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terça-feira, 3 de setembro de 2013

2459 - o a-sim de Jonas Vieira



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4259                              Data:  29 de  agosto de 2013
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RÁDIO MEMÓRIA COM AS ALEGRIAS DO PRESENTE

O programa desse último mês de agosto foi anunciado pelo seu titular no meio de risos. Ele explicou aos ouvintes o porquê daquela alegria tão transbordante: uma piada; porém, em vez de contá-la para nós, repetiu as mesmas palavras com que abriu o Rádio Memória. Seria a ótima piada sobre a bomba atômica, do Sérgio Fortes que, segundo o Dieckmann, provoca risos até nos sobreviventes de Hiroshima?... Nós, ouvintes, ficamos decepcionados em não saber, mas fica, pelo menos, a certeza de que, apesar do nome do programa, ele não é tonificado pela melancolia.
-Rádio Memória, seu programa das 8 horas da matina que é a hora do pinto.
-Porque o galo já se manifestou. - acrescentou o Sérgio Fortes.
Em seguida, o Jonas Vieira apresentou o seu convidado: Fernando Borer, “um grande médico, uma pessoa querida, apaixonada por música”.  Com a voz bem mais vibrante do que da última vez em que lá esteve, quando se queixou de dores na coluna, Fernando Borer agradeceu mais um convite e cumprimentou a todos. Cabia a ele a primeira escolha musical:
-Vamos começar com alto astral... - prometeu.
Julgamos, então, que a piada fora apenas um aquecimento para a alegria entrar em campo com toda força.
- Uma música gravada em 1939 para o carnaval de 1940: “Camisa Amarela”.
-Entrou, então, a voz da Araci de Almeida, cantando “Camisa Amarela”, enquanto o portador da camisa cantava a Florisbela.
-Essa é a melhor gravação, para mim, que ainda conta com a participação do Luís Americano. O Ary Barroso tem a sua própria gravação, e um dia eu vou mostrá-la aqui.
Às palavras do Fernando Borer, seguiram as do Jonas vieira, que afirmou que também tinha essa gravação do Ary Barroso, que, para ele, foi um gênio.
Quando a vez da escolha passou para o Sérgio Fortes, eu me reportava a um choro, “Passagem pela Arábia”, em que o Luís Americano conseguiu tirar uma gargalhada do seu clarinete.
-Vamos entrar no mundo da ópera, mas com uma peculiaridade: sem voz.  Trata-se de um CD que eu tenho em que Leonard Bernstein rege a Orquestra Filarmônica de Nova York em trechos operísticos.
E foi adiante o Sérgio Fortes:
-Vamos ouvir “Canção do Toureador”, da Carmen de Bizet. Chamo a atenção para o solo de trompete de William Vacchiano. Vejam que maravilha.
Encerrada a audição, Fernando Borer, juntamente com Sérgio Fortes, aludiram às várias versões que “Carmen” recebeu, principalmente no cinema, enquanto o Jonas Vieira frisava que toda a ópera era bonita.
Não foi à toa que o filósofo Nietzsche, para acentuar a sua afirmação de que a música de Wagner era doentia, contrastou-a com a ópera Carmen. E a primeira frase que escreveu na Carta de Turim, de maio de 1888, foi: “Ouvi ontem – podem acreditar? - pela vigésima vez a obra-prima de Bizet.”
Mas voltemos ao Rádio Memória, pois agora o titular do programa revelaria sua opção.
-Trago Pixinguinha. O prefixo do nosso programa já foi o “Gato e o Canário”... Trata-se de arranjos sinfônicos do Pixinguinha tocados pela Orquestra Sinfônica de Recife. Ouçam essa maravilha que é “Pula Sapo”.
Sapo, gato, canário, urubu, ninguém retratou melhor, em notas musicais, os bichos do que o imenso Pixinguinha.
Depois dos adjetivos laudatórios, Sérgio Fortes repercutiu os comentários do Fernando Borer no meio da audição: “É como Carl Orff ... como uma opereta de Offenbach.”
