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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4955 Data: 28 de setembro de 2014
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OS ASTERISCOS DO DIECKMANN
“(*)
No filme, John Wayne assovia a música.”
No Rádio Memória de músicas assoviadas,
repercutido pela edição 4942 do Biscoito Molhado, Simon Khoury conta um causo
em que um avião, com uma trupe de artistas brasileiros, sobrevoando a floresta
amazônica, sacoleja tanto que assusta todo o mundo. Para acalmar os colegas, o
ator Hélio Ary, segundo o narrador da história, disse que, naquele avião, John
Wayne filmara o “Fio de Esperança”, de 1953. Ora, John Wayne era o protótipo do
machismo americano, não do brasileiro, talvez, por isso, a informação dada
levou ao desmaio alguns passageiros.
Isso, porém, não vem ao caso, e sim o
comentário do Dieckmann, pelo seu asterisco, que o ator assovia a música do
filme.
Teria sido, mesmo, o John Wayne?
Marni Nixon não aparecia na tela, mas a
voz cantante da Audrey Hepburn em My Fair Lady, a da Natalie Wood em West
Side Story, a da Debora Kerr em The King and I, e por aí segue, eram
dela, Marni Nixon.
Como o assovio que soa maviosamente
requer alguém que possua talento para tanto, insisto com a minha pergunta:
Teria sido, mesmo, o John Wayne que assoviou a música-tema do filme “Fio de
Esperança”?
Por coincidência, digito estas palavras
depois de ouvir, uma hora antes, o hino do Fluminense admiravelmente assobiado
por um vizinho de apartamento, enquanto eu pendurava na corda o meu calção
molhado. Como nos filmes citados, eu escutava, mas não via. A vitória do
Fluminense inspirou tanto esse torcedor que, guardadas as devidas proporções,
parecia a dubladora das grandes estrelas de Hollywood sem aptidão para o canto.
Encerrando: Dieckmann, foi mesmo o John Wayne quem
assoviou? (*)
-Fui, com meus dois
colegas de fiscalização, almoçar no Mercado São Pedro. Era a minha primeira
vez. Lá, você compra o peixe, sobe para o segundo andar, onde há pequenos
restaurantes, entrega o dito cujo que eles fritam, cozinham, grelham para
depois servi-lo.
O parágrafo acima foi
contemplado com o seguinte asterisco do nosso comentarista:
“(*) Deve haver um exagero do redator do seu O Biscoito Molhado.
Habitualmente, se encontra peixe cozido, ou frito, ou grelhado. As três
operações no mesmo peixe não prometem bom resultado. Mas é só a opinião do
Distribuidor, nada além disso.”
A segunda frase do nosso
parágrafo generaliza o procedimento no Mercado São Pedro: leva-se o peixe e ele
é frito, cozido, grelhado nos restaurantes de lá; em momento algum se diz que é
um comensal específico e o mesmo peixe a passar pelas três operações.
Confesso que, depois de
ler o asterisco do Dieckmann, eu me senti como a Marina Silva depois de ver as
suas palavras distorcida por marqueteiros e verbalizadas, aos quatro cantos,
pela candidata Dilma Rousseff.
O diabo é que ele me obrigou a ler esse
parágrafo algumas vezes até eu ficar convencido de que não houve dubiedade
alguma no que foi escrito.
Como o Dieckmann já disse
várias vezes que, depois de assistir, há 40 anos, o filme, de John Ford, “O
Homem Que Matou o Facínora”, prefere a
versão ao fato e aprontou uma versão para cima de mim.
Para se penitenciar, ele deveria me
convidar para almoçar um peixe no restaurante do seu filho Fred, conceituado chef
de cuisine. O cherne pode ser frito,
grelhado ou cozido, mas se o Dieckmann quiser, pode vir com a cabeça frita, o
rabo cozido e o restante grelhado. O que vier, eu traço. (**)
“(*) Gilda se resume à aparição da Rita
Hayworth, fora isso, nada demais. O Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO não
é tão fã assim do Glenn Ford, uma espécie de James Garner 10 anos mais velho.
Mas viu um filme de cowboy em que ele é pai de um garotinho que emudeceu e só
falou na hora H, a tempo de Glenn Ford dar uma cambalhota e matar o bandido. E
há um bom filme “Fate is Hunter”, onde Glenn Ford assume a investigação de um
acidente aéreo, com muita propriedade e mantém a tensão no ar – literalmente –
até o final.”
Travestido de Homem-Calendário no Rádio
Memória, Sérgio Fortes lembrou a morte de Glenn Ford, em 30 de agosto de 2006,
e, em seguida, comentou com Peter, o operador de áudio que, apesar do ator não
ter ganhado Oscar algum, era um dos seus preferidos. Nós, do Biscoito Molhado,
citamos, então, o filme Gilda em que Glenn Ford personifica Johnny
Farrell, um vigarista. Essa foi a razão para esse asterisco do Dieckmann.
