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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

2716 - Dia das Crianças 2


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 4966                                 Data: 16 de  outubro de 2014

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RÁDIO MEMÓRIA DAS CRIANÇAS AO ORLANDO SILVA

2ª PARTE

-”Ele, sempre ele.”

Nélson Rodrigues citava as palavras acima de Victor Hugo para comparar a fixação que o poeta tinha no Napoleão Bonaparte, com a sua, cronista esportivo, no Pelé.

Quanto ao Jonas Vieira, a sua fixação é no Orlando Silva.

-”Ele, sempre ele. Orlando Silva...”

Um foi gênio militar, o outro, gênio do futebol, e Orlando Silva, gênio do canto popular.

Feita essa introdução, sigamos.

Depois que o Sérgio Fortes terminou de relacionar os fatos que marcaram o dia 12 de outubro, a voz do titular do programa Rádio Memória ecoou solene.

-A partir de agora, vamos homenagear o centenário do Orlando Silva, que se dará no ano que vem. A contagem regressiva começou.

E foi adiante:

-No dia 28 deste mês, estarei no Cariocando, com Paulo Marquez e Simon Khoury. Paulo cantando sucessos do Orlando Silva, e Simon Khoury, falando bobagens.

É difícil manter a seriedade depois de citar o contador de causos e também compositor de música instrumental, Simon Khoury.

-Cariocando fica na Machado de Assis?

-Não, Sérgio, fica na Silveira Martins.

O Bar Cariocando se situa, precisamente, na Rua Silveira Martins, 139, Catete.

-Será uma espécie de pocket show. - recorreu o Sérgio Fortes ao estrangeirismo.

A palavra voltou para o Jonas Vieira:

-O Orlando Silva é esse cantor pelo qual tenho veneração. Para mim, ele é o maior cantor do mundo. Eu vou dizer, no show, porque ele é considerado o maior cantor do mundo também pelos estrangeiros.

Agora, ele se voltou para o programa Rádio Memória propriamente dito.

-Orlando Silva vai cantar uma das suas melhores coisas, que foi composta por AssisValente. Isso foi em 1937, antes de ele despontar como cantor. “Alegria”.

Entrou a gravação que, mesmo antiga, não perde o seu frescor.

Sérgio Fortes se enlevou, além da voz do Orlando Silva, com os músicos e o arranjo.

-É uma preciosidade. - declarou o seu maior admirador.

-Jonas, compare … Eu estava ouvindo, nos intervalos da TV Globo, trechos do programa “The Voice Brasil”, que é absolutamente lastimável. E você ouve abobrinhas do tipo “Que voz! Que isso! Que aquilo!”.

-É tudo péssimo. - resumiu tudo taxativamente.

-É para testar a nossa capacidade. É para saber até onde podem empurrar pelo ouvido da gente essa coisa. - disse o Jonas Vieira.

-A competição ali é a seguinte: quem são os piores, os cantores ou os jurados.

Depois de os dois ratificarem as suas opiniões sobre o programa da TV Globo, Jonas Vieira se ateve à próxima atração musical do Rádio Memória.

-Ouvimos “Alegria”, e agora, com Orlando Silva, o seu primeiro sucesso carnavalesco. Em 1938, ele gravou da dupla Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti “Abra a Janela”.

Ouvindo essa composição, imaginei o meu irmão Claudio, arquivo-vivo de sambas enredo, citando o samba-enredo da Portela, de 1971, “Lapa em Três Tempos”, em que Paulinho da Viola entoava um trecho dessa música.

“Abra a janela, formosa mulher,

Cantava o poeta trovador.

Abre a janela formosa mulher.

Na velha Lapa que passou.”

Sérgio Fortes se empolgou, mais uma vez, enquanto Jonas Vieira se deteve mais nessa marcha carnavalesca.

-O Orlando contava que percebeu o seu primeiro sucesso de carnaval porque o bloco, na Praça da República, perto da Casa da Moeda, saiu com “Abra a Janela”, e quando esse bloco incorporava uma música...

-É porque ia emplacar.- adivinhou o Sérgio Fortes.

-Ele viu o bloco cantando e disse: “Já ganhei o carnaval”. Ele, então, começou a despontar, a ser o “Cantor das Multidões”.

-Isso, em 1838.- interveio o Sérgio Fortes.

-Exatamente, em 1938. Ele estourou…  Veio o “Carinhoso”…

-Foi o ano daquela  consagração em São Paulo, que ele, numa rádio do Vale do Anhangabaú, parou tudo?...

Às palavras do Sérgio Fortes, seguiram-se as do Jonas Vieira:

-Ele parou o Vale do Anhangabaú, a Praça da República… Cantou por três noites em São Paulo para aquela multidão.  Não cabia uma multidão no auditório da emissora, ele, então, cantou da sacada. Quando retornou para cá, o grande Oduvaldo Cozzi disse: “Está de volta à Rádio Nacional Orlando Silva, o “Cantor das Multidões”. Daí, surgiu essa alcunha.

-Jonas, quem tinha a mania de dar alcunhas aos artistas?

-O Cozzi, o César de Alencar, e um da Rádio Mayrink Veiga cujo nome me escapa.

-Manoel Barcelos?...

-Isso, foi ele quem alcunhou a Carmen Miranda de “A Pequena Notável”.

E passou a listar outros epítetos:

-Carlos Galhardo, “O Cantor Que Dispensa Adjetivos”; Sílvio Caldas, “O Caboclinho Querido”.

E voltou-se para a próxima atração  do programa:

-Agora, o meu querido e saudoso amigo, Pedro Caetano; ele e Claudionor Cruz deram ao Orlando uma canção que foi um imenso sucesso. Claro que tudo que ele cantava se tornava um sucesso. Essa música é de uma tristeza fora do comum.

Antes de ela ser ouvida, Jonas Vieira narrou um causo:

-O Pedro Caetano contava que vinha no bonde, e havia duas normalistas. Naquele tempo, as normalistas eram muito populares. Então, uma delas disse a outra: “Você sabia que o autor dessa música se suicidou?... E o Pedro, muito gozador, ficou entre as duas e disse: “Ele ressuscitou, sou eu”.

Em seguida, deixou de lado a descontração:

-“Caprichos do Destino”. Reparem como o Orlando Silva faz um prolongamento da voz lá em cima e emenda.

Soada a última nota da melancólica plangente que acentuava versos de desilusão, veio a voz do Sérgio Fortes:

-Preciso me recompor.

Jonas Vieira se reportou a um pianista italiano, um dos maiores da Europa que, por duas vezes esteve no Brasil.

-Aqui, conheceu “Caprichos do Destino”, e se apaixonou. Tocou lá em Roma, e houve um aplauso geral. - concluiu.

-O que me chama a atenção é que o Pedro Caetano era um cara muito alegre.

-Não só ele era alegre, Sérgio, como o Claudionor Cruz.

Jonas Vieira se voltou para a próxima música gravada pelo Orlando Silva.

-Agora, novamente a dupla. Essa é genial, e de 1940: “A Felicidade Perdeu Seu Endereço”. Prestem atenção na letra.

Sérgio Fortes mostrou que atendeu a esse pedido.

-Os termos que se usava… a riqueza do vocabulário... Atualmente, não existe mais isso. Alguém escreveria mordaz hoje em dia?... A não ser no contexto em que um cachorro abocanhou alguém.

Nessa toada, Jonas Vieira aludiu à baixa qualidade do funk, pedindo desculpas aos funkeiros (há um programa na Roquette Pinto dedicado à música da periferia) e se justificou:

-Eu gosto de Música, sou um melômano.

 

 

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