O BISCOITO MOLHADO
Edição 3985 Data: 14
de julho de 2012
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DA ORIGEM DO
TÁXI AO BOB
ESPONJA
A caminho da estação de Maria da Graça, aproveitando
que havia espaço no vagão do metrô para eu colocar um livro à minha frente,
tratei de ler, no caso, a origem dos táxis. Eis o que aprendi nos poucos
minutos de leitura.
O serviço de táxi começou, praticamente, com a
civilização. O primeiro, ao que parece, foi o riquixá, carro de duas rodas
puxadas por um só homem, que vemos nos filmes sobre a Antiguidade.
Na Roma Antiga, surgiram as liteiras levadas por dois
ou quatro escravos que transportavam quem pedisse seus serviços e,
obrigatoriamente, seus donos. Foi na Roma Antiga que despontaram os veículos
com rodas, mas esses “táxis” não eram utilizados na sua função por causa das
movimentadas vias de comunicação da metrópole.
A Queda do Império Romano do Ocidente representou o
fim do transporte público e privado.
Na Idade Média, apareceram as carruagens, ainda
rudimentares, movidas à tração animal, que assegurou o transporte de pessoas.
No Renascimento, as carruagens foram mais bem elaboradas, receberam ornamentos,
coberturas e até cortinas.
Em Londres, 1605, precisamente, fizeram-se presentes
as primeiras carruagens de aluguel, as Halkneys; vieram, em seguida, as Sociables,
em Paris. Os Landaus
e os Landaulets são carruagens alemãs desse tempo. Pouco depois, na
França e na Inglaterra, lançaram os Gigs, Tilbury e Cabriolet.
O primeiro táxi motorizado foi visto em 1896, na
cidade alemã de Estugarda. Em 1897, Freidrich Greinar abriu uma empresa
concorrente, na mesma cidade, com uma diferença fundamental: os seus carros
estavam equipados com um sistema de cobrança, o taxímetro.
A implantação dos táxis foi generalizada em 1907.
Nesse mesmo ano, em Paris, todos os carros de aluguer tinham de possuir
obrigatoriamente, por lei, um taxímetro. Antes da Primeira Guerra Mundial, já
todas as grandes cidades americanas e europeias tinham serviços de táxis legais
e pintados com cores diferentes. Desde então, as alterações foram poucas, as
mudanças eram no próprio carro.
Com a chegada do trem do metrô em Maria da Graça,
guardei o livro na mochila e rumei para o ponto de táxi da Rua Domingo de
Magalhães. Saindo da última rampa, vi grande parte da turma de taxistas no seu
posto à espera dos passageiros. Lá estava o Machado.
Será que o Machado, em vidas passadas, foi carregador
de riquixá?...
E o Dedão do Arqueiro Inglês, será que ele transportou
Júlio César numa liteira?
Bob Esponja, não sei por que, parecia-me que foi
cocheiro de Tilbury e levou, sem saber, Jack, o Estripador ao seu destino.
Eram essas as minhas perguntas e minhas cismas sobre
as vidas passadas até atravessar a Rua Domingo de Magalhães e entrar no táxi
045 do Gordinho.
Ele é um personagem bissexto nas edições do Biscoito
Molhado sobre os profissionais da cooperativa Metrô-Táxi, fiquei, por isso, em
dúvida: sabe ele ou não o meu destino?... Ainda assim, aguardei que ele tomasse
a iniciativa. Como o Gordinho se manteve calado durante parte da corrida, intuí
que ele soubesse que eu queria ir para a Rua Modigliani. Quando uma viatura
policial passou por nós em sentido contrário, ele quebrou o silêncio.
-Eles deveriam estar a três quilômetros daqui, no
Jacarezinho.
-Soube que houve uma escaramuça entre policiais e
traficantes do Jacarezinho. - manifestei-me um tanto timidamente, pois não
atento muito para o noticiário de crimes.
-Prenderam o traficante da favela, o Diogo. Então, a
turma dele invadiu a 25ª DP, para resgatar o sujeito.
-Pelo que ouvi no rádio, conseguiram. - aparteei.
-Conseguiram, mas a polícia invadiu o Jacarezinho e já
matou quatro.
-