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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4274 Data: 16 de
setembro de 2013
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UM
SABADOIDO DO CINEMA
AO TRIBUNAL
2ª PARTE
-Claudiomiro, e o julgamento dos
embargos infringentes?
-Você vê, Luca, que os cascudos, até
agora, votaram contra, com exceção do vampiro... - aludiu ao Lewandowski cuja
capa preta e a magreza nos faz lembrar o Christopher Lee no papel de Drácula.
-E os novatos, tirante o Luiz Fux, votaram
a favor. - completou.
-Esse Roberto Barroso pode ficar quinze
anos no Supremo Tribunal Federal, mas a pecha de novato não vai se desgrudar
dele.
-A Dilma nomeou esses novos juízes para
mudar a decisão anterior.
-Pelo menos – prosseguiu meu irmão – o
Teori Zavascki vota a favor do PT e se limita a isso; esse tal de Barroso não,
julga-se até no direito de opinar sobre os votos dos outros juízes.
-O Marco Aurélio, que é o mais irônico
de todos, o colocou no seu devido lugar, chamando-o de novato. - -
manifestei-me.
-Eu me surpreendi com o voto favorável
aos embargos infringentes da Rosa Weber. - revelou o Luca.
-O voto dela era uma incógnita; eu disse
comigo mesmo que Rosa Weber é quem decidiria esse julgamento. - afirmou o
Claudio.
-Quando ela condenou o José Genoíno fez
cara de choro, como se ele fosse um paladino da luta pela liberdade. -
recordei.
-E esse Barroso até elogiou o José Genoíno,
como se ele não tivesse pego em armas para impor uma ditadura de esquerda no
Brasil. - assinalou meu irmão.
-De alguns votos nós já sabíamos de
antemão: Lewandowski, Dias Toffoli...
-O Lewandowski é sabujo do PT, mas
possui notório saber jurídico, mas o Dias Toffoli, não; ele está no Supremo
Tribunal Federal por ter sido advogado do José Dirceu. - aparteou meu irmão.
-E continua sendo, Claudiomiro. - ironizou
o Luca.
Com a chegada da Gina e do Daniel, a
sessão foi interrompida.
Depois de o Luca e o Daniel se
cumprimentarem como dois garotões praticantes de surfe na praia do Pepino, Gina
anunciou que o Vagner não se faria presente neste sabadoido.
-O cunhado dele fez cateterismo? -
perguntaram a ela.
Enquanto respondia, Daniel rumou para o
quarto e, poucos minutos depois, soaram as notas do seu teclado.
-Gina, eu trouxe o seu massageador, que
não é aquela porcaria que dei para o Carlinhos.
Com essas palavras, estendeu o braço e lhe
entregou uma caixinha com um objeto que mais parece uma nave especial que vibra
quando um botão é premido.
-O meu vibrador come pilhas com uma
voracidade insaciável. - frisei.
-Este, não. Ele também pede três pilhas
palitos, mas duram muito tempo. Para você ter uma ideia, chego do tênis de mesa
com dores por todo o corpo, coloco esse aparelhinho entre a cadeira e as minhas
costas e fico horas assim, e as pilhas resistem.
-Ótimo. - disse a Gina massageando as
costas com ele.
-Também é bom colocá-lo na sola do pé
para se sentir bem relaxado. - citou o Luca mais um benefício do vibrador ou
massageador.
E voltou-se para mim:
-Carlinhos, jogue o seu fora e compre um
desses, que está em promoção na Casa & Vídeo por 16 reais.
Nesse ínterim, meu irmão se levantou da
cadeira e foi para dentro de casa.
-Gina, como você chamava o remédio que
foi substituído pelo Merthiolate? - inquiriu o Luca
-Mercúrio Cromo.
Luca escandiu as sílabas das duas
palavras ditas pela minha cunhada e voltou-se para mim.
-Como se chamava?...
Percebi que era uma sabatina, mas como a
palavra sabatina vem dos exames realizados aos sábados na tradição da escola
jesuítica, pelo menos, quanto ao dia, a palavra se ajustava.
-Mercúrio Cromo. - segui o voto da
relatora.
-Eu também julgava assim; eu sempre
disse, até recentemente, Mercúrio Cromo...
Com a volta do Claudio, Luca suspendeu o
fluxo do seu discurso, e lhe dirigiu a mesma indagação.
-Mercurocromo.
-Isso mesmo, Claudiomiro.
-Para mim, era Mercúrio Cromo.
Tentei justificar o nosso erro:
-Nós repetimos muitas besteiras porque
não fazemos antes uma depuração. Um exemplo é a expressão “cuspida e
escarrada”. Dizem que fulano é a cara do pai “cuspida e escarrada”, quando o
certo é dizer que fulano é a cara do pai “esculpida em Carrara”.
-Mas, então, você está sendo pernóstico.
- objetou a Gina.
-Enquanto isso, meu irmão já estava com
um dicionário na mão à cata de mercurocromo.
-Nome de remédio não se encontra nos
dicionários. - afirmei.
-Se
escreve tudo junto, “Mercurocromo”. - informou a Gina depois de consultar o
Google.
Luca, agora, se referia à volta da Carolina
de uma viagem a Portugal e a Espanha.
-Fui ao aeroporto buscar a minha filha.
O problema são os lugares extremamente escuros para você dirigir. Ela veio com
euros, apenas, não havia como pegar um táxi com essa moeda. Lá fui eu para lá e...
outro problema: a mala da Carolina foi extraviada e se encontrava em Paris.
-Que chique! - disseram.
-Um problema e tanto, pois ela já tinha
de dar aula na segunda-feira, e havia material na mala sem falar nos presentes
para o pessoal. O incrível é que, sem abrir as malas, eles sabem tudo o que
está lá dentro. Perguntaram a ela,
primeiramente, se lhe pertencia uma, cheia de garrafas de vinho. Depois,
falaram do conteúdo de outra mala e a Carolina logo identificou como sua.
E tudo isso foi descoberto por um olhar
de super-homem. - pensei em quantos inventos foram previstos na ficção
científica.
-A minha sorte é que meu presente, um
Dom Quixote, ele comprou em Toledo, que está relacionado com La Mancha; esse
ela trouxe na bolsa.
Com a saída da Gina, retornou à sessão
dos embargos infringentes:
-Saber-se se a impunidade cessa, ou prossegue,
no Brasil, vai depender de uma tecnicalidade. - lamentei.
-Gostei quando o Marco Aurélio revelou
que sugere aos seus alunos que leiam as obras de literatura.
-Porque há conflitos de interesse. -
disse o Claudio.
-A frase de John Steinbeck que ele
citou...
-”Quando uma luz se apaga, fica muito
mais escuro do que se nunca tivesse brilhado”. - antecipei-me.
-Carlinhos, eu estive com esse livro “O
inverno de nossa esperança” nas mãos, inúmeras vezes e não li.
A decepção sucedendo a esperança torna
tudo muito mais escuro. - pensei, sem nada dizer.
-Os governadores, prefeitos e outras
autoridades que são julgados pelo STJ não têm o direito ao embargo infringente.
-Não há isonomia, como chamou a atenção
a Carmem Lúcia.
-O voto do Gilmar Mendes foi um
autêntico discurso.
-Como disse o Marco Aurélio, tudo vai
depender do ministro Celso de Mello.
E o assunto mensalão tomou conta das
nossas conversas até o encerramento daquele sabadoido.
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