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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

2446 - falecidos e falecidas



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4246                            Data:  06 de  agosto de 2013
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AGOSTO CHEGA  AO RÁDIO MEMÓRIA

Agosto, o nome, vem de Augusto, Otávio Augusto, o imperador que melhor administrou o Império Romano; no entanto, porque agosto rima com desgosto, ficou esse mês, aqui no Brasil, com o estigma de mês agourento.
Depois do “muitíssimo bom dia” do Jonas Vieira, foi anunciado que o primeiro Rádio Memória de agosto relembraria alguns dos grandes artistas mortos nesse mês, cabendo a ele escolher os defuntos da música popular e ao Sérgio Fortes, os da música clássica. Mas o que sugeria um programa triste foi, na  realidade, bastante animado, em que falou mais alto a força da vida.
A primeira escolha musical recaiu no titular do programa.
-Carmem Miranda é a minha cantora preferida.
Citou a preferência que Ruy Castro também nutre por ela, sem aludir à elogiada biografia dela que escreveu e prosseguiu:
-Músicas buliçosas não há quem as cante melhor do que Carmem Miranda.
-Ela morreu no dia 2 de agosto. - informou.
-De 1954?... - perguntou o Sérgio Fortes.
-De 1955.
Depois de o ano ser precisado, Sérgio Fortes narrou a multidão que ele viu quando, aluno do Instituto Nacional de Música, voltava de ônibus para a casa com a mãe:
-Era o enterro da Carmem Miranda.
Este redator, por sua vez, recorda-se da mãe, perto do rádio, ouvindo o Repórter Esso e exclamando, tomada pelo espanto: “Morreu a Carmem Miranda!” Embora eu não soubesse, na hora, de quem se tratava, essa cena nunca se apagou da minha mente.
A gravação pedida pelo Jonas Vieira era a maliciosa marchinha de Ary Barroso “Eu Dei”, que não deixa ninguém indiferente, principalmente na voz da Carmem Miranda.
-Uma beleza! - extasiaram-se no final.
-E agora, Sérgio?
E ele, encarregado da incursão pela música clássica, escolheu uma gravação mais popular do que clássica, haja vista que o seu intérprete, Caruso, foi quem solidificou, definitivamente, a gravação de discos, com a sua poderosa voz, quando a indústria fonográfica ainda despertava.
Disse o Sérgio Fortes:
-Possivelmente, o maior artista lírico de todos os tempos foi Enrico Caruso, que morreu em 2 de agosto de 1921.
Quanto ao Carlos Gomes, foi mais incisivo: “é o maior compositor de óperas das Américas”. E quem duvida disso?
-Ele compôs Salvador Rosa que é, se não me engano, a sua quarta ópera, que estreou no Teatro Carlo Felice, em 21 de março de 1874, em Gênova.
E foi adiante:
-Nessa ópera, há uma canzonetta, Mia Piccirella, cantada por Gennariello. Trata-se de uma moça travestida de rapaz. O sucesso foi tamanho que até Claudia Muzio, a grande diva da ópera a gravou. A gravação que vamos ouvir com Caruso é de 1904.
O cineasta Woody Allen, com o seu legendário faro para encontrar gravações para os seus filmes, colocou esta, escolhida pelo Sérgio Fortes, numa das suas obras-primas (*) realizadas nessa sua fase europeia: Match Point.  Sérgio Fortes, certamente, falaria disso, não fosse o tempo do programa escasso, e falaria também que Carlos Gomes declarara que compôs Salvador Rosa para os italianos, O Guarany para os brasileiros, e Fosca para ele.
 -O grande Caruso! - exclamou o titular do programa.
-Como no filme “O Grande Caruso”. - disse o Sérgio.
Então, veio a pegadinha do Jonas Vieira:
-O que quer dizer “Mia Piccirella”?
-Agora, você me pegou... Mas deve ser alguma coisa boa.
Talvez porque seja economista, Sérgio Fortes imaginou uma espécie de teoria dos jogos que envolvia as esposas dos dois e o significado da palavra “piccirella”.
A pergunta era, de fato, difícil, pois nós, do Biscoito Molhado, não encontramos a resposta nem mesmo no “Aurélio Italiano” e muito menos no Google que, em alguns casos, é traiçoeiro.
-Quem morreu no dia 2 de agosto de 1989?
Jonas Vieira retornou ao seu tempo de professor, pois insistiu na sabatina.
-Quem? Quem?
E, finalmente, respondeu?
-Luiz  Gonzaga. O grande Luiz Gonzaga,
Foi aparteado pelo Sérgio Fortes:
-Façamos uma homenagem ao Dominguinhos.
E Jonas Vieira fez:
-Dominguinhos era um excelente músico, um excelente músico, mesmo. Uma pessoa ótima para uma conversa.
-Uma grande perda. - acentuou o Sérgio Fortes referindo-se ao seu passamento ocorrido recentemente.
Como o tempo, repetimos, é escasso, não puderam dizer que foi Luiz Gonzaga que deu o nome artístico ao seu discípulo, pois ele era conhecido por “Neném”.
E a gravação do Luiz Gonzaga escolhida não podia ser melhor: o xaxado “Olha eu aqui de novo.”
Olha eu aqui de novo... Luiz Gonzaga xaxando e eu caminhando. Explico-me: eu costuma caminhar com o áudio sintonizado no programa madrugador, também da Roquette Pinto, “Nordeste Musical”. Provavelmente porque tenho sangue nordestino, animava-me mais, nas minhas atividades físicas, com as músicas dessa região do Brasil, principalmente quando era tocado esse xaxado, que eu aguardava com ansiedade. Nesse momento, eu acelera, não tanto como um fundista keniano, ou um velocista jamaicano, mas alcançava minhas  melhores marcas.
-E agora, Sérgio? - indagou mal a sanfona do Luiz Gonzaga emitiu a última nota do xaxado.
-Jonas, agora nós vamos ouvir uma das minhas paixões: Tatiana Troyanos, mezzo-soprano americana com descendência de alemães e gregos que faleceu em 28 de agosto de 1993. Eu vou narrar um caso que mostra bem a dimensão dessa artista.
Eu já o ouvira essa sua narrativa no programa que ele fizera na Rádio MEC, “Clube da Ópera”, há dez anos, mas que merece um bis, como os momentos grandiosos da ópera exigem.
-Tatiana Troyanos estava internada no Lenox Hill Hospital com um câncer devastador. No dia em que morreu, ela cantou para as demais pacientes, e uma delas, ao ouvi-la, disse que, pela primeira vez, em três anos, esqueceu-se completamente da dor.”
-Que coisa!... - admirou-se o Jonas Vieira.
-Vamos ouvi-la cantando “La Habanera”, do primeiro ato da ópera Carmem, de Bizet.
Depois que Tatiana Troyanos emitiu a última nota, Jonas Vieira expressou seu encantamento:
-É uma epifania! A cantora... O coro... A orquestra...
-É a Orquestra Sinfônica de Londres sob a condução do Grande maestro Georg  Solti.
-Tudo uma maravilha.
Sérgio Fortes, em seguida, destacou trechos da “La Habanera” num francês de quem frequentou a Alliance Française e fez inúmeras viagens a Paris (menos que o Sérgio Cabral, é evidente).
-”L' amour est un oiseaux rebelle.
-O amor é um pássaro rebelde. -traduziu.
E continuou:
-Si je t' aime, prend garde à toi. É o que ela diz para Don José: “Se eu te amar, cuidado.”
O titular do programa anunciou, então, a crônica de Fernando Milfond, que era sobre a fundação de Roma.

