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O
BISCOITO MOLHADO
Edição 4235
Data: 23 de julho de 2013
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SURURU NO RÁDIO MEMÓRIA
-Muitíssimo bom-dia, senhores ouvintes.
Depois, Jonas Vieira informou-nos da
ausência do Sérgio Fortes, que tinha de resolver problemas, que não eram
poucos, da Orquestra Sinfônica Brasileira.
-No entanto, para suprir a ausência do
Sérgio, trazemos hoje uma estrela.
Imaginei logo a presença do Dieckmann,
que consegue ser mais estrela do que a Greta Garbo, com a vantagem que ela
acabou em Irajá, e ele em Santa Teresa.
-Essa estrela toca todos os instrumentos
de corda...
Não, não era o Dieckmann que só toca
corneta, caso a fotografia que vi dele, como corneteiro, na década de 70, não
seja montagem.
E o Jonas Vieira prosseguiu:
-Só conheço uma pessoa que toca todos os
instrumentos de corda, o José Meneses, mas ela ganha dele porque canta também:
Nilze Carvalho.
Ouviu-se, logo em seguida, a voz da
convidada cantando “Manjericão”, de Diogo Nogueira e Paulo César Pinheiro.
-Eu disse que ia desmenti-lo; eu não
toco todos os instrumentos de corda. Toco bandolim, cavaquinho.
Como um pai coruja, Jonas Vieira
insistiu no seu talento como instrumentista.
-E toca também violão.
-Eu me acompanho ao violão.
-Em “Manjericão”, você tocou algum instrumento?
-Eu produzi, apenas cantei.
Ouvimos, então, “Barracão”, de Luís
Antonio e Aldemar Magalhães em que ela, além de cantar, toca bandolim.
-Eu tive o privilégio de entrevistar
Nilze Carvalho quando ela estava com 11 anos de idade e tocava esse bandolim
Jacóbiano.
-Lá se vão muitos anos.- disse ela.
-Você também participa do quarteto
“Sururu na Roda”?
-Participo do “Sururu na Roda”, além da
minha carreira solo.
E prosseguiu:
-Nós, do “Sururu na Roda”, fizemos um
disco em homenagem aos 100 anos de Nélson Cavaquinho, e fomos indicados ao
Prêmio da Música” com esse CD.
-E o que vamos ouvir desse CD?
-perguntou ele.
-A “Flor e o Espinho”, que foi tocada na
novela das seis da Globo.
E enquanto a composição de Nélson
Cavaquinho e Guilherme de Brito ia ao ar, lembrei-me do Egberto Gismonti, em
meados da década de 70, que, após ser o quarto colocado num concurso de violão
clássico, na França, disse que o nosso melhor violonista era o Nélson
Cavaquinho pelos bordões que tirava do violão.
-E como vai o “Sururu na Roda”? - quis
saber o apresentador do Rádio Memória.
-Nós já estivemos em vários países até
mesmo na Tunísia; aqui, no Brasil, em várias cidades.
-Uma vida monótona. - brincou o Jonas
Vieira.
E, num momento de maior descontração,
enveredou pela história de um conhecido que não tinha uma vida nada monótona.
Sem passar a palavra para a convidada, foi adiante:
-No próximo domingo, teremos uma
entrevista imperdível.
Com esse suspense hitchcockiano, minha
imaginação se soltou. Será o Ratinho, ou, como o chama agora o Dieckmann, o
Rato Feroz? Se for, ouviremos
muito Noel Rosa, um regalo para os ouvidos, mas também muitos palavrões, o que
deixará o Jonas Vieira ainda mais acachapado.
-No entanto, não direi o seu nome, pois
ele pode não aparecer.
Quem será? O mistério será desfeito no
próximo domingo `as 8h da manhã.
-E agora? - passou a bola para a sua convidada.
-Mais uma do Nélson Cavaquinho, um
instrumental que eu não conhecia; o choro “Caminhando”.
