Total de visualizações de página

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

2721 - balalaika 2


--------------------------------------------------------------

O BISCOITO MOLHADO

Edição 4971                            Data: 22 de  outubro de 2014

----------------------------------------------------------------------

 

ORLANDO SILVA PARA SEMPRE NO RÁDIO MEMÓRIA

PARTE II

 

Soou a última nota do “Na Balalaika”

-Ricardo, e aí? - perguntou, já prevendo elogios rasgados à interpretação do Orlando Silva.

-É de babar, Jonas. Essas gravações emocionam mais ainda porque são muito raras. As pessoas não se dão conta… É importante que seus ouvintes se deem conta precisa do valor desta manhã musical, quando você exibe essas maravilhas. Em geral, sempre houve um lado da crítica  mais vigorosa, eu, inclusive, participei disso e me arrependo hoje; a gente abominava as versões, porque era importante preservar e privilegiar a música popular brasileira. Mas as versões que o Orlando gravou são melhores do que as muitas versões gravadas pelo Francisco Alves, que é outro cancioneiro.

-São versões muito bem feitas. - acentuou o Sérgio Fortes.

-Osvaldo Santiago. - citou o Jonas Vieira aquele que verteu “At Balalaika” para o nosso idioma.

-São as melhores, primeiro, pelo arranjo, e melhores sempre pela voz do Orlando Silva. - finalizou o Sérgio.

-Exatamente por causa da interpretação dele.

E acrescentou o Jonas Vieira:

-Estamos envolvidos no projeto sobre o centenário do Orlando Silva.

-Nós vamos fazer um comitê “Orlando Silva 100”. - anunciou o Ricardo Cravo Albim. 

-O lançamento vai ser no Instituto Ricardo Cravo Albim, na Urca, naquele casebre onde mora. – informou o Jonas Vieira.

-Você quer coisa mais charmosa do que trabalhar na Urca? Duas alternativas: Mônaco ou Urca.

Até o Dieckmann, que não pode estacionar seu iate na Urca, concordaria com o Sérgio Fortes. Quanto a mim, adorava ir, a trabalho, a uma empresa de navegação com endereço na Urca. (*)

-Outra versão que o Orlando dá um banho de interpretação se chama “Boa Noite, Querida”. Vamos lá.

E o Peter, obedecendo a ordem do titular do programa, acionou as carrapetas, e a gravação nos chegou aos ouvidos.

“Boa Noite Querida”, “Good Night Sweet Heart”, de Noble, Connelly e Campbell.     

 Consideramos interessante abrir aqui um parêntese para transcrever um trecho de “Ecos da 2ª Grande Guerra – Memórias da Minha Infância, de Vivaldo Lima de Magalhães:

  “Durante a Segunda Guerra Mundial, os shows que eram realizados em homenagem aos soldados norte-americanos, que iam para o front, eram sempre encerrados com a música “Good Night Sweet Heart” (fox) gravado em 1931de autoria de Jimmy Campbell/ Reg Connelly/ Ray Noble. Em 1944, o compositor Décio Abramo fez uma versão, colocando uma letra que recebeu o título de “Boa Noite, Querida”, gravada por Orlando Silva e, posteriormente, por Francisco Alves. Na Bahia, havia um parque de diversões chamado Feira de Amostras, instalado na cidade baixa, num terreno baldio que ficava próximo ao 4º Armazém das Docas de Salvador. O encerramento dos shows, que ali eram realizados ao ar livre, todos os dias, à noite, era tocada essa canção na voz de Francisco Alves.”

Estivesse lá o Jonas Vieira, protestaria com toda razão: “Francisco Alves é bom, mas Orlando Silva é insuperável”.

Fechado o parêntese, sigamos com o Rádio Memória.

-Outro filme. – julgou, referindo-se ainda ao “Good Night Sweet Heart”.

A palavra retornou ao Ricardo Cravo Albim:

-Possivelmente, Jonas, porque naquela altura, os filmes americanos nos anos 30, no final, e, principalmente, nos anos 40, no começo, os musicais americanos dominavam. Eram o grande “top de linha” Ginger Rogers e Fred Astaire e todos os demais. Eram um grande sucesso, e as músicas que embutiam dentro do filme. É claro que quando chegavam aqui, as pessoas queriam comprar os discos, e os grandes cantores cantavam as versões. O Orlando é insuperável nessas gravações.

Jonas Vieira, provavelmente preocupado com a mudez do Simon Khoury, o abordou:

-Estou ouvindo vocês. - limitou-se a dizer.

-E você, Sérgio? – voltou-se para ele, não tão calado quanto o Simon, porque chegou atrasado.

Nosso amigo revelou a sua perplexidade com a voz do Orlando Silva e pela beleza do seu repertório.

Feitas as perguntas, Jonas Vieira seguiu adiante.

-Assim como “Na Balalaika” ficou como canção predominante depois que o Orlando gravou… Uma canção do Lecuona, do filme que foi um sucesso mundial “Sempre no Meu Coração”, depois que o Orlando gravou a versão, só deu ele, a original americana sumiu. Prestem atenção que o Orlando canta isso como se estivesse conversando com você. É uma das minhas favoritas, “Always in My Heart”.

 Mais um parêntese, desta vez, autobiográfico.

Assisti ao filme de Walter Hugo Khoury, lançado em 1982, “Amor Estranho Amor”. A história se passa num bordel de luxo, de São Paulo, em 1937.  Na trilha sonora, havia canções cantadas pelo Orlando Silva e parece, não garanto, que “Sempre em Meu Coração” foi uma delas. É claro que orlandólogos (pessoas versadas na obra do Orlando Silva), dirão logo que ele não tinha esse repertório em 1937. Vi o filme num cinema de Madureira e, quando a Xuxa seduz o filho da Vera Fisher, de 12 anos de idade, gritaram na plateia: “Turma da Xuxa!” Mas isso é outra história, que mais parece um causo contado pelo Simon Khoury.

Agora, Sérgio Fortes tem a palavra:

-Jonas, sobre essa música do Lecuona, ela foi a segunda classificada no Oscar, perdeu para “White Christmas”. O que aconteceu com “White Christmas”, eu não sei se viria acontecer novamente, vendeu tanto que Bing Crosby foi obrigado a gravar duas vezes, porque a primeira matriz acabou.

Jonas Vieira se manifestou:

-Vendeu mais de 1 milhão de cópias.

Retomou o assunto o Sérgio Fortes:

-Na época, havia aqueles processos de produção. Bing Crosby foi obrigado a entrar no estúdio e fazer uma força danada para que tudo saísse absolutamente igual; as pessoas não podiam notar que foi regravado.

-Segundo os críticos, foi exatamente o que aconteceu. O americano tem o máximo cuidado com o detalhismo, de fazer a coisa perfeita. – garantiu o Jonas Vieira.

Finalmente, já estávamos preocupados, Simon Khoury quebrou o seu silêncio:

-Eu gostaria de fazer uma pergunta para o Ricardo. Ele tem muito prestígio artístico e político. Todo o mundo gosta dele, todo o mundo o conhece. Há alguns anos morreu o grande compositor americano Richard Rodgers. Os americanos fizeram filmes, documentários, entrevistaram pessoas abastadas, feirantes… Lá, todos sabem, todos conhecem “Always in My Heart”. Por que o Orlando Silva, aqui do Brasil, ninguém sabe quem é? Por que o brasileiro esquece?

Quando afirmou que ninguém, no Brasil, conhece Orlando Silva, pisou no calo do Jonas Vieira:

-Isso não é verdade.

-Eu também discordo um pouco do meu amigo Simon Khoury. - manifestou-se Ricardo Cravo Albim.

-Quem tem 20, 30 anos não sabe quem foi Orlando Silva. - insistiu o polemista Simon Khoury. (**)

 (*) Contou o Dieckmann a este Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO: “Certa vez, alguém respondeu sobre o que seria mais inútil a bordo de uma embarcação de lazer – engenheiros navais e oficiais de marinha. Sendo participante de ambas as categorias, na última na condição de reserva não remunerada, o Dieckmann, amparado em sua lógica e bom senso habituais, concluiu ser melhor ficar de fora.

 (**) Este Distribuidor, em que pese respeitar a admiração de muitos sobre a obra do cantor em pauta, já não tem mais 20, ou 30 anos e faz de tudo para ficar longe das gravações do homenageado.

 

   

Nenhum comentário:

Postar um comentário