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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

2473 - lançamentos cinematográficos



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4273                       Data:  15 de  setembro de 2013
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UM  SABADOIDO  DO  CINEMA  AO TRIBUNAL

A cinco passos do portão da casa da Gina, aspirei para emitir as três sílabas que compõem o nome do meu irmão como um tenor que se prepara para entoar o “avanti” do Trovador de Verdi, mas não houve necessidade, pois nesse exato momento apareceu o Daniel abrindo o portão.
-Que sincronia! - exclamei.
-Sábado é o dia do banho do meu carango. - franqueou-me a porta para eu entrar, enquanto saía.
Ao entrar na cozinha, encontrei meu irmão na sua cadeira de ler o Globo.
-Hoje, o jornal não veio tarde como no sábado passado, o que lhe proporcionou um lucro, pois você saiu e recebeu uma Baden Baden gratuita no Carrefour.
-É verdade. - reagiu com uma expressão de malandragem, no bom sentido.
-Claudio, um dos telecines vem levando um ótimo filme, “O Vencedor”.
-É uma história verídica.
-Sim; por sorte, eu me deparei com os créditos iniciais do filme em que um lutador se gabava de ter derrubado o legendário boxeador Sugar Ray Leonard. Premi, imediatamente, a tecla REC e, na noite seguinte, assisti a um excelente filme.
-Eu ainda não vi, Carlinhos, mas soube que esse lutador se vicia em craque e o irmão, por sua vez, segue também  a carreira no ringue, mas é atrapalhado pela mãe e o irmão drogado.
-A mãe era uma perua que tinha esses dois filhos e mais umas cinco filhas, todas desordeiras. E ela, que empresariava o filho mais novo, transformou-o em trampolim para os boxeadores promissores. Ele não acabou como o irmão mais velho, Dick Eklund, porque a sua namorada, igualmente voluntariosa, intervém para neutralizar a influência nefasta daquela família.
-Só me falta ver o filme, pois já li algumas resenhas e todas são elogiosas; disseram até que, depois de “O Touro Indomável”, do Martin Scorsese, foi o melhor filme de boxe que fizeram.
-Os conhecedores de boxe afirmaram que as liberdades que tomaram não foram muitas e que, ali na tela, está praticamente o que aconteceu de fato. Não foi à toa que o “Sports Illustrated”, elegeu “O Vencedor” o melhor filme de esporte da época. A grande falha foi o título que recebeu no Brasil, o certo mesmo é “O Lutador”.
-Não chamam “Shane” de “Os Brutos Também Amam” que, mais tarde, se transformaria em música do Agnaldo Timóteo?
-Claudio, seguindo a sua sugestão, coloquei no DVD o “Planeta Dos Macacos”. Eu já tenho alguma prevenção com a ficção científica, mas segui adiante com o filme, até que apareceu a macacada. Não consegui ver mais.
-Você viu a refilmagem?... Porque ela é fraquinha, mas a versão original é muito boa.
-Foi a original, com o Charlton Heston a que assisti. Como a Gina e a Rosa são fãs desse ator, darei a fita para uma ou outra.
-As refilmagens dificilmente superam a versão original, não conseguiram com “Sabrina”... Aliás, como se igualar a Billy Wilder com Audrey Hepburn como atriz?...
-O Mel Brooks com Anne Bancroft chegou perto, com a segunda versão do “To be or not to be”, mas é uma tarefa inglória superar Ernst Lubitsch, o ídolo do Billy Wilder. - acrescentei. (*)
-Falando nele, levou outro dia na televisão “Avanti... Amantes à Italiana.”
-Conheço; o filme do Billy Wilder a que quero assistir e não consigo é aquele com o James Cagney...
-”Cupido não tem bandeira”?... Cato o DVD nas lojas de disco e não encontro.
-Na biografia de Billy Wilder que eu li, a escritora diz que, como ele tem que falar com a rapidez de um locutor de corridas de cavalo, James Cagney sapateava horas antes do início das filmagens. O argumento do James Cagney era que o sapateado destravava a sua língua.
-Eu só sei que ele era um ator de primeira categoria. - frisou.
-James Cagney era completo. O primeiro filme que vi dele foi “O Homem das Mil Caras”, a vida de Lon Chaney, no Cinema Cachambi, com a mamãe.
-Eu, quando tinha uns dezesseis anos, fui ao Cine Jussara assistir com James Cagney a “Honra ao Homem Mau”.
-Cine Jussara, Claudio?... Nunca ouvi falar.
-Ficava no Jardim Botânico.
-Bem que o Pirulito dizia, décadas atrás, que você perseguia os filmes, onde eles estivessem lá ia você.
-Não se recorda dos lançamentos dos filmes num cinema só?... “Noviça Rebelde”, por exemplo, foi lançado apenas no Cine Metro Passeio (**). Já “My Fair Lady” foi lançado só no “Cine Vitória.”
-Hoje, isso não acontece, a não ser que sejam documentários como o “Nélson Freire”, do João Moreira Sales. - intervim.
“Estrela” me levou ao Roxy, em Copacabana.
-Que película é essa?
-Com a Julie Andrews. - esclareceu e prosseguiu:
-É verdade que fui ao Roxy com a Rosângela e o tio dela. O Álvaro, quando estava com dinheiro, metia a mão no bolso. Fomos de táxi e ele pagou tudo.
-Eu costumava colocar o rádio nas ondas curtas para ouvir “A Voz da América”. Certa vez, Claudio, o locutor disse que uma velhinha americana foi espectadora da “Noviça Rebelde” 48 vezes.
-O Paulinho do Seu Moura viu umas 20 vezes. - comparou.
-O crítico de cinema Paulo Perdigão, que escreveu para O Globo, para o Jornal do Brasil, para Manchete, compareceu nos cinemas dezenas de vezes quando “Shane” esteve em cartaz. O próprio Georges Stevens, que dirigiu o filme, quando esteve no Brasil chegou a pensar – dizem – que o Paulo Perdigão conhecia mais o filme do que ele.
-Você se lembra das maratonas de filmes de cinema?
-Lembro-me, Claudio; no Paissandu levava aqueles filmes que os espectadores com afetação intelectual olhavam madrugada adentro sem nada entenderem.
-Você se lembra da maratona de “Love Story”, com sessão à meia-noite, às duas horas da manhã, às quatro horas da manhã?...
-O que eu me recordo, Claudio, é que todos choravam com essa fita. Num programa humorístico, mostraram as pessoas saindo do cinema aos prantos até que apareceu um sujeito às gargalhadas, entrevistado, ele disse que era o dono do cinema e o lucro era enorme.
-Foi uma choradeira.
-Claudio, só a mamãe e o dono do cinema não choraram com “Love Story”.
-As pessoas exageraram tanto a tristeza do final desse filme, que não me comovi. - era a Gina, que nos ouviu, ao entrar na cozinha.
-E foi adiante.
-A mesma coisa aconteceu com o “Exorcista”, falaram tanto das monstruosidades, que não abalei.
-”Love Story” não é um bom filme, mas “O Exorcista”, é. - afirmou meu irmão com veemência.
-No dia da estreia de “O Exorcista”, deparei-me com o Luca, no seu indefectível fusquinha, com a Glória, dizendo-me que ia para o cinema. Se a memória não me trai, era o Cine Baronesa.
Falando no Luca, daqui a poucos minutos, ele estará aqui.

