O BISCOITO MOLHADO
Volume 2082 Data: 26 de mao de 2004
ATUANDO COMO DETETIVE OU DELEGADO
Evitar ficar no trabalho depois das 5 horas da tarde – esta foi a última recomendação da chefia, repercutindo ainda o caso da leitura de um processo no banheiro masculino com o posterior esquecimento do dito cujo sobre a cesta de papéis sujos.
Não; até hoje não se sabe quem foi ao banheiro relaxar as tensões de um expediente na marinha mercante com a leitura de autorização de funcionamento de uma empresa de navegação. Dieckmann ainda tentou, investigando pistas à distância, e dizendo-se um detetive chinês, elucidar o caso. Contudo, posou mais de Sherlock Holmes do que de Charlie Chan, e só não tocou violino porque não tinha um a mão, porém, tomou chazinho enquanto o seu raciocínio o levava a uma mão, aí sim, criminosa.
-"Seria a superintendente?" – perguntei-me.
Não, porque não é a Agatha Cristhie quem escreve a nossa história. A escritora inglesa superestimava o fator surpresa nos seus enredos, o que levou Raymond Chandler a criticá-la por desvirtuar a caracterização psicológica dos seus personagens por isso.
O nosso detetive do chazinho, o Dieckmann, ao contrário do Poirot e da Miss Marple, não afirma que a culpada seria a mais improvável das pessoas (pelo menos, quanto a esse crime), mas garante que foi uma mulher, apesar de o sumiço do processo com a posterior aparição ter ocorrido no banheiro masculino, ou por isso mesmo.
Como a divisão entre funcionários homens e mulheres deve ser meio a meio, Dieckmann está com 50% de probabilidade de acertar. Mudemos, não de assunto, mas do Dieckmann para o Garotinho.
Como os holofotes direcionados na elucidação do assassinato do casal de americanos eram inúmeros, todo o mundo viu o secretário de Segurança do Rio de Janeiro atuando como detetive diante do suposto criminoso. Atuando como detetive, mas não como delegado de polícia, isso porque ele pretende levar mais um sofrimento ao povo brasileiro, isto é, ser presidente da República. Com tal pretensão, teve de vestir essa fantasia de delegado de polícia, e interrogar um meliante em frente das câmaras de TV.
-"Brasília vale uma delegacia." – parodiaria o Garotinho o rei Henrique IV da França.
Bem, o fundador do piscinão de Ramos não conhece nem a fórmula química da água, como se viu no programa de conhecimentos gerais, "O Show do Milhão" do Sílvio Santos; não conhecerá ahistória da monarquia francesa. Henrique de Navarra seria impedido de assumir o trono francês, mesmo casando com Margueritte de Valois, filha da rainha Catarina de Médici, caso não abandonasse a crença protestante, e se convertesse ao catolicismo.
Pressionado, ele, então, disse uma frase que qualquer leitor do Alexandre Dumas conhece muito bem: "Paris vale uma missa". Ajoelhou, teve de rezar, mas, assim, tornou-se Henrique IV, o rei de
França.
Garotinho, que nos ameaça com a sua falta de conhecimentos, não é
sábio, mas é sabido. Observou outro sabido, o Lula que, por seu lado, só conhece o H2O que o passarinho não bebe. Garotinho o observava, quando ele ainda não era presidente da República, marcando presença de político solidário com os desfavorecidos como, por exemplo, nos tribunais onde se julgava por assassinato o líder dos sem-terra, José Rainha. Marcou o então candidato Lula presença, porque lá se encontravam as gambiarras da mídia. Depois, já no governo Luís Inácio Lula da Silva, José Rainha e esposa foram em cana. Garotinho, viu, e aprendeu que, às vezes, se veste uma fantasia, às vezes, outra e, no fim, todas as indumentárias que foram
tecidas, porque o povão quer muita novela, muita ilusão.
Já que mudamos do Dieckmann para o Garotinho, vamos reverter agora o processo (processo no bom sentido). Ao atuar como detetive no caso que sacudiu as entranhas do Departamento, o nosso amigo de origem batava garante que nenhuma ambição política o move:
-"Não há porquê, pois a mídia está fora do ilícito penal acontecido na privada dessa agência..." – declarou.
Declarou, esquecendo-se que o Biscoito Molhado ainda cobre as ocorrências desta Agência.
Ainda...