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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4961 Data: 08 de outubro de 2014
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SABADOIDO NA VÉSPERA DA ELEIÇÃO
2ª PARTE
-Vou sair. - avisou o
Daniel com a chave do carro na mão.
-Decida-se até amanhã. -
aludi à eleição.
-Carlão, está difícil
escolher o menos ruim. - disse atravessando a porta.
-Vê-se que ele não
assistiu ao debate, ontem, na Globo.
-Nem eu perdi o meu tempo.
- repetiu a Gina de mau humor.
-Eu não vi, na televisão,
um só programa eleitoral, tomava conhecimento, depois do que foi dito pelo
noticiário; a mesma coisa com os debates.
-Eu ainda assisti a alguns
programas eleitorais na televisão. - manifestou-se o Claudio.
-Só abri uma exceção com o
debate na Globo; gravei na quinta-feira, e vi na sexta.
-Aprendeu muito?... - ironizou a Gina.
-Aqueles sete debatedores
inspirariam ótimos personagens a um Balzac, a um...
-Ele escreveria, então,
livros humorísticos. - interrompeu-me a Gina.
-Balzac, Shakespeare, Eça
de Queirós, Dostoiévski, entre outros grandes criadores, concederam generosos
espaços para o humor nas suas obras.- retruquei.
-Prefiro assistir ao
bang-bang “Sete Homens e Um Destino”. - brincou o Claudio.
-Ali, na TV Globo, eram
mais de “Três Homens em Conflito”, eram sete. - aproveitei a piada
cinematográfica.
-Não esqueçam que havia
lá, entre os debatedores, três mulheres.- alertou a Gina.
-”Três Mulheres em
Conflito”. - era a vez de o Claudio lançar mais uma piada.
-Falando nas debatedoras e
em cinema, a Luciana Genro parece a personagem daquele filme “Adeus, Lênin”,
que ignorava a queda do Muro de Berlim, o fim do comunismo. Ela não
desembarcou, ainda, no século XXI.
-E há muitas pessoas que
ainda não desembarcaram, Carlinhos. - manifestou-se meu irmão.
-Vou citar um político do
seu apreço, Darci Ribeiro. Ele disse que se lê pessoas como se lê livros. Nesse
debate, havia sete pessoas bastante interessantes para ler.
-Algumas delas se fossem
livros, eu jogava no lixo. - retornou o mau humor da Gina.
Discordei prontamente e
apresentei algumas razões do meu interesse por aqueles debatedores:
-Veja, por exemplo, a
Dilma. Nos 80 anos do Fernando Henrique Cardoso, ela escreveu uma carta em que
disse que ele é o acadêmico inovador, o político habilidoso, o
ministro-arquiteto de um plano que debelou a hiperinflação. Agora, ela diz que
o Fernando Henrique Cardoso quebrou o Brasil três vezes e ficou de joelhos
diante do FMI; ou seja, com a eleição, ela deixou de ser a Dilma para virar
personagem do marqueteiro João Santana.
-Ela é personagem para o
João Santana, não para o Balzac. - lançou a Gina mais uma das farpas do seu
estoque interminável.
-Ele já elegeu um monte de
candidatos. - lembrou o Claudio.
-Na mão dos marqueteiros,
os políticos se transformam em mercadorias e os eleitores em consumidores;
ideias, que é o que interessa, ficam para o segundo plano.
E provoquei a Gina, que
costuma contestar as afirmações por birra.
-Concorda comigo?
-Os candidatos expõem as
ideias deles, erradas, muitas vezes, mas expõem.
-Não são sempre ideias
deles, muitas vezes são dos marqueteiros, eles mexem os cordéis.
Meu irmão, que acabara de ler o jornal, entrou
na questão.
-”Lulinha, paz e amor”,
que elegeu o Lula em 2002, foi invenção do Duda Mendonça. O Lula verdadeiro é
este raivoso que estamos vendo.
-Ele saliva ódio porque
não tem a mesma popularidade de antes, ficou difícil para ele eleger postes.
Vocifera tanto, nos discursos, que a voz some.
-É por causa, também, da doença.
- ponderou a Gina.