(*) O Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO considera a versão do Mel Brooks muito superior à original.
(**) O Distribuidor acredita que viu o lançamento de “A Noviça Rebelde” no cinema Palácio, a poucos metros do mencionado Metro-Passeio. O Palácio era o cinema dos grandes lançamentos, nos anos 60; por exemplo, lá também foi lançado “O Mais Longo dos Dias” e formou A Mais Longa das Filas.


Um comentário:

  1. Confirmo: O lançamento de A Noviça Rebelde foi no Cine Palácio (depois foi para o Roxy, Leblon e grande circuito) e My Fair Lady foi no Vitória.
    Na época, perguntava-se: Quantas vezes você assistiu A Noviça Rebelde?
    Cheguei a assistir a duas montagens no teatro: Música Divina Música (com a Norma Suely) mais próxima do filme e A Noviça Rebelde (com a Kiara Sasso), a montagem original da Broadway.

    Na década seguinte, os cinemas de lançamento do Luis Severiano Ribeiro eram o Veneza e o Odeon.
    Graças à Petrobras, o pulso ainda pulsa. O Odeon ainda está lá.
    Quando foi construído, era o maior vão livre da América Latina.
    Grande obra da engenharia nacional.

    Eu assisti a muitos filmes bons em reapresentação no Cine Jussara, ali no Jardim Botânico.
    As cópias já não eram tão novas, em tão bom estado, mas os filmes eram de qualidade, tais como os verdadeiros James Bond (Sean Connery forever).
    Apesar de poeira, não tinha sessão dupla.
    Clássico poeira, baratinho, sem ar condicionado mas com poltronas estofadas e aquele cheirinho de mofo que só os cinemas poeira tinham.
    Filme de censura 18 era censura 14 e filme com censura 14 era "pode vir",
    Aliás, quando telefonava para lá, atendia uma voz dizendo Cine JU - ssara (escandindo o JU, se me permite o erro de separar as sílabas assim, não separando o dígrafo pelo bem da ênfase tonal).
    Depois virou depósito de cenários da Globo e agora creio que seja um supermercado.

    Lembro de um cinema no Meier, também poeira, em frente a linha do trem, que passava grandes reapresentações.
    No Cine Ricamar passava o Festival Última chance, para filmes com o certificado de exibição vencendo.

    A versão do Mel Brooks de To be or not to be é deliciosa (sim, eu assisti a ambas as versões). Trata-se de uma das melhores maneiras de denunciar algo: Com humor (e arte), como ele mesmo já afirmou.

    Sim a versão de Sabrina com a Julia Ormond funcionou melhor, não sei se pela trilha sonora ou pelas interpretações mais naturais dos atores (há um tom mais leve, mais romântico, como um conto de fadas) ou se o Bogie está meio travado ao fazer comédia. romântica. Que a Audrey Hepburn me perdoe...

    Curiosidade, a novela Simplesmente Maria (com Yoná Magalhães, na extinta TV Tupi) era um original mexicano e eu assisti ao filme (esse sim, mexicano-lacrimógeno de verdade) no Cine Pirajá, em programa duplo com Costa do Esqueleto.

    E la nave va...

    Osmundo

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