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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4248 Data: 10 de
agosto de 2013
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SABADOIDO NUM DIA DE PRAIA
-Claudio, a mamãe tem 87 anos de idade e
você, depois de lhe dar “Cova Rasa” para assistir, dá “Um Estranho no Ninho!...”
-Carlinhos, são dois filmões.
-Mas ela reclamou com os malucos e
malvados, malvada, no caso, aquela enfermeira, que apareceram. A mãe tem de ver
coisas que a animem.
-Essa enfermeira-chefe de “Um Estranho
no Ninho” é considerada a personagem mais cruel da história do cinema. - disse
com a ênfase de quem se justificava.
-Creio que foi o John Rockfeller, o
fundador da Standard Oil, o homem mais rico que o mundo conheceu, que, na idade
da mãe, ou um pouco mais velho, mandou editar um jornal para uso exclusivo
apenas com notícias boas. - lembrei.
-Já li sobre isso, mas não tenho certeza
que foi o John Rockfeller. -
manifestou-se.
-Há um jornal britânico, não me recordo
o nome, cujo lema, colocado num cartaz à porta da redação é “Bad News, Good
News”, más notícias, boas notícias, porque são as notícias ruins que vendem
jornais. Mas quando a pessoa está fragilizada pela idade, até o Rockfeller
esteve, apesar dos 600 bilhões de dólares dele, quer ver e ouvir coisas
alegres.
-Bem, eu dei para ela o DVD com o filme
“Como Era Verde o Meu Vale”. Ela não vai poder reclamar. - disse em tom
enfático. (*)
-Recebi anteontem, do Mercado Livre, “O
Homem Mosca”, do Harold Lloyd que, apesar de filmado em 1923, está em excelente
estado.
-Creio que passou na TV Globo, uma vez
só, lá pela década de 70. - interrompeu-me.
-As gags são excelentes, aliás,
ele se cercou da melhor equipe de piadistas da época, é o que dizem.
-É o filme em que ele escala um edifício
e entra num relógio?... O Martin Scorsese faz uma menção a essa cena no “Hugo
Cabret”.
-Harold Lloyd foi o precursor do
Homem-Aranha, por isso não deveria se chamar “O Homem Mosca”, na verdade, o
nome original é “Safety Last”.
-Ele faz aquilo tudo por causa da mulher
que gostava. - aclarou-se mais a sua memória.
-Creio que as musas da tela não foram
mais amadas do que no cinema mudo; é o Buster Keaton, em “A General”; o Harold
Lloyd; em “O Homem Mosca”; e Charles Chaplin, em “Luzes da Cidade”.
-Talvez. - não mostrou a mesma certeza
minha.
-Resumindo: entreguei o “Homem Mosca”
para a mãe assistir e só ouvia as gargalhadas dela do meu quarto.
-Está bem, Carlinhos, na próxima vez, eu
vou levar para ela os DVDs do
“Sexta-Feira, 13 Parte I, II... até a Parte XC.
-Falando sério, Claudio, “Sexta-Feira 13” tem quantas partes até hoje?...
-Sei lá, “Sexta-Feira 13” tem mais partes do que os
cadáveres que são esquartejados no filme.
-Carlão, como vai você? - entrou o
Daniel na cozinha com a sua habitual alegria.
-E a Casa da Moeda, como vai? - devolvi.
-Ótima; você sabia que nós não
trabalhamos no Dia de Santa Ana, porque é a padroeira da Casa da Moeda?... Até
recebi uma camisa com a imagem da santa que vou dar à minha avó.
-Por que é a padroeira da Casa da Moeda?
-Vou ver, Carlão.
Ao dizer essas palavras, acionou o seu
celular e me respondeu:
-A devoção à Santana vem de uma tradição
de Portugal, onde os moedeiros de Lisboa administravam a Confraria de Sant' Ana
da Fé. Assim, os moedeiros e oficiais da Casa da Moeda se colocaram sobre a
proteção da santa.
