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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

2470 - Pau na máquina



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4270                         Data:  11 de  setembro de 2013
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167ª CONVERSA COM OS TAXISTAS

-Aproveitou o banco de horas e saiu mais cedo. - deduziu o Meu Nobre ao ver-me entrando no seu táxi pouco depois das 2 horas.
-Nada; pifou a internet, no meu trabalho e ficamos à toa. Resolvi, então, vir para casa.
E, em seguida, acrescentei a intranet, pois, sem ela, ficamos sem comunicação com Brasília e os usuários.
-Nem o ponto eletrônico se pode bater.
-Isso é bom. - disse sorrindo.
-E pensar que trabalhávamos sem essa parafernália da informática e o serviço fluía. E não faz tanto tempo assim.
-Ficamos dependentes dos computadores de uns anos para cá. Juntou ele suas palavras às minhas.
-Telex; como se recorria aos telexes. Ainda me confundo e pergunto se já enviaram o telex em vez de e-mail. Olham-me como se eu fosse jurássico.
Meu Nobre riu, e eu prossegui:
-Não faz vinte anos e as datilógrafas batiam os textos nas máquinas de escrever, e as mais sofisticadas tinham o que se chamava de esfera. Havia todo um cuidado com essa esfera. Hoje, nem vejo mais datilógrafas. Você digita um texto no computador e o envia por e-mail ao destinatário ou, então, imprime.
-Havia muito aquele aparelho... Como é o nome?...
Logo se lembrou:
-Teletrim. Como se usava o teletrim nas décadas de 80 e 90.
-Era mais de uso pessoal. - interferi.
-De uso profissional também. - frisou, e foi adiante:
-Era um aparelhinho de comunicação por rádio que a gente portava, na cintura, na maioria das vezes. Você enviava uma mensagem para uma central que emitia um “bip” ao dono do teletrim que, por sua vez, entrava em contato com essa central.
-Hoje, você remete essas mensagens diretamente por celular ou smartphone. -
-É o SMS. - disse ele o acrônimo da sigla Short Message Service.
As três letras ditas por ele despertaram a minha memória:
-Você viu, há pouco mais de dois anos, no Jornal Nacional, uma disputa, no exterior, entre o Código Morse, que tem 100 anos e o SMS, um invento recente, para se saber qual dos dois era o mais rápido?
-Vai me dizer que o Código Morse venceu?
-Com todas as honras.
-Por mais que inovem, há coisas do passado que permanecem úteis. - declarou.
-Aquele escritor de best-seller, Frederick Forsyth, revelou que só redige os romances dele na máquina de escrever, pois, assim, não é raqueado.
-Não há riscos de vírus...
-Com a morte do Steve Jobs, caiu o surgimento de novas criações no campo da informática. - observei quando já nos achávamos a poucos metros da minha casa.
-Tem muita gente inteligente por aí, meu nobre. - disse-me enquanto eu me desvencilhava do cinto de segurança para saltar.

Depois do 151, peguei o táxi 009, o do Gaguinho. Ele, que já nos mostrou que é adepto do basquete, sem falar no handebol jogado pelo filho, também acompanha a Fórmula 1.
-Ouvi no rádio que o Felipe Massa não corre mais pela Ferrari no ano que vem. - retransmitiu-me ele a notícia.
-E pensar que, por alguns minutos, o Felipe Massa chegou a ser campeão mundial de Fórmula 1.
-Você fala daquela corrida que, na última volta, um daqueles pilotos intermediários, foi ultrapassado, tirando o título do Felipe Massa?
-Essa mesma. - acentuei.
-Aquilo foi estranho; disseram que o tal piloto recebeu ordens do box para tirar o pé... - gaguejou um pouco mais do que o normal.
-A verdade é que, depois que aquela peça do carro do Rubinho Barrichello se soltou e foi de encontro da cabeça dele, Felipe Massa não foi mais o mesmo.
-E era uma pecinha que fez um enorme estrago.
-Pela Lei da Física, essa pecinha ficou com mais de 100 quilos quando se deu o choque; o peso exato fugiu da minha memória.
Ele voltou à notícia.
-O Fernando Alonso é que não vai gostar, pois o Massa fazia um bom papel de coadjuvante.
-Concordo; esses pilotos odeiam que haja um rival à altura na mesma escuderia.
-Odeiam o rival. Frisou ele.
-Exemplos não faltam: Aírton Senna e Alain Prost, Nélson Piquet e Nigel Mansell, Niki Lauda e James Hunt...
-As corridas eram boas com essas rivalidades. - disse ele.
-Lançaram, agora, nos cinemas, um filme sobre o Niki Lauda e, pelo que li, as melhores cenas se referem às disputas entre ele e o James Hunt.
-Niki Lauda quase morreu queimado naquela corrida em …
-Nürburgring. - antecipei-me para que não sofresse.
-Ele chegou a receber a extrema-unção.
-E recuperou-se em 45 dias para voltar à pilotagem, um caso espantoso de recuperação, pois sofria com as vitórias do James Hunt.
-Foi mesmo? - espantou-se.
-Niki Lauda declarou que seu antagonista o fortaleceu. Lembrei-me, quando soube disse, do John McEnroe, que disse que a saída do Bjorn Borg do circuito do tênis, seu maior adversário, fez que a qualidade do seu jogo caísse.
-Com um bom competidor, a pessoa não se acomoda.
-Há brigas que nos fazem muito bem. - concluí, enquanto me despedia dele.

Peguei o táxi do Sarará que me recebe com a mesma pergunta:
-E o metrô?
-O que me chamou a atenção na viagem de minutos atrás foi um braço estendido na minha frente...
-Estendido como? - interrompeu-me.
Sabendo que ele só se locomove de carro, tentei esclarecer.
-Quando o passageiro agarra o balaústre com o restante do corpo longe, o braço fica estendido.
Passou-me pela mente, como um flash, a cena do filme do Jacques Tati que, numa enorme mesa de restaurante repleta de gente, ele limpa a boca num braço que se estendeu para apanhar um pãozinho, mas prossegui com o metrô.
-A um palmo do meu nariz estava tatuado naquele braço: Pedro e Davi.
-Hoje, esses jovens se expõem, não há mais privacidade.
-Mas ele era um cidadão de uns 65 anos, gordo, barriga estufada...
-65 anos?... Então, ele pegou a época em que o homossexualismo era bem reprimido.
-Os jornais, na página policial, principalmente, chamava o bicha de anormal. E isso não faz tanto assim. -comentei.
-A coisa era braba para eles.
-Um pugilista, que foi campeão mundial de boxe, Emille Griffths, matou no ringue, na década de 60, um lutador que o chamou de maricón. Com 71 anos de idade, ele assumiu o homossexualismo. - lembrei.
-O sujeito do metrô era o Davi ou o Pedro?
-Isso eu não soube. - respondi enquanto me preparava para sair do seu táxi na Rua Modigliani.




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