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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

2452 - Wagner Loves



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4252                                Data:  17 de  agosto de 2013
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UM SABADOIDO WAGNERIANO

-Carlinhos, você gosta do Wagner? - perguntou-me meu irmão de supetão.
-Bem, Claudio, quando nós éramos garotos e morávamos no Cachambi, a minha pipa embolou com outra, da Rua Chaves Pinheiro e as duas ficaram presas num fio da Light. Soube, depois, que a minha pipa tinha embolado com a do Vagner.  Foi a primeira vez que ouvi falar dele. E a partir de então, nunca houve mais disputas entre nós.
-Estou falando do Wagner compositor.
-Ah, o Wagner que, este ano, completaria 200 anos juntamente com o Verdi. Prefiro o Verdi.
-Mas você gosta dele? - insistiu.
Gosto, mas estou adorando “O Caso Wagner” escrito por Nietzsche. Lá, pelas tantas, ele pergunta se Wagner era realmente um homem, se não seria, em vez disso, uma doença, porque, segundo o filósofo, ele torna doente tudo aquilo que toca. E concluiu que Wagner tornou a música doente.
-O grande compositor para os nazistas era Wagner.
-Sim, Cláudio; Nietzsche foi premonitório. Ninguém conseguiria tantos argumentos para desancar com o Wagner do que ele, que foi wagneriano, mas que alardeou para o mundo que se curou dessa doença.
-Mas o Nietzsche morreu louco. - contrapôs.
-Porque contraiu sífilis.
Depois de uma pausa, prossegui:
-De fato, os admiradores de Wagner são como aqueles torcedores de futebol doentes. Quando o Sérgio Fortes levava wagnerianos ao “Clube da Ópera”, da Rádio MEC, para comentar alguma ópera, como Siegfried, por exemplo, o fanatismo era visível, ou audível. Certa vez, o Fiani, um professor da FGV, que eu conheci, foi lá para falar da ópera Pelleas et Mélisande de Debussy, e, em certo momento, disse que os temas dessa ópera voltam muito bem elaborados, enquanto os de Wagner são atirados nos nossos ouvintes. Foi, logo, interrompido pelo Sérgio Fortes, que lhe disse: “Cuidado, Fiani, que os wagnerianos vão te pegar lá fora”.
-Ele percebeu, então, que os wagnerianos são mesmo fanáticos?
Dei outro exemplo:
-A Rádio Cultura, de São Paulo, transmite as récitas da temporada lírica do Metropolitan de Nova York. Houve uma época em que, antes e nos intervalos das transmissões, o maestro Walter Lourenção, ouvia os comentários dos apreciadores de óperas, como no “Clube da Ópera”. Claudio, não apareceu um wagneriano que fosse comedido.
-Mas você gosta do Wagner?
-Como gosto do Vasco sem ser vascaíno. - mal comparei.
Mudamos, então, de assunto, que já estava esgotado.
-Claudio, depois de sugerir à mãe os filmes “Cova Rasa” e “Um Estranho no Ninho”, você acertou com “Como Era Verde Meu Vale”. Dessa fita, ela gostou.
-É um clássico. - frisou.
-Podemos dizer que todos os filmes dirigidos pelo John Ford são clássicos e eu, evidentemente, assisti ao “Como Era Verde Mau Vale”, depois da mãe.
-Vou procurar comprar agora o “Vendaval de Paixões”, que também é com a Maureen O' Hara.
-Eu pensava que ela fosse a mãe da Mia Farrow...
-A mãe da Mia Farrow é a Maureen O' Sullivan. - antecipou-se o Claudio.
-Depois de eu rasgar elogios ao “O Segredo dos Seus Olhos”, um amigo do Dieckmann, o Carlos Alberto Torres...
-O capitão da Copa de 70?
-Não, coincidência apenas. Ele escreveu afirmando que “Um Conto Chinês” é outra obra-prima do cinema argentino. Já encomendei o filme pelo Mercado Livre.
-Levou dia desses, na televisão, “Shane”. Você que gosta tanto desse filme...
Interceptei a sua fala.
-Eu e todos aqueles que veem o cinema como a sétima arte, e não como um local para se comer pipoca e tomar refrigerante. O American Filme Institute colocou o “Shane” em quadragésimo quinto lugar numa lista dos cem melhores filmes de todos os tempos, e em terceiro no rol dos dez melhores faroestes.
-Eu me lembro que, em 2003, quando foi comemorado o cinquentenário dessa fita, o Woody Allen afirmou que se tratava de uma obra-prima dirigida pelo George Stevens e que ele colocava na sua lista dos grandes filmes a que assistiu. - completou o Claudio.
Nesse instante, a Gina, que acabava de entrar na cozinha, se manifestou.
-Vocês falando em cinema e eu me lembrei do meu pai que, coitado, trabalhava tanto que pouco tempo tinha para se divertir.
E prosseguiu:
-Ele me contava que foi muitas vezes ao Cine Polo, no Silvestre, onde os filmes eram seriados, e a plateia era obrigada a voltar para acompanhar a história.
-Não seria Cine Apolo?...”- lançou o Claudio a dúvida.
-Carlão, você tem visto os jogos do Botafogo. - era agora o Daniel que aparecia.
-De uns anos para cá, só tenho a pachorra...
-Carlão, você tem a cachorra?... não perdeu a oportunidade para o trocadilho.
-Como eu dizia, eu só tenho paciência de testemunhar os trinta minutos finais  das partidas de futebol.
-Pois é justamente no final dos jogos que o Botafogo leva gols. Já deixou três vitórias escaparem nos acréscimos. - gozou-me.
-Se aquele beque, André Bahia, não fosse tão ruim de bola, eu diria que a culpado é o pé-frio do Carlinhos. - acrescentou.
-Falando em frio, o Vagner não vem hoje, deve estar de pantufas em casa. - informou a Gina.
-Quem não pode faltar hoje é o Lucas, eu trouxe um livro da vida do Toulouse Lautrec, para dar de presente à Rosa Grieco e não pretendo voltar com ele para casa, pois é muito pesado. A minha hérnia inguinal voltou depois dos exercícios de musculação que andei praticando.
-É um tijolaço. - disse a Gina, enquanto o Daniel anunciava a sua ida para a lagoa, onde andaria de bicicleta.
-Tijolaço era do Brizola, o livro é um tijolo. - corrigiu à mulher referindo-se às catilinárias que o Brizola escrevia contra o Roberto Marinho.
Voltei-me para o meu irmão.
-Onde comprei esse livro, numa feira defronte à estação do metrô, folheei uma obra da Raquel de Queiroz com o autógrafo dela.
-E não comprou esse livro? - agitou-se.
-Claudio, a Raquel de Queiroz é boa escritora, mas há uma penca de livros aguardando pela minha atenção como os cãezinhos na hora da chegada dos seus donos.
-Mas um livro com a assinatura do autor se torna uma raridade e é procurado pelos colecionadores, que dão um bom dinheiro por ele. - justificou o Claudio a sua agitação.
-Segunda-feira verei se esse livro está lá ainda.
-Duvido que encontre. - afirmou.
Nosso diálogo foi interrompido pelo telefone. Era o Luca informando que não viria para o Sabadoido.







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