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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4251 Data: 15
de agosto de 2013
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TRÊS FLAMENGUISTAS E UM TRICOLOR NO RÁDIO MEMÓRIA
PARTE II
E Jonas Vieira assinalou enfaticamente
que escolheu uma gravação com um tenor que dispensa adjetivos e substantivos:
Placido Domingo
-E ele cantará um bolero de Maria
Grever, a única compositora de bolero que existe na história.
E se ouviu, em seguida, a possante voz
do Placido Domingo, que foi considerado por um júri de dezesseis membros
reunidos pela BBC Music Magazine o maior tenor de todos os tempos. O próprio
Placido Domingo considerou o resultado um exagero, mas que, em certos momentos,
sua voz é insuperável, nós concordamos com esses críticos. Ele cantou “Jurame”.
-É a melhor gravação que existe para
mim, e houve mais de quinhentas. Olhem a
orquestra que acompanha o Placido Domingo. É uma obra-prima. - vibrava ainda o
Jonas Vieira.
Dieckmann fez um trocadilho com a
compositora de boleros, e o titular do programa retomou a palavra. (*)
-Eu quero mandar um abraço para o
Biscoito Fino...
-Biscoito Molhado. - corrigiram-no o
Sérgio Fortes e o Dieckmann em uníssono.
Mas eles logo perceberam que era uma
ironia. Nós, da redação, acreditamos que ele já metabolizou a troca do seu nome
pela do pastor, aqui perpetrada, pois, a partir daí, escrevemos Jonas Vieira
umas trezentas vezes sem erros. Será uma alfinetada porque escrevemos o nome
Luiz Paulo Horta como Luís?... Se for isso, explicamo-nos: fizemos confusão com
os reis franceses, principalmente Luís IX, que se tornou santo.
No meio da gozação, Sérgio Fortes
sugeriu que elaborássemos uma lista com as dez músicas da nossa predileção para
que eles, como ventríloquos, as comentassem. Bem, dez músicas que nos marcaram
no correr da vida, podemos listar, mas as dez preferidas, é impossível, pois
são mais de mil.
-Quanto tempo falta? - perguntou o
titular do programa ao maestro Marcos Ribas, ao Peter, enfim, os ouvintes não
souberam a quem.
-Vinte e quatro. -responderam.
-Cabe mais uma. - assanhou-se o
Dieckmann, pois era a sua vez.
-É uma gravação que persegui durante
muito tempo; música de Paulo César Pinheiro e letra de João Aquino: “Viagem”.
No momento em que ele disse o nome da
cantora, Jonas Vieira interveio e disse Maysa. Dieckmann falou outro nome, e
foi citado Marisa Gata Mansa. Mais tarde, ficamos sabendo que se tratava da
Márcia, casada com o locutor esportivo Sílvio Luiz.
Depois da pausa para meditação, cabia a
escolha ao Sérgio Fortes.
-Uma cantora que adoro, presença
constante nos musicais da Broadway, é a Kim Crisswell. Ela vai cantar “You And The Night And The
Music”, de Arthur Schwartz e Howard Dietz, do musical “Revenge With Music”, de 1934, que fracassou, pois só teve
22 representações.
É verdade que, poucos meses depois, foi
encenado de novo, mas só chegou a 135 representações.
-Pois eu iria lá todas as noites só
para ouvir essa música com essa cantora. - traiu o Jonas Vieira mais uma vez a
Doris Day.
-E reverteria tudo. - fez-se ouvir o
Dieckmann que, como os alunos peraltas, não consegue ficar quieto.
-Esse musical deveria ter o nome dessa
música e não “Revenge With Music”. -
tentou o Jonas Vieira explicar o motivo da pífia atração que exerceu sobre o
público da Broadway.
Depois que ouvimos Kim Crisswell, o
titular do programa enveredou pela história dos musicais, dizendo que foram
irrepreensíveis nos anos 40 e 50; a ameaça de queda de qualidade apareceu nos
anos 60; e, nas décadas de 70 em diante, seria melhor não comentar.
