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terça-feira, 17 de julho de 2012

2184 - a nudez da velhice, ou, Volvo

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3984                                 Data: 13 de julho de 2012
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COMENTANDO OS  E-MAILS

Recebi um e-mail intitulado “Funcionário municipal não vote no Eduardo Paes para prefeito”. Cliquei no arquivo e li estas palavras: “Na reunião com servidores, o procurador do Município, Fernando Dionísio, disse, para justificar o projeto de capitalização do FUNPREVI: “É o único jeito: a maioria da categoria é mulher, que se aposenta mais cedo e, infelizmente, demora a morrer”.
Como o prefeito (*) não se manifestou contra essa barbaridade, as mulheres, principalmente as funcionárias do município, como é o caso da remetente desse e-mail, se revoltaram.
Ricardo Berzoini, quando foi ministro da Previdência Social, foi ainda mais perverso: obrigou, em 2003, que todos os velhinhos saíssem das suas camas de enfermo para darem presença de vida. Vimos, então, fotos nos jornais e imagens na TV de seres humanos em cadeiras de rodas, mal sabendo o que acontecia ao redor, colocados em filas indianas. Não fosse a torta com que um popular lhe emplastrou a cara, não haveria qualquer tipo de punição para esse Herodes da 3ª idade, que prosseguiu flanando no seu ministério.
Voltando a esse tal de Fernando Dionísio, ele se insurge contra a longevidade das mulheres. Bem, de uma maneira geral, as mulheres vivem mais do que os homens. Se eu tiver de citar ascendentes nonagenários, citarei avós e não avôs. No que diz respeito à literatura, temos as viúvas machadianas e as viúvas sicilianas muito lembradas como uma espécie de confraria, o que não vemos com os homens nas páginas literárias. Há casos personalizados de viúvos, como o Conselheiro Aires personagem do próprio Machado de Assis e o mais famoso deles, de Edgar Allan Poe, o narrador atormentado que perdeu a esposa Leonor e ouve, no seu desespero, o corvo repetir “Nunca Mais”.
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Enviaram-me um e-mail que trazia anexadas dezenas de slides da Brigitte Bardot com 77 anos de idade. Ora, já escrevi mais de uma vez que ela abriu as portas do erotismo para mim, quando surgiu nua na tela do cinema Cachambi no trailer do filme “E Deus criou a mulher”. Entrei na adolescência com pensamentos libidinosos pela Brigitte Bardot e julgaria que, mesmo velho, essa lubricidade por ela permaneceria, como a do personagem do ator Jean Gabin, na fita “Amar é minha profissão”. Kim Novak, Cláudia Cardinale, Elizabeth Taylor, Fada Santoro e outras beldades me encantavam, mas era na atriz francesa que eu via o sexo em sua plenitude naquela época.
Excesso de sol, que envelhece a pele, contribuiu para a perda da sua beleza.  Brigitte Bardot adorava as praias; cá, no Brasil, sentiu-se cativada por Búzios, até então uma colônia de pescadores e o lugar se tornou um dos balneários mais procurados do país. Ela não recorreu aos avanços da cirurgia plástica para retardar, aparentemente, o tempo, como fez, por exemplo, outro monumento de mulher da sua geração, Sofia Loren.  Há poucos anos atrás, a setentona atriz surgiu tão bela num evento, com um decote tão generoso, que deslumbrou a todos, principalmente o presidente Bill Clinton, que não se importou com as câmeras de TV e logo escancarou os olhos na sua direção. A pertinácia da atriz em permanecer bela, a cirurgia, o silicone, enfim, um conjunto de fatores adia a feiúra da Sofia Loren.
Vendo os mencionados slides da Brigitte Bardot, uma frase do Paulo Francis me veio à mente: “A velhice é um naufrágio”. Porém, observando a sua expressão serena, concluí que um autor mais nobre, no caso, Cícero, se ajusta melhor, com suas observações filosóficas a esse estado da sua vida. Entre outras coisas, escreveu Cícero no seu opúsculo sobre a velhice:
“Por certo, os que não obtêm dentro de si os recursos necessários para viver na felicidade acharão execráveis todas as idades da vida. Mas todo aquele que sabe tirar de si próprio o essencial não poderia julgar ruins as necessidades da natureza. E a velhice, seguramente, faz parte delas. Todos os homens desejam alcançá-la, mas, ao ficarem velhos, se lamentam. Eis aí a incongruência da estupidez! Queixam-se de que ela chegue mais furtivamente do que a esperavam. Quem, então, os forçou a se enganar assim? E por qual prodígio a velhice sucederia mais depressa à adolescência do que esta última sucede à infância?”
Adiante:
“... Dois amigos cônsules da minha geração queixam-se amargamente de estarem privados dos prazeres sem os quais, supunham, a vida nada mais vale; ou, ainda, de serem agora negligenciados pelos mesmos que os honravam outrora. Escutando-os, eu tinha a impressão de que se enganavam de culpado. Será de fato a idade é que devemos incriminar?  Nesse caso,  eu também deveria padecer dos mesmos inconvenientes e, comigo, todas as pessoas idosas. Ora, sei de muitos que vivem sua velhice sem  jeremiada (...) É, portanto, ao caráter de cada um e não à velhice, propriamente, que devemos imputar todas essas lamentações. Os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos, suportam facilmente a velhice, ao passo que a acrimônia, o temperamento triste e a rabugice são deploráveis em qualquer idade.”
É isso aí, sábio Cícero. As portas da minha casa sempre estarão abertas para receber a sua visita. (**)
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Recebo um e-mail com um vídeo anexado que traz no seu título a marca de automóveis Volvo. Sempre apreciei a Volvo, pois sem a necessidade de um advogado persistente como Ralph Nader, que combateu obstinadamente pela segurança dos carros estadunidenses, tornou seus veículos seguros para os seus consumidores, sem perder a sua eficiência. Pelo contrário, a Volvo é que se antecipou em questões de segurança e talvez tenha inspirado Ralph Nader.
Bem, depois eu cliquei no arquivo, sobre Irvin Gordon, natural de Bay Shore, New York, que dirige um Volvo 1966 P 1800 S (***). Ele já rodou mais de 2 milhões de milhas, o que representam 3 200 quilômetros, ou seja, 1, 176 vezes  a volta ao globo terrestre.
Irvin Gordon tem 72 anos de idade, mas aparenta menos anos de vida. Vale lembrar que o grande diretor de cinema Billy Wilder, que morreria com 96 anos de idade, só se sentiu velho quando foi obrigado pelo médico a deixar o volante do seu carro.
 Irvin Gordon dirige o seu Volvo 1966 por todo lugar e se mantém no Guinness, no quesito veículos com alta quilometragem, desde 2002. E foi ele a primeira pessoa a manter esse recorde.
-É um carro prazeroso de dirigir. - afirma.
O odômetro do incansável Volvo não o deixa mentir. 

