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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

2710 - Paulo Francis, profeta


 

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 4960                                     Data: 06 de  outubro de 2014

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SABADOIDO NA VÉSPERA DA ELEIÇÃO

 

-Daniel, os seus amigos dos Correios distribuindo panfletos da Dilma... - repreendi-o logo que abriu o portão para eu entrar.

-São todos petistas, mas não estou lá.

-Está na Casa da Moeda, e não é muito diferente. Se bobearem, espalham moedas com a esfinge da Dilma.

-Eles tem medo que privatizem os Correios e a Casa da Moeda.

-Os políticos que barganham também, pois, assim, não podem saquear, como fazem com a Petrobras.

Quando fiz a observação acima, já estávamos na cozinha, onde o Claudio se entretinha com o jornal.

-Carlão, a Petrobras ia ser privatizada mesmo pelo PSDB?

-O Fernando Henrique Cardoso pretendeu mudar o nome da Petrobras por causa da terminação “bras”, que carregava o estigma de incompetência. “Em Obras”, por exemplo, era piada, diziam “Emobras”. O pessoal vê fantasmas...

-A Petrobras passaria a ser chama de Petrobrax. - manifestou-se meu irmão.

-Tem alguma coisa de Lubrax, que me lembra a camisa do Flamengo. Tinham de privatizar mesmo. - pilheriou o Daniel.

-O que o Fernando Henrique fez foi quebrar o monopólio da Petrobras e criar a Agência Nacional do Petróleo para o Estado ter o papel de regulador e fiscalizador. A Petrobras só cresceu.

-E o preço das ações? - interrompeu-me a Gina, que tem pavor da bolsa de valores e contagia o filho.

-Subiu, e quando o cenário econômico era ótimo, os preços foram à estratosfera. Com a Petrobras sendo privatizada para o PT, como diz o Aécio Neves, as ações despencaram. A conta petróleo, de janeiro a agosto, é negativa em quase 11 bilhões de dólares. Quanto mais o Brasil exporta óleo cru, mais perde, pois tem de importar o óleo refinado.

E arrematei:

-É um buraco sem fundo cavado pelos petistas.

-Mas o Lula e a Dilma apareceram de macacões da Petrobras, ele besuntando as costas dela de óleo e anunciando a autossuficiência em petróleo... Bem que desconfiei que toda aquela alegria dele era excesso de álcool... muito mais de 25% de mistura.- lançou a Gina as suas farpas.

-Eu não entendo porque o Lula não incentivou o Proálcool, pelo contrário, prejudicou aqueles que investiram no álcool como combustível. - disse o meu irmão.

-O Lula cuspiu no copo em que bebeu. - afirmei.

-É isso aí, Carlão. Um ingrato. - concordou o Daniel.

-Seria chato privatizar até para o Collor, que privatizou o que pôde, quando foi presidente da República e, agora, tem alguma influência na Petrobras. - interveio o Claudio.

-A Petrobras foi feudo do Geisel e, agora, é feudo do PT. A grande diferença é que o Geisel não se envolvia com corrupção.

-Carlinhos, você é favorável ao regime militar?!... - insinuou a Gina maliciosamente.

-Do regime militar, só louvo o governo Castelo Branco, que ajeitou a casa depois das lambanças acumuladas do Juscelino, Jânio e João Goulart. Seria perfeito se, depois, ele entregasse o governo a um civil, mas sofreu pressões terríveis dos quartéis. Por que não investigam a morte dele?... Essa, sim, foi suspeita.

Gina trouxe a política de volta para os dias atuais ao citar a sua sobrinha Roberta, que é diretora de uma escola pública.

-A Roberta, ontem, só pôde sair do colégio depois das 10 horas da noite?

-Tiroteio entre quadrilhas rivais de traficantes?... - tentei adivinhar a razão.

-Nada. Vai haver eleição lá, e o pessoal da Justiça Eleitoral achou melhor colocar lâmpadas mais potentes, porque as de lá parecem de boate.

-Os alunos do curso da noite é que não vão gostar por causa da cola nas provas. - observei.

-Lá, não tem aulas noturnas. Mas eles colariam de qualquer jeito até à luz do sol do meio-dia. - disse ela.

-Uma coisa da Petrobras que eu não queria deixar passar...

-Fala, Carlão.

-O Paulo Francis denunciou a cúpula da Petrobras, que enviava dinheiro para a Suíça, foi processado com requintes de crueldade; exigiram uma indenização milionária e o foro em Nova York. O estresse levou o Paulo Francis a morrer de enfarte. Agora, vê-se que ele não foi leviano na sua acusação.

-O Elio Gaspari escreveu sobre isso, dia desses, no Globo. - lembrou o Claudio, que lia, mas nos escutava sempre.

-A greve dos bancários parece que vai acabar. - reproduziu ele, em seguida, o que via no jornal.

-Claudio, as greves deles não eram de todo más para mim porque eles alugavam uma banda, que ficava na Rio Branco, ou nas adjacências, tocando músicas boas, muitas delas chorinhos.

-Não desafinava?

-Não, Gina, era boa mesmo.

E prossegui:

-Este ano, sabem o que ela tocou? “A Internacional”, o hino socialista.

-Pensei que fosse o hino do Internacional de Porto Alegre. - brincou o Daniel.

-Os bancários carregavam cartazes, enquanto a banda tocava esse hino.

-Com duas mãos no trânsito da Avenida Rio Branco, ainda conseguem fazer passeatas? - quis saber meu irmão.

-Ficou mais difícil. - respondi.

Voltei-me para o meu sobrinho:

-Daniel, você disse que foi inquirido pelo IBOPE, mas, até agora, não revelou em quem vai votar.

 -Carlão, eu disse que era indeciso, que a única coisa de que eu estava certo era de não votar no Lindbergh.

-Indeciso, Daniel?...

-Você não está também indeciso entre a Marina e o Aécio? - rebateu.

-Daniel, eu estou convencido em votar no candidato que está em melhor condições de tirar o PT do governo; era a Marina, mas, com a reação do Aécio, na reta final, votarei nele, amanhã.

-Mas a Dilma vai ganhar, Carlinhos, porque quase todo o nordeste votará nela. - comentou a Gina com a expressão de quem estava conformada.

-Eu sei que o PT está como a ARENA, que ganhava disparado nos grotões do Brasil e perdia de lavada em São Paulo. - lembrei.

-Foi quando surgiu o Orestes Quércia e ganhou do Carvalho Pinto, para o Senado, com quase 3 milhões de votos de vantagem.- acrescentou o Claudio.

-E o Orestes Quércia se mostrou um tremendo safado.

-Você está dizendo, Carlão, que o brasileiro não sabe votar?

-Os eleitores dos países mais avançados votam, às vezes, erradamente, mas, na eleição seguinte, se corrigem. No Brasil e demais países atrasados o erro é repetido, por isso, há político safado que não sai nunca de cena.

-O Sarney está saindo? - disse a Gina.

-Depois de 50 anos de poder? - retruquei.

-Ele sai, mas ainda mexerá os pauzinhos por trás dos panos. - previu o Claudio.

 

 

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