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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4250 Data: 14 de
agosto de 2013
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TRÊS FLAMENGUISTAS E UM TRICOLOR NO RÁDIO MEMÓRIA
Com um coro ao fundo, foi iniciado mais
um Rádio Memória.
-Senhores ouvintes, muitíssimo bom dia.
- fez-se ouvir a voz do titular do programa.
-Nós, eu e Sérgio Fortes, mais o
maestro Marcos Ribas...
E deteve-se no maestro que, durante
todo o programa, não escutamos a voz e, muito menos, vimos a batuta.
-O maestro Marcos Ribas não vai mais a
Portugal.
-Estão
moralizando as coisas por lá... - interveio o Sérgio Fortes.
Parece que o pessoal do programa não
pode viajar, pois quando o Sérgio Fortes foi a Porto Alegre esvaziou garrafas
de cerveja, e o Marcos Riba em Portugal?... Esvaziaria garrafas de
bagaceira?... Fica a pergunta.
E o Jonas Vieira retomou a palavra:
-Hoje, com o reforço do Roberto
Dieckmann.
Antes de o Dieckmann abrir as suas asas
de pavão, Sérgio interveio de novo.
-Eu estou cercado por três
flamenguistas.
Mas não são quatro?... - foi a pergunta
que me fiz quando, adolescente, li “Os Três Mosqueteiros”. Nesse momento, a pergunta que me fiz foi
diferente: Mas não são três?... - Segundos depois, lembrei-me que o maestro
estava lá, não foi para Portugal.
-E na véspera do Fla x Flu. - acrescentou
o Dieckmann.
-Lá, na OSB, há uma profusão de
botafoguenses. - disse o Sérgio.
-Fluminense, eu aturo, Botafogo, não. -
afirmou o Dieckmann.
-Os flamenguistas têm uma bronca dos
botafoguenses. - constatou o Sérgio Fortes.
Dieckmann rememorou o tempo em que o
clube da estrela solitária tinha Didi, Garrincha, Nilton Santos, que estragavam
a sua alegria rubro-negra.
-Eu já gostei muito de futebol,
hoje,não.
E prosseguindo com um tom de crítica,
Jonas Vieira reclamou da presença exagerada da televisão no mundo
futebolístico. Foi o gancho para o
Sérgio Fortes entrar com o seu comentário:
-Outro dia, um jogador levou uma
pancada e a televisão mostrou de trinta e dois ângulos diferentes. Eu quase
passei Gelol pelo corpo, porque já estava sentindo as dores...
Se o nosso amigo estivesse, de fato,
sentindo essas dores, seria diagnosticado como portador da Síndrome da Empatia
Compulsiva, doença que foi explorada magistralmente por Jerry Lewis, numa das
suas comédias, em que, trabalhando como enfermeiro de um hospital, sentia todos
os sintomas dos pacientes.
-Não vamos perder mais tempo: música. -
exigiu o titular do programa.
-Música. - repetiu o convidado.
E cabia ao próprio Jonas Vieira
apresentar a primeira gravação daquele domingo.
-Peggy Lee é uma das minhas cantoras
preferidas. Nós vamos ouvir com ela
“It's Been A Long Long Time.”
Sérgio Fortes não perdeu a
oportunidade:
-Que voz apaixonada!... Deixa a Doris
Day saber disso.
-Não conte nada para ela. - pediu.
A bela canção me reportou a um amigo de
trabalho, nos anos 80, que amava Pat Boone e que, além dessa música do
repertório do cantor, assanhava-se com “Nature Boy”, uma música “gay”, segundo
ele. Bem, mas lá se vão trinta anos, quando o rádio ficava ligado durante o
serviço e os homossexuais eram mais discretos.
Depois de a Peggy Lee pedir para ser
beijada diversas vezes por um longo tempo, Dieckmann se apossou da palavra:
-Sou fã da Peggy Lee desde tenra idade.
Eu assisti à “Dama e o Vagabundo”... Tenho que explicar quem é esse
vagabundo...
Era o cachorro, não o sapo barbudo,
deduzimos logo e ele retomou o fluxo do seu comentário:
-Trata-se de um desenho do Walt Disney.
Lá, pelas tantas a Lady foi presa, colocada numa carrocinha e levada para o
canil municipal. Ela trava, então, contato com o submundo canino e lá se depara
com uma cadela loura, linda, que é dublada pela Peggy Lee. (*)
-Só isso já basta.
Diferentemente do Jonas Vieira, que
vibrou, eu fiquei intrigado com as palavras do Dieckmann. Cadela loura?...
Pedirei o filme emprestado à minha sobrinha-neta de quatro anos para constatar
se era mesmo loura essa cadela,
Então, a voz do titular do programa se
tornou séria, porque iria passar uma nuvem que, por minutos, nublaria aquele
domingo de sol:
-Não fiz na abertura do programa, mas
vou fazer agora. Ainda não me recuperei do falecimento do Luiz Paulo Horta.
Tínhamos programado dois encontros, um para almoçar, e outro para uma partida
de xadrez. Ele é mais uma das minhas saudades.
A palavra passou para o Sérgio Fortes:
-Estive sexta-feira na missa de sétimo
dia no Santo Inácio, que foi comovente. Os músicos da OSB foram lá tocar, o
coro também foi...
-Ele foi um gênio, de grande modéstia,
simplicidade. - realçou o Jonas Vieira.
Mas, como escreveu Victor Hugo no seu
poema “Soleils Couchants”, o sol continua a brilhar. E a alegria retornou ao
Rádio Memória.
-E agora, Dieckmann?
-Uma música que serviria plenamente
para a voz da Peggy Lee, mas essa gravação é instrumental, Enoch Light &
The Charleston City, a música “Ain't She Sweet.”
Era uma bela peça musical que ficou,
talvez décadas afastada dos meus ouvidos, e que retornava. Foi muito bem-vinda.
-Você, Sérgio Fortes.
-Vamou ouvir agora o barítono galês
Bryn Terfel, no musical “Camelot”, de 1960, da dupla Alan Jay Lerner e
Frederick Lowe.
-A mesma dupla do “My Fair Lady.” interferiu o Dieckmann.
-...
Cantando “If Ever Would Leave You”.
Depois de a poderosa voz de barítono
ser ouvida, Sérgio Fortes retomou seu comentário.
-Bryn Terfel talvez seja, atualmente, o
mais importante artista lírico do mundo. Ele surgiu com o segundo lugar de um
concurso de canto. As pessoas deverão perguntar: “Mas quem foi o primeiro?”. O
primeiro foi Dimitri Hvorostovsky com a voz de registro de baixo.
Dieckmann não repetiu o nome do russo
para que a reputação da sua voz de “locutor da BBC” não fosse abalada, mas não
deixou de se referir à dificuldade dos jurados em escolher o melhor.
-Eu não queria estar nesse júri. -
frisou o Sérgio Fortes.
-Ele é de onde? - quis saber o Jonas
Vieira.
-Galês. - repetiu o Sérgio.
Galês como os personagens do filme
“Como Era Verde Meu Vale”, de John Ford.
-E você, Roberto?
-Eu estou ultrapassando alguém e faço
isso com o maior prazer. - percebia-se nitidamente o tom alegre na voz do
Dieckmann apesar de ele, convidado, tomar a frente justamente do titular do
programa.
-Não, é a minha vez. - recuperou a sua
posição o Jonas Vieira, enquanto se ouvia os risos do Sérgio Fortes.
(*) O nome da
cadela era Peg mesmo. Muita personalidade.
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