito Confidencial). Na edição final do BM só era publicada mesmo uma pequena parte, pois se não o bairro iria virar um palco de guerra, tamanha as inconfidencias cachambianas alí (des)tratadas. Sem contar que o autor polemista embora nunca tenha entrado num confessionario, era confidentes de 99% das mulheres da rua (casadas & solteiras), mas esses segredos nem o BC tem registro, mas que ainda possam inspirar belas crônicas luca/rodrigonianas, do estilo "a vida como ela é", sem citar nomes, é claro, pois como disse o Nelson "- O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca"

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  2. "E eu juro, em falso, que ficaria caladinho, só ouvindo ...
    Mas, infelizmente, não conseguimos polemizar com a morte."

    "Eleição de síndico" a parte, esse polemista cronista está cada dia mais cada dia, cada vez mais, sem qualquer mácula de suspeição.

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