Inegavelmente, Glenn Ford está longe do
talento e do charme de Humphrey Bogart no papel de Rick no Casablanca, lançado
três anos antes de Gilda, este é de 1946, mas deixou a sua marca. Esses
dois filmes, aliás, guardam algumas semelhanças, mesmo que Gilda, uma mulher
sapeca, seja, o avesso da Elza, uma mulher certinha, que nunca tirou as luvas,
daquela maneira, em público.
Mas a questão maior aqui é o Dieckmann
ter escrito que o filme se resume apenas à Rita Hayworth. Com a devida vênia,
descordamos. Essa obra dirigida por Charles Vidor foi bastante ousada para os
censores da década de 40 e é considerada um dos maiores filmes do gênero
noir já realizados na história do cinema.
Um ano
depois, 1947, Rita Hayworth atuaria em outro clássico do film-noir, A Dama
de Shangai. Não fez o mesmo sucesso de Gilda, porque ali estava atuando e
dirigindo, o seu marido, Orson Welles. Ele não só cortou os longos cachos
ruivos da musa, como lhe deu o papel de uma vilã. Ela morre baleada, e mesmo o
diplomata Vinícius de Moraes, que esteve nos estúdios das filmagens, nada pôde
fazer para salvá-la.
Voltando
ao filme em que Glenn Ford atuou, nunca houve uma mulher como Gilda, um jogador
como Heleno de Freitas, mas a fita não era unicamente a Rita Hayworth. (***) (****)
Um só exemplar do
nosso periódico arrancou o Dieckmann do sossego e o fez redigir dois
asteriscos. Eles seguem abaixo, mas antes esclareceremos o porquê deles: a
falta do “v” de volta, foi mas não voltou, ou seja, não houve a devolução do
que lhe foi emprestado.
“(*) O Distribuidor do seu O BISCOITO
MOLHADO tentou, em vão, localizar o Dieckmann, que não respondeu
a nenhuma das mensagens enviadas. Parece que a devolução não ocorrerá,
talvez devido ao excesso de fungos que há em Santa Teresa.”
“(**) O Distribuidor se lembra deste
caso. O Dieckmann entregou o livro, interessantíssimo, por sinal, a alguém, que
sumiu.”
Embora
Dieckmann se refira a si próprio na terceira pessoa, como o Pelé e o imperador
Júlio César, não fugirá da nossa reclamação.
No
primeiro asterisco, diz que a fita VHS sobre os 10 maiores carros de todos os
tempos, que lhe emprestamos em 1999, se encontra perdida em sua casa.
Esqueceu-se que, na ocasião – primeiro milênio ainda – nos disse que um amigo,
colecionador de carros, desaparecera com a fita.
No
segundo asterisco, reporta-se ao “Dicionário de Sobrenomes Sefarditas”, do
Elio. O livro havia sido emprestado, primeiramente a mim pelo seu dono, depois,
atendendo a um pedido seu, passei-o para o Dieckmann. Transcorridos alguns
meses, o Elio se esqueceu de tudo e me cobrou o Dicionário. Lembrei-lhe que
estava com o nosso Distribuidor. Resultado: o Elio teve de comprar outro “Dicionário
de Sobrenomes Sefarditas”, porque o primeiro, sob a guarda do Dieckmann, desmaterializara.
(5*)
Por
hoje, é só.
(*) Certamente não foi o JW. “Mas que coisa interessante,” disse
o Dieckmann, “eu jamais reconheceria um hino de clube, talvez a Quinta de
Beethoven, sim”.
(**) Desafio aceito.
(***) O redator está certo. O filme resume-se à Gilda e não à
Rita Hayworth, quem brilhou foi a personagem. Daí, aplausos para o diretor.
(****) Dieckmann se lembrou de mais uma história, quando o
Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO o confrontou com essa Rita-Dama de
Shanghai. Conta ele, com sua habitual simpatia e modéstia: “Também tive meu
momento Orson Welles, pois cheguei numa festa com a Maira, então minha
cara-metade e logo me coube, dentro da brincadeira reinante na hora, produzir
um filme de cowboy. Foi ótimo, fiz alguns “atores” representarem aqueles rolos
de sementes que atravessam o Texas e isso já garantiu a comédia, enquanto
rolava uma música tema assoviada. Depois, botei a Maira sentada no saloon e a
primeira coisa que o bandido mexicano fez, foi fuzilá-la e a partir desse
hediondo crime, iniciar-se a perseguição pelo mocinho. Mas quem matou o bandido
foi a professora da escola.”
Como se vê, deve ser uma tentação fazer explodir um cônjuge no começo
do filme.
(5*) a desmaterialização nas mãos do Dieckmann atinge a objetos
e seres vivos.
Onde está escrito "descordamos", leia-se "discordamos".
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