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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4962 Data: 09 de outubro de 2014
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SABADOIDO NA VÉSPERA DA ELEIÇÃO
3ª PARTE
Como deixamos de lado o
clima eleitoral e passamos a tratar de amenidades, citei um programa da Rádio
CBN em que entrevistaram a Fernanda Torres.
-A entrevista foi com
público no Shopping da Gávea.
-A que horas foi isso? -
indagou-me o Claudio.
-De seis às sete da noite.
-Isso é hora de ver
televisão, não de ouvir rádio. - criticou-me a Gina.
-Eu gosto de saber o que a
Fernanda Torres tem a dizer, não porque concorde com tudo o que ela diz.
-Ela vem surpreendendo...
- parou o Claudio a frase nas reticências.
-Uma coisa muita
interessante que fiquei sabendo por ela: a escola da sua mãe foi a Rádio
Ministério da Educação e Cultura.
-Por que interessante? -
interveio a Gina com algum ceticismo.
-Porque eu já disse
algumas vezes que, no item escolaridade do meu currículo deveria constar a
Rádio Ministério da Educação e Cultura. Dos 13 anos de idade até hoje, tenho
aprendido muito com essa emissora.
-E o que a Fernanda
Montenegro aprendeu lá?- interessou-se a Gina.
-Ela lia crônicas de
Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Otto Lara Rezende, Fernando Sabino...
-Só isso. - cortou-me.
-Bem Gina, a leitura em
voz alta é uma maneira de representar. E, naquela época, as rádios estatais
estavam bem aparelhadas, tinham orquestras próprias; radioteatro, não era só na
Nacional. Ela ouviu, evidentemente, muita música boa. A Fernanda Torres disse
que, em casa, se tocava muito música clássica.
-Ela, como a mãe, não chegou
ao curso superior. - disse a Gina sem nenhuma conotação de crítica.
-Fernanda Torres tocou no
assunto, nessa entrevista, ela disse que os pais aprenderam no palco, assim
aconteceu com ela, que, desde pequena, assistia às representações dos pais. O
teatro foi a sua faculdade.
-É evidente que eles
aprendem muito, pois lidam com obras dos grandes cérebros que existiram.
-Há também muita porcaria encenada.
- contestou a Gina as palavras do Claudio.
-Mas os atores de que o
Carlinhos está falando escolhem bem os papéis.
-A Fernanda Torres passou
para a terceira geração, ou seja, aos filhos. Eles pretendem assistir às
atuações dela no teatro. Disse que, quando o primogênito chegou aos 14 anos de
idade, deu-lhe permissão para vê-la no palco atuando em “A Casa dos Budas
Ditosos”, mas terceiros intervieram argumentando que não ficaria bem um menino
assistir à mãe falando tantos palavrões.
-É a chamada vergonha
alheia, você fica envergonhado com as cagadas que uma pessoa chegada a você faz.
- frisou o Claudio.
-Ainda bem que eu não sou
chegada à Dilma. - não perdeu a Gina a piada.
-O momento dessas
entrevistas da CBN que mais agita o público é quando os apresentadores colocam
diante do entrevistado comparações excludentes: Machado de Assis ou Guimarães
Rosa?
-O que ela respondeu?
-Ela não queria excluir
ninguém, respondeu Guimarães de Assis. Quando a opção foi entre Drummond e
Bandeira, Chico e Caetano, ela respondeu: os dois.
-Ficou em cima do muro. -
ironizou a Gina.
-Por mais que lutassem
para tirá-la de lá, ela só saiu uma vez, quando preferiu Fellini a Bergman.
-Você soube do Luca
desejando feliz aniversário ao Daniel?- mudou a Gina de assunto.
-O próprio Luca me contou:
telefonou desejando mil abraços, felicidades, disse que, depois de um
torrencial de palavras ditas, ouviu uma voz grossa informando: “Meu amigo, é
engano”.
-Não foi bem assim,
Carlinhos.
-Bem, Gina, ele me disse
que, depois de pedir desculpas e lamentar que não saberia repetir todas as
felicitações dadas, o Daniel se identificou.
-Falando no Daniel, onde
ele estará agora.
Um telefonema matou a
curiosidade da mãe dele: achava-se numa olimpíadas para crianças com a prima e
os filhos dela.
Voltei-me para o Claudio,
enquanto a Gina estava no celular.
-O Luca me trouxe uns
recortes de jornal da Rosa além das suas certas manuscritas.
-E Livros?
-Cláudio, a Rosa já me
deu, de presente de aniversário, a biografia de Josefina Bonaparte, da Kate
Williams, que é excelente e me basta por um bom tempo.
-Eu não li, mas soube que
ela mostra uma Josefina mais perdulária do que a Maria Antonieta e um Napoleão,
ditador, que reviveu a pompa e o protocolo do rei Luís XVI, que havia sido
guilhotinado pela Revolução Francesa.
-O poder enlouquece,
quando Napoleão decide invadir a Rússia atingiu o paroxismo da loucura. - comentei.
-Na verdade, tudo o que
Napoleão conquistou em território, ele perdeu e, não perdeu mais, porque a
Inglaterra não deixou que houvesse um desequilíbrio de forças na Europa, o que
atrapalharia as suas pretensões.
-A Kate Williams viu a
Josefina Bonaparte sob um prisma bem benevolente, Napoleão não teve a mesma
sorte. Isso não quer dizer que não mostre os deslizes da imperatriz que foram
inúmeros.
-Ela não fala do gênio
militar do Napoleão, do Código Civil Napoleônico de 1804?... - perguntou-me.
-Claudio, o livro é
calcado na vida de Josefina, até mesmo o Napoleão Bonaparte é coadjuvante nele.
-O Luca, ao me entregar a papelada da Rosa,
insistiu que eu não deixasse de ler um artigo do Ruy Castro, na Folha de São
Paulo, sobre o pouco destaque que a mídia dá aos artistas brasileiros do
passado.
-E você leu?
-Li; parece que o Ruy
Castro é ouvinte do Rádio Memória. Parece que foram reproduzidas pelo Ruy
Castro as queixas que o Jonas Vieira e o Simon Khoury, principalmente o Jonas
Vieira, fazem ao esquecimento a que relegaram cantores, compositores que se
destacaram nos tempos idos.
-Ora, Carlinhos, não são
apenas esses que você citou que são saudosistas. - voltou a Gina à nossa
conversa depois de pôr de lado o celular.
-Fiquei com essa dúvida
porque o Jonas Vieira foi a única pessoa a falar do Roberto Paiva quando ele
faleceu recentemente.
-Quem é Roberto Paiva? -
quis ela saber.
-Um cantor que já estava
com mais de 90 anos quando morreu de enfisema, a mesma doença que levou o
Miltinho. Sei disso tudo através do Jonas Vieira.
-O Ruy Castro é estudioso
da música popular brasileira, deve ouvir o Rádio Memória e, assim, ficou
sabendo da morte do Roberto Paiva. - manifestou-se o Claudio.
-Zapeando os canais da
NET, deparei-me com o Ruy Castro, no canal Arte. Dizia ele que pretendia
escrever sobre o alcoolismo, mas, depois de muito material recolhido, a
pretensão dele acabou na biografia do Garrincha.
Às minhas palavras
seguiram-se as do Claudio.
-Deve ter sido
interessante:
-Uma coisa que eu não
sabia: o Ruy Castro confessou que é alcoólatra, parou de beber em 1988.
-Não pode pôr uma gota de
álcool na boca, se não, volta o alcoolismo. -disse meu irmão.
- E o Botafogo, Carlinhos?
-Gina, não me fale de
futebol.
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