O BISCOITO MOLHADO
Edição 3974 Data: 22
de junho de 2012
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CARTAS DOS LEITORES
-O Elio Fischberg não inspirou mais a veia poética da
Rosa Grieco?... Gostaria que ela escrevesse mais aquelas estrofes de seis
versos com rimas emparelhadas. Mauro
BM:
Caro leitor, o Causídico continua inspirando a nossa amiga, aqui vão mais uns
versos da sua lavra:
O cabelo grisalho sobre a testa
O seu charme atrativo logo atesta.
Nos alongados anos que vivi
Não vi mais belo filho de Davi.
O Procurador de Estado de que falo
Deixou-me no estado de procurá-lo.
-Escrevo aqui para lamentar o fato de Goethe, na
visita que fez ao redator do Biscoito Molhado, não ter feito referências ao
Brasil. Zózimo.
BM:
Mesmo os mortos seguem os ponteiros do relógio; ele não falou no nosso país
porque o tempo dele se esgotou, infelizmente. Mas Goethe possuía cerca de vinte
livros que traziam o nome do Brasil no título, na sua biblioteca particular,
além de consultar outras obras com temas brasileiros na biblioteca de Weimar.
Através da leitura e “Dos Canibais” de Montaigne,
Goethe conheceu canções tupinambás. Ele chamava de “brasileiro” Carl Friedrich
Philipp von Martius, o botânico que
estudou intensamente a nossa flora. Von Martius, quando para cá veio, em 1817, acompanhando
Johan Baptist von Spix como membro da comissão científica bávara, reuniu 6 500
espécies de plantas e material etnográfico e filológico. Ele, que mantinha um
intercâmbio de informações com Goethe, homenageou-o, juntamente com Esse e Ness
von Esenbeck, batizando uma espécie de malvácea brasileira de Goetha.
-O fato de a compositora Chiquinha Gonzaga, com 52
anos de idade, ter se enamorado de um garoto de 16 anos de idade, João Batista
Fernandes, não lembra a “Lolita” de Nabokov às avessas? - Aimoré
BM:
Meu caro Aimoré, você precisa reler a obra-prima do Vladimir Nabokov, pois se
esqueceu de pontos fundamentais do romance. Por que Lolita? Porque ela se
chamava Dolores que, comumente, redundam no apelido espanholado Lolita; ela era
Dolores Haze. Na escola, Dolores era Dolly. Hubert já sentia atração por
meninas quando conheceu Lolita com 12 anos de idade. Devemos frisar: 12 anos de
idade. Com 16 anos, em décadas passadas, as mulheres se casavam, como foi o
caso da própria Chiquinha Gonzaga que, com essa idade, casou com o engenheiro
Jacinto Ribeiro do Amaral. Com 12 anos de idade, muitas ainda não são mocinhas.
A ligação amorosa da madura Chiquinha Gonzaga com um
rapaz de 16 anos de idade nada tem a ver, portanto, com a Lolita de Nabokov às
avessas, além disso, a união dos dois durou 36 anos.
Lembra-se do casamento de Charles Chaplin com Oona
O'Neil, 36 anos mais nova? O problema da Chiquinha Gonzaga era a sua condição
de mulher, por isso teve de perfilhar o amante.
-Não tenho lido sobre discussões políticas no
Sabadoido. Será que os temas políticos foram banidos dessas reuniões como
ocorria no Sabadoyle? Djalma Santos.
BM:
Não foi abolido, ainda falamos de política nas sessões do Sabadoido, o problema
é que nem tudo é colocado nas atas por falta de tempo ou de espaço. Por
exemplo, no Sabadoido de 16 de junho quase espocou uma celeuma que tentarei
reproduzir aqui.
-Lula é um ditador, impôs o candidato dele, em São Paulo e, agora, se
meteu em Pernambuco. - bradou meu irmão.
-Eu sei Claudiomiro... - reagiu ainda timidamente o
Luca.
-E a Dilma guarda apenas o lugar para ele retornar, em
2014.
-Não acredito, Claudiomiro. A Dilma conseguiu uma popularidade quem nem o
Fernando Henrique Cardoso e o Lula tiveram. - retrucou com firmeza, agora, o
Luca.
-Não vai durar!... Ela deve o cargo a ele e sai na
hora que ele quiser. - afirmou ainda exaltado, embora se levantasse para
reabastecer os copos esvaziados.
Aproveitei a oportunidade e cochichei:
-Não quero que ele ouça para não reacender uma
polêmica estéril, mas o Cláudio se engana; a Dilma já mostrou quem tem luz
própria afastando vários corruptos que herdou do Lula e mantendo o seu,
Fernando Pimentel, que fez a mesma coisa que o Antônio Palocci. O problema da
Dilma é que ela tem de se equilibrar, pois sabe que deve a presidência ao Lula.
O Fernando Haddad não soube administrar o ENEM, enquanto a Dilma, como ministra
da Minas e Energia e da Casa Civil, esteve em outro patamar em termos
administrativos.
Quando o polemista retornou com os copos, falamos de futebol.
-Na entrevista de Goethe, falou-se muito pouco do
encontro que ocorreu entre o gênio alemão e Napoleão Bonaparte. Amarildo
BM: Como
não falamos muito desse encontro, vou transcrever um trecho do livro “Napoleão”
de Emil Ludwig.
“... Napoleão almoçava numa grande mesa redonda, tendo
Talleyrand à sua direita e Daru à sua esquerda, quando divisou o poeta no vão
da porta. Fez-lhe sinal para que se aproximasse e, com espanto, viu avançar
aquele homem de sessenta anos, nobre e belo, irradiando saúde e essa paz
interior que Goethe adquirira à custa de grandes esforços, e que deveria, em breve,
perder. O Imperador encarou-o; depois disse, como se falasse consigo próprio:
-Aqui está um homem!
Como uma flecha de ouro, esta frase rompia
espontaneamente e acertava no alvo. Precisamente porque o senhor do mundo tudo
ignorava a respeito desse outro senhor do mundo, tal frase, que ele nunca
dirigira e nunca mais devia dirigir a pessoa alguma, prova a divina comunhão do
gênio.
Infelizmente, essa entrevista não chegou até nossos
dias, na íntegra. Sem dúvida, por prudência, Goethe só a descreveu muito mais
tarde e incompletamente. Outras memórias apenas nos transmitiram alguns
fragmentos.
Napoleão começa por fazer o elogio de Werther, mas,
“não gosto do fim do seu romance.”
-Assim creio, “Sire”. Não lhe é agradável que um
romance tenha final.
Não respondendo a esse epigrama mal disfarçado, o
Imperador censura-o por ter feito a ambição intervir nas causas do suicídio de
Werther. O poeta ri – liberdade tão insólita na presença do Imperador, que ele
tem o cuidado de não assinalá-la em duas cartas, - e responde que a crítica é
justa; mas, certamente, é preciso perdoar que os artistas armem certos efeitos
que eles tiveram tanto trabalho em imaginar.
E Emil Ludwig encerra com esses dois parágrafos:
“... O Imperador queria servir-se do escritor; mas o
escritor não tinha necessidade do Imperador. Napoleão esperava novas obras de
Goethe; mas Goethe conhecia a vida de Napoleão, fonte precisa para suas
meditações sobre o gênio. Para isso, não precisava ir a Paris.
E, conquanto o poeta nem sequer tivesse correspondido
ao convite do Imperador, com uma homenagem de sua pena, Napoleão ainda se
lembrará, num momento trágico, daquele que, entre todos os seus contemporâneos,
era para ele distinguido com uma frase significativa.
Estas são algumas palavras sobre o célebre encontro.
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