E se referiu à bandinha, bem brasileira, que permeia o arranjo sinfônico.
Voltou a vez para o convidado.
-Eu trouxe uma obra-prima, não pelo Ciro Monteiro, cantor já consagrado, mas pela dupla de compositores, Lauro Maia e Humberto Teixeira, dois grandes nomes poucos citados hoje em dia.
-Deveriam ter mais proeminência. - aparteou o Sérgio Fortes.
-Lauro Maia viveu apenas 37 anos e Humberto Teixeira mudou a vida musical do Gilberto Gil, como eu vi o Gil confessar. Mas vamos lá: “Deus me Perdoa”, gravação de 1946, com Ciro Monteiro.
Com a gravação, as reminiscências do Jonas Vieira foram reativadas, e ele falou do cunhado do Humberto Teixeira, Lauro Maia, arranjador, músico e instrumentista, de origem cearense, que se foi com 37 anos de idade por causa de uma tuberculose. Disse também que Luiz Gonzaga deve muito a Humberto Teixeira ter se tornado o Gonzagão, pois julgava que “Asa Branca” era apenas um mote, enquanto Humberto Teixeira, seu parceiro, vislumbrou-lhe a grande composição que era aquela.
-Lauro Maia, morto pela tuberculose. - lamentou o Sérgio Fortes a morte prematura de tão talentoso músico.
Com a sua experiência de médico, Fernando Borer informou que, ainda hoje, se morre muito de tuberculose, principalmente no Rio de Janeiro.
-São muitos nordestinos que vêm para cá. - disse o Jonas Vieira.
-Isso mesmo; eles tomam remédio e, quando se sentem melhor, param com a medicação, e morrem.
As bactérias, agora, ficaram muito mais fortes para enfrentar os antibióticos. - imaginamos.
Depois da explicação, o doutor perguntou:
-Sabem quando eles se sentem melhor?... Quando não estão mais com febre.
-O Brasil está com tuberculose. - atalhou o Jonas Vieira.
-Nos dois pulmões. - arrematou o Borer.
Enquanto falavam da doença, eu me reportava aos áureos tempos do Pasquim, quando o polemista Paulo Francis criticou o filme “Midnight Cowboy” (Perdidos na Noite), porque o personagem, encarnado pelo Dustin Hoffman, morria de tuberculose, “mal que não afligiria mais os americanos”. Ziraldo rebateu o Paulo Francis com estatísticas que mostravam que, mesmo lá, a incidência da doença não era pequena.
Sérgio Fortes se tornou enfático, agora, que a vez era dele:
-Vamos ouvir a música mais gravada e cantada em língua espanhola; a sua compositora não  tinha 16 anos quando  a criou...
Jonas Vieira o interrompeu para se corrigir: dissera, no domingo passado, que Maria Grever era a única compositora de bolero (“bolorenta”, segundo o trocadilhista Dieckmann), mas havia a Consuelo Velásquez, justamente a compositora a que o Sérgio Fortes se referia.
-Vamos ouvir “Besame Mucho” com um grande pianista de 1 metro e oito centímetros de altura: Michel Petrucciani.
Sérgio Fortes ainda aludiu ao fato de os Beatles cantarem “Besame Mucho”, em 1962, com outras 14 canções, na fracassada gravação para os estúdios Decca (anos depois, o quarteto de Liverpool voltaram a ela nos ensaios das gravações do LP “Let It Be”).
Esqueceu-se, porém, de dizer que o ministro da Justiça Bernardo Cabral a dançou, de rosto colado, com a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello. (“Isso é nitroglicerina pura” - disse o presidente Collor, na ocasião).
Bem, a memória deste redator não está seletiva, tentaremos melhorá-la nos parágrafos seguintes.
Consuelo Velasquez confessaria que a inspiração do “Besame Mucho” lhe veio de uma ária de uma ópera de Enrique Granado. Mas, encerrada a audição, os elogios foram todos para o pianista de jazz Michel Petrucciani.
-Ele não é um “a-não” é um “a – sim”. - disse o Jonas Vieira sem se importar com Mark Twain que escrevera que o trocadilho é a forma menor de humor.


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