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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

2444 - Piazzollices



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4244                           Data:  03 de  agosto de 2013
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SABADOIDO  PORTENHO

-Não bastassem a música do Piazzolla e o Papa, também o cinema me liga mais à Argentina.
-Há brasileiros que afirmam que estamos bem atrás da Argentina em matéria de filmes. - lembrou meu irmão.
-Se a memória não me falha, o Walter Moreira Sales, numa entrevista, falou dessa supremacia, se não foi ele, foi outro cineasta brasileiro. - comentei.
-Então, você gostou de “O Segredo dos Seus Olhos”?
-Claudio, dei a maior sorte quando telefonei no meio dos DVDs das Lojas Americanas para perguntar à mãe se ela tinha “Os Dez Mandamentos” e você atendeu falando que estivera, por lá, com uns DVDs nas mãos e citou esse filme argentino. Tratei de escarafunchar tudo até encontrá-lo.
-Isso porque já tinha visto “Nove Rainhas” e gostado?
-Procurei o DVD principalmente porque o Elio e a Alba, num almoço no Jirau, disseram para eu não deixar de ver esse filme, além dos grandes filmes que são feitos na Argentina, atualmente.
Concordando comigo sobre a excelência do cinema argentino, meu irmão nem quis o filme emprestado, iria às Lojas Americanas ou à Livraria Saraiva comprar o DVD que lhe escapou das mãos.
E prossegui na exaltação de “O Segredo dos Seus Olhos”:
-Há um plano-sequência que o Orson Welles aplaudiria; a câmera desce das nuvens para entrar no estádio de futebol lotado num jogo do Racing; ela chega aos jogadores, percorre a torcida na arquibancada,  chega nos dois  personagens da justiça em busca de um criminoso, mostra quando é encontrado e a perseguição que se encerra em pleno gramado logo depois de um gol. Coisa de mestre.
-Carlinhos e “Os Dez Mandamentos”? - interveio a Gina.
-Mamãe tinha o filme.
-Mas eu não tenho e trabalha nele o meu ídolo, Charlton Heston.
-Eu tenho de voltar lá, porque me esqueci de trazer “As Sandálias do Pescador”, que iria comprar para a mãe, então, compro o filme do Charlton Heston para você.
-Não, Carlinhos, eu estou brincando. - reagiu, encabulada.
-Esse filme, Carlinhos, é baseado num livro do Morris West que desagradou o Papa João XXIII, consequentemente, vai desagradar a mamãe também.
-Ih! Pensava no “Agonia e Êxtase”, fiz confusão de papas.
-Depois da visita do Papa Francisco, isso é natural. - não perdeu a Gina a piada.
Meu irmão voltou ao cinema argentino.
-Eles já ganharam dois Oscars de melhor filme estrangeiro, enquanto nós não ganhamos nenhum; venceram com esse e com “A História Oficial”. Outro filmaço dos hermanos é “Tango, Exílio de Gardel”. A música é do Astor Piazzolla.
-Ainda bem que reconciliaram Carlos Gardel e Astor Piazzolla, porque o povo argentino, tradicionalista ao extremo, só aceitava o tango do passado.
-Os brasileiros aceitaram logo a música do Piazzolla. - retorquiu.
-Claudio, num desses festivais internacionais da canção, ele foi vaiado. - lembrei.
-Aquilo já tinha virado zona; vaiaram todos os grandes músicos: Piazzolla. Tom Jobim, Henry Mancini...
-Hoje, até a Filarmônica de Berlim toca composições do Piazzolla, como várias orquestras sinfônicas espalhadas pelo mundo; sem falar nos instrumentistas mais populares.
-Eu tenho seis CDs dele.
 -Quando o Marlos Nobre tinha um programa na Rádio MEC, ele disse que, tão logo o Astor Piazzolla morreu, as suas partituras se valorizaram exponencialmente, o que tinha ocorrido com Mozart, séculos atrás, e levou a sua viúva a herdar um bom dinheiro.
-Viúva de quem? - perguntou-me a Gina, que considerara a minha frase ambígua.
-As duas.
-Essa viúva endinheirada não foi a Amelita Baltar, que gravou dele “Balada para un loco.” - manifestou-se meu irmão.
Fui tomado, em seguida, pelo tom professoral, mas meu irmão não  se incomodou com isso:
-O Astor Piazzolla foi aluno da Nadia Boulanger, que orientou Stravinsky, Aaron Copland, Burt Bacharach, Quincy Jones e muitos outros. Ela aconselhou o Piazzolla a não fugir da origem argentina dele, que era o tango. Como ele adquirira um conhecimento musical que estava muito acima dos compositores de tango do passado, colocou elementos de música erudita e de jazz nas suas criações. Torceram o nariz, na Argentina, mas, hoje, ele é considerado um dos grandes filhos da pátria.
-A Cristina Kirchner, que está usando a fotografia dela com o Papa Francisco, aqui, no Rio, para as eleições de outubro, transformando-o em cabo eleitoral, faria o mesmo com o Astor Piazzolla se ele fosse tão famoso quando o Papa. - disse a Gina em tom de pilhéria.
Nesse momento, ouviu-se um baque surdo na frente da casa.
-Agora que o entregador do Globo aparece. - ergueu-se da cadeira, com irritação, o Claudio.
 -Daniel entrou, nesse instante na cozinha.
-Carlão, o que você me diz do banho de bola que o Santos levou do Barcelona, 8 a 0?
-A história do Santos de Gilmar, Zito, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe foi manchada. - respondi com o fingimento de um canastrão dramático.
-Naquela época, Carlão, era o Santos que batia de 8 a 0.
-Digamos 8 a 4, porque a defesa santista era uma droga, mesmo naqueles tempos áureos.
-Carlão, eu via essa derrota acachapante, e pensava... nem sei em quê  eu pensava.
-Eu pensava, Daniel, no deputado Irajá Rodrigues. Certa vez, ele recebeu o sinal verde do Ulysses Guimarães para responder uma crítica de umas seis páginas que o Mário Henrique Simonsen fizera à política econômica do PMDB, no governo Sarney. A réplica desse deputado foi uma lástima. Na época, o Zózimo, no Globo, escreveu que parecia o Maguila enfrentando o campeão mundial dos pesos-pesados, Mike Tyson.
Claudio voltou a sentar na sua cadeira de leitura de jornal e eu continuei a conversar com o Daniel com pequenas interrupções da sua mãe.
-Vai sair com o FIAT?- perguntei-lhe.
-Hoje é sábado. - dia do meu carro tomar banho.
 E saiu.
Minutos depois, ouviu-se a voz do Vagner que chamava pelo Claudio.
-Depois de um mês, ele aparece. - comentei.
-Vagner faltou três sábados seguidos. - foi a Gina mais precisa.
Reclamando mais uma vez do entregador do Globo, que lhe deixou com escasso tempo, para ler, meu irmão se levantou e foi atender um dos integrantes do Sabadoido.
Dirigi-me à Gina.
-Começou o mês de agosto e eu acho que é o mês do aniversário da Rosa Grieco. Ela sabe o dia exato do meu nascimento, sempre me dá livros de presente e eu não sei o dela. Vou perguntar ao Luca qual é o dia.
Minutos depois, Luca telefonava para avisar que não podia comparecer a esse Sabadoido.

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