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terça-feira, 10 de setembro de 2013

2465 - Mães psicodélicas 2



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      O BISCOITO MOLHADO
                          Edição 4266                          Data:  05 de  setembro de 2013
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ADIVINHEM QUEM VEIO NESSE DOMINGO?
PARTE II

Sempre admirei a inteligência e lucidez do Roberto Campos,é o meu ídolo brasileiro, juntamente com Mário Henrique Simonsen, na ciência econômica. Foi o Roberto Campos o único constituinte a se recusar a assinar a Constituição de 1988 e, hoje, com as brechas encontradas nelas, constata-se que ele estava certo. Foi execrado pelos esquerdistas pelo seu “americanismo”, a ponto de o chamarem de “Bob Fields”. Essas mesmas pessoas, caso ouvissem as louvações que o Jonas Vieira fez aos Estados Unidos, no Rádio Memória,  o chamariam de “Jones Vieira”.
E o que disse o “Jones Vieira? Disse que os Estados Unidos se sobressai sobre todos os demais países. Está na frente no cinema, na música...
-Na música, nem se fala.
E foi adiante:
-Pensaram que a China ultrapassaria os Estados Unidos... brincadeirinha...
-Os japoneses também pensaram em 1941. - lembrou o Bob Dieckmann.
-Isso mesmo.
E Bob Dieckmann continuou:
-Lá, os impostos são baixinhos, e ninguém sonega.
A palavra retornou ao “Jones Vieira”:
-Não há impunidade nos Estados Unidos, e eles estão realizando, agora, uma revolução energética com o xisto.
Bem, nós, do “Wet Cracker” concordamos.  O que havia de melhor na Europa encontrou na terra norte-americana o clima ideal para frutificar. Os grandes filósofos iluministas, Montesquieu, Voltaire, Diderot, Rousseau, que, por sua vez, foram influenciados por filósofos ingleses, tiverem as suas ideias implantadas nos Estados Unidos em 1776. A França, mais de dez anos depois, tentou fazer o mesmo, e descambou para uma carnificina, que foi a Revolução Francesa. Dela, saiu  Napoleão Bonaparte como ditador, enquanto na América, George Washington, liderando as forças armadas, teve essa oportunidade, mas colocou os ideais da república acima das ambições pessoais.
Mas voltemos à música, que é  o assunto basilar do Rádio Memória .
 -Todos sabem que sou fãzoco do Cole Porter, mas Irving Berlin está ombro a ombro com ele. E era russo, o que mostra como sou equidistante.
Mas Jonas Vieira preferiu revelar a música de Irving Berlin depois da crônica de Fernando Milfond.
E a revelou depois de incensar a genialidade de Irving Berlin.
-E a gravação que vai ao ar é com a orquestra de Andre Kostelanetz.
-Outro russo. - manifestou-se o Dieckmann.
Tratava-se de três arranjos de Kostelanetz para um “pout-pourri” das canções “Say It With Music”, “Remember” e “Blue Skies”.
E se deteve na terceira que citou.
-”Céus Azuis” fizeram muito sucesso nos anos 40, logo depois da guerra. Música em que se canta a felicidade. “Nada além de céus azuis”.
Depois da audição, impôs-se  a sonora voz do Dieckmann:
-Gostei muito da dupla Irving Berlin e Andre Kostelanetz; aliás, trinca, com o Jonas Vieira.
-Ele é o D.J. - brincou o Sérgio Fortes.
-Esta é a Radio Roquette Pinto, 94.1 com o programa Rádio Memória.
Nos segundos em que o titular do horário diz o mote acima, o ambiente se torna sério, como se viesse a seguir um sermão do pastor Jonas Resende, mas, graças a Deus, quem está ali é o Jonas Vieira e, então, volta o clima de descontração e a boa música.
-E agora, Dieckmann?
Nosso amigo se esqueceu dos standards estadunidenses, da sua ascendência batava e da sua afetação germânica para mergulhar no nordeste brasileiro.
-Agora, nós vamos ouvir “O Forró Global”, e o cantor, lá do Ceará,  é Roberto  Flávio.
Enquanto o o cantante dizia que o forró pé de serra foi globalizado,  que o Luiz Gonzaga está sendo tocado no Japão, a pulga que estava atrás da minha orelha me picou. Terá mesmo o Dieckmann garimpado, entre as preciosidades  da internet uma gravação que se coaduna com ele tanto quanto o hino do Botafogo de Futebol e Regatas? Aguardemos, caros leitores, o seu asterisco elucidativo.(*)
