Total de visualizações de página

terça-feira, 14 de outubro de 2014

2713 - o esperto e a esperta


 

---------------------------------------------------------------

O BISCOITO MOLHADO

Edição 4963                                     Data: 11 de  outubro de 2014

------------------------------------------------------------

 

189ª CONVERSA COM OS TAXISTAS

 

O táxi em que eu me achava era do Demerval, mais conhecido nas páginas do Biscoito Molhado por Paizão, devido às inúmeras referências que faz à filha.

Normalmente, os rádios desses táxis, que eu pego, estão mudos durante o trajeto; poucos deixam os rádios de contato com a central ligados; o 017, sintoniza, eventualmente, uma emissora que toca música popular brasileira, mas é só. Nesse dia, estranhei, logo ao sentar no banco do carona, que Paizão ouvia o rádio e o estranhamento ainda foi maior com o que atraía tanto a sua atenção.

-Isto é radionovela?

-Escuta. - sugeriu-me.

Um narrador contava uma história com uma música de tonalidade misteriosa ao fundo. Às vezes, as palavras cediam lugar para essa música, o que reforçava ainda mais a emotividade da história que era narrada.

Rebuscando na memória, cheguei às novelas da Rádio Nacional; não satisfeito, rebusquei mais e descobri que ali estava o “Incrível, Fantástico, Extraordinário”, programa do Almirante na Rádio Tupi, de que meu pai tanto gostava porque sentíamos medo, ele, inclusive.

-Depois de achar um bebê no lixo, um cidadão solitário resolveu ficar com ele, um menino, e, assim, o levou a um cartório.

Pausa, e a música cresceu em intensidade.

-Lá chegando, disseram a Demerval que não podiam registrar a criança sem o nome da mãe.

-Ele se chama Demerval como o senhor. - quebrei o silêncio.

Demerval, o taxista, não o que achara o bebê no lixo, limitou-se somente a balançar afirmativamente a cabeça  tal a atenção que dedicava `aquela história. Voltei, então, a minha mudez.

O narrador, com o tom trágico na voz, contou as mil barreiras por que passou o Demerval para descobrir o nome da mãe que abandonara o filho na lata de lixo. Então, acordes de uma música de forte poder emotivo soaram (o narrador deve ter bebido água nessa hora).

-Naquela noite de ventos uivantes, Demerval escutou uma voz que lhe chegava do além.

O leitor do Biscoito Molhado adivinhou; era a voz da sofrida mãe que, pobre e largada no mundo, prestes a morrer de uma terrível doença, teve de se desfazer do filho. Disse-lhe o seu nome, e pediu a Demerval que batizasse o seu filho com o nome de Vitorino, porque ele seria um vitorioso na vida.

Quando o narrador disse que a criança foi, finalmente, registrada, o taxista vibrou com orgulho:

-Todo Demerval é fogo!

-Mas não basta chegar ao cartório e dizer um nome, ele tinha de apresentar os documentos da mãe. - fiz-me de advogado do diabo.

Para ele, isso não diminuía a glória dos Demerval, era um mero detalhe.

-Fiz 80 anos dia desses, mas ainda me surpreendo com essas histórias.

-Eu penso que a defunta errou ao pedir que o filho se chamasse Vitorino, pois houve um imperador Vitorino, na época dos romanos, que foi assassinado depois de se meter com uma mulher casada.

-O bebê deveria se chamar Demerval. - bradou, enquanto me deixava na rua Modigliani.

 

 No dia subsequente, peguei o táxi do 014, com quem costumo trocar comentários sobre política.

-Parece, graças a Deus, que vamos ficar livres da Dilma. - disse-me.

-O principal seria nós nos livrarmos do PT, mas essa praga ainda vai ficar um bom tempo encruada na sociedade brasileira.

Depois de uma pausa curta, ele retomou a palavra:

-Eu não achei estranho a Dilma governar sozinha, digo, sem um marido do lado. O que estranhei mesmo foi o Lula com uma mulher, do lado, que ficou durante oito anos calada.

-Mulher do lado dele, houve a Rosemary Noronha. - rememorei.

-Falando nela, onde está? - quis saber.

-Ele deve estar, numa loja, bem serelepe, fazendo compras.

-Ela devia estar atrás das grades. -afirmou em tom de indignação.

-A Polícia Federal faz o que a Constituição manda, investiga e aponta os criminosos. Depois, entram os políticos e não permitem que a justiça puna.

-A Dilma Rousseff diz que ela é quem manda investigar.

-Ela não manda nada; palavras para enganar os eleitores desinformados.

-Eu sei disso; por ela, não se investigava nada porque está atrapalhando a sua reeleição. - frisou.

E se referiu de novo à esposa do Lula.

-Eu me sentia agoniada com aquela mulher muda durante oito anos. Não foi à toa que muitos a chamavam de inútil.

-Ela não tinha nada de inútil.

-Você acha?- surpreendeu-se.

-E digo mais: a Dona Marisa era muito esperta.

Surpreendeu-se ainda mais.

-Você se lembra que, no auge da popularidade do Lula, como Presidente, ela pediu a cidadania italiana pelo fato de ser neta de italianos?

-Vagamente. - respondeu-me tangenciando o não.

-No meio de todo aquele esplendor, ela sabia que nada estava garantido eternamente, que tudo poderia mudar, e haver necessidade de uma escapada para a Itália. Avento essa hipótese por causa dos filhos, um deles, enriqueceu da noite para o dia, e ela não ignorava isso.

-Ah, sim, se investigam os bens do cara, ele vai ter de fugir para a Itália mesmo.

E acrescentou:

-O Lula não tem dupla cidadania.

Prossegui:

-Outra esperteza da Dona Marisa salvou a vida do Lula.

-Dessa eu não sei. - confessou

-Ela sabia que o marido perdeu uma irmã com câncer na garganta. Percebendo que a voz do Lula ficava cada vez mais rouca e que ele pigarreava muito...

-Isso, foi depois de ele deixar a Presidência. - cortou-me.

-Dona Marisa o aconselhou, então, a procurar um médico. Ele, teimoso como uma mula, disse que só iria ao médico depois do carnaval, pois seria homenageado por uma escola de samba.

-Ele sempre gostou de ser paparicado. - comentou. 

-Faltavam, se não me engano, dois meses para o carnaval. O que fez ela? Disse ao marido que ela estava com um problema de saúde e chamou um médico.

-Que não era do SUS. - ironizou.

-Era um médico conceituado, cujo nome me escapa agora. Foi uma artimanha para enganar o Lula: o médico fingiu atendê-la e, depois, pediu para ver a garganta do Lula. Recomendou-lhe, então, que se submetesse urgentemente a exames no Hospital Sírio-Libanês.

-Deveria ter ido a uma UPA. - interrompeu-me.

-Caso a vontade do Lula prevalecesse, transcorridos dois meses, ele, dificilmente, escaparia vivo.

-Pensando bem, o Lula fala muito, e ainda fala, e só sai besteira.

-É melhor ser calado e esperto como a Dona Marisa. - acrescentei, enquanto saltava do táxi na Rua Modigliani.  

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário