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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4963 Data: 11 de outubro de 2014
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189ª CONVERSA COM OS TAXISTAS
O táxi em que eu me achava
era do Demerval, mais conhecido nas páginas do Biscoito Molhado por Paizão,
devido às inúmeras referências que faz à filha.
Normalmente, os rádios
desses táxis, que eu pego, estão mudos durante o trajeto; poucos deixam os
rádios de contato com a central ligados; o 017, sintoniza, eventualmente, uma
emissora que toca música popular brasileira, mas é só. Nesse dia, estranhei,
logo ao sentar no banco do carona, que Paizão ouvia o rádio e o estranhamento
ainda foi maior com o que atraía tanto a sua atenção.
-Isto é radionovela?
-Escuta. - sugeriu-me.
Um narrador contava uma
história com uma música de tonalidade misteriosa ao fundo. Às vezes, as
palavras cediam lugar para essa música, o que reforçava ainda mais a
emotividade da história que era narrada.
Rebuscando na memória,
cheguei às novelas da Rádio Nacional; não satisfeito, rebusquei mais e descobri
que ali estava o “Incrível, Fantástico, Extraordinário”, programa do Almirante
na Rádio Tupi, de que meu pai tanto gostava porque sentíamos medo, ele,
inclusive.
-Depois de achar um bebê
no lixo, um cidadão solitário resolveu ficar com ele, um menino, e, assim, o
levou a um cartório.
Pausa, e a música cresceu
em intensidade.
-Lá chegando, disseram a Demerval
que não podiam registrar a criança sem o nome da mãe.
-Ele se chama Demerval
como o senhor. - quebrei o silêncio.
Demerval, o taxista, não o
que achara o bebê no lixo, limitou-se somente a balançar afirmativamente a
cabeça tal a atenção que dedicava
`aquela história. Voltei, então, a minha mudez.
O narrador, com o tom
trágico na voz, contou as mil barreiras por que passou o Demerval para
descobrir o nome da mãe que abandonara o filho na lata de lixo. Então, acordes
de uma música de forte poder emotivo soaram (o narrador deve ter bebido água
nessa hora).
-Naquela noite de ventos
uivantes, Demerval escutou uma voz que lhe chegava do além.
O leitor do Biscoito
Molhado adivinhou; era a voz da sofrida mãe que, pobre e largada no mundo,
prestes a morrer de uma terrível doença, teve de se desfazer do filho.
Disse-lhe o seu nome, e pediu a Demerval que batizasse o seu filho com o nome
de Vitorino, porque ele seria um vitorioso na vida.
Quando o narrador disse
que a criança foi, finalmente, registrada, o taxista vibrou com orgulho:
-Todo Demerval é fogo!
-Mas não basta chegar ao
cartório e dizer um nome, ele tinha de apresentar os documentos da mãe. -
fiz-me de advogado do diabo.
Para ele, isso não
diminuía a glória dos Demerval, era um mero detalhe.
-Fiz 80 anos dia desses,
mas ainda me surpreendo com essas histórias.
-Eu penso que a defunta
errou ao pedir que o filho se chamasse Vitorino, pois houve um imperador
Vitorino, na época dos romanos, que foi assassinado depois de se meter com uma
mulher casada.
-O bebê deveria se chamar Demerval. -
bradou, enquanto me deixava na rua Modigliani.
No dia subsequente, peguei o táxi do 014, com
quem costumo trocar comentários sobre política.
-Parece, graças a Deus,
que vamos ficar livres da Dilma. - disse-me.
-O principal seria nós nos
livrarmos do PT, mas essa praga ainda vai ficar um bom tempo encruada na
sociedade brasileira.
Depois de uma pausa curta,
ele retomou a palavra:
-Eu não achei estranho a
Dilma governar sozinha, digo, sem um marido do lado. O que estranhei mesmo foi
o Lula com uma mulher, do lado, que ficou durante oito anos calada.
-Mulher do lado dele,
houve a Rosemary Noronha. - rememorei.
-Falando nela, onde está?
- quis saber.
-Ele deve estar, numa
loja, bem serelepe, fazendo compras.
-Ela devia estar atrás das
grades. -afirmou em tom de indignação.
-A Polícia Federal faz o
que a Constituição manda, investiga e aponta os criminosos. Depois, entram os
políticos e não permitem que a justiça puna.
-A Dilma Rousseff diz que
ela é quem manda investigar.
-Ela não manda nada;
palavras para enganar os eleitores desinformados.
-Eu sei disso; por ela,
não se investigava nada porque está atrapalhando a sua reeleição. - frisou.
E se referiu de novo à
esposa do Lula.
-Eu me sentia agoniada com
aquela mulher muda durante oito anos. Não foi à toa que muitos a chamavam de
inútil.
-Ela não tinha nada de
inútil.
-Você acha?-
surpreendeu-se.
-E digo mais: a Dona
Marisa era muito esperta.
Surpreendeu-se ainda mais.
-Você se lembra que, no
auge da popularidade do Lula, como Presidente, ela pediu a cidadania italiana
pelo fato de ser neta de italianos?
-Vagamente. - respondeu-me
tangenciando o não.
-No meio de todo aquele
esplendor, ela sabia que nada estava garantido eternamente, que tudo poderia
mudar, e haver necessidade de uma escapada para a Itália. Avento essa hipótese
por causa dos filhos, um deles, enriqueceu da noite para o dia, e ela não
ignorava isso.
-Ah, sim, se investigam os
bens do cara, ele vai ter de fugir para a Itália mesmo.
E acrescentou:
-O Lula não tem dupla
cidadania.
Prossegui:
-Outra esperteza da Dona
Marisa salvou a vida do Lula.
-Dessa eu não sei. -
confessou
-Ela sabia que o marido
perdeu uma irmã com câncer na garganta. Percebendo que a voz do Lula ficava
cada vez mais rouca e que ele pigarreava muito...
-Isso, foi depois de ele
deixar a Presidência. - cortou-me.
-Dona Marisa o aconselhou,
então, a procurar um médico. Ele, teimoso como uma mula, disse que só iria ao
médico depois do carnaval, pois seria homenageado por uma escola de samba.
-Ele sempre gostou de ser
paparicado. - comentou.
-Faltavam, se não me
engano, dois meses para o carnaval. O que fez ela? Disse ao marido que ela
estava com um problema de saúde e chamou um médico.
-Que não era do SUS. -
ironizou.
-Era um médico
conceituado, cujo nome me escapa agora. Foi uma artimanha para enganar o Lula:
o médico fingiu atendê-la e, depois, pediu para ver a garganta do Lula.
Recomendou-lhe, então, que se submetesse urgentemente a exames no Hospital
Sírio-Libanês.
-Deveria ter ido a uma
UPA. - interrompeu-me.
-Caso a vontade do Lula
prevalecesse, transcorridos dois meses, ele, dificilmente, escaparia vivo.
-Pensando bem, o Lula fala
muito, e ainda fala, e só sai besteira.
-É melhor ser calado e
esperto como a Dona Marisa. - acrescentei, enquanto saltava do táxi na Rua
Modigliani.
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