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segunda-feira, 9 de julho de 2012

2179 - a internet sem Skipper


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3 979                                            Data: 2 de julho de 2012
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AS NOTÍCIAS QUE VÊM POR E-MAIL

No dia 20 de junho deste ano, data novidadeira por causa do Rio +20, demorei a ligar o computador, mas quando o fiz, uma quantidade inusitada de remetentes de mensagens eletrônicas com o “assunto” SKIPPER me assustou.
-Não é boa notícia. - imaginei antes de clicar numa delas.
Avisavam-me do seu falecimento. Ele não vinha bem desde o violento enfarte que sofreu e, soube depois, submetia-se a dolorosas sessões de hemodiálise.
Gostava dele, sem nunca o ter visto; quase nos encontramos no restaurante El Gebal, num almoço que reuniu o Carlos Alberto Torres, o Dieckmann e o Fischberg, mas o esperado Skipper ou Tio Frank não compareceu. Poucos meses depois, marcaram outro encontro, em Santa Teresa, na Adega do Pimenta, ele foi, eu, dessa vez, fiz forfait, por causa de problemas de horário no trabalho.
 Agora, o arrependimento de não ter conhecido o Tio Frank acompanhado do seu fusca, que ele denominou de “Intrépido 61”, aumentou.
Aprendi muito com os e-mails que o Tio Frank me enviou como aquele em que se referia a estudos científicos que comprovavam que o leite de soja neutraliza o hormônio masculino e potencializava o feminino. Finalizava com a seguinte recomendação: “Fiquem atentos, sobrinhos; nada de leite de soja. Assinado: Tio Frank.”
E quantos nus artísticos recebi do Tio Frank?!...  Não eram pinturas de Miguelangelo, de Renoir, de Modigliani ou outro pintor, mas chamavam a atenção, não pelos pincéis, mas pelos atributos dos modelos. Mesmo o Daniel, nas reuniões do Sabadoido, assumiu o parentesco com o Skipper e me perguntava:
-Trouxe alguma coisa, no pendrive, do Tio Frank?
Através de uma mensagem eletrônica do Skipper, soube da existência do veterano inglês Henry Allington. Ele nasceu em 1896, no reinado da Rainha Vitória, lutou na Primeira Guerra Mundial, participou das batalhas de Yopres e Jutlândia, e esteve no primeiro esquadrão da RAF, sobrevivendo a todos. Não bastasse isso, gostava de carne, de uísque e de mulheres fogosas. Contava, na ocasião do e-mail, com 112 anos de idade (morreria com 113). Tio Frank o chamou de “Velhinho Porreta”. Certamente, Tio Frank sonhava em ter uma vida tão movimentada e longa quanto a do “Velhinho Porreta”, não aconteceu, infelizmente.
Como diz o truísmo: vida que segue.
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Enviaram-me um e-mail em que um papagaio vira cambalhota. Não me falta ver mais nada nesses vídeos da internet; já vi cachorro andando de skate, macaco puxando a orelha de tigre, zebra de porre (não era o Lula) etc. Se Maurício de Nassau fez um boi voar, na época da invasão holandesa ao Brasil, eu nem imagino o que ele faria hoje com um computador na mão.
O mencionado papagaio sobe na corda, guarda moeda no cofre, joga boliche, basquete e distingue as cores. Se cantasse o hino nacional brasileiro, poderia ensiná-lo à Vanusa, seria a sua maior façanha.
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Daqui a alguns meses a campanha eleitoral estará poluindo as cidades e, principalmente, os nossos ouvidos. Muitas discussões políticas espocarão aqui, ali e acolá. É o momento em que a emoção dos polemistas embota a sua inteligência, em que os iludidos esbravejam em defesa dos seus candidatos. Não custa, portanto, lembrar os dizeres que se encontram num azulejo de Toledo, na Espanha, que uma vez ou outra nos chegam por meio de mensagem eletrônica.
Aqui vão eles? 

“A SOCIEDADE É ASSIM:
O pobre trabalha.
O rico o explora.
O soldado defende os dois.
O contribuinte paga pelos três.
O vadio descansa pelos quatro.
O bêbado bebe pelos cinco.
O banqueiro esfola os seis.
O advogado engana os sete.
O médico mata os oito.
O coveiro enterra os nove.
O político vive dos dez.”
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Fui destinatário de um e-mail que traz anexado um arquivo com dezenas de slides sobre a cidade russa de São Petersburgo.
Assumiram como verdadeira a frase “Uma imagem vale por mil palavras”, mas a antítese apresentada pelo Millor Fernandes é poderosa: “Diga isso sem palavras.”
Eu conheci São Petersburgo através de Dostoievsky e Tolstoi, fica, portanto, difícil para mim não ficar um pouco decepcionado quando vejo as fotografias da cidade por mais belas que sejam.
Li “Guerra e Paz” e as cenas que se desenrolam em São Petersburgo, nos salões da nobreza, onde era chique falar francês, mesmo na iminência do ataque de Napoleão Bonaparte, me deslumbravam.
Quando li os contos “Noites Brancas” de Dostoievsky e outras obras do escritor com essa cidade como cenário, “Crime e Castigo” por exemplo, fiquei igualmente marcado, embora de outra maneira, pois os personagens de Dostoievsky são integrantes das classes mais pobres.
Por coincidência, o canal de televisão Eurochannel apresentou um documentário de 60 minutos sobre as noites brancas de São Petersburgo, a época do ano em que os pores de sol não acontecem.
Primeiramente, o documentário mostra o trem que liga essa cidade a Moscou. A estrada de ferro é a primeira da Rússia, sendo, portanto, do tempo dos czares. O trem é luxuoso e o serviço parece de alto nível. O narrador afirma que o czarismo está na moda com a derrocada do comunismo, e, com isso, o luxo se sobrepõe.
Vê-se o Rio Neva. Há muitas pontes levadiças nele, não são do tempo de Tolstoi e Dostoievsky.
Surgem, então, os contrastes: uma milionária numa festa no palácio e os policiais, numa viatura, procurando manter a ordem na noite branca.
A milionária diz que o palácio de São Petersburgo é uma cópia de Versalhes, mas que a cópia superou o original. Como o palácio de Versalhes foi construído sem banheiro, apesar da sua exuberância inigualável, creio que ela tem razão.
Enquanto isso, os policiais se juntam a estudantes que socorrem um colega tão bêbado quanto os mendigos que estão com a cara na sarjeta.
-”É o fim do ano letivo, por isso, os estudantes bebem vodca para comemorar.”- diz o locutor do documentário.
Esse bebeu vodca para morrer. - pensei.
Alguém levanta o estudante pelo braço, mas logo é advertido por um dos policiais:
-Assim, você quebra o braço dele.
Todos carregam o bêbado para o cubículo dos estudantes. Uma autoridade ao se afastar, avisa:
-Se ele não melhorar, chame a ambulância.
Caramba, a ambulância já deveria cuidar do caso há muito tempo.
No majestoso palácio, a ricaça dança “O Danúbio Azul”. A ronda policial ruma para um pardieiro onde vizinhos e familiares se agridem fisicamente.
Em São Petersburgo, os ricos são milionários e os pobres são miseráveis.
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Encerremos aqui, por ora.



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