Em seguida à gravação, impôs-se a voz do Jonas Vieira.
-Isso não é forró, é um xote. Luiz Gonzaga, ao mesmo tempo que lançou o baião para todo o Brasil, também acabou com os variados ritmos nordestinos que ficaram rotulados como forró.
 As suas palavras não foram precisamente essas, mas o sentido, sim. Depois, Jonas Vieira desfez a rotunda besteira dos que dizem que forró tem origem de “For all”, festinhas das brasileiras com os americanos que se encontravam na base militar de Natal, durante a Segunda Grande Guerra Mundial.
-Forró se originou de Forrobodó, de Chiquinha Gonzaga, que significava festa dos arredores. - esclareceu ele.
Antes de passar a vez ao Sérgio Fortes, ainda insistiu com o seu protesto:
-Xote, baião, tudo passou a ser chamado forró.
-Eu diria que três eventos contribuíram para o distensionamento da guerra fria: o concerto do pianista Sviatoslav Richter nos Estados Unidos, Van Cliburn ganhando o concurso Tchaicovsky...
Jonas Vieira interrompeu para incluir o enxadrista Bob Fisher, mas não era o caso: o enxadrista americano humilhava os russos derrotando Petrossian, Taimanov,  Korchnoi, e tirando o título mundial de Boris Spassky.
-O terceiro evento – concluiu o Sérgio Fortes, foi o concerto dado na Rússia pelo extraordinário barítono Leonard Warren, filho de judeus russos. Ele se chamava Leonard Warenov.
A gravação com que nos brindou era do folclore norte-americano. Esse concerto a que se referiu o nosso amigo ocorreu em 1958, em Leningrado e Kiev, gravado num LP da RCA Victor, transformado em CD, com o nome Leonard Warren On Tour in Russia.
Sérgio Fortes ainda aludiu à sua morte no palco do Metropolitan Opera House, diante de 4 mil espectadores, quando deslumbrava a todos os melômanos na ópera de Verdi “A Força do Destino.” Por um estranho sortilégio, faleceu depois de cantar a grande ária do barítono, no 3º ato, “Morir, tremenda cosa”.
Jonas Vieira, quando chegou a sua vez, anunciou três cracões ou cracaços, um deles, ainda vivo. No momento de citar o primeiro nome, a sua memória lhe fez uma falseta. Mas ele passou para os outros dois, garantindo que o nome esquecido logo lhe viria, eram os outros dois: Chiquinho do Acordeão e Fafá Lemos.
-Chiquinho do Acordeão gravou pouco: mil músicas. - pilheriou o Sérgio Fortes.
-Fafá Lemos era um gênio, tocava violino como ninguém, e também cantava.
-Quem era o gaúcho? - cobrou-lhe o Dieckmann o primeiro craque.
-Vamos ouvir uma obra prima do Ary Barroso: “Inquietações”, cuja gravação original foi do grande Sílvio Caldas.
E foi ao ar o pedido do titular do programa com o Trio Surdina, formado por Fafá Lemos, Chiquinho do Acordeão e Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto. Trio que surgiu no programa “Música em Surdina”, em 1952, que era apresentado na Rádio Nacional pelo Paulo Tapajós.
-Eu trouxe George Gershwin. - ergueu-se a voz soberana do Dieckmann e a canção é “Love Is Here To Stay”, com dois nomes legendários do jazz americano: Louis Armstrong e Ella Fitzgerald.
Depois que as vozes e o trompete de Louis Armstrong saíram de cena, Dieckmann confessou que pegara emprestada essa gravação do Sérgio Fortes.
-Um aluno relapso, - brincou o Jonas.
E nesse clima de alegria, encerrou-se o primeiro Rádio Memória de setembro.

(*) Dieckmann, sempre solícito, esclareceu que sempre gostou de forró, baião e outros regionalismos, muito ao contrário de hino de clube de futebol, mormente daquele que sequer pronuncia o nome.

O ilustre cantante, Roberto Flávio, é sucesso nas rádios locais e apresenta um artístico fusion de jazz e baião e forró. Sabedor da apreciação do Dieckmann pelos fusion de jazz, samba e bossa nova, um amigo lhe remeteu o CD.
 














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