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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3972 Data: 20 de
junho de 2012
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LUÍS XALULU NO SABADOIDO
2ª PARTE
Falava-se ainda no Noel Rosa como o
filósofo do samba, quando Luís Xalulu interferiu:
-Na minha escola, falaram em filosofia e
eu disse: “Para mim, filosofia é a filha da Sofia”.
Assim, começou a participação especial
do Luís Xalulu no Sabadoido do dia 16 de junho de 2012, conforme consta na ata.
Cabe aqui um esclarecimento: Luís Xalulu
é professor de geografia. Tem os seus méritos: cuidou dos dois sobrinhos, na
ausência do pai, encaminhando-os na vida e entrou na fila da matrícula do curso
de pedagogia, no lugar do meu irmão mais novo, porque ele não gostava de
esperar a vez.
Luís Xalulu, em seguida, pôs-se a falar
das vantagens da velhice. Com o seu parecer sobre a filosofia, dado
anteriormente, não esperamos nada que se assemelhasse às ideias que Cícero
expôs na sua obra “De Senectude”.
-Aquele que tem mais de 65 anos, não
paga entrada no Engenhão, paga meia entrada no cinema, tem abatimento no
Porcão...
Luca, que pretendia se reportar a
trechos de alguns recortes de jornal que trouxera, ficou quieto. De repente,
Luís Xalulu emudeceu e o Cláudio foi pegar os copos de bebida.
-Aludiu-se de novo ao Nélson Rodrigues e
o Luca citou o trecho do artigo do Ruy Castro sobre a proibição do livro “O
Casamento” pelo Ministro da Justiça Carlos Medeiros,
no governo Castelo Branco. Não falamos da reação do “Anjo Pornográfico” que,
referindo-se ao fato de o mencionado ministro redigir a Constituição de 1967,
escreveu que os pregoeiros anunciavam pelas ruas “A Nova “Prostituição” do
Brasil”.
-O Fischberg vai almoçar com a gente
depois de um tratamento para implante... - mudou o Luca de assunto.
- Implante de quê? - agitou-se o Xalulu
de novo.
-De dente. - respondi.
-Não sei se, depois de passar pela
cadeira do dentista, seria bom para o Elio almoçar. - expressou o Luca sua
preocupação.
-Luca, eu saía do tratamento do meu implante e, no dia seguinte, eu
corria pelas ruas de 40 a
60 minutos. Apenas na cirurgia, quando o sangue espalhou pela minha cara com o
uso do martelo cirúrgico, não pude correr e tomei uns remédios receitados pelo
dentista.
-Hoje, não é mais assim. - bradou o Luís
Xalulu.
-É verdade, o meu implante aconteceu há
uns onze anos.
-Quantos dentes?
-Um dente só, Luís; eu corria no escuro
pela Praça Avaí, tropecei no quebra-molas da cor do asfalto e o meu dente da
frente pulou fora com raiz e tudo.
Notando a curiosidade do Xalulu,
informei-lhe que o Cláudio implantara onze dentes em cursos dados pelos
dentistas experientes em implantes aos profissionais que pretendiam se
especializar.
-Vou falar com o Cláudio para saber onde eu também posso servir de
cobaia. - entusiasmou-se.
Um minuto depois, Cláudio reaparecia com
dois copos de uma bebida de um dourado escuro e quem lhe perguntou onde
implantara seus dentes fui eu, pois o Luís Xalulu se aquietou de novo.
-Não, Carlinhos, o dentista não era de
Niterói, era da Tijuca.
-Vou embora. - ergueu-se o Xalulu da
cadeira.
Meu irmão, como o molho de chaves na
mão, onde se destacava o escudo do Fluminense, conduziu-o até a porta. Assim,
encerrou-se a participação especial do Luís no Sabadoido.
-Carlinhos, quando eu disse para a Rosa
que você publicou o poema dela sobre o Elio Fischberg, no Biscoito Molhado, ela
levou as mãos à cabeça. Vendo o desespero dela, afirmei que o Biscoito Molhado
era lido por toda ANTAQ, em Brasília...
