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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

2463 - Rastros de Seriedade



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4263                              Data:  01 de  setembro de 2013
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SABADODEIRA  POLÍTICA, CINEMATOGRÁFICA E MUSICAL

-Rapaz, um deputado que sai do presídio, legisla e volta para o presídio...
-Claudio, um jornal resumiu tudo numa manchete, “Sua Excelência, o presidiário”.
-E assim vai ser com o João Paulo Cunha, o José Genoíno e o José Dirceu, caso sejam presos. - previu meu irmão.
-Jabuticaba só existe no Brasil e esse caso de um deputado presidiário é mais uma das nossas jabuticabas.
-Mas jabuticaba é gostosa. - criticou a Gina minha comparação.
Nesse instante, o meu sobrinho, vindo da rua, apareceu.
-Carlão, meu carango já tomou o seu banho dos sábados. Estou pronto.
-Aonde vocês vão? - quis saber a Gina.
-O Daniel vai baixar um anti-virus no meu computador, que corre o risco de sofrer uma infecção hospitalar.
-Infecção caseira, Carlão. - corrigiu-me.
Com isso, inverteram-se os acontecimentos da última sessão do Sabadoido do mês de agosto, em vez de eu ouvir a chegada do Luca, ele é que ouviu a minha, pois, quanto retornei, já passava das 10h 30min.
-Meu pai, que temia o mês de agosto, morreu exatamente na passagem de agosto para setembro.
-A minha mãe faz, hoje, 32 anos de morta. - declarou a Gina, que participava da reunião.
Luca, que ganhara uma boa bolada no jogo bicho com as datas de nascimento do Chico Buarque e da minha mãe, revelou que juntaria as datas da morte do pai dele e da minha cunhada, para apostar num duque de dezena, cercado por todos os lados, Essa sua intenção teve o mérito de neutralizar reminiscências tristonhas e descontrair o ambiente.
-Eu trouxe uma página da Folha de São Paulo sobre os grandes filmes do faroeste...
Enquanto falava, Luca ergueu a tal página com as duas mãos, e todos vimos a fotografia de dois atores:
-Robert Redford e Paul Newman – identificou-os logo o meu irmão.
-Claudiomiro sabe tudo de cinema.
-Se fosse a foto do Charlton Heston, eu também adivinharia logo. - interveio a Gina.
-Você e a Rosa adivinhariam. - ironizou o Luca.
-O filme é Butch Cassidy.
-Claudiomiro humilha... Eu, infelizmente, não tenho toda essa memória de filmes.
Não é memória fotográfica, é memória de fotograma. - pensei.
-Como é o nome daquele ator...
A pergunta do Luca se completou com umas palavras ditas em inglês macarrônico que faziam a boca se mexer exageradamente. Deduzi que ele conhecia a imitação que o José Vasconcelos fez do James Stewart e respondi:
-Esse mesmo, Carlinhos.
E, voltando-se para o jornal, disse que James Stewart atuou num dos maiores clássicos do faroeste.
-”O Homem que Matou o Facínora.” - respondeu meu irmão antes que brotasse alguma pergunta.
-Qual é mesmo a frase famosa que é dita nesse filme? - quis saber o Luca.
-”Se a lenda supera o fato, imprima-se a lenda” e foi dita pelo dono do jornal da cidade “Ashbone News” - disse eu, sem pestanejar, pois volta e meia o Dieckmann a cita nas suas incursões cinematográficas.
-Eu gosto do Johnny Guitar.
-Eu também, Gina. - manifestou-se o Luca.
E os dois entoaram a bela melodia da película.
Enquanto o meu irmão bebericava e à minha mente viajava até a ópera “Fanciulla do Oeste”, de Puccini.
-Eu pensava que o Gary Cooper atuasse no Johnny Guitar. - disse, quando parou de cantar.
-O Ernest Borgnine eu sei que trabalha...
-Mas o destaque é a Joan Crawford. - completei a frase com o nome da atriz que supus que meu irmão diria.
-Esse jornal cita os três maiores atores de faroestes do cinema e coloca o John Wayne em primeiro lugar. Eu colocaria o Gary Cooper.
 -O John Wayne era o ator predileto do John Ford.
