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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4239 Data: 29 de
julho de 2013
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SABADOIDO PAPAL
PARTE II
-Como acordo com o rádio sintonizado no
noticiário, espantei-me mesmo com as manifestações em São Paulo exigindo a saída
do Sérgio Cabral do governo do Rio de Janeiro.
Depois de dizer isso, pensei que os
acontecimentos me surpreendiam prazerosamente: paulistas solidários com
cariocas e brasileiros encantados com um papa argentino.
-As manifestações contra o governo, em
Copacabana, quase se misturaram com os peregrinos que foram ver o papa. - disse
o Claudio.
-E Guaratiba, onde seria rezada a missa?
Arrancaram mais de cem árvores, o comércio esperando lucrar muito e tudo foi
suspenso.
Às palavras do Luca, Claudio interveio:
-Você assistiu ao filme “O Banheiro do
Papa”?... Levou naquele cinema que acabou, Art Norte Shoopping. É igualzinho: o
papa ia ao Uruguai e um comerciante preparou um banheiro para ganhar muito
dinheiro com os romeiros que fossem fazer suas necessidades, então ...
E não prosseguiu porque já deduzimos o
desfecho, mesmo não tendo visto o filme.
-O papa se mostrou contra a liberação
das drogas, mas eu discordo quanto à maconha. Fico, nesse caso, com o Fernando
Henrique Cardoso. - manifestou-se o Luca.
E prosseguiu:
-Os dados mostram que morrem muito
jovens, fumantes de maconha, com a violência dos traficantes. É melhor liberar.
-Uma das primeiras medidas do Franklin
Delano Roosevelt, como presidente, foi acabar com a Lei Seca. Não houve mais
contrabando, bebida falsificada, e máfia perdeu um dos seus melhores negócios.
- comentei.
-O cigarro é liberado, mas como vêm
cigarros contrabandeados do Paraguai! - interveio meu irmão que, fiel ao seu
espírito polemista, sempre apresenta uma ideia contrária.
-É mesmo, Claudiomiro; esses cigarros
são bem mais baratos, e gente para fumá-los não falta.
Nesse momento, meu sobrinho apareceu.
-Daniel, eu, você e o Papa andamos de
FIAT.
-É verdade, Luca; as grandes
personalidades preferem o FIAT.
Pensei no fusquinha, que meu irmão
pretende comprar, mas nada disse por que os dois, Luca e Daniel, dialogavam
animadamente enquanto o Claudio apanhava os copos com bebida.
Antes do retorno do meu irmão, Daniel
foi para dentro de casa tocar teclado.
-E a Rosa Grieco? - perguntei.
-Está chateada comigo porque esteve
doente e não fui visitá-la.
-Não recebeu, então, as edições do
Biscoito Molhado?
-Recebeu; eu deixo meus papéis na banca
de jornal do Édson e ela faz o mesmo. (*)
Luca sabia que eu sabia que a banca do
Édson era a posta restante (tão presente nos romances dos séculos passados) dos
dois.
-Ele me enviou muitos recortes de
jornais, e poucas cartas. Aqui, há uma.
Logo, pegou uma carta do pacote que
trouxera e se pôs a lê-la. Falava em Ingres, Delacroix, do quadro “A Morte de
Sardanápalo”, de termos chulos usados no Biscoito Molhado e, de Calígula e
Cipião, os gatos que lhe tomaram a mesa em que escrevia.
Meu
irmão já havia voltado com os copos.
-Ela não é de citar muito o pai, mas,
uma vez, citou. Disse que os pronomes devem ser bem empregados como na família
Galotti.
A lembrança do Luca foi permeada com
risos.
-Eu sei dos Galotti advogados. - disse
o Claudio.
-A família sempre conseguia um bom
lugar com os governantes, foi isso que o Agripino Grieco quis dizer.
Interrompi o Luca para falar de um
conhecido meu, da Corretora Caravello, coronel do exército, que era muito
ligado, no quartel, ao Jarbas Passarinho e que, por causa da política exercida
pelo presidente Jânio Quadros, quase foram às vias de fato.
-Certa vez, Luca, eu contei ao Coronel
que perguntaram ao Agripino Grieco o que achara do livro “Terra Encharcada”, do
Jarbas Passarinho”, e ele respondeu que aquilo dava impaludismo. O Coronel gargalhou sem parar.
-E a morte do Dominguinhos?
-Lamentável, Claudiomiro.
-Ele o Luiz Gonzaga eram os dois
grandes nomes do acordeão.
Ao ouvir-me, meu irmão acrescentou.
-O Dominguinhos tocava mais do que o
Luiz Gonzaga, como compositor...
Como meu irmão se mostrou reticente,
interferi:
-Luís Gonzaga colocou um gênero
musical, o baião, em três instrumentos: zabumba, triângulo e acordeão.
-Luiz Gonzaga sempre teve ótimos
parceiros, sempre fez sucesso.
Claudio desconcordou do Luca.
-Não, houve uma época em que ele ficou
esquecido. O Carlos Imperial até jogou na mídia o boato que os Beatles iam gravar
o “Asa Branca” para o público voltar a ouvir o Luiz Gonzaga.
-O acordeão não fica meio de lado?...
Não falo do violão que, agora, é aceito.
-Bem, Luca, o acordeão está muito
presente na música popular francesa. - lembrei.
-Mas, na música clássica, há algum
concerto para acordeão. Quanto ao violão, há concertos, mas a orquestra tem de
ser diminuta, senão o som do instrumento é abafado.
(*)
Tão animadamente contraditório quanto o Claudiomiro, o Distribuidor do seu O
BISCOITO MOLHADO aborda esta questão por um lado físico: se ambos deixam seus papéis
no jornaleiro, deve-se deduzir que apenas o jornaleiro os lê? Seria o caso de
denominar a Posta Ficante, um termo
que combinaria com os romances atuais?
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