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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4970 Data: 21 de outubro de
2014
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ORLANDO SILVA PARA
SEMPRE NO RÁDIO MEMÓRIA
Primeiramente, levei um
susto: sintonizei a Roquette Pinto às 7h 40min e ouvi a voz do Jonas Vieira, do
Simon Khoury e de uma pessoa que não foi nomeada, nem precisava, era o Ricardo
Cravo Albim, que muitas vezes ouvi na Rádio MEC.
-O Sérgio Fortes está com um
pequeno atraso.
Pudera, Jonas Vieira, com o
programa se iniciando neste horário que, na verdade, seria 6h 40min, se o
horário de verão não tivesse início nesse mesmo dia.
De repente, estornaram tudo
e entrou uma programação musical, já que não haveria o “Almanaque”, por causa
da primeira meia hora tomada pelo horário eleitoral.
Às 8 horas, sim, tudo voltou
ao normal.
-Bondíssimo bom-dia,
senhores ouvintes. Hoje, recebo com imenso prazer uma pessoa por quem tenho
enorme, demais mesmo, admiração. A música brasileira deve demais a ele: Ricardo
Cravo Albim.
-Bondíssimo bom-dia, meu
querido amigo Jonas Vieira. É uma alegria estar com você por todos os motivos.
Eu devolvo todo o carinho, todo o afeto que você dirigiu a mim. A minha
admiração arrebatadora pelo seu trabalho, que é modelar.
A palavra retornou ao
titular do programa, que tratou de provocar o Simon Khoury:
-Peço desculpas, tive de
convidar o Simon Khoury. Ele aqui está porque é metido, mas você pediu para eu
convidá-lo. Bom dia, Simon Khoury.
-O Ricardo falou de você
tudo o que pedi para ele dizer. – reagiu.
-O Sérgio Fortes está com um
pequeno atraso…
Neste momento, houve a
interrupção a que já nos referimos.
-… - mas já chega.
Agora, Jonas Vieira
impostava a voz:
-Nós vamos homenagear
Orlando Silva, que é a minha e a sua devoção, não é isso, Ricardo?
-Orlando é o Orlando; isto
eu declarei a vida inteira, até porque Orlando foi meu amigo, gravou comigo no
Museu da Imagem e do Som. Tem uma história de amizade, de fraternidade comigo,
sobretudo uma história de fã para ídolo. Eu, certamente, coloco e sempre
coloquei Orlando num pedestal. Ele é o maior cantor brasileiro de todos os
tempos. Eu sempre assino embaixo.
Jonas Vieira se mostrou mais
orlandófilo.
-Perfeito. Eu vou mais
longe: ele é o maior cantor do mundo. Segundo a crítica americana Daniela
Thompson, que tem um “site” e conhece a música brasileira profundamente, dá
informações preciosas nesse “site”. Ela é fãzona do Orlando; diz que para ela o
maior cantor do mundo se chama, exatamente,
Orlando Silva.
Ricardo Cravo Albim se
manifestou:
-Eu não me surpreendo com
isso, até porque o Orlando Silva desenvolveu essa magia que é a música popular
brasileira no que ela tem de melhor. Poucos países do mundo tem uma magia de
diversidade, de talento, sobretudo de miscigenação, como a música popular
brasileira. Então, o Orlando já chega no auge de uma culminância, a nossa
música, que ele une com a culminância da sua voz. É claro que tudo isso faz
sentido: é o maior cantor do mundo.
A hora de se ouvir a grande
voz urgia, e o titular do programa percebeu isso.
-Eu vou apresentar, Ricardo,
com a sua concordância, um lado do Orlando pouco explorado, mas, pelo qual,
tenho a maior admiração porque também é genial: as versões. A versão que ele
gravou, por exemplo, “Quando Se Pede a Uma Estrela”. É de um filme famoso.
Conhece, Simon?
Antes que o Simon quebrasse
a sua mudez, acrescentou:
-Vamos ouvir “Quando Se Pede
a Uma Estrela”.