Depois de me ouvir, Luca se reportou “Aos Três Homens em Conflito”.
-O Bom, o Mau e o Feio”. - citei o primeiro título que recebeu no Brasil.
-E vocês sabem quem são os atores?
Claudio mostrou uma memória mais afiada do que a minha.
-Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach, identificando o bom, o mau e o feio.
E prosseguiu:
-Lembram-se do Careca, que uivava o início dessa música?
Luca se lembrou com um sorriso, enquanto eu me espantava com o Careca, que era um garoto naquele tempo da Rua Chaves Pinheiro, pois o Ennio Morricone procurou reproduzir, em notas musicais, o uivo do coiote. Saberia o Careca disso?... Provavelmente que não.
-Clint Eastwood tinha que estar entre os três maiores cowboys do cinema. - afirmou o Claudio com a minha concordância.
Do cinema, partimos para a música.
-Vocês leram a reportagem dos 70 anos do Edu Lobo?
-Não somos nós, apenas, que ficamos velhos. - seguiram-se as palavras da Gina às do Luca.
-O Edu Lobo declarou que, depois de estudar piano, o horizonte musical dele de compositor se ampliou.
-Pois é, Carlinhos, ele compôs as primeiras músicas dele com o violão.
-Como quase todos os nossos compositores. - bradou o Claudio.
-O Villa lobos não era o compositor do violão?... - voltou-se o Luca para mim.
-O primeiro instrumento do Villa Lobos foi o violoncelo, cujo aprendizado ele adquiriu do pai. A Bachiana nº 1 foi composta para violoncelos, apenas, oito. Agora, na minha opinião, as melhores músicas para violão são deles, nem mesmo os espanhóis, que chamam o instrumento de guitarra chegaram ao patamar do Villa Lobos. Voltando ao piano, os grandes compositores faziam, primeiramente, a música no piano e, depois, orquestravam. O Franz Liszt transcreveu as nove sinfonias de Beethoven para o piano, que, afinal, tem oito oitavas (na verdade, sete oitavas e uma terça menor).
A minha tagarelice se desfez com a intervenção do meu irmão.
-Os grandes compositores tocavam piano: Tom Jobim, Henry Mancini, Cole Porter, Pixinguinha, Bart Bacharach...
Retomei a palavra:
-Lembrei-me com essa reportagem de uma participação da Sônia Rubinsky no programa do Arrigo Barnabé, na Rádio MEC. Ela, que gravou toda a música de Villa Lobos para piano, quando solicitada a citar uma canção, disse: “Beatriz”.
-Beatriz, de Edu Lobo e Chico Buarque de Holanda. - disse o Luca, encantado.
E continuei:
-Fui no You Tube e acessei um vídeo em que o Edu Lobo e o Chico Buarque interpretam “Beatriz”. Eles arruinaram o que compuseram...
Luca riu.
-De fato, há notas, principalmente graves, difíceis de ser emitidas e as vozes dos dois não cumpriram a missão.  Acessei, em seguida, “Beatriz” na voz do Milton Nascimento, nos seus bons tempos de cantor, pude sentir a sua beleza e até ouvi a nota mais aguda do Edu Lobo, aquela em que o Chico Buarque colocou a palavra “céu”. Porém, faltou o piano do Edu Lobo nessa gravação do Milton Nascimento.
O último Sabadoido de agosto se encerrou com a entrega de fotos da filha do Luca, num Castelo, em Óbidos, que imprimi do Facebook e a promessa dele de pegar com a cunhada os meus retratos na 3ª e 4ª séries primárias para serem escaneadas por mim.
(*) O Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO não vê hora de revelar aos leitores a foto do redator em tenra idade, seja lá o que isso queira dizer e considera Clint Eastwood um fã de faroeste, embora de filmografia curta. Não dá para comparar com os atores mencionados. Quanto à diferença entre John Wayne e Gary Cooper, a predileção dos franceses pelo primeiro cunhou a escolha. John Wayne, com Natalie Wood garota nos braços, dirigido por John Ford em “The Searchers – Rastros de Ódio” tornou-se referência de cowboy. E fim de papo, acham os franceses, já que este Distribuidor respeita, mas não gosta de Rastros de Ódio.



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