A música tocava, enquanto nos vinham à
mente os centenários de Noel Rosa, Nélson Cavaquinho e Cartola, que nasceram em
1910/1911, compositores populares de excelência, que merecem que as festividades pelos seus centenários
atravessem os anos.
Após a audição, ela informou que Dorival
Bahia foi o parceiro do Nélson Cavaquinho nesse choro.
-Nilze Carvalho, você abre a semana do
papa.
-Fui a Roma e já dei um “ciao” para ele.
E se detiveram na figura do Papa
Francisco, com elogios à sua simpatia e simplicidade, e a luta que travará
contra os pecadores do Vaticano.
-Ele usará o papamóvel aberto no
Brasil... Corre riscos...
E Jonas Vieira aparteou:
-Ele corre mais riscos lá, do que aqui.
O que o Stendhal escreveu sobre o Vaticano, “Crônicas Italianas”, recorrendo a
documentos que pegou em cartórios...
Mas o programa é mais de notas musicais
do que de palavras faladas, por isso, pediu-lhe a próxima canção.
-“Juizo Final”, um clássico.
E que clássico! Indicasse, depois, “Luz. Negra” e, para mim, seria outro
clássico da música popular brasileira. Mas era hora da “Pausa para Meditação”,
crônica que nos levou à Pasárgada de Manuel Bandeira.
Apesar do nome “Rádio Memória”,
acontecimentos atuais são comentados, e eu imaginei que Jonas Vieira fosse
falar dos tumultos no casamento da Dona Baratinha, neta do magnata dos
transportes, Jacob Barata, mas ele foi mais genérico sobre as atuais
manifestações pelo Brasil.
-E já existe uma fila de advogados nas
delegacias para defender os vândalos.- mostrou a convidada a sua insatisfação.
-Um absurdo. Mas vamos à música. E
Agora?- instou ele.
-Agora, do mais recente CD do “Sururu na
Roda”, uma composição minha, do Fabiano Salek e Sílvio Carvalho.
E seguiu-se uma homenagem à Dona Ivone
Lara com composições do grupo e do Nei Lopes. Eram sambas autênticos, daqueles
que nasceram na Gamboa e se espalharam por Saúde, Santo Cristo, Estácio e
demais bairros cariocas; sambas tocados ao vivo: “Sonho meu”, “Mas quem disse
que eu posso te esquecer”, Tiê”.
-”Sururu na Roda”, ao vivo e a cores.-
brincou o Jonas Vieira.
Trata-se de um quarteto, como foi anunciado,
com Nilze Carvalho, voz, cavaquinho e bandolim; Juliana Zanardi, voz e violão;
Fabiano Salek, voz e percussão; e Sílvio Carvalho, também voz e percussão.
A seguir, Jonas Vieira se reportou ao
Arthur Dapieve, não para falar do
gosto musical eclético do cronista, que vai dos compositores do período barroco
ao Rock, mas sim do seu texto sobre a barulheira das pessoas.
-Tocam buzina, falam alto nos
restaurantes. Eu, que ando de ônibus, sou obrigado a ouvir conversas
chatíssimas, no celular, por que as pessoas berram.
-Talvez, o constante uso de áudio no
ouvido esteja prejudicando a audição das pessoas.- diagnosticou ela.
-E a falta de educação de hoje em dia. -
acrescentou o Jonas Vieira.
-Sim – concordou. Hoje, professor é
chamado de tio, e técnico de futebol passou a ser tratado de professor.
Sinal dos tempos, pensamos nós: Ary Quintella, hoje, seria tio, e Yustrich, professor.
Mas a amenidade voltou com o samba “Ainda posso ser feliz”.
E, assim, o programa foi até o final,
com o convite, por parte da cantora e instrumentista, de o “Sururu na Roda” ser ainda desfrutado no SESC de
Madureira.
Foi um Rádio Memória genuinamente
nacional. Aguardemos, agora, a surpresa do próximo domingo.
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