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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4957 Data: 01 de outubro de 2014
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SIMON KHOURY BRILHA NO RÁDIO MEMÓRIA
2ª PARTE
Depois de informar aos
ouvintes que o Simon Khoury convocou Vittor Santos para elaborar os arranjos
das suas composições, Jonas Vieira exclamou:
-O disco está primoroso!
Então, tudo mudou: Simon
Khoury, que sempre foi o entrevistador, passou a ser o entrevistado:
-Simon, por que você, de
repente, achou que poderia ser compositor?
-Eu já fazia minhas
coisinhas como hobby, brincadeira. A gente escuta música há 78 anos. Desde os
5, 6 anos de idade, minha mãe me dava banho... antigamente, as mulheres da
classe média cantavam os sucessos de carnaval.
E Simon Khoury se pôs a
cantarolar a marchinha do carnaval de 1942 que a sua mãe cantava enquanto o
banhava com água, sabonete e bucha:
-”Todo o mundo diz que
sofre/ Sofre muito neste mundo/ Mas a mulher do leiteiro sofre mais/ Ela,
passa, lava, cose/ E controla a freguesia/ E ainda lava garrafa vazia.”
Simon Khoury estava
emocionado, havia fortes razões para isso, o que explica a sua fala truncada,
as suas idas e vindas no tempo em uma só frase, como os ouvintes desse Rádio
Memória perceberam, e nós, aqui, procuraremos reproduzir da melhor maneira
possível.
-A minha mãe me obrigava a
ouvir Chopin. Eu estudei piano com 3 anos de idade.
Os irreverentes, quando se
referem às notas musicais, dizem que “mi em cima de si faz dó”, mas, naquele
instante, Simon Khoury se mostrava sério.
-Quando botavam sol em
cima e o fá em baixo, acabou para mim, eu confundia tudo.
E seguiu adiante:
-Minha mãe era dona de
rádio, eu trabalhava em rádio... Eu escutava aquelas músicas todas e achava que
tudo o que eu fazia um lixo. Você escuta Chopin, Nazareth, Tchaikovsky,
Shostakovich, Bacharach, Tom Jobim, Legrand, Morricone...
E passou para o momento em
que se sentiu incentivado a prosseguir como compositor:
-Eu comecei a descobrir
que poderia fazer alguma coisa quando eu estava cantarolando um choro, o Carlos
Kroeber, o Carlão, que só gostava de música clássica ouviu e achou bonito.
Sem pausa para respirar,
continuou:
-O Chiquinho do Acordeon,
um cara de um bom gosto incrível, quando me ouviu assoviando, perguntou de quem
era, eu respondi que achava que era meu, e ele então gravou.
Tratava-se de
“Barroquinho, de Simon Khoury e Sebastião Tapajós, faixa de um disco do
Chiquinho do Acordeom, de 1989.
Agora, ouvíamos um Simon
Khoury resoluto:
-Pensei: Gílson
Peranzzetta gravou um choro meu, Sebastião Tapajós, Altamiro Carrilho, Hermeto
Pascoal... Quer saber de uma coisa: vou tentar fazer um disco, mas com coisas
que foram importantes para mim.
Logo em seguida, põe-se a
cantarolar uma melodia de estilo tchaikovskyano.
Resolvido a fazer o tal
disco, procurou o arranjador, compositor, trombonista e produtor Vittor Santos.
-Vittor Santos trabalha de
maneira impressionante, é gênio. Eu queria um Choro com cordas. Eu não entendo
por que ninguém faz a obra de Nazareth com cordas... Vittor Santos me disse:
“Simon, ouvi as suas cinco músicas gravadas; vamos fazer um disco autoral?”
Simon Khoury ficou
embasbacado com a proposta:
-Meu Deus do céu!...
Disse que Vittor Santos
ouviu a gravação de “Barroquinho” e gostou;
em seguida, Peter acionou as carrapetas, e os que madrugaram para não
perder “Almanaque” e “Rádio Memória” se deleitaram com essa música.
-Que músicos!... -
eletrizou-se o Jonas Vieira.
-Chiquinho dá um banho no
acordeom, Gilson Peranzzetta no piano, e …
Como o Jonas Vieira
titubeou, Simon Khoury correu em seu socorro:
-Sebastião Tapajós no
violão.
-Havia um baixo... Não
tinha mais músicos?...
-Nada, Jonas, é só o trio.
-Nossa!... - abismou-se o
Sérgio Fortes com aquele trio que multiplicava o som que parecia uma orquestra.
Simon Khoury também tem as
suas obsessões, e uma delas é o ator Carlos Kroeber, o Carlão, que é citado por
ele incontáveis vezes:
-Carlos Kroeber ouviu e
gostou. Que arranjo bonito de Mozart!, disse ele, e pôs-se a cantarolar...
Simon Khoury,
personificando o seu amigo, pôs-se, então, a entoar “Saudades da Bahia.” Dois
gozadores, por isso eram tão unidos. - imaginamos nós, do Biscoito Molhado.
Foi interrompido pela voz
solene do titular do programa:
-Roquette Pinto. 94.1 FM.
Rádio Memória. Hoje, apresentando, em primeira mão, o trabalho do Simon Khoury,
o disco “Reflexos” com arranjo de Vittor Santos com músicos sensacionais.
Sérgio Fortes acrescentou
que a produção gráfica do disco era notável.
Surpreendentemente, a voz
do Jonas Vieira se tornou confidencial:
-Aqui entre nós e mais os
ouvintes, tudo isso é bolação minha.
-Drácula! - reagiu o Simon
Khoury àquela vampirização da sua energia criativa.
Sem deixar brechas para
apartes, contou como é o seu processo de criação.
-Eu vou para a praia e
tenho uma ideia, então, eu pego o celular e telefono para mim mesmo.
Simon Khoury disse que
atende ao chamado para si mesmo e canta a sua ideia musical, pois, se não o
fizer, esquecerá tudo.
-Drácula é você. -
devolveu o Jonas Vieira.
O processo criativo é
mesmo inexplicável; Debussy compôs La Mer longe do litoral, no
meio do verde das árvores e das gramíneas, enquanto o Simon Khoury, sentindo o
cheiro da maresia, compõe músicas que não nos lembram biquinis, asas deltas, fios dentais, ou seja, nádegas.
Capricho das musas, com toda certeza.
Aprisionada a inspiração
fugidia no celular, ele a desenvolvia e, depois, procurava o arranjador Vittor
Santos.
-Eu, rouco, cantava para o
Santos. Uma vez, ele me disse que eu emiti um sol helênico. Sol helênico?!...
Agora, ele me pegou.
Toda essa confusão porque,
lembramos, Simon Khoury esbarrou com sol
em cima fá embaixo e se deu por vencido, não prosseguiu com o estudo da música
como a sua mãe desejava. Lutasse com os obstáculos, saberia, hoje, escrever as
notas musicais e ler partitura. Mas não está sozinho, pelo contrário, poucos
são os compositores brasileiros que sabem ler uma partitura.
-Eu falei para o Vittor
Santos.
E tentou reproduzir essa
fala:
-Eu quero um favor seu:
liberdade total. Não quero solo de mais de um minuto, porque eu tenho muito
medo, no jazz, de instrumentista que fica 18 minutos explorando um tema. Eu quero
que haja diálogo entre dois instrumentos.
-Qual é a faixa de
abertura do seu disco? - interferiu o Jonas Vieira.
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