-A Marina poderia pegar
esses elogios da Dilma ao Fernando Henrique Cardoso e essa crítica de agora, e
perguntar qual a Dilma verdadeira. A
Dilma não fez outra coisa que não fosse mostrar as contradições da Marina.
Depois de uma breve pausa,
meu irmão completou:
-O Aécio também fez isso.
Retomei a palavra:
-Cláudio, as críticas do
Aécio à Marina são mais do que normais entre dois opositores que pretendem ir
ao segundo turno, mas o que os petistas fizeram foi torpe. Eles desvirtuavam as
palavras da Marina, recorriam às mentiras.
-Uma mentira repetida mil
vezes se transforma em verdade.
-Esse era o lema do
ministro da Propaganda do Hitler, Joseph Goebbels. - completei as palavras do
Claudio.
-Diga uma mentira do PT
agora contra a Marina. - provocou-nos a Gina.
-Há várias; dizer que a
´Marina é comprometida com os grandes
banqueiros porque a Neca Setúbal, do Banco Itaú, é ligada a ela; ora a
Neca trabalha com educação e até foi
convidada para a secretaria de Educação do Fernando Haddad em São Paulo. -
falou inflamadamente o Claudio.
-Outra mentira era de a
política da Marina para o Banco Central prejudicar os bancos do governo e beneficiar
os banqueiros. E pior, ainda fizeram filmes em que uma voz falava da
independência do Banco Central dada pela Marina, enquanto os pratos de comida e
livros eram retirados das mesas dos pobres. Uma canalhice, ainda mais que os
petistas tinham doze minutos para atacar, e ela, só dois minutos para se
defender.
-Isso foi coisa do
marqueteiro., Carlinhos. - disse meu irmão.
-A Dilma estava garantida
no segundo turno, mas, com toda essa vilania petista contra ela, só se for
sem-vergonha apoiará a Dilma no segundo turno.
-E você crê que o Aécio
passará para o segundo turno? - perguntou-me a Gina.
-Aécio Neves esteve
excelente no debate, não é a toa que é neto do Tancredo Neves, além disso, ele
está em ascensão enquanto a Marina está em queda.
-Esse marqueteiro já errou
quando previu que a Dilma venceria no primeiro turno porque os outros
candidatos, que chamou de anões, se comeriam entre si. - lembrou o Claudio.
-Em qualquer país avançado
em que o governante fracassa na gestão econômica, ele não é reeleito nem com o
apoio divino. Quanto aos países atrasados, não acontece isso, mas será que o
Brasil está tão atrasado assim?... Veremos nesta eleição.
-Lá, no nordeste, está bem
atrasado. - respondeu-me a Gina.
-E como anda a campanha
eleitoral na pracinha? - teve curiosidade o Claudio.
-Você deve ter visto que
põem uma cobertura na quadra de basquete, vôlei e, principalmente, espaço para
pagodes às sextas-feiras. No meio da construção, há galhardetes enormes de dois
candidatos, um a deputado federal e outro a estadual. Colocaram também, como
você já sabe, uma academia da terceira idade onde era o ringue de patinação, no
entanto, não está lá nem um retrato 3 por 4 da Cristiane Brasil, que é a
idealizadora desse projeto.
-Ela é filha do Roberto
Jefferson.
-Como o Brasil tem uma
dívida enorme com ele, pois nos livrou do José Dirceu, votarei nela. - garanti.
-Essas propagandas todas
da pracinha, como as que estão próximas do colégio da Roberta, serão retiradas
pela fiscalização antes de começar a votação. - previu acertadamente a Gina.
-Carlinhos, você viu o candidato
Hitler Vagner Cândido de Oliveira?
-Claudio, o pai dele deve
ter sido um fanático pelo partido nazista; além de batizar o filho de Hitler, Wagner
era o compositor máximo dos nazistas por ter sido antissemita e cultor da
Alemanha.
-Pois esse candidato usa,
na campanha dele, apenas o Hitler do nome, porque é mais conhecido.
-Preferem Hitler a Wagner,
fazer o quê?... -lamentei.
E o Sabadoido prosseguiu
com amenidades, sem se tocar mais em política.
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