SEGUE, COMO BÔNUS A LETRA DE LA HABANERA



Quando je vous aimerai?
Ma foi, je ne sais pas,
Peut-être jamais,
peut-être demain.
Mais pas aujourd´ hui, c´est certan.
L'amour est un oiseau rebelle
Que nul ne peut apprivoiser,
Et c'est bien en vain qu'on l'appelle,
S'il lui convient de refuser.
Rien n'y fait, menace ou prière,
L'un parle bien, l'autre se tait;
Et c'est l'autre que je préfère
Il n'a rien dit; mais il me plaît.
L'amour! L'amour! L'amour! L'amour!
L'amour est enfant de Bohême,
Il n'a jamais, jamais connu de loi,
Si tu ne m'aime pas, je t'aime,
Si je t'aime, prend garde à toi!
Si tu ne m'aime pas,
Si tu ne m'aime pas, je t'aime!
Mais, si je t'aime,
Si je t'aime, prend garde à toi!
Si tu ne m'aime pas,
Si tu ne m'aime pas, je t'aime!
Mais, si je t'aime,
Si je t'aime, prend garde à toi!
L'oiseau que tu croyais surprendre
Battit de l'aile et s'envola;
L'amour est loin, tu peux l'attendre;
Tu ne l'attend plus, il est là!
Tout autour de toi vite, vite,
Il vient, s'en va, puis il revient!
Tu crois le tenir, il t'évite;
Tu crois l'éviter, il te tient!
L'amour, l'amour, l'amour, l'amour!
L'amour est enfant de Bohême...

(*) O Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO não perde chance para desancar esse filme, que, seguramente, foi o que mais detestou da coleção Woody Allen. É mais uma dentro da copiosa lista de divergências com o redator, lista essa que pode ser resumida numa frase: “também, quem gosta de Shane...”


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