Total de visualizações de página

terça-feira, 7 de junho de 2022

3113 - Mascarado (reedição)


                    O BISCOITO MOLHADO 

Edição 2117                                      Data: 17 de julho de 2004 

A BALEIA ASSASSINA 

É considerado modelo de início de romance o primeiro parágrafo do Moby Dick, obra-prima de Herman Melville e da literatura americana (Sei que alguns leitores, os mais críticos, dirão que errei o título, mas já daqui insisto sobre o meu acerto; não é Bob Dieck, que ainda não chegou à obesidade mórbida dos cetáceos). 

No primeiro parágrafo do Bob Dieck... digo: Moby Dick, estão as palavras que capturam o leitor para ele prosseguir na leitura até o desfecho, porque o escritor desenvolveu magistralmente a técnica narrativa que recebeu a denominação de lead. 

Não cabe nesta edição do Biscoito Molhado reproduzir integralmente esse primeiro parágrafo, que é longo, mas parte dele vamos destacar: 

“... Sempre que começo a ficar austero; sempre que é um novembro úmido e chuvoso em minha alma; sempre que dou a parar involuntariamente diante de empresas funerárias e a cerrar fila em cada enterro que encontro; e especialmente sempre que a minha hipocondria adquire tal domínio sobre mim que é preciso um sólido princípio moral para impedir-me de sair deliberadamente para a rua e metodicamente surrar as pessoas – então acho que está na hora de ir para o mar o mais depressa possível. Este é o meu sucedâneo para a pistola carregada. Com um floreio filosófico, Catão se atira sobre a espada; eu calmamente vou para o navio.” 

Quem assim fala é o Samuel, o personagem que conta a história do ódio do Capitão Ahab pela baleia branca. O parágrafo se inicia, aliás, com essas palavras: “Chamai-me Samuel”. 

Ele foi para o navio, e nós observamos, no dia-a-dia, que muita gente deveria ir para o navio em vez de permanecer na terra, irritadiças, agressivas e hipocondríacas, importunando-nos com o seu azedume. 

Às vezes tentamos um lead no Biscoito Molhado, isto é, um início que enfeixe as principais questões como no início do Moby Dick – Quem? Quando? Onde? O que? Como? Por que? - mas ficamos na vã pretensão. Afinal, o mais próximo que nós chegamos de uma baleia como personagem, nas nossas tentativas neste periódico, foi o Paulo Octávio, antecessor do Dieckmann na CGTMAR - Coordenadoria-Geral de Transportes Marítimos - do DMM, que chamávamos de Orca, a baleia assassina. Em vez de investir contra o meu navio, arrancar-me a perna com uma dentada, Orca... digo, Paulo Octávio, com gestos amistosos, parou-me um dia num corredor do Departamento de Marinha Mercante: 

- “Liane, a minha mulher, está reclamando que você nunca mais me chamou de Orca, a baleia assassina. Ela quer saber quando é que você vai voltar a me chamar de baleia assassina?” 

- “É pra já.” - respondi. E para atender a Liane, antecessora da Bel como primeira dama da CGTMAR, suspendemos já nas rotativas a edição em que chamávamos uma colega nossa de “Anestesista de Dores de Indaiá”, e lançamos mais uma aventura de Orca, a baleia assassina. Pela pressa da redação desse número, não alcançamos a metade dos leitores da reportagem em que tratamos do confinamento do Paulo Octávio no Paraguai, por ocasião do assassinato do vice-presidente desse país (Com fronteiras e aeroportos fechados, Paulo Octávio só conseguiu voltar para o Brasil disfarçado de massagista do Corinthians, aproveitando que as autoridades abriram uma exceção para o time brasileiro, que lá jogara). Voltou ele para o Brasil, não para o navio, mas como o personagem que fez a narrativa do terrível embate ente o Capitão Ahab e o leviatã branco. 

 Transcrevemos, dia desses, grande parte do trabalho jornalístico do Canal Discovery sobre a vida de Francis Drake. Parece-nos que, na sua derradeira viagem, em 1595, o corsário já se enjoara da terra; precisava do mar para não sair batendo nas pessoas e ruminar picuinhas com a rainha que já o esquecera. Escrevemos,então, sobre o seu túmulo aquático, e nenhuma discordância apareceu. Ainda bem. Mas quando aparecem discordâncias como a do Rogério sobre a personalidade realmente homenageada com nome de rua no Leblon, repetimos: ainda bem. 

 Julgávamos o Conde de Bernadotte da rua do Leblon o próprio militar de Napoleão que, na Suécia, fora rei, mas estava errado, como o autor da biografia do Paulo Fortes nos mostrou. O Conde de Bernadotte, nascido em Estocolmo em 1895, foi sobrinho do rei Gustavo V. Conde de Bernadotte, presidente da Cruz Vermelha em 1945, foi intermediário na oferta de capitulação de Himmler frente aos aliados que, no entanto, recusaram a proposta alemã. Mais tarde, foi designado mediador da ONU, na Palestina, no conflito entre árabes e israelenses. Foi assassinado a tiros na zona de Israel, em Jerusalém, em 1948. Ficou, no Rio de Janeiro, a homenagem numa rua do Leblon. O Conde de Bernadotte não foi tão ilustre quanto o seu antepassado, que ajudara a derrotar Napoleão Bonaparte, em Leipzig, em 1813, mas mereceu com sobras a homenagem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário