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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4270 Data: 11 de
setembro de 2013
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167ª CONVERSA COM OS TAXISTAS
-Aproveitou o banco de horas e saiu mais
cedo. - deduziu o Meu Nobre ao ver-me entrando no seu táxi pouco depois das 2
horas.
-Nada; pifou a internet, no meu trabalho
e ficamos à toa. Resolvi, então, vir para casa.
E, em seguida, acrescentei a intranet,
pois, sem ela, ficamos sem comunicação com Brasília e os usuários.
-Nem o ponto eletrônico se pode bater.
-Isso é bom. - disse sorrindo.
-E pensar que trabalhávamos sem essa
parafernália da informática e o serviço fluía. E não faz tanto tempo assim.
-Ficamos dependentes dos computadores de
uns anos para cá. Juntou ele suas palavras às minhas.
-Telex; como se recorria aos telexes.
Ainda me confundo e pergunto se já enviaram o telex em vez de e-mail. Olham-me
como se eu fosse jurássico.
Meu Nobre riu, e eu prossegui:
-Não faz vinte anos e as datilógrafas
batiam os textos nas máquinas de escrever, e as mais sofisticadas tinham o que
se chamava de esfera. Havia todo um cuidado com essa esfera. Hoje, nem vejo
mais datilógrafas. Você digita um texto no computador e o envia por e-mail ao
destinatário ou, então, imprime.
-Havia muito aquele aparelho... Como é o
nome?...
Logo se lembrou:
-Teletrim. Como se usava o teletrim nas
décadas de 80 e 90.
-Era mais de uso pessoal. - interferi.
-De uso profissional também. - frisou, e
foi adiante:
-Era um aparelhinho de comunicação por
rádio que a gente portava, na cintura, na maioria das vezes. Você enviava uma
mensagem para uma central que emitia um “bip” ao dono do teletrim que, por sua
vez, entrava em contato com essa central.
-Hoje, você remete essas mensagens
diretamente por celular ou smartphone. -
-É o SMS. - disse ele o acrônimo da
sigla Short Message Service.
As três letras ditas por ele despertaram
a minha memória:
-Você viu, há pouco mais de dois anos,
no Jornal Nacional, uma disputa, no exterior, entre o Código Morse, que tem 100
anos e o SMS, um invento recente, para se saber qual dos dois era o mais
rápido?
-Vai me dizer que o Código Morse venceu?
-Com todas as honras.
-Por mais que inovem, há coisas do
passado que permanecem úteis. - declarou.
-Aquele escritor de best-seller,
Frederick Forsyth, revelou que só redige os romances dele na máquina de
escrever, pois, assim, não é raqueado.
-Não há riscos de vírus...
-Com a morte do Steve Jobs, caiu o
surgimento de novas criações no campo da informática. - observei quando já nos
achávamos a poucos metros da minha casa.
-Tem muita gente inteligente por aí, meu nobre. -
disse-me enquanto eu me desvencilhava do cinto de segurança para saltar.
Depois do 151, peguei o táxi 009, o do
Gaguinho. Ele, que já nos mostrou que é adepto do basquete, sem falar no
handebol jogado pelo filho, também acompanha a Fórmula 1.
-Ouvi no rádio que o Felipe Massa não
corre mais pela Ferrari no ano que vem. - retransmitiu-me ele a notícia.
-E pensar que, por alguns minutos, o
Felipe Massa chegou a ser campeão mundial de Fórmula 1.
-Você fala daquela corrida que, na
última volta, um daqueles pilotos intermediários, foi ultrapassado, tirando o
título do Felipe Massa?
-Essa mesma. - acentuei.
-Aquilo foi estranho; disseram que o tal
piloto recebeu ordens do box para tirar o pé... - gaguejou um pouco mais do que
o normal.
-A verdade é que, depois que aquela peça
do carro do Rubinho Barrichello se soltou e foi de encontro da cabeça dele,
Felipe Massa não foi mais o mesmo.
-E era uma pecinha que fez um enorme
estrago.
-Pela Lei da Física, essa pecinha ficou
com mais de 100 quilos quando se deu o choque; o peso exato fugiu da minha
memória.
Ele voltou à notícia.
-O Fernando Alonso é que não vai gostar,
pois o Massa fazia um bom papel de coadjuvante.
-Concordo; esses pilotos odeiam que haja
um rival à altura na mesma escuderia.
-Odeiam o rival. Frisou ele.
-Exemplos não faltam: Aírton Senna e
Alain Prost, Nélson Piquet e Nigel Mansell, Niki Lauda e James Hunt...
-As corridas eram boas com essas
rivalidades. - disse ele.
-Lançaram, agora, nos cinemas, um filme
sobre o Niki Lauda e, pelo que li, as melhores cenas se referem às disputas
entre ele e o James Hunt.
-Niki Lauda quase morreu queimado
naquela corrida em …
-Nürburgring. - antecipei-me para que
não sofresse.
-Ele chegou a receber a extrema-unção.
-E recuperou-se em 45 dias para voltar à
pilotagem, um caso espantoso de recuperação, pois sofria com as vitórias do
James Hunt.
-Foi mesmo? - espantou-se.
-Niki Lauda declarou que seu antagonista
o fortaleceu. Lembrei-me, quando soube disse, do John McEnroe, que disse que a
saída do Bjorn Borg do circuito do tênis, seu maior adversário, fez que a
qualidade do seu jogo caísse.
-Com um bom competidor, a pessoa não se
acomoda.
-Há brigas que nos fazem muito bem. - concluí,
enquanto me despedia dele.
Peguei o táxi do Sarará que me recebe
com a mesma pergunta:
-E o metrô?
-O que me chamou a atenção na viagem de
minutos atrás foi um braço estendido na minha frente...
-Estendido como? - interrompeu-me.
Sabendo que ele só se locomove de carro,
tentei esclarecer.
-Quando o passageiro agarra o balaústre
com o restante do corpo longe, o braço fica estendido.
Passou-me pela mente, como um flash, a
cena do filme do Jacques Tati que, numa enorme mesa de restaurante repleta de
gente, ele limpa a boca num braço que se estendeu para apanhar um pãozinho, mas
prossegui com o metrô.
-A um palmo do meu nariz estava tatuado
naquele braço: Pedro e Davi.
-Hoje, esses jovens se expõem, não há
mais privacidade.
-Mas ele era um cidadão de uns 65 anos,
gordo, barriga estufada...
-65 anos?... Então, ele pegou a época em
que o homossexualismo era bem reprimido.
-Os jornais, na página policial,
principalmente, chamava o bicha de anormal. E isso não faz tanto assim.
-comentei.
-A coisa era braba para eles.
-Um pugilista, que foi campeão mundial
de boxe, Emille Griffths, matou no ringue, na década de 60, um lutador que o
chamou de maricón. Com 71 anos de idade, ele assumiu o homossexualismo. -
lembrei.
-O sujeito do metrô era o Davi ou o
Pedro?
-Isso eu não soube. - respondi enquanto
me preparava para sair do seu táxi na Rua Modigliani.
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