(*) Auxiliares do Prefeito projetam fechar algumas das entradas e saídas do Porto do Rio de Janeiro que acarretarão transtornos previsíveis e queda na eficiência do Porto. Questionados, responderam: “O Porto não deveria estar ali.”
Seguindo essa lógica, este Distribuidor teme que o Oceano Atlântico seja a próxima vítima da ganância imobiliária que virá por aí. E daí a outro reclamar da longevidade das mulheres, nada mais a estranhar.

(**) O Cícero merece retorno ao AP. Farináceo, sem dúvida. Brigitte Bardot foi uma revolução, mas outras mulheres povoaram com muito mais eficácia a imaginação do então jovem Distribuidor. Rossana Podestà, com suas lentes de contato douradas, no final dos Sete Homens de Ouro fez muito mais nas minhas retinas, sem tirar a roupa igualmente dourada. Talvez nos anos 60, a nudez já tivesse deixado de ser um must em si. (****)

(***) Esse carro não me encanta, mas tem fãs pelo mundo todo. E é, sem dúvida, durável, como eram os automóveis até os anos 60. É sabido que o percentual de automóveis Volvo emplacados ao longo dos anos supera o de todas as demais marcas. Daí, faliu, a marca foi comprada, hoje é um carro comum.

(****) Claro que a lista é enorme. Audrey, Bond girls, Jean Simmons (notem a ordem alfabética) e vai por aí...
Tratou-se de um raríssimo caso de um asterisco de segundo grau. O asterisco do asterisco. Formidável.
 




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