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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4247 Data: 07 de
agosto de 2013
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AGOSTO CHEGA AO
RÁDIO MEMÓRIA
PARTE II
Depois de encerrada a crônica de
domingo, na locução do José Maurício, sobre a origem de Roma, fez-se ouvir a
voz do Jonas Vieira:
-Aproveitando a dica, na visita do Papa,
chamo a atenção para uma frase do Nélson Rodrigues...
-Um frasista ímpar. - louvo-o o Sérgio
Fortes.
-Mas ele tem uma frase que ficou
incompleta: “Toda unanimidade é burra.”
-No caso do Papa, a unanimidade é inteligente.
- frisou o Sérgio Fortes.
Jonas Vieira prosseguiu:
-No caso do Papa Francisco, a
unanimidade não foi burra. Que show de humanismo, de espiritualidade, de humor!
-De simplicidade. - acrescentou seu
parceiro pensando, talvez, nos políticos brasileiros, que têm uma empáfia de
argentino de piada.
-Ficaram impressionados com o Papa
Francisco todos os meus amigos ateus, ateias...
-À toa. - não perdeu o Sérgio Fortes a
oportunidade para uma piada.
O titular do programa continuou na sua
exaltação.
-E os jovens como alegraram a cidade!...
Deram um banho de educação, não urinaram nas ruas, ao contrário dos nossos
“urinus”. A jornada foi sensacional.
-A minha sugestão é que a Jornada
Mundial da Juventude se realize aqui de seis em seis meses.
-Para levantar o astral da cidade que
anda baixo. - aditou suas palavras às do Sérgio Fortes.
Houve uma pausa com alguns anúncios,
entre os quais um que nos convidava a assistir à relação pai e filho, inspirado
em Franz Kafka. Para
quem leu o angustiante livro “Cartas ao Pai”, o convite era bastante sugestivo
para a semana do Dia dos Pais.
Assim que Rádio Memória foi reiniciado,
Jonas Vieira homenageou o cantor Francisco Carlos.
-O Broto.
Depois de ser citado o cognome do
cantor, houve uma referência de segundos ao livro em que Jonas Vieira
se debruçou sobre a sua história. Tratava-se de “Francisco Carlos – O Maior
Ídolo dos Anos Dourados.” Recordo-me que, numa entrevista, perguntaram ao
Carlos Imperial quem era o primeiro Carlos, ele, Erasmo Carlos ou Roberto
Carlos. Carlos Imperial não respondeu corretamente, pois o primeiro Carlos, em
termos de sucesso, foi “O Broto”, que deixou a carreira musical em 1962 para se
dedicar à pintura.
A gravação escolhida foi o choro de
Joaquim Calado, com posterior letra de Catulo da Paixão Cearense, “Flor
Amorosa”.
-E na área clássica? - foi a indagação
feita tão logo a composição do Pai do Choro terminou.
Sérgio Fortes, antes de responder, fez
uma pequena introdução.
-Vou falar do pianista Sviatoslav
Richter. Naquela época em que a guerra fria estava quase congelada, não havendo
intercâmbio da União Soviética com o mundo ocidental, comentava-se sobre um
pianista russo, que ele era inacreditável. Um dia, houve um “distensionamento”
e Sviatoslav Richter foi tocar em Genebra. Viu-se, então, que aquilo não era o que
a plateia estava acostumada a ouvir, era diferente. Ele tocou, mais tarde, no
Carnegie Hall e fez uma carreira fantástica nos Estados Unidos. Nós vamos ouvir
o primeiro movimento do famosíssimo Concerto nº 1, de Tchaikovsky, para piano e
orquestra, sob a regência de Herbert von Karajan.
Antes que soasse a primeira nota, Sérgio
foi rápido:
-Para justificar a presença dele aqui,
faleceu em 1ª de agosto de 1997.
E o concerto que, de tão popular, foi
vulgarizado, soou como uma obra de arte com Sviatoslav Richter e Herbert von
Karajan.
-Esta é a Rádio Memória que prossegue
com o grande cantor e amigo Orlando Silva.
