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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4264 Data: 02 de
setembro de 2013
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ADIVINHEM QUEM VEIO NESSE
DOMINGO?
Antes de o Jonas Vieira anunciar o
convidado do primeiro Rádio Memória do mês de setembro, ouvimos uns grunhidos e
rapidamente nós, que trabalhamos com o Dieckmann, o identificamos. Também o
identificaram os demais ouvintes do programa, pois a sua sonora voz de “locutor
da BBC” logo se fez ouvir antes de ele ser apresentado. E o motivo do início
meio tumultuado foi o futebol, trazido à baila pelo Sérgio Fortes, cuja cabeça
os jogadores do Fluminense estão inchando cada vez mais.
-Estou numa fase em que sou contra tudo.
O Fluminense caindo pelas tabelas e eu cercado por dois rubros-negros... Vocês
não querem um presente antecipado: o Biro-Biro?
Ninguém quis.
Houve, na década de 70, no Corinthians
um jogador com esse apelido que era chamado, às vezes, pelo folclórico
presidente do clube, Vicente Mateus, de Lero-Lero.
Jonas Vieira falou da grande sorte que o
Flamengo dá quando compra o passe de jogadores do Corinthians e citou logo um
exemplo: Elias. Mas logo se voltou para o passado, justificando o nome do
programa que ele apresenta com o Sérgio Fortes e seus convidados.
-Silva? Lembram-se dele?
Como não lembrar, o locutor Jorge Curi,
presidente da torcida Fla- Imprensa (expressão criada pelo João Saldanha),
enrouquecia gritando seus muitos “golaços, aços, aços.”
-Silva, o Batuta. - citou o Sérgio
Fortes até o seu cognome.
Mas se fôssemos escarafunchar os
alfarrábios, quem dava sorte mesmo era o Botafogo com os jogadores que adquiria
do time do Jonas Vieira e do Dieckmann. Tanta sorte que virou superstição que,
aliás, recrudesceu com o supersticioso-mor do futebol mundial: Carlito Rocha.
Aqui vão os exemplos: o Botafogo comprou Pirilo do Flamengo e foi campeão em
1948; comprou Servílio e ganhou o título de 1957; Zagalo, campeão, em 1961;
Jadir e título em 1962 (para não falar do Amarildo/Possesso, cria do clube
rubro-negro). Comprou Gérson, e ganhou o bicampeonato de 1967 e 1968. Quando o
Flamengo descobriu, fechou as portas de negociação com o clube da estrela
solitária e o Botafogo ficou 21 anos sem colocar a tão cobiçada faixa de
campeão carioca no peito.
-Sua tese com o Elias, Jonas, me dá
esperanças com o Deco.
-Ele não vai decolar. - fez o Jonas
Vieira o Mark Twain se virar no túmulo, pois, como sabemos, o humorista
americano abominava os trocadilhos.
Mas o programa é musical e o Jonas
Vieira cedeu a primazia da primeira escolha ao convidado.
-Depois de um longo e tenebroso inverno,
o que você nos traz?
Pimpão, como sempre, Dieckmann logo se
manifestou:
-Vou trazer o Oscar de 1965; a música
tema do filme “What's New Pussycat?”, “O que Há, Gatinha?”. Música boa, cantada
pelo Tom Jones e é o primeiro roteiro do Woody Allen. Os créditos já dizem o
que ia ser o psicodelismo.
Entrou, então, nos nossos ouvidos o “ou,
ou,ou, ou”, do Tom Tones que, a rapaziada da rua Chaves Pinheiro, nos anos
70, cantava à exaustão, pois era a única
coisa da letra que entendiam.
-Enquanto a música era tocada, nós
conversávamos aqui que todos eles estão vivos. Burt Bacharach, Tom Jones, Woody
Allen, todos ainda vivem. - assinalou o Dieckmann.
-Woody Allen é o caçula da turma. -
disse o Sérgio Fortes, a quem cabia a próxima escolha:
-”When You're Smiling”, uma gravação de
1960, com Frank Sinatra. Ele vai longe.