-Mas a celebração foi em 26 de julho, já
faz algum tempo, e o Daniel está atrasado. - interveio intempestivamente a
Gina.
-Eu só não me atraso quando estou com o
volante na mão. - reagiu o Daniel de maneira folgazã.
E prosseguiu:
-Carlão, com a visita do Papa, a Casa da
Moeda confeccionou três medalhas: uma de bronze, 45 reais; outra de prata, 1600
reais; e uma de ouro, 16 mil reais. Vai querer alguma?
-Gina
riu com a pergunta e, depois, um pouco mais séria, acrescentou:
-As medalhas são vendidas dentro de um
escrínio. Uma beleza.
-Vendem uma medalha do Papa Francisco por
16 mil?!... Logo ele que é refratário ao luxo! - verbalizei meu espanto.
-Ora, Carlinhos, Jesus Cristo expulsou
os vendilhões do templo, e a figura deles é a mais comercializada que existe. -
argumentou a Gina com ironia.
-Carlão, agora não adianta; todas as
medalhas comemorativas da viagem do Papa ao Rio foram vendidas. Esqueci de lhe
avisar antes.
-Falando em trabalho, no meu há um
colega que é o sósia do Snowden.
-Aquele que entrou no avião do Evo
Morales, Carlão?
-Entrou nada, Daniel. - admoestou-o o
Claudio.
-Mas a Dilma ficou irritada com os
Estados Unidos. - retrucou o Daniel.
-Isso é para inglês ver.
-Velho, vamos atualizar essa frase: -
isso é para americano ver.
-Daniel tem razão: o Hugo Chavez vivia
criticando os Estados Unidos, mas fornecia aos americanos todo o petróleo que
Os Estados Unidos queriam.
-Nesse caso, Carlão, a frase é
diferente: isso é para venezuelano ver. - pilheriou meu sobrinho.
-Falando em Evo Morales, ele fez
com o ministro da Defesa do Brasil o mesmo que fizeram com ele na Europa e a
Dilma não falou nada, pelo contrário,
abafaram o caso aqui no Brasil.
-O que você quer, Carlinhos; estamos na
América Latrina. - interveio a Gina.
-E pensar que, quando eu li “Brasil, um
País do Futuro, do Stefan Zweig, eu tive esperanças. - pensei em voz alta.
-Stefan Zweig não foi aquele que se matou?
-Foi, Claudio, em Petrópolis, juntamente
com a mulher. - respondi.
-Lembro-me agora, o Alberto Dines
escreveu um livro sobre isso: “Morte no Paraíso”.
-Quando estagiei no Jornal do Brasil, em
1977, o Alberto Dines era reverenciado como gênio. Hoje, quando escuto na Rádio
MEC “Observatório da Imprensa”, com aqueles comentários chapas brancas, ou
seja, petistas, imagino o Roquette Pinto, que não queria política na emissora
que doou ao governo, revolvendo-se no túmulo. - manifestei-me.
-Franklin Martins, o sequestrador de
embaixadores, deve ter tomado conta do
programa. - suspeitou meu irmão.
-Daqui
a pouco o Vagner telefona. - previu a Gina, enquanto colocava uma panela na
trempe do fogão.
-E o Luca, será que vem? - perguntei.
-Por que?
-Porque a filha dele postou no Facebook
que iria hoje à praia.
-A Carolina puxou a mãe, que adora uma
praia como eu adorava nos bons tempos. - comentou a Gina.
-Mas é bem capaz de ele levar a filha ao
Leblon e ficar sem tempo para vir ao Sabadoido.
-Ele virá. - assegurou meu sobrinho, que
vive os bons tempos e, por isso, deveria estar, naquela hora, desfrutando uma
boa praia.
(*) Vai
reclamar sim. Há uma leva de Fordianos que é chegada à pieguice e não serve
para animar mãe de ninguém. Este Vale e as vinhas da ira é melhor evitar.
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