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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

2720 - balalaika


 

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 4970                            Data: 21 de  outubro de 2014

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ORLANDO SILVA PARA SEMPRE NO RÁDIO MEMÓRIA

 

Primeiramente, levei um susto: sintonizei a Roquette Pinto às 7h 40min e ouvi a voz do Jonas Vieira, do Simon Khoury e de uma pessoa que não foi nomeada, nem precisava, era o Ricardo Cravo Albim, que muitas vezes ouvi na Rádio MEC.

-O Sérgio Fortes está com um pequeno atraso.

Pudera, Jonas Vieira, com o programa se iniciando neste horário que, na verdade, seria 6h 40min, se o horário de verão não tivesse início nesse mesmo dia.

De repente, estornaram tudo e entrou uma programação musical, já que não haveria o “Almanaque”, por causa da primeira meia hora tomada pelo horário eleitoral.

Às 8 horas, sim, tudo voltou ao normal.

-Bondíssimo bom-dia, senhores ouvintes. Hoje, recebo com imenso prazer uma pessoa por quem tenho enorme, demais mesmo, admiração. A música brasileira deve demais a ele: Ricardo Cravo Albim.

-Bondíssimo bom-dia, meu querido amigo Jonas Vieira. É uma alegria estar com você por todos os motivos. Eu devolvo todo o carinho, todo o afeto que você dirigiu a mim. A minha admiração arrebatadora pelo seu trabalho, que é modelar.

A palavra retornou ao titular do programa, que tratou de provocar o Simon Khoury:

-Peço desculpas, tive de convidar o Simon Khoury. Ele aqui está porque é metido, mas você pediu para eu convidá-lo. Bom dia, Simon Khoury.

-O Ricardo falou de você tudo o que pedi para ele dizer. – reagiu.

-O Sérgio Fortes está com um pequeno atraso…

Neste momento, houve a interrupção a que já nos referimos.

-… - mas já chega.

Agora, Jonas Vieira impostava a voz:

-Nós vamos homenagear Orlando Silva, que é a minha e a sua devoção, não é isso, Ricardo?

-Orlando é o Orlando; isto eu declarei a vida inteira, até porque Orlando foi meu amigo, gravou comigo no Museu da Imagem e do Som. Tem uma história de amizade, de fraternidade comigo, sobretudo uma história de fã para ídolo. Eu, certamente, coloco e sempre coloquei Orlando num pedestal. Ele é o maior cantor brasileiro de todos os tempos. Eu sempre assino embaixo.

Jonas Vieira se mostrou mais orlandófilo.

-Perfeito. Eu vou mais longe: ele é o maior cantor do mundo. Segundo a crítica americana Daniela Thompson, que tem um “site” e conhece a música brasileira profundamente, dá informações preciosas nesse “site”. Ela é fãzona do Orlando; diz que para ela o maior cantor do mundo se chama, exatamente,  Orlando Silva.

Ricardo Cravo Albim se manifestou:

-Eu não me surpreendo com isso, até porque o Orlando Silva desenvolveu essa magia que é a música popular brasileira no que ela tem de melhor. Poucos países do mundo tem uma magia de diversidade, de talento, sobretudo de miscigenação, como a música popular brasileira. Então, o Orlando já chega no auge de uma culminância, a nossa música, que ele une com a culminância da sua voz. É claro que tudo isso faz sentido: é o maior cantor do mundo.

A hora de se ouvir a grande voz urgia, e o titular do programa percebeu isso.

-Eu vou apresentar, Ricardo, com a sua concordância, um lado do Orlando pouco explorado, mas, pelo qual, tenho a maior admiração porque também é genial: as versões. A versão que ele gravou, por exemplo, “Quando Se Pede a Uma Estrela”. É de um filme famoso. Conhece, Simon?

Antes que o Simon quebrasse a sua mudez, acrescentou:

-Vamos ouvir “Quando Se Pede a Uma Estrela”.

A música aflorou a faceta de professor de inglês do anfitrião.

“When You Wish UP a Star”. E aí, Ricardo?

-Sem palavras; é de uma beleza espantosa e, no começo da primeira parte, eu me emocionei; meus olhos ficaram úmidos, ouvindo aqui de manhã… Orlando é para qualquer hora, de manhã, tarde, noite. Especialmente de manhã, a voz dele soa como um pássaro cantante.

“When You Wish UP a Star”, “Quando Se Pede a Uma Estrela”, é uma composição de Leigh Harline  e Ned Washington.

-Eu queria saber quem é o clarinete?- manifestou-se o Simon Khoury ainda mais rouco de tanto ouvir.

-O clarinete deve ser do Luiz Americano. - disse o Jonas.

-O Cole Porter mandou um telegrama para o Orlando Silva dizendo que a melhor gravação de “Begin the Beguine” era a sua.

-Foi? Eu não sabia disso, não. – surpreendeu-se o Ricardo Cravo Albim com a informação do Simon Khoury.

Jonas Vieira corroborou as palavras do amigo com quem briga há 50 anos.

-Exatamente, ele mandou um telegrama. Nessa época, o Orlando morava perto da Praça da Bandeira; houve uma chuvarada, e ele perdeu disco, tudo. Mas Cole Porter enviou mesmo uma carta para ele.

-Ou seja, Cole Porter sempre foi esperto. - concluiu Ricardo Cravo Albim.

-Por sinal, o cinquentenário de morte do Cole Porter está transcorrendo agora.

Jonas Vieira também está atento para as efemérides dos outros países; Cole Porter nasceu no Peru (não o país, e sim a cidade de Indiana) em 1891, falecendo em 1964, com 73 anos de idade.

E eis que chega o Sérgio Fortes.

-Sérgio Fortes, o senhor está atrasado; cartão amarelo; vou cortar o seu ponto.

Se eu dissesse que o Sérgio se atrasou por causa do horário de verão, o Dieckmann logo atacaria com um asterisco, dizendo que o programa foi gravado na quinta-feira, no horário antigo. Mesmo correndo esse risco, afirmamos que, caso o Sérgio Fortes alegasse o horário de verão, nós aceitaríamos, afinal, a ilusão de que tudo é improvisado, que nada é editado, deve perdurar.

-O Ricardo, você conhece?

-Claro, Jonas, conheço demais. Nossa enciclopédia.

-Sérgio está falando sério; o Ricardo escreveu uma enciclopédia.

-Eu recorro frequentemente à sua enciclopédia. - declarou o Sérgio Fortes.

Agora, Jonas Vieira impostava novamente a voz.

-Mais uma vez Orlando Silva com outra versão, agora, uma das canções mais lindas que eu conheço. Essa música é uma das minhas admirações, “Na Balalaika”, que não concorreu ao Oscar por incrível que pareça.

E prosseguiu:

-É de uma opereta de 1936, passou para o cinema em 1938. Foi lançada por Nelson Eddy, em inglês é “At Balalaika; ganhou uma versão brasileira lindíssima, que o Orlando dá uma dimensão fantástica.

-Vale registrar, Jonas, que a gravação original é de Nelson Eddy com Jeanette MacDonald. Essa versão foi das mais vendidas pelo Orlando; vendeu como um grande sucesso da música popular brasileira.

Não, caro leitor, Simon Khoury permanecia ainda com a sua retórica represada, a intervenção acima foi feita pelo Ricardo Cravo Albim.

-Exatamente – disse o Jonas – a gravação americana ficou de lado, e prevaleceu a do Orlando Silva.

E anunciou “Na Balalaika”, de Posford e Estothart, versão de Osvaldo Santiago.

 

 

 

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