Poderia dizer que, através dos canais de
distribuição do Dieckmann, o nosso periódico já chegou a Portugal. - pensei sem
me manifestar.
-Ela dizia que não caprichou nos
versos...
Eu ouvia o Luca e imagina que, para ela, os
versos têm de ser bem metrificados, o que ela não fizera, por causa da pressa,
o que não tornava anêmica a sua veia poética.
-Mais gelo no copo?
-Sim, Claudiomiro, pois eu não quero
beber muito.
Enquanto o Cláudio retornava para o
interior da casa com os dois copos que trouxera, eu me voltei para o Luca.
-Dá para sairmos meiodia e vinte, porque
eu pretendo gravar um filme para a minha sobrinha?
-É claro; a hora que você quiser.
Quando o Cláudio devolveu o copo do Luca
com um iceberg dentro, eu trouxe a Rosa à baila de novo.
-Rosa está encantada com os textos do
Merval Pereira.
-Ela rasga elogios a ele, Claudiomiro. -
corroborou o Luca.
-Merval Pereira escreve muito bem, não é
à toa que pertença à Academia Brasileira de Letras. - comentou meu irmão.
-Cláudio, ele pesquisa, redige com
embasamentos sólidos. Veja agora a coluna sobre as influências do poder
executivo sobre o Supremo Tribunal Federal; Merval Pereira se reportou à
Suprema Corte dos Estados Unidos e aos diversos governos. - manifestei-me.
-Ele é bom, mesmo – frisou o Luca.
-O artigo do Nélson Motta, de ontem,
sobre as basófias do Lula merecem aplausos.
-Carlinhos, o Nélson Motta é um
empedernido anti-Lula.
-E o que nós somos?- pensei, mas nada
disse.
-Muito boa a participação do Miro
Teixeira na CPI.
Dito isso, Luca prosseguiu:
-Membros da CPI que se encontraram com
Fernando Cavendish, em Paris, votam contra a convocação dele e do Pagot. Como
disse muito bem o Miro Teixeira é a Tropa do Cheque.
Cláudio pegou a palavra.
-O Cândido Vacarezza logo se encrespou.
Como disse o Pedro Simon para ele: “Você foi vetado para líder, você foi vetado
para relator da CPI, na hora de impedir a vinda do Pagot e do Cavendish você é
escalado.”
-Cândido Vacarezza é um pulha. - resumi
a questão.
-O Miro Teixeira teve uma reabilitação e
tanto.
Cláudio, como advogado que lida com a
prescrição, estranhou que o Luca
voltasse trinta anos no tempo.
-Por que reabilitação do Miro Teixeira?
-Ora, Claudiomiro, ele era chaguista.
Resolvi interferir:
-Quando a Proconsult apurava os votos da
eleição de 1982, colocando o Moreira Franco na dianteira, o Miro Teixeira, como
candidato do PMDB, declarou no rádio e na televisão que se considerava
derrotado para o Leonel Brizola, que reconhecia como o novo governador.
-Não se deve esquecer que veículos do
Dia, da Notícia, do governo Chagas Freitas faziam propaganda da candidatura
Miro Teixeira. - inflamou-se o Luca.
Será que despencaremos numa discussão?-
temi.
-Como se chama aquele político da Arena
que dizia não haver torturas no Brasil e, depois, tornou-se opositor da
ditadura?
-Teotônio Vilela, Luca.
-Isso.
Parece que a lembrança do menestrel das
Alagoas acalmou a todos, neste tempo de Fernando Collor de Mello, que o assunto
passou a ser música.
Falamos sobre a voz do Orlando Silva
que, em algumas interpretações, como “Jornal de Ontem”, superou a do Frank
Sinatra.
Os ponteiros do relógio se aproximaram
das 12h 20min e o Luca, cumprindo a sua promessa, levou-me de carro até a minha
casa.
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