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segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

3149 - Saindo

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O BISCOITO MOLHADO


Volume 1 Edição 1862                          Data: 25 de Junho de 2003 

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O DIA DE ONTEM


No dia 20 de abril de 1998, foi enterrado o Sérgio Mota e, no dia seguinte, morreu o Luís Eduardo Magalhães. Os humoristas dos jornais  recordo-me bem – queixaram-se aos céus:

- “Assim, não podemos trabalhar!...”

É mais ou menos isso o que ocorre por aqui, na ANTA. Pedem humor no Biscoito Molhado – “de séria já basta a vida, etc”  – mas como?... Abri o meu correio eletrônico às sete e meia da manhã e me deparei com a despedida do Dieckmann da ANTA. Sem nenhum Simão Cirineu para me ajudar a carregar a cruz dessa notícia, telefonei para o Rio Grande do Sul. Quando atenderam, estranhei, pois esperava  ouvir a Alba:

-“A Alba, por gentileza.”

Uma voz que ainda se espreguiçava, respondeu:

-“É ela.”

Percebi, então, que a Alba saindo dos braços de Morfeu é outra mulher, principalmente com outra voz. Dada a notícia, ela me perguntou se o Dieckmann não caiu pra cima. Que nada! A turma aqui, quando derruba, amarra antes um pedregulho de toneladas no nosso pescoço. Volto, então, ao sentido da nossa pergunta: como fazer humor assim? Digamos que o redator-chefe do Biscoito Molhado descarte de vez a hilariedade e descreva a ANTA como ela é. Caso eu assim proceda, dirão que plagio o poeta Dante no Canto XXIX da sua obra-prima, onde descreve a décima vala do oitavo círculo do Inferno.  Ah, sim: quem se acha na décima vala do oitavo círculo do Inferno? Os falsários. Vamos, então, de qualquer maneira.  

-“Cheiro de churrasco já?...”

E pensar que já as oito horas da manhã dos últimos dias nos queixávamos dos camelôs que colocavam os churrascos na brasa. O cheiro – agora sabemos – era da fritura do Dieckmann. Ontem, na sua sala, recolhendo os seus pertences em três malas e um baby-container, comentava:

-“Eu não ia mais a Brasília... Havia assuntos importantíssimos subordinados à minha gerência, em Brasília, e eu não era escalado para viajar.”

-“Mas o cheiro de fritura prossegue.” – farejamos.

-“Prossegue, mas não é mais para mim.” – declarou.

E, assim, se encontrava ele, na sua sala que, à primeira vista, nos pareceu uma barricada, tantas eram os seus colegas. Para distraí-lo, contei o que me acontecera às sete horas da manhã, e que não deixou de ser um mau presságio: o trinco do banheiro, que estava quebrado, trancou a  porta e me prendeu. Para eu escapar, tive de tirar os sapatos, apoiar o pé na privada, e escalar o espaço de uns setenta centímetros que uma divisória deixa até o teto.

-“Rapaz, e não saiu com merda no femural, não?” – indagou o Dieckmann.

-“Não.” – garanti.

Porém, Dieckmann que, como eu, pretende sair por cima, escalando a cabeça daqueles que o derrubaram, não escapará da merda no femural.

-“Qual o motivo da saída, Dieckmann?...”

Bem, o motivo era o fato de o Dieckmann, desde que apareceu no Departamento de Marinha Mercante, ser alegre, comunicativo,  aglutinador, animador cultural e – pecado mortal – conhecer o serviço. A pergunta mais pertinente seria: 

-“Qual foi o pezinho para decapitá-lo de vez, Dieckmann?”

Ele acredita  que foram os seus apartes, numa palestra da Shell, com a presença da alta cópula da ANTA, contra as empresas de papel. Nem cheguei, naquele momento, a imaginar uma manchete para o Biscoito Molhado como: DIECKMANN ENFRENTA O POLVO ANGLO-HOLANDÊS, E CAI.  Mais tarde, no almoço no Jirau, onde estivemos eu, ele, Alberto, Djalma, Cláudia, Lourdinha e Vera, um telefonema ao doutor Barreiros apontava para uma outra versão para a sua  queda:

-“Críticas à diretoria.”

-“Como, doutor Marreiros?”

-“Críticas à diretoria.”

Dieckmann era, agora, a Heloísa Helena da ANTA. Outra versão - o que explica a expressão alta cópula – é que cada demissão representa um orgasmo. Se o Djalma, o Dieckmann, o Alberto e a Cláudia, por exemplo, fossem demitidos numa só canetada, teríamos um orgasmo múltiplo na alta cópula.

Para espairecer um pouco no almoço, falamos sobre algumas autoridades marítimas... Minha Nossa Senhora dos Navegantes!... O problema do Mílton Barella é o cerceamento: lê uma frase, e fica inteiramente atado a ela, não criando nada, absolutamente. Quanto à Belinha, lê a frase, esquece, lê a frase de novo e esquece de novo. Passa, então, a tomar remédio para a memória, e esquece de tomar o remédio para a memória. Quanta a Aloísia... “Que frase?... Está na hora da minha ginástica!”

No final do expediente de ontem, cruzei com a Digníssima Amantíssima acompanhada de uma freira, que se vestia como tal. Juro que é verdade.  Reparei, então, nas orelhas da religiosa: como não estavam com o tamanho das orelhas do Dumbo, deduzi que  a D.A. não fizera a sua confissão.


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