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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4258 Data: 28 de
agosto de 2013
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UM CONTO CHINÊS
NO SABADOIDO
PARTE II
No telefone, a voz do meu irmão
estrondava:
-Luca, você tem de vir. O Carlinhos está
aqui com cinco mamões, uma melancia e oito livros, verdadeiros tijolos, para
você entregar à Rosa. Ah, você já chegou?... Estou indo para abrir o portão.
Depois de pôr o telefone no lugar em que
se achava, foi realizar o que dissera.
Não me dirigi logo para o local da reunião
do Sabadoido, mas escutava bem a voz do Luca.
-Claudiomiro, chicanista é a pior ofensa
que se pode fazer no meio jurídico. O Joaquim Barbosa disse que o Lewandowski
fazia chicana...
Quando lá cheguei, o meu irmão falava em
chicaneiro.
-Pode ser, mas eu vi no dicionário
chicanista. - frisou o Luca.
-Num desenho dos Simpsons, aparece um
advogado querendo ganhar dinheiro fácil e uma das personagens pergunta se ele
não era chicaneiro.
Enquanto eu falava, meu irmão que pegara
o dicionário constatava que os dois vocábulos estavam corretos.
-Nos bastidores do Supremo Tribunal
Federal, depois da sessão, o Lewandowski disse para o Joaquim Barbosa que lhe
quebraria a cara...
-E ele replicou: “você não vai avacalhar
a minha presidência.” - completei a informação do Luca.
-Um juiz não pode chamar outro de
chicaneiro. - ponderou o Claudio.
-Certamente que as dores lombares de que
sofre o Joaquim Barbosa contribuem muito para o seu mau gênio, além de ter de
aturar a verborragia do seu desafeto que, nitidamente, pretende arrastar o
julgamento e beneficiar os petistas.
-E por isso ele ofende os outros, como
ofendeu aquele jornalista? -esbravejou o Claudio.
-Não estou justificando, estou
compreendendo. - -tentei desfazer o mal entendido.
-Todos os pares deles ficaram contra o
Joaquim Barbosa. - disse o Luca.
-Míriam Leitão escreveu uma das suas
melhores colunas defendendo o Joaquim Barbosa nesse episódio. - lembrei.
Meu irmão interveio com uma argumentação
que considerei definitiva, por isso me calei.
-Carlinhos, Míriam Leitão não defendeu o
Joaquim Barbosa, ela refutou o artigo do Ricardo Noblat que enaltecia o
Lewandowski e denegria o Joaquim Barbosa. É diferente.
-E o Ricardo Noblat?!... Defendia uma
coisa, agora defende tudo diferente. - mostrou-se o Luca abismado com a
transformação do jornalista.
-Vá ver que, depois de ter sido ameaçado
fisicamente pelo Dias Tóffoli, num estacionamento em Brasília, passou a ser seu
aliado. - comentei.
Mas os assuntos eram muitos e viramos a
página do Mensalão.
-E a chegada dos médicos estrangeiros ao
Brasil?
-Os médicos daqui não querem sair das
grandes capitais.
-Sim, Luca, mas ir para o interior do
Brasil sem condições de praticar uma boa medicina, não dá. - contra-ataquei.
-Chegaram médicos espanhóis,
portugueses... Eu li no jornal. E trouxeram as famílias, muitas malas...
-Eu também li, Claudiomiro.
-Será que eles sabem o que lhes espera:
hospitais, centros de atendimentos médicos sem os instrumentos necessários para
se tratar um doente, caixas servindo de berçários? - perguntei.
E fui adiante:
-Os médicos cubanos, por já estarem
acostumados com a miséria, teriam mais experiência do que os outros para
improvisar nesses casos.
-Viram como eles vêm para cá?... Com
grande parte do dinheiro deles indo para o governo de Cuba. - interveio meu
irmão.
-Eles precisam se alimentar, de pagar o
transporte de um lugar para o outro. Como vão viver no Brasil? - lançou o Luca
essa questão.
-Vou pegar as bebidas. - anunciou o
Claudio.
-Eu li sobre as melhores músicas que
você escreveu no BM; é impossível apontar as dez melhores canções.
-Para mim, são mais de mil as melhores.
- frisei.
-Você diz as dez e, logo depois, se
arrepende de ter esquecido um monte delas.
E continuei:
-O Sérgio Fortes me pediu as dez
melhores, mas, o que posso fazer é o mesmo que o Dieckmann fez na primeira vez
que foi ao Rádio Memória: indicou aquelas que o marcaram no transcorrer da
vida. (*)
-Assim fica mais fácil.
-Vamos lá. Quando eu era pequeno, minha
mãe me levava para ver o carnaval na Avenida Rio Branco, então, para registrar
essa época, eu escolheria “As Pastorinhas”, do Noel Rosa e Braguinha. Na minha
fase infanto-juvenil, eu já me sentia atraído pela sátira na música, então, eu
escolheria “Caixinha Obrigado”...
Luca, sem pestanejar, pôs-se a cantar a
composição do Juca Chaves, surpreendendo-me por guardá-la na memória.
-Veja, Luca, como uma canção composta em
1960 ainda é atual hoje.
Ele
cantou mais alguns trechos, enquanto concordava com a cabeça.
-Como o Choro é o gênero musical de que
mais gosto, optaria pelo “Urubatan”, com Pixinguinha e Benedito Lacerda.
-Tenho centenas de CDs de chorinho.
-As festinhas que frequentávamos todos,
na nossa fase de adolescente, seria marcada por mim com a gravação dos
Românticos de Cuba de “Siboney”, de Lecuona.
Fui interrompido pelo retorno do Claudio
com dois copos de um líquido dourado.
-Claudiomiro, nós estávamos falando aqui
das dez melhores músicas...
-Você viu as dos Luís Fernando
Veríssimo?
-Vi, Claudiomiro, mas não me lembro de
todas.
-Meu irmão lembrava e passou a nomeá-las.
-Ele enalteceu tanto “Senhorinha”, do
Guinga e Paulo César Pinheiro, afirmando que só perde para as Bachianas de
Villa Lobos, que a procurei no You Tube.
-Eu já conhecia “Senhorinha”. -
assegurou o Luca.
-Eu a ouvi três vezes e o meu
encantamento com a música ia num crescendo.
-Ele compõe há décadas, mas não faz
sucesso. A música do Guinga é muito refinada. - manifestou-se o Claudio.
-O Arthur da Távola dizia que a música
vem até os ouvintes, mas há aquelas músicas em que o ouvinte tem que ir até
elas para se encantarem.
-E completei:
-Essas são as músicas que melhoram a
cada vez que nós as ouvimos, é o caso das composições do Guinga.
Claudio
e Luca debatiam sobre quem tomou conhecimento primeiro da obra do Guinga,
quando a Gina chegou do supermercado, convergindo todas as atenções.
-Gina, a Rosa escreveu uma carta em que
fala de você.
-Luca, o que ela leu do Carlinhos para
falar de mim?- reagiu com desconfiança.
-O Carlinhos só fala bem de você.
E passou para a carta.
-A Rosa, quando soube da sua atração
pelo Charlton Heston, propôs que vocês duas o dividissem, pois ela confessa que
seus alicerces ficavam abalados sempre que via o Charlton Heston na tela.
E, em seguida, pegou um papel do pacote
que trouxera, e pôs-se a ler a tal carta.
(*) Contatado
pelo Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO, Dieckmann foi rápido no gatilho: “Claro,
é só seguir o chefe, como nas brincadeiras da infância.”
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