-Mas já morreu. - não perdeu o humor,
mesmo negro, o Dieckmann.
-Já não vai tão longe, reconheceu o
Sérgio Fortes.
E foi tocada a canção de Joe Goldwin,
Mark Fischer e Larry Shay.
Ora, as duas primeiras escolhas foram de
deixar o personagem do Lima Barreto, Policarpo Quaresma, xenófobo que queira
que falássemos tupi-guarani em vez de português, crispado de indignação, mas
Jonas Vieira colocou tudo no diapasão nacionalista ao anunciar a sua escolha:
Emilinha Borba. É verdade que ela cantaria versão de um bolero mexicano, mas a
sua veia artística tornava tudo bem brasileiro.
Jonas Vieira prosseguiu:
-Emilinha foi minha queridíssima amiga.
Era muito bonita...
-Você a cantava? - interveio o
Dieckmann.
-Ele é que me cantava.
Depois dessa troca de frases que me
lembrou o Simon Khory, o titular do programa se referiu a ela como a Rainha do
Rádio, que rivalizava com a Marlene.
-Emilinha era a favorita da Marinha.
Dieckmann, com formação aquaviária,
interveio logo.
-Não. A Marlene, sim, era a favorita da
Marinha e Emilinha, a da Aeronáutica.
Sim, caros leitores do Biscoito Molhado,
que não viveram essa época, a rivalidade entre as duas mexia até com as nossas
Forças Armadas.
Houve mais elogios à simpatia e à beleza
da Emilinha, que me levaram para 1960, quando tive como colega de classe uma
sobrinha da cantora, de uma beleza que desabrochava. A partir de então,
tornei-me fã para sempre da Emilinha.
Sem tonificar a tristeza, Jonas Vieira
falou das muitas saudades que tem, como da Carmem Miranda e da Emilinha Borba,
falecida no dia 31 de agosto.
-Agora, a minha, a sua, a nossa Emilinha
Borba. - anunciou-a como se fazia no auditório da Rádio Nacional dos anos 50 e
60.
Tratava-se da versão de Floriano Faissal
do bolero “Diez Años”, de Rafael Hernandez, gravação Continental com Zimbres e
sua Orquestra.
-Adorei o bolero. - admitiu o Dieckmann,
a quem cabia a próxima escolha.
-Vou trazer um cidadão também falecido
em agosto, Dick Farney.
-Nosso amigo. - aparteou o Sérgio.
-Dick Farney foi instruído pelo pai e
pela mãe. Deve ser uma coisa muito séria... Ele foi um grande cantor e
pianista. Trata-se de um LP instrumental, feito em São Paulo e eu tenho a
impressão que surgiu de uma promoção do Globo, nos anos 60. Eu queria dividir
com vocês.
E o Dieckmann dividiu conosco
“Tenderly”.
-Sua vez, Sérgio.
-Vamos homenagear os amigos da Orquestra Sinfônica
Brasileira. Eu já toquei aqui o primeiro movimento, Valsa, da Suíte do Balé nº
1 de Shostakovich, mas agora, vou pedir o segundo movimento, Dança. E a
gravação é com a Orquestra Sinfônica Brasileira.
-E ele diz isso sem ler nenhum papel. - admirou-se o
Dieckmann.
Senti-me, ouvindo o trecho do grande
compositor russo, do século XX, um lobo passeando nas estepes, diferentemente
do livro de Herman Hesse, cujo lobo caçava solitariamente e não em matilhas. A “Dança”
de Shostakovich fez-me sentir mais
social, gregário.
-Vocês não escutaram o violino do Luzer?
- falou mais alto a amizade que o Sérgio Fortes nutre pelo integrante da OSB.
-Claro. - confirmou o Jonas Vieira.
-Um violino Luzeriano. - completou o
Dieckmann.
-Como está a sua mãe?
-A minha, de 87 anos de idade, costuma
levar tombos aos domingos. - respondi como se o Jonas Vieira se achasse perto
de mim.
Pela resposta dada, tudo estava bem com
a genitora do nosso violinista.
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