-Sou eu agora? - foi a indagação que
sucedeu o seu comentário em um tom apreensivo, pois o Dieckmann poderia
ultrapassá-lo.
-Sim. - respondeu o seu parceiro.
-É como no jogo de buraco. - não perdeu
o Dieckmann a piada (mas sem falar em morto, para que o humor não fosse negro).
-Vou arrasar. - anunciou.
-Então, vou pôr a minha roupa de
amianto.- preparou-se o Sérgio Fortes como os pilotos da Fórmula 1.
E o “arraso” veio com uma pequena
introdução.
-Andre Kostelanetz é um dos músicos
mais extraordinários que existiram; pianista, arranjador, grande regente, de um
bom gosto fora do comum. Nasceu na União Soviética, mas se realizou nos Estados
Unidos.
Diante de tanto deslumbramento, Sérgio
fortes citou a Doris Day.
-Ela é o meu xodó, não poderia ser o
Andre.
E prosseguiu.
-Sua orquestra tinha 45 músicos, nasceu
em 1901 e foi casado com a Lily Pons.
-Grande cantora. - lembrou-se
rapidamente o Sérgio Fortes da soprano ligeiro do tipo coloratura.
E a música executada pela orquestra de Andre
Kostelanetz foi um pot-pourri de sucessos mexicanos entre eles a canção
mais entoada nos estádios de futebol brasileiros, Cielito Lindo.
-Que tal, Sérgio? - depois de a
orquestra partir deixando saudades.
-Excelente. Ele foi para os Estados
Unidos com quantos anos?
-Ele saiu da União Soviética depois da
Revolução, com 22 anos.
-Em 1923. - calculou o Dieckmann.
E era a vez dele:
-Gosto de desafios quando falam que a
música tal teve 500 gravações, ou não sei quantas, por isso eu escolhi uma
canção de Oscar, que teve mais de 1 500 gravações: “Stardust”. E se trata da
melhor gravação, não vou dizer agora qual é.
Enquanto soavam os primeiros acordes da
música de Carmichael, de 1927, que recebeu, dois anos depois, letra de Mitchell
Parish, eu era transportado para um programa da Rádio MEC no fim dos anos 70 de
uma hora de duração. Nesse programa, colocaram os mais destacados intérpretes
da música popular internacional cantando “Stardust”, mas nenhum deles superou,
na minha opinião, Nat King Cole. E foi a voz dele que reinou absoluta no “Rádio
Memória”.
Depois da audição, Dieckmann falou que
“Stardust” foi gravada de Doris Day a Ringo Starr. Em seguida, referiu-se ao
filme de faroeste em que
Nat King Cole atuou com Jane Fonda e Lee Marvin, “Cat Ballou”
no personagem de um menestrel.
-Vamos lá, Sérgio. - apressou-o o Jonas
Vieira, pois o tempo urgia, e também rugia, depois de o Dieckmann falar do
cavalo do Lee Marvin que não foi receber o Oscar de melhor ator juntamente com
o Lee Marvin.
Sérgio optou por “The Way You Look
Tonight”, do filme “Swing Time”, de 1936, na voz do dançarino legendário
Fred Astaire.
O Rádio Memória do domingo do Dia dos
Pais (que não foi citado em momento algum) terminou com um presente do Jonas
Vieira para os ouvintes: a música de Nino Rota para o filme “Fellini, Oito e
Meio.”
(*) O
Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO não conteve a curiosidade e contatou o
Dieckmann a respeito do trocadilho: “Ho-ho – comentou-me como se o Papai Noel
fosse – é que compositor de bolero é bolerante e eu tasquei bolorante no ar, à
vista e ao ouvido de todos, embora Jurame seja ótima.”
Dito isso,
comprova-se uma vez mais que o Dieckmann perde a compositora e a compostura,
mas não perde a piada.
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