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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

2712 - prefiro não falar sobre isso agora


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 4962                                     Data: 09 de  outubro de 2014

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SABADOIDO NA VÉSPERA DA ELEIÇÃO

3ª PARTE

 

Como deixamos de lado o clima eleitoral e passamos a tratar de amenidades, citei um programa da Rádio CBN em que entrevistaram a Fernanda Torres.

-A entrevista foi com público no Shopping da Gávea.

-A que horas foi isso? - indagou-me o Claudio.

-De seis às sete da noite.

-Isso é hora de ver televisão, não de ouvir rádio. - criticou-me a Gina.

-Eu gosto de saber o que a Fernanda Torres tem a dizer, não porque concorde com tudo o que ela diz.

-Ela vem surpreendendo... - parou o Claudio a frase nas reticências.

-Uma coisa muita interessante que fiquei sabendo por ela: a escola da sua mãe foi a Rádio Ministério da Educação e Cultura.

-Por que interessante? - interveio a Gina com algum ceticismo.

-Porque eu já disse algumas vezes que, no item escolaridade do meu currículo deveria constar a Rádio Ministério da Educação e Cultura. Dos 13 anos de idade até hoje, tenho aprendido muito com essa emissora.

-E o que a Fernanda Montenegro aprendeu lá?- interessou-se a Gina.

-Ela lia crônicas de Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Otto Lara Rezende, Fernando Sabino...

-Só isso. - cortou-me.

-Bem Gina, a leitura em voz alta é uma maneira de representar. E, naquela época, as rádios estatais estavam bem aparelhadas, tinham orquestras próprias; radioteatro, não era só na Nacional. Ela ouviu, evidentemente, muita música boa. A Fernanda Torres disse que, em casa, se tocava muito música clássica.

-Ela, como a mãe, não chegou ao curso superior. - disse a Gina sem nenhuma conotação de crítica.

-Fernanda Torres tocou no assunto, nessa entrevista, ela disse que os pais aprenderam no palco, assim aconteceu com ela, que, desde pequena, assistia às representações dos pais. O teatro foi a sua faculdade.

-É evidente que eles aprendem muito, pois lidam com obras dos grandes cérebros que existiram.

-Há também muita porcaria encenada. - contestou a Gina as palavras do Claudio.

-Mas os atores de que o Carlinhos está falando escolhem bem os papéis.

-A Fernanda Torres passou para a terceira geração, ou seja, aos filhos. Eles pretendem assistir às atuações dela no teatro. Disse que, quando o primogênito chegou aos 14 anos de idade, deu-lhe permissão para vê-la no palco atuando em “A Casa dos Budas Ditosos”, mas terceiros intervieram argumentando que não ficaria bem um menino assistir à mãe falando tantos palavrões.

-É a chamada vergonha alheia, você fica envergonhado com as cagadas que uma pessoa chegada a você faz. - frisou o Claudio.

-Ainda bem que eu não sou chegada à Dilma. - não perdeu a Gina a piada.

-O momento dessas entrevistas da CBN que mais agita o público é quando os apresentadores colocam diante do entrevistado comparações excludentes: Machado de Assis ou Guimarães Rosa?

-O que ela respondeu?

-Ela não queria excluir ninguém, respondeu Guimarães de Assis. Quando a opção foi entre Drummond e Bandeira, Chico e Caetano, ela respondeu: os dois.

-Ficou em cima do muro. - ironizou a Gina.

-Por mais que lutassem para tirá-la de lá, ela só saiu uma vez, quando preferiu Fellini a Bergman.

-Você soube do Luca desejando feliz aniversário ao Daniel?- mudou a Gina de assunto.

-O próprio Luca me contou: telefonou desejando mil abraços, felicidades, disse que, depois de um torrencial de palavras ditas, ouviu uma voz grossa informando: “Meu amigo, é engano”.

-Não foi bem assim, Carlinhos.

-Bem, Gina, ele me disse que, depois de pedir desculpas e lamentar que não saberia repetir todas as felicitações dadas, o Daniel se identificou.

-Falando no Daniel, onde ele estará agora.

Um telefonema matou a curiosidade da mãe dele: achava-se numa olimpíadas para crianças com a prima e os filhos dela.

Voltei-me para o Claudio, enquanto a Gina estava no celular.

-O Luca me trouxe uns recortes de jornal da Rosa além das suas certas manuscritas.

-E Livros?

-Cláudio, a Rosa já me deu, de presente de aniversário, a biografia de Josefina Bonaparte, da Kate Williams, que é excelente e me basta por um bom tempo.

-Eu não li, mas soube que ela mostra uma Josefina mais perdulária do que a Maria Antonieta e um Napoleão, ditador, que reviveu a pompa e o protocolo do rei Luís XVI, que havia sido guilhotinado pela Revolução Francesa.

-O poder enlouquece, quando Napoleão decide invadir a Rússia atingiu o paroxismo da loucura. - comentei.

-Na verdade, tudo o que Napoleão conquistou em território, ele perdeu e, não perdeu mais, porque a Inglaterra não deixou que houvesse um desequilíbrio de forças na Europa, o que atrapalharia as suas pretensões.

-A Kate Williams viu a Josefina Bonaparte sob um prisma bem benevolente, Napoleão não teve a mesma sorte. Isso não quer dizer que não mostre os deslizes da imperatriz que foram inúmeros.

-Ela não fala do gênio militar do Napoleão, do Código Civil Napoleônico de 1804?... - perguntou-me.

-Claudio, o livro é calcado na vida de Josefina, até mesmo o Napoleão Bonaparte é coadjuvante nele.

  -O Luca, ao me entregar a papelada da Rosa, insistiu que eu não deixasse de ler um artigo do Ruy Castro, na Folha de São Paulo, sobre o pouco destaque que a mídia dá aos artistas brasileiros do passado.

-E você leu?

-Li; parece que o Ruy Castro é ouvinte do Rádio Memória. Parece que foram reproduzidas pelo Ruy Castro as queixas que o Jonas Vieira e o Simon Khoury, principalmente o Jonas Vieira, fazem ao esquecimento a que relegaram cantores, compositores que se destacaram nos tempos idos.

-Ora, Carlinhos, não são apenas esses que você citou que são saudosistas. - voltou a Gina à nossa conversa depois de pôr de lado o celular.

-Fiquei com essa dúvida porque o Jonas Vieira foi a única pessoa a falar do Roberto Paiva quando ele faleceu recentemente.

-Quem é Roberto Paiva? - quis ela saber.

-Um cantor que já estava com mais de 90 anos quando morreu de enfisema, a mesma doença que levou o Miltinho. Sei disso tudo através do Jonas Vieira.

-O Ruy Castro é estudioso da música popular brasileira, deve ouvir o Rádio Memória e, assim, ficou sabendo da morte do Roberto Paiva. - manifestou-se o Claudio.

-Zapeando os canais da NET, deparei-me com o Ruy Castro, no canal Arte. Dizia ele que pretendia escrever sobre o alcoolismo, mas, depois de muito material recolhido, a pretensão dele acabou na biografia do Garrincha.

Às minhas palavras seguiram-se as do Claudio.

-Deve ter sido interessante:

-Uma coisa que eu não sabia: o Ruy Castro confessou que é alcoólatra, parou de beber em 1988.

-Não pode pôr uma gota de álcool na boca, se não, volta o alcoolismo. -disse meu irmão.

- E o Botafogo, Carlinhos?

-Gina, não me fale de futebol.

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