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segunda-feira, 24 de junho de 2024

3156 - E a Grande Guerra? (R)

O BISCOITO MOLHADO


Volume 2984                     Data: 16 de janeiro de 2008 


    A  BATALHA  DAS  TONINHAS


Confesso que eu nada sabia sobre a Batalha das Toninhas. Sobre a participação do Brasil, na Primeira Guerra Mundial, conhecia alguma coisa de leituras de obras do historiador Hélio Silva. Na escola, então, nada foi dito. Lembro-me de que estudei História do Brasil no primeiro ano ginasial, História das Américas no ano seguinte, e História Geral, nas terceira e quarta séries. Aprendi alguma coisa sobre gregos, romanos, fenícios e até mesmo sobre os caldeus, mas nada sobre a Primeira Guerra Mundial e, muito menos, sobre a Batalha das Toninhas.

Tive de me virar também, não nas páginas do Hélio Silva, para aprender sobre a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial, pois até existe um monumento aos mortos nessa guerra, em Coimbra. Chegara a Portugal um pedido da Inglaterra para que apreendesse todos os navios alemães que se encontravam nos seus portos. Os portugueses sabiam que isso significaria a sua entrada no conflito, mas necessitavam do reconhecimento das principais nações sobre os seus direitos coloniais na África, Moçambique e Angola.

Como país aliado, Portugal, que não se achava belicamente preparado, teve de enviar tropas para a batalha de La Lys, na França, e sofreu uma perda terrível em uma só batalha: 7 500 homens. O país ainda penou com um grande número de feridos e inválidos. 

Após o desastre, a representação portuguesa, em Flandres, ficou reduzida a menos de uma divisão, perdendo comando e autonomia próprios. Foram, então, os soldados portugueses integrados ao comando inglês, que os enviou para a retaguarda, com a função de cavar trincheiras.

Antes, em 5 de janeiro de 1917, o major e lente de Matemática, Sidônio Pais, encabeçara um sangrento golpe militar e estabelecera a ditadura em Portugal até 1918.

Voltando ao Brasil, soube - repito - de alguma coisa sobre a nossa participação na Primeira Guerra Mundial, através de páginas do historiador Hélio Silva, que escreveu parágrafos como este:

-“O Brasil não pensava em guerra. Surpreendido pelo grande acontecimento, acabou envolvido por ele, com seus navios torpedeados, suas linhas transatlânticas de navegação ameaçadas e seu povo sobressaltado, levado à solidariedade com a causa dos aliados. Por outro lado, a Tríplice Aliança, de Alemanha, Áustria-Hungria e Itália, também tinha ligações afetivas e interesses comerciais no Brasil. Havia súditos desses países irmanados no esforço criador de nossa riqueza. Não foi fácil ao governo brasileiro separar o joio do trigo. Combater a guerra interna e preparar-se para participar, dentro de nossas modestas possibilidades, da guerra externa. E o fizemos com honra.”

Com honra?!... Será que um historiador do porte de Hélio Silva não soube da Batalha das Toninhas? Bem, ele escreveu que o Brasil não estava preparado para a guerra e seu presidente, Wenceslau Brás, vindo de Itajubá, menos ainda. Concluiu o óbvio: “A trajetória de Itajubá ao Palácio do Catete não favorecia a formação de um estadista de nível internacional. E acerta quando diz que o Brasil sairia do conflito menos preparado do que quando nele entrara. Refere-se depois às “sabinas”, que foram os títulos de crédito público lançados no mercado, pelo governo federal, para conter a crise financeira. Explicar a razão do nome “sabinas” nos levaria a uma vendedora de laranjas que, impedida de trabalhar perto da Academia de Medicina, provocou uma passeata estudantil pró-República e que, mais tarde, inspiraria uma peça de teatro de Arthur de Azevedo e o nome dos tais bônus, que acabaram não sendo resgatados e que jogaram o governo Wenceslau Brás no descrédito total, depois da guerra.

E a Batalha das Toninhas?... 