A música aflorou a faceta de
professor de inglês do anfitrião.
“When You Wish UP a Star”. E aí, Ricardo?
-Sem palavras; é de uma
beleza espantosa e, no começo da primeira parte, eu me emocionei; meus olhos
ficaram úmidos, ouvindo aqui de manhã… Orlando é para qualquer hora, de manhã,
tarde, noite. Especialmente de manhã, a voz dele soa como um pássaro cantante.
“When You Wish UP a Star”,
“Quando Se Pede a Uma Estrela”, é uma composição de Leigh Harline e Ned Washington.
-Eu queria saber quem é o
clarinete?- manifestou-se o Simon Khoury ainda mais rouco de tanto ouvir.
-O clarinete deve ser do
Luiz Americano. - disse o Jonas.
-O Cole Porter mandou um
telegrama para o Orlando Silva dizendo que a melhor gravação de “Begin the
Beguine” era a sua.
-Foi? Eu não sabia disso,
não. – surpreendeu-se o Ricardo Cravo Albim com a informação do Simon Khoury.
Jonas Vieira corroborou as
palavras do amigo com quem briga há 50 anos.
-Exatamente, ele mandou um
telegrama. Nessa época, o Orlando morava perto da Praça da Bandeira; houve uma
chuvarada, e ele perdeu disco, tudo. Mas Cole Porter enviou mesmo uma carta
para ele.
-Ou seja, Cole Porter sempre
foi esperto. - concluiu Ricardo Cravo Albim.
-Por sinal, o cinquentenário
de morte do Cole Porter está transcorrendo agora.
Jonas Vieira também está
atento para as efemérides dos outros países; Cole Porter nasceu no Peru (não o
país, e sim a cidade de Indiana) em 1891, falecendo em 1964, com 73 anos de
idade.
E eis que chega o Sérgio
Fortes.
-Sérgio Fortes, o senhor
está atrasado; cartão amarelo; vou cortar o seu ponto.
Se eu dissesse que o Sérgio
se atrasou por causa do horário de verão, o Dieckmann logo atacaria com um
asterisco, dizendo que o programa foi gravado na quinta-feira, no horário
antigo. Mesmo correndo esse risco, afirmamos que, caso o Sérgio Fortes alegasse
o horário de verão, nós aceitaríamos, afinal, a ilusão de que tudo é
improvisado, que nada é editado, deve perdurar.
-O Ricardo, você conhece?
-Claro, Jonas, conheço
demais. Nossa enciclopédia.
-Sérgio está falando sério;
o Ricardo escreveu uma enciclopédia.
-Eu recorro frequentemente à
sua enciclopédia. - declarou o Sérgio Fortes.
Agora, Jonas Vieira
impostava novamente a voz.
-Mais uma vez Orlando Silva
com outra versão, agora, uma das canções mais lindas que eu conheço. Essa
música é uma das minhas admirações, “Na Balalaika”, que não concorreu ao Oscar
por incrível que pareça.
E prosseguiu:
-É de uma opereta de 1936,
passou para o cinema em 1938. Foi lançada por Nelson Eddy, em inglês é “At Balalaika;
ganhou uma versão brasileira lindíssima, que o Orlando dá uma dimensão
fantástica.
-Vale registrar, Jonas, que
a gravação original é de Nelson Eddy com Jeanette MacDonald. Essa versão foi
das mais vendidas pelo Orlando; vendeu como um grande sucesso da música popular
brasileira.
Não, caro leitor, Simon
Khoury permanecia ainda com a sua retórica represada, a intervenção acima foi
feita pelo Ricardo Cravo Albim.
-Exatamente – disse o Jonas
– a gravação americana ficou de lado, e prevaleceu a do Orlando Silva.
E anunciou “Na Balalaika”,
de Posford e Estothart, versão de Osvaldo Santiago.
“When You Wish Upon a Star" é o título original da primeira canção.
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