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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4246 Data: 06 de
agosto de 2013
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AGOSTO CHEGA AO
RÁDIO MEMÓRIA
Agosto, o nome, vem de Augusto, Otávio
Augusto, o imperador que melhor administrou o Império Romano; no entanto, porque
agosto rima com desgosto, ficou esse mês, aqui no Brasil, com o estigma de mês
agourento.
Depois do “muitíssimo bom dia” do Jonas
Vieira, foi anunciado que o primeiro Rádio Memória de agosto relembraria alguns
dos grandes artistas mortos nesse mês, cabendo a ele escolher os defuntos da
música popular e ao Sérgio Fortes, os da música clássica. Mas o que sugeria um
programa triste foi, na realidade,
bastante animado, em que falou mais alto a força da vida.
A primeira escolha musical recaiu no
titular do programa.
-Carmem Miranda é a minha cantora
preferida.
Citou a preferência que Ruy Castro
também nutre por ela, sem aludir à elogiada biografia dela que escreveu e
prosseguiu:
-Músicas buliçosas não há quem as cante
melhor do que Carmem Miranda.
-Ela morreu no dia 2 de agosto. -
informou.
-De 1954?... - perguntou o Sérgio
Fortes.
-De 1955.
Depois de o ano ser precisado, Sérgio
Fortes narrou a multidão que ele viu quando, aluno do Instituto Nacional de
Música, voltava de ônibus para a casa com a mãe:
-Era o enterro da Carmem Miranda.
Este redator, por sua vez, recorda-se da
mãe, perto do rádio, ouvindo o Repórter Esso e exclamando, tomada pelo espanto:
“Morreu a Carmem Miranda!” Embora eu não soubesse, na hora, de quem se tratava,
essa cena nunca se apagou da minha mente.
A gravação pedida pelo Jonas Vieira era
a maliciosa marchinha de Ary Barroso “Eu Dei”, que não deixa ninguém
indiferente, principalmente na voz da Carmem Miranda.
-Uma beleza! - extasiaram-se no final.
-E agora, Sérgio?
E ele, encarregado da incursão pela
música clássica, escolheu uma gravação mais popular do que clássica, haja vista
que o seu intérprete, Caruso, foi quem solidificou, definitivamente, a gravação
de discos, com a sua poderosa voz, quando a indústria fonográfica ainda despertava.
Disse o Sérgio Fortes:
-Possivelmente, o maior artista lírico
de todos os tempos foi Enrico Caruso, que morreu em 2 de agosto de 1921.
Quanto ao Carlos Gomes, foi mais
incisivo: “é o maior compositor de óperas das Américas”. E quem duvida disso?
-Ele compôs Salvador Rosa que é, se não
me engano, a sua quarta ópera, que estreou no Teatro Carlo Felice, em 21 de
março de 1874, em Gênova.
E foi adiante:
-Nessa ópera, há uma canzonetta, Mia
Piccirella, cantada por Gennariello. Trata-se de uma moça travestida de
rapaz. O sucesso foi tamanho que até Claudia Muzio, a grande diva da ópera a
gravou. A gravação que vamos ouvir com Caruso é de 1904.
O cineasta Woody Allen, com o seu
legendário faro para encontrar gravações para os seus filmes, colocou esta,
escolhida pelo Sérgio Fortes, numa das suas obras-primas (*) realizadas nessa
sua fase europeia: Match Point. Sérgio Fortes, certamente, falaria disso, não
fosse o tempo do programa escasso, e falaria também que Carlos Gomes declarara
que compôs Salvador Rosa para os italianos, O Guarany para os
brasileiros, e Fosca para ele.
-O
grande Caruso! - exclamou o titular do programa.
-Como no filme “O Grande Caruso”. -
disse o Sérgio.
Então, veio a pegadinha do Jonas Vieira:
-O que quer dizer “Mia Piccirella”?
-Agora, você me pegou... Mas deve ser
alguma coisa boa.
Talvez porque seja economista, Sérgio
Fortes imaginou uma espécie de teoria dos jogos que envolvia as esposas dos
dois e o significado da palavra “piccirella”.
A pergunta era, de fato, difícil, pois
nós, do Biscoito Molhado, não encontramos a resposta nem mesmo no “Aurélio
Italiano” e muito menos no Google que, em alguns casos, é traiçoeiro.
-Quem morreu no dia 2 de agosto de 1989?
Jonas Vieira retornou ao seu tempo de
professor, pois insistiu na sabatina.
-Quem? Quem?
E, finalmente, respondeu?
-Luiz Gonzaga. O grande Luiz Gonzaga,
Foi aparteado pelo Sérgio Fortes:
-Façamos uma homenagem ao Dominguinhos.
E Jonas Vieira fez:
-Dominguinhos era um excelente músico,
um excelente músico, mesmo. Uma pessoa ótima para uma conversa.
-Uma grande perda. - acentuou o Sérgio
Fortes referindo-se ao seu passamento ocorrido recentemente.
Como o tempo, repetimos, é escasso, não
puderam dizer que foi Luiz Gonzaga que deu o nome artístico ao seu discípulo,
pois ele era conhecido por “Neném”.
E a gravação do Luiz Gonzaga escolhida
não podia ser melhor: o xaxado “Olha eu aqui de novo.”
Olha eu aqui de novo... Luiz Gonzaga
xaxando e eu caminhando. Explico-me: eu costuma caminhar com o áudio
sintonizado no programa madrugador, também da Roquette Pinto, “Nordeste
Musical”. Provavelmente porque tenho sangue nordestino, animava-me mais, nas
minhas atividades físicas, com as músicas dessa região do Brasil,
principalmente quando era tocado esse xaxado, que eu aguardava com ansiedade.
Nesse momento, eu acelera, não tanto como um fundista keniano, ou um velocista
jamaicano, mas alcançava minhas melhores
marcas.
-E agora, Sérgio? - indagou mal a
sanfona do Luiz Gonzaga emitiu a última nota do xaxado.
-Jonas, agora nós vamos ouvir uma das
minhas paixões: Tatiana Troyanos, mezzo-soprano americana com descendência de
alemães e gregos que faleceu em 28 de agosto de 1993. Eu vou narrar um caso que
mostra bem a dimensão dessa artista.
Eu já o ouvira essa sua narrativa no
programa que ele fizera na Rádio MEC, “Clube da Ópera”, há dez anos, mas que
merece um bis, como os momentos grandiosos da ópera exigem.
-Tatiana Troyanos estava internada no
Lenox Hill Hospital com um câncer devastador. No dia em que morreu, ela cantou
para as demais pacientes, e uma delas, ao ouvi-la, disse que, pela primeira
vez, em três anos, esqueceu-se completamente da dor.”
-Que coisa!... - admirou-se o Jonas
Vieira.
-Vamos ouvi-la cantando “La Habanera”, do primeiro
ato da ópera Carmem, de Bizet.
Depois que Tatiana Troyanos emitiu a
última nota, Jonas Vieira expressou seu encantamento:
-É uma epifania! A cantora... O coro...
A orquestra...
-É a Orquestra Sinfônica de Londres sob
a condução do Grande maestro Georg
Solti.
-Tudo uma maravilha.
Sérgio Fortes, em seguida, destacou
trechos da “La Habanera”
num francês de quem frequentou a Alliance Française e fez inúmeras viagens a
Paris (menos que o Sérgio Cabral, é evidente).
-”L' amour
est un oiseaux rebelle.
-O amor é um pássaro rebelde. -traduziu.
E
continuou:
-Si je t'
aime, prend garde à toi. É o que ela diz
para Don José: “Se eu te amar, cuidado.”
O titular do programa anunciou, então, a
crônica de Fernando Milfond, que era sobre a fundação de Roma.
SEGUE, COMO
BÔNUS A LETRA DE LA HABANERA
Quando je vous aimerai?
Ma foi, je ne sais pas,
Peut-être jamais,
peut-être demain.
Mais pas aujourd´ hui, c´est certan.
L'amour est un oiseau rebelle
Que nul ne peut apprivoiser,
Et c'est bien en vain qu'on l'appelle,
S'il lui convient de refuser.
Rien n'y fait, menace ou prière,
L'un parle bien, l'autre se tait;
Et c'est l'autre que je préfère
Il n'a rien dit; mais il me plaît.
L'amour! L'amour! L'amour! L'amour!
Que nul ne peut apprivoiser,
Et c'est bien en vain qu'on l'appelle,
S'il lui convient de refuser.
Rien n'y fait, menace ou prière,
L'un parle bien, l'autre se tait;
Et c'est l'autre que je préfère
Il n'a rien dit; mais il me plaît.
L'amour! L'amour! L'amour! L'amour!
L'amour est enfant de Bohême,
Il n'a jamais, jamais connu de loi,
Si tu ne m'aime pas, je t'aime,
Si je t'aime, prend garde à toi!
Si tu ne m'aime pas,
Si tu ne m'aime pas, je t'aime!
Mais, si je t'aime,
Si je t'aime, prend garde à toi!
Si tu ne m'aime pas,
Si tu ne m'aime pas, je t'aime!
Mais, si je t'aime,
Si je t'aime, prend garde à toi!
Il n'a jamais, jamais connu de loi,
Si tu ne m'aime pas, je t'aime,
Si je t'aime, prend garde à toi!
Si tu ne m'aime pas,
Si tu ne m'aime pas, je t'aime!
Mais, si je t'aime,
Si je t'aime, prend garde à toi!
Si tu ne m'aime pas,
Si tu ne m'aime pas, je t'aime!
Mais, si je t'aime,
Si je t'aime, prend garde à toi!
L'oiseau que tu croyais surprendre
Battit de l'aile et s'envola;
L'amour est loin, tu peux l'attendre;
Tu ne l'attend plus, il est là!
Tout autour de toi vite, vite,
Il vient, s'en va, puis il revient!
Tu crois le tenir, il t'évite;
Tu crois l'éviter, il te tient!
L'amour, l'amour, l'amour, l'amour!
Battit de l'aile et s'envola;
L'amour est loin, tu peux l'attendre;
Tu ne l'attend plus, il est là!
Tout autour de toi vite, vite,
Il vient, s'en va, puis il revient!
Tu crois le tenir, il t'évite;
Tu crois l'éviter, il te tient!
L'amour, l'amour, l'amour, l'amour!
L'amour est enfant de
Bohême...
(*) O Distribuidor do seu O BISCOITO
MOLHADO não perde chance para desancar esse filme, que, seguramente, foi o que
mais detestou da coleção Woody Allen. É mais uma dentro da copiosa lista de divergências
com o redator, lista essa que pode ser resumida numa frase: “também, quem gosta
de Shane...”
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