Apareceu recentemente, na Internet, o vídeo de uma aula de cursinho, dada por um tal professor Carlão. Para a turma memorizar bem o fato histórico, o professor recorreu ao humorismo; nem precisava, aliás. Ele explica o que são as toninhas: “uma bosta assim... (faz, com uma das mãos, uma curva que representa o dorso do bicho) que parece um flipper largo”. 

Mas há necessidade de que se expliquem mais coisas, não  em uma aula de cursinho de vestibular, é claro.

Houve, antes da entrada do Brasil na guerra, divergências diversas, entre o governo brasileiro e o alemão, e isso levou o nosso país a criar o D.N.O.G. - Divisão Naval em Operações de Guerra. Também foi declarado estado de sítio nos Estados do sul, onde viviam incontáveis imigrantes estrangeiros. O Rio de Janeiro e São Paulo ficaram também sob estado de sítio, por causa de agitações operárias. 

A iniciativa de uma divisão naval tinha sido apresentada pelo Brasil à Conferência de Paris, no final de novembro de 1917, com a oferta de dois cruzadores leves (“Bahia” e “Rio Grande do Sul”) e de quatro contra-torpedeiros, para operar na área entre Dacar – São Vicente - Gibraltar.  Acatada a oferta brasileira, a divisão naval foi criada em 30 de janeiro de 1918, com os citados cruzadores e os contra-torpedeiros Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa Catarina, sob o comando de um  contra-almirante. 

O contra-almirante... como era mesmo o nome dele, pois também foi esquecido pelos historiadores?... ah, sim!, Pedro Max Fernando de Frontin, solicitou a cessão de um navio para servir de “tender” (navio oficina), e lhe designaram o “Belmonte” (antes alemão, chamado Valesia), armado como cruzador auxiliar.

O rebocador “Laurindo Pita” completava a Divisão Naval de Operações de Guerra que, assim, era composta de um efetivo total de 1502 homens, sendo 75 oficiais, 4 médicos, 50 oficiais de máquinas, 5 oficiais comissários (intendentes), um farmacêutico, um dentista, um capelão, um sub-maquinista, 41 sub-oficiais, 43 mecânicos, 4 auxiliares de fiel, 702 marinheiros, 481 foguistas, 89 taifeiros, 1 padeiro e 3 barbeiros.

Em Dacar, onde a Divisão chegou em 26 de agosto, recebeu ordens de operar na área de Cabo Verde, patrulhada, até então, por duas canhoneiras inglesas.

Após algum tempo, nossos navios receberam ordens para seguirem para Gibraltar. 

O professor Carlão enfatizou bem essa ordem, em sua aula que agora viaja pela Internet:

-Uma única missão: fiquem em Gibraltar. Só isso: cuidem do Estreito de Gibraltar.

Deflagra-se, então, a Batalha das Toninhas. Tudo começou quando um cardume de toninhas foi confundido com o rastro de um submarino alemão e seu periscópio. 

O cruzador Bahia, então, disparou os seus canhões contra as toninhas.

-Matamos todas as focas do Mediterrâneo! - bradou o Carlão.

-Se o Greenpeace existisse naquela época, nós estávamos fodidos. - prosseguiu.

-Os alemães, com medo que o Brasil fizesse com eles o que fizeram com as focas, assinaram a rendição. - afirmou o incansável professor.

Um fato, porém, não foi citado nessa aula e mostrou o que não se vê na grande maioria dos livros de História do Brasil: o contra-torpedeiro Piauí acionou seus canhões contra o caça-submarino 190, da marinha norte-americana, pois também foi confundido com um submarino alemão. 

Acredito que interessava igualmente aos americanos o fim da guerra, pois o Brasil poderia dizimar a sua Armada. Digo isto sem os exageros do professor Carlão, é claro.




 







2 comentários:

  1. Eu não sabia desta participação brasileira na primeira guerra mundial. Na Batalha das Toninhas um cardume de toninhas foi confundido com o rastro de um submarino alemão e seu periscópio.

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  2. Paulo Ricardo Gadelha Pinheiro14 de julho de 2024 às 15:32

    Interessante a matéria que fala sobre o despreparo das forças brasileiras na primeira guerra mundial .

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