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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4266 Data: 05 de
setembro de 2013
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ADIVINHEM QUEM VEIO NESSE DOMINGO?
PARTE II
Sempre admirei a inteligência e lucidez
do Roberto Campos,é o meu ídolo brasileiro, juntamente com Mário Henrique
Simonsen, na ciência econômica. Foi o Roberto Campos o único constituinte a se
recusar a assinar a Constituição de 1988 e, hoje, com as brechas encontradas
nelas, constata-se que ele estava certo. Foi execrado pelos esquerdistas pelo
seu “americanismo”, a ponto de o chamarem de “Bob Fields”. Essas mesmas
pessoas, caso ouvissem as louvações que o Jonas Vieira fez aos Estados Unidos,
no Rádio Memória, o chamariam de “Jones
Vieira”.
E o que disse o “Jones Vieira? Disse que
os Estados Unidos se sobressai sobre todos os demais países. Está na frente no
cinema, na música...
-Na música, nem se fala.
E foi adiante:
-Pensaram que a China ultrapassaria os
Estados Unidos... brincadeirinha...
-Os japoneses também pensaram em 1941. -
lembrou o Bob Dieckmann.
-Isso mesmo.
E Bob Dieckmann continuou:
-Lá, os impostos são baixinhos, e
ninguém sonega.
A palavra retornou ao “Jones Vieira”:
-Não há impunidade nos Estados Unidos, e
eles estão realizando, agora, uma revolução energética com o xisto.
Bem, nós, do “Wet Cracker”
concordamos. O que havia de melhor na
Europa encontrou na terra norte-americana o clima ideal para frutificar. Os
grandes filósofos iluministas, Montesquieu, Voltaire, Diderot, Rousseau, que,
por sua vez, foram influenciados por filósofos ingleses, tiverem as suas ideias
implantadas nos Estados Unidos em 1776. A França, mais de dez anos depois,
tentou fazer o mesmo, e descambou para uma carnificina, que foi a Revolução
Francesa. Dela, saiu Napoleão Bonaparte
como ditador, enquanto na América, George Washington, liderando as forças
armadas, teve essa oportunidade, mas colocou os ideais da república acima das
ambições pessoais.
Mas voltemos à música, que é o assunto basilar do Rádio Memória .
-Todos
sabem que sou fãzoco do Cole Porter, mas Irving Berlin está ombro a ombro com
ele. E era russo, o que mostra como sou equidistante.
Mas Jonas Vieira preferiu revelar a
música de Irving Berlin depois da crônica de Fernando Milfond.
E a revelou depois de incensar a
genialidade de Irving Berlin.
-E a gravação que vai ao ar é com a
orquestra de Andre Kostelanetz.
-Outro russo. - manifestou-se o
Dieckmann.
Tratava-se de três arranjos de
Kostelanetz para um “pout-pourri” das canções “Say It With Music”, “Remember” e
“Blue Skies”.
E se deteve na terceira que citou.
-”Céus Azuis” fizeram muito sucesso nos
anos 40, logo depois da guerra. Música em que se canta a felicidade. “Nada além
de céus azuis”.
Depois da audição, impôs-se a sonora voz do Dieckmann:
-Gostei muito da dupla Irving Berlin e
Andre Kostelanetz; aliás, trinca, com o Jonas Vieira.
-Ele é o D.J. - brincou o Sérgio Fortes.
-Esta é a Radio Roquette Pinto, 94.1 com
o programa Rádio Memória.
Nos segundos em que o titular do
horário diz o mote acima, o ambiente se torna sério, como se viesse a seguir um
sermão do pastor Jonas Resende, mas, graças a Deus, quem está ali é o Jonas
Vieira e, então, volta o clima de descontração e a boa música.
-E agora, Dieckmann?
Nosso amigo se esqueceu dos standards
estadunidenses, da sua ascendência batava e da sua afetação germânica para
mergulhar no nordeste brasileiro.
-Agora, nós vamos ouvir “O Forró
Global”, e o cantor, lá do Ceará, é
Roberto Flávio.
Enquanto o o cantante dizia que o forró
pé de serra foi globalizado, que o Luiz
Gonzaga está sendo tocado no Japão, a pulga que estava atrás da minha orelha me
picou. Terá mesmo o Dieckmann garimpado, entre as preciosidades da internet uma gravação que se coaduna com
ele tanto quanto o hino do Botafogo de Futebol e Regatas? Aguardemos, caros
leitores, o seu asterisco elucidativo.(*)
Em seguida à gravação, impôs-se a voz
do Jonas Vieira.
-Isso não é forró, é um xote. Luiz
Gonzaga, ao mesmo tempo que lançou o baião para todo o Brasil, também acabou
com os variados ritmos nordestinos que ficaram rotulados como forró.
As
suas palavras não foram precisamente essas, mas o sentido, sim. Depois, Jonas
Vieira desfez a rotunda besteira dos que dizem que forró tem origem de “For
all”, festinhas das brasileiras com os americanos que se encontravam na base
militar de Natal, durante a Segunda Grande Guerra Mundial.
-Forró se originou de Forrobodó, de
Chiquinha Gonzaga, que significava festa dos arredores. - esclareceu ele.
Antes de passar a vez ao Sérgio Fortes,
ainda insistiu com o seu protesto:
-Xote, baião, tudo passou a ser chamado
forró.
-Eu diria que três eventos contribuíram
para o distensionamento da guerra fria: o concerto do pianista Sviatoslav
Richter nos Estados Unidos, Van Cliburn ganhando o concurso Tchaicovsky...
Jonas Vieira interrompeu para incluir o
enxadrista Bob Fisher, mas não era o caso: o enxadrista americano humilhava os
russos derrotando Petrossian, Taimanov,
Korchnoi, e tirando o título mundial de Boris Spassky.
-O terceiro evento – concluiu o Sérgio
Fortes, foi o concerto dado na Rússia pelo extraordinário barítono Leonard
Warren, filho de judeus russos. Ele se chamava Leonard Warenov.
A gravação com que nos brindou era do
folclore norte-americano. Esse concerto a que se referiu o nosso amigo ocorreu
em 1958, em Leningrado e Kiev, gravado num LP da RCA Victor, transformado em
CD, com o nome Leonard Warren On Tour in Russia.
Sérgio Fortes ainda aludiu à sua morte
no palco do Metropolitan Opera House, diante de 4 mil espectadores, quando
deslumbrava a todos os melômanos na ópera de Verdi “A Força do Destino.” Por um
estranho sortilégio, faleceu depois de cantar a grande ária do barítono, no 3º
ato, “Morir, tremenda cosa”.
Jonas Vieira, quando chegou a sua vez,
anunciou três cracões ou cracaços, um deles, ainda vivo. No momento de citar o
primeiro nome, a sua memória lhe fez uma falseta. Mas ele passou para os outros
dois, garantindo que o nome esquecido logo lhe viria, eram os outros dois: Chiquinho
do Acordeão e Fafá Lemos.
-Chiquinho do Acordeão gravou pouco:
mil músicas. - pilheriou o Sérgio Fortes.
-Fafá Lemos era um gênio, tocava
violino como ninguém, e também cantava.
-Quem era o gaúcho? - cobrou-lhe o
Dieckmann o primeiro craque.
-Vamos ouvir uma obra prima do Ary
Barroso: “Inquietações”, cuja gravação original foi do grande Sílvio Caldas.
E foi ao ar o pedido do titular do
programa com o Trio Surdina, formado por Fafá Lemos, Chiquinho do Acordeão e
Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto. Trio que surgiu no programa “Música em
Surdina”, em 1952, que era apresentado na Rádio Nacional pelo Paulo Tapajós.
-Eu trouxe George Gershwin. - ergueu-se
a voz soberana do Dieckmann e a canção é “Love Is Here To Stay”, com dois nomes
legendários do jazz americano: Louis Armstrong e Ella Fitzgerald.
Depois que as vozes e o trompete de
Louis Armstrong saíram de cena, Dieckmann confessou que pegara emprestada essa
gravação do Sérgio Fortes.
-Um aluno relapso, - brincou o Jonas.
E nesse clima de alegria, encerrou-se o
primeiro Rádio Memória de setembro.
(*) Dieckmann,
sempre solícito, esclareceu que sempre gostou de forró, baião e outros
regionalismos, muito ao contrário de hino de clube de futebol, mormente daquele
que sequer pronuncia o nome.
O
ilustre cantante, Roberto Flávio, é sucesso nas rádios locais e apresenta um artístico
fusion de jazz e baião e forró. Sabedor da apreciação do Dieckmann pelos fusion
de jazz, samba e bossa nova, um amigo lhe remeteu o CD.
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