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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4971 Data: 22 de outubro de
2014
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ORLANDO SILVA PARA SEMPRE NO RÁDIO MEMÓRIA
PARTE II
Soou
a última nota do “Na Balalaika”
-Ricardo, e aí? - perguntou,
já prevendo elogios rasgados à interpretação do Orlando Silva.
-É de babar, Jonas. Essas
gravações emocionam mais ainda porque são muito raras. As pessoas não se dão conta…
É importante que seus ouvintes se deem conta precisa do valor desta manhã
musical, quando você exibe essas maravilhas. Em geral, sempre houve um lado da
crítica mais vigorosa, eu, inclusive,
participei disso e me arrependo hoje; a gente abominava as versões, porque era
importante preservar e privilegiar a música popular brasileira. Mas as versões
que o Orlando gravou são melhores do que as muitas versões gravadas pelo
Francisco Alves, que é outro cancioneiro.
-São versões muito bem feitas.
- acentuou o Sérgio Fortes.
-Osvaldo Santiago. - citou o
Jonas Vieira aquele que verteu “At Balalaika” para o nosso idioma.
-São as melhores, primeiro,
pelo arranjo, e melhores sempre pela voz do Orlando Silva. - finalizou o
Sérgio.
-Exatamente por causa da
interpretação dele.
E acrescentou o Jonas
Vieira:
-Estamos envolvidos no
projeto sobre o centenário do Orlando Silva.
-Nós vamos fazer um comitê
“Orlando Silva 100”. - anunciou o Ricardo Cravo Albim.
-O lançamento vai ser no
Instituto Ricardo Cravo Albim, na Urca, naquele casebre onde mora. – informou o
Jonas Vieira.
-Você quer coisa mais
charmosa do que trabalhar na Urca? Duas alternativas: Mônaco ou Urca.
Até o Dieckmann, que não
pode estacionar seu iate na Urca, concordaria com o Sérgio Fortes. Quanto a
mim, adorava ir, a trabalho, a uma empresa de navegação com endereço na Urca.
(*)
-Outra versão que o Orlando
dá um banho de interpretação se chama “Boa Noite, Querida”. Vamos lá.
E o Peter, obedecendo a
ordem do titular do programa, acionou as carrapetas, e a gravação nos chegou
aos ouvidos.
“Boa Noite Querida”, “Good Night Sweet Heart”, de Noble, Connelly e
Campbell.
Consideramos interessante abrir aqui um
parêntese para transcrever um trecho de “Ecos da 2ª Grande Guerra – Memórias da
Minha Infância, de Vivaldo Lima de Magalhães:
“Durante a Segunda Guerra Mundial, os shows
que eram realizados em homenagem aos soldados norte-americanos, que iam para o
front, eram sempre encerrados com a música “Good Night Sweet Heart” (fox)
gravado em 1931de autoria de Jimmy Campbell/ Reg Connelly/ Ray Noble. Em 1944,
o compositor Décio Abramo fez uma versão, colocando uma letra que recebeu o
título de “Boa Noite, Querida”, gravada por Orlando Silva e, posteriormente,
por Francisco Alves. Na Bahia, havia um parque de diversões chamado Feira de
Amostras, instalado na cidade baixa, num terreno baldio que ficava próximo ao
4º Armazém das Docas de Salvador. O encerramento dos shows, que ali eram
realizados ao ar livre, todos os dias, à noite, era tocada essa canção na voz
de Francisco Alves.”
Estivesse lá o Jonas Vieira,
protestaria com toda razão: “Francisco Alves é bom, mas Orlando Silva é
insuperável”.
Fechado o parêntese, sigamos
com o Rádio Memória.
-Outro filme. – julgou,
referindo-se ainda ao “Good Night Sweet Heart”.
A palavra retornou ao
Ricardo Cravo Albim:
-Possivelmente, Jonas,
porque naquela altura, os filmes americanos nos anos 30, no final, e,
principalmente, nos anos 40, no começo, os musicais americanos dominavam. Eram
o grande “top de linha” Ginger Rogers e Fred Astaire e todos os demais. Eram um
grande sucesso, e as músicas que embutiam dentro do filme. É claro que quando
chegavam aqui, as pessoas queriam comprar os discos, e os grandes cantores
cantavam as versões. O Orlando é insuperável nessas gravações.
Jonas Vieira, provavelmente
preocupado com a mudez do Simon Khoury, o abordou:
-Estou ouvindo vocês. -
limitou-se a dizer.
-E você, Sérgio? – voltou-se
para ele, não tão calado quanto o Simon, porque chegou atrasado.
Nosso amigo revelou a sua
perplexidade com a voz do Orlando Silva e pela beleza do seu repertório.
Feitas as perguntas, Jonas
Vieira seguiu adiante.
-Assim como “Na Balalaika”
ficou como canção predominante depois que o Orlando gravou… Uma canção do
Lecuona, do filme que foi um sucesso mundial “Sempre no Meu Coração”, depois
que o Orlando gravou a versão, só deu ele, a original americana sumiu. Prestem
atenção que o Orlando canta isso como se estivesse conversando com você. É uma
das minhas favoritas, “Always in My Heart”.
Mais um parêntese, desta vez, autobiográfico.
Assisti ao filme de Walter
Hugo Khoury, lançado em 1982, “Amor Estranho Amor”. A história se passa num
bordel de luxo, de São Paulo, em 1937.
Na trilha sonora, havia canções cantadas pelo Orlando Silva e parece,
não garanto, que “Sempre em Meu Coração” foi uma delas. É claro que orlandólogos
(pessoas versadas na obra do Orlando Silva), dirão logo que ele não tinha esse
repertório em 1937. Vi o filme num cinema de Madureira e, quando a Xuxa seduz o
filho da Vera Fisher, de 12 anos de idade, gritaram na plateia: “Turma da
Xuxa!” Mas isso é outra história, que mais parece um causo contado pelo Simon
Khoury.
Agora, Sérgio Fortes tem a
palavra:
-Jonas, sobre essa música do
Lecuona, ela foi a segunda classificada no Oscar, perdeu para “White
Christmas”. O que aconteceu com “White Christmas”, eu não sei se viria
acontecer novamente, vendeu tanto que Bing Crosby foi obrigado a gravar duas
vezes, porque a primeira matriz acabou.
Jonas Vieira se manifestou:
-Vendeu mais de 1 milhão de
cópias.
Retomou o assunto o Sérgio
Fortes:
-Na época, havia aqueles
processos de produção. Bing Crosby foi obrigado a entrar no estúdio e fazer uma
força danada para que tudo saísse absolutamente igual; as pessoas não podiam
notar que foi regravado.
-Segundo os críticos, foi
exatamente o que aconteceu. O americano tem o máximo cuidado com o detalhismo,
de fazer a coisa perfeita. – garantiu o Jonas Vieira.
Finalmente, já estávamos
preocupados, Simon Khoury quebrou o seu silêncio:
-Eu gostaria de fazer uma
pergunta para o Ricardo. Ele tem muito prestígio artístico e político. Todo o
mundo gosta dele, todo o mundo o conhece. Há alguns anos morreu o grande
compositor americano Richard Rodgers. Os americanos fizeram filmes,
documentários, entrevistaram pessoas abastadas, feirantes… Lá, todos sabem,
todos conhecem “Always in My Heart”. Por que o Orlando Silva, aqui do Brasil,
ninguém sabe quem é? Por que o brasileiro esquece?
Quando afirmou que ninguém,
no Brasil, conhece Orlando Silva, pisou no calo do Jonas Vieira:
-Isso não é verdade.
-Eu também discordo um pouco
do meu amigo Simon Khoury. - manifestou-se Ricardo Cravo Albim.
-Quem tem 20, 30 anos não
sabe quem foi Orlando Silva. - insistiu o polemista Simon Khoury. (**)
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