E foi adiante agora em tom mais
intimista.
-Não conheço ninguém que cantasse melhor
do que o Orlando Silva. Eu conheço muitos cantores, mas igual a ele ninguém.
Ele gravou, em 1940, o samba-canção de Fernando Martinez Filho e José Marcílio,
“Coqueiro Verde.”
-É uma música green, ambiental. -
retomou a palavra depois que ela foi ouvida.
-Eu, que sei que você não gosta do
Orlando Silva, tento convencê-lo a gostar. - manifestou-se o Sérgio Fortes que
ficara, até então, calado.
-Existem dois Orlando Silva, o da fase
inicial e o da voz abaritonada.
-Jonas, falam de épocas em que ele
cantou melhor, mas eu prefiro todas.
-Sérgio, e agora?
-Turandot foi a última ópera do Puccini,
que ele deixou incompleta. Há um dueto, na verdade, uma ária chamada Non
piangere, Liú. Ela vai ser cantada por um tenor, Eugenio Fernandi, que
faleceu em 8 de agosto de 1991. O soprano é Elizabeth Schwarzkopf, uma grande
soprano alemã.
Com tantas consoantes no sobrenome
desacompanhadas de vogais, desconfiamos que fosse polonesa, sim, nascera na
Polônia, mas teve a cidadania alemã.
Voltemos ao Sérgio Fortes:
-Ela teve o privilégio de se casar com
Walter Legge, que era o executivo da EMI, imagine a carreia que essa mulher
fez.
Depois da ária, em que há intervenções
do soprano, Sérgio Fortes se deteve no tenor.
-Eugenio Fernandi fez carreia nos ano
50, quando havia uma penca de excelentes tenores; então, a única gravação
comercial dele é a que ouvimos.
A vez agora era do Jonas Vieira.
-Outra grande saudade do mês de agosto é
Dalva de Oliveira, que canta essa valsa lindíssima do Roberto e Erasmo Carlos,
“Oh, meu imenso amor”.
E a voz da música popular brasileira que
mais emocionou o maestro Villa Lofos foi ouvida.
-Beleza! - exclamaram.
Esquecendo-se de dizer a data em que ela
morreu, instou o seu companheiro a anunciar a próxima gravação.
-Um dueto da Traviata com a intensa
Renata Tebaldi e o barítono Aldo Prodi, que tanto sucesso fez no Brasil. Ele,
que faleceu em 10 de agosto de 1995, só estreou no Metropolitam Opera House com
65 anos de idade, pois, até então, a sua carreira artística se desenrolava
basicamente nos palcos da Itália.
Em seguida, veio um trecho do longo
dueto do segundo ato da Traviata travado entre Violetta Valery e Giorgio
Germont.
Quando as falas voltaram, Sérgio Fortes
entrou aleggro con fuoco, isto é, acelerado:
-Uma referência rápida. Estamos em cima
da hora. Quem puder deve acompanhar os eventos do Rio Cello Encounter com David
Chew.
-Onde?- quis saber o Jonas Vieira.
-Vejam nos jornais, são muitos os
locais. Envolve dança, concurso de violoncelo. Além das muitas qualidades do
David Chew, ele é fluminense.
E entrou a voz da Dalva de Oliveira
cantando “A Canção do Marinheiro” ou o “O Cisne Branco”. Reportei-me, então,
aos anos 80, na SUNAMAM, quando um datilógrafo começou a assoviar essa canção e
foi advertido por uma colega, que pediu que ele parasse, pois essa música dava
azar. Bem, dizia-me um coronel, na Corretora Caravello, que a canção “Ramona”
traz azar, pois foi, segundo ele, executada pela orquestra do Titanic na hora
do naufrágio. Quando ao “Cisne Branco”, a SUNAMAM seria extinta poucos anos
depois, mas acredito que a culpa não foi da ave.
O certo é que a Rádio Memória, apesar de
relembrar os artistas falecidos no mês de agosto, nos deu um início alegre de
domingo.
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