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quarta-feira, 19 de março de 2025

3164 - Tão moderno...

 
O BISCOITO MOLHADO


Volume SV                    Data: 29 de outubro de 2004

 


OS ROOSEVELTS

Allen Churchill, no seu livro sobre os Roosevelts, cita uma frase do eminente historiador da política americana, Richard Hofstadter, que destacou o temperamento do presidente como a peça principal na luta   contra a grande depressão:


-"No âmago do New Deal não estava uma filosofia, e sim um

temperamento."

E o historiador assim conclui o seu raciocínio:

-"A essência desse temperamento era a confiança do presidente,

mesmo consciente do terreno desconhecido em que se encontrava, que não erraria."

Allen Churchill, depois dessa citação, escreve que estava arraigada na personalidade de Franklin Delano Roosevelt uma ansiedade que o fazia encarar cada problema da vida como uma novidade e um estímulo. Era uma qualidade efervescente de otimismo que levava muitos a sentirem que Roosevelt, embora escarmentado pela doença, jamais deixaria de ser jovial.


-"Até o fim dos seus dias, ele era vivo como um menino." - cita     Allen Churchill um trecho redigido por John Gunther, um                     respeitado jornalista da época. A seguir, o biógrafo dos Roosevelts         acrescenta:


-"Nisso, naturalmente, ele se assemelhava ao seu primo, o ex-

presidente Theodore Roosevelt. Mas a despeito dos traços da

adolescência, Franklin era maduro sob outros aspectos e                    Theodore não o era."


Uma das primeiras ações do presidente, em 1933, foi visitar o

influente juiz da Suprema Corte, Oliver Wendell Holmes Jr, que

estava doente. Este, pouco depois da visita, expressou a sua

impressão sobre o presidente recém-empossado:


"Um intelecto de segunda, mas um temperamento de primeira

classe."


Um temperamento de primeira classe seria imprescindível para o comando dos Estados Unidos no meio da maior crise que já atingira a economia capitalista; quanto ao intelecto de primeira, fazia-se mais necessário aos membros da equipe do presidente do que a ele próprio. E ele soube cercar-se de excelentes cérebros. Eis o que registram os historiadores:

Para o seu Gabinete, Franklin Delano Roosevelt escolheu vigorosos individualistas, como Harold Ickles, e este, com o seu estado-maior, consideraram-no sempre o Chefe, sabiam que ele estava sempre no comando. O presidente, na realidade, reuniu equipes de conselheiros que iam dos idealistas do Brain Trusters até os calejados políticos. E mesmo no meio de um turbilhão de opiniões, na maioria das vezes contraditórias, ele não se perturbava.


Sua cabeça até foi chamada, pelos mais íntimos, de papel apanha-mosca, porque ele considerava todos os conselhos, antes de depurá-los na hora de agir.


Grace Tully, aquela que foi a sua secretária por dezesseis anos (a sua amante fora outra secretária) lembrava que, por diversas vezes, sabendo que um ramo do governo se encontrava com um problema difícil, Franklin dizia:

"Mande-o para mim. Minhas costas são largas, e eu posso suportar a carga."


Esses anos todos de experiência ao seu lado levaram-na a declarar que Roosevelt possuía no mais elevado grau a vontade de assumir a principal responsabilidade pelos acontecimentos.


"Em Roosevelt, o ardor e o otimismo se misturaram a sua força interior, criando, assim, um desses homens excepcionais que gostavam de tomar decisões." - concluíram os historiadores.


Sempre foi explícito em Franklin Delano Roosevelt, bem mais do que em Theodore Roosevelt, o amor pela política. "O que mais lhe interessava era a alta política" – assinala Arthur Schlesinger - "não a política no sentido de intriga, mas de educação." A própria visita que fizera ao adoentado juiz, Oliver Wendell Holmes Jr, já fora um ato político: as medidas do New Deal chegariam à Suprema Corte.


Numa admirável análise sobre o seu marido, Eleanor concluiu que, misturado com o desejo de Franklin de fazer a vida mais feliz para as massas, estava o seu gosto pela mecânica da política, não como uma ciência apenas, mas como um jogo. E isso envolvia compreender as reações do público e a lidar com essa compreensão.


Ela também disse que Franklin se considerava um instrumento escolhido pelo povo e que, como tal,tinha a obrigação de esclarecê-lo e liderá-lo. Não havia problema, dizia ela, que o marido considerasse intransponível pelos seres humanos.


-"Eu nunca o vi encarar a vida, ou qualquer problema que surgisse, com medo." – escreveu.

Bem alto, na lista das virtudes de Franklin Delano Roosevelt, a sua esposa colocava o seu senso de humor que, no momento exato, permitia-lhe transformar o assunto mais sério num objeto de divertimento.


Na Convenção do Partido Democrata que o indicou a presidente pela primeira vez, vemos nos documentários o quanto se divertia com as piadas do humorista Will Rogers (1879-1935), que não abrandava o seu espírito com ninguém, basta olhar algumas das suas frases:

-"Invista em inflação; é a única coisa que continua subindo."

-"O imposto de renda produziu mais mentirosos do que jamais ousou sonhar o diabo."

-"Todo o mundo é ignorante, só que em assuntos diferentes."

-"Tudo é engraçado, desde que esteja acontecendo com outra pessoa."


Nos documentários que assistimos, Will Rogers brada, na Convenção Democrata de 1932, que tem a mente aberta, e por isso, anunciaria ali até mesmo Herbert Hoover, caso ele aparecesse. Quando finalmente anuncia o sorridente Franklin Delano Roosevelt, expressa a sua surpresa com o numero fantástico de pessoas que pagaram tão caro para ver um político.


Roosevelt, com o seu temperamento de primeira, sabia o quanto o humor era também necessário para derrotar aquela terrível crise, mesmo que fosse o humor cáustico de Will Rogers, que voltou a atacar nos seus primeiros dias de governo:

-"Não temos empregos, não temos dinheiro, não temos bancos, e se ele (Roosevelt) tivesse queimado o Capitólio, nós teríamos dito:


Graças a Deus que ele pôs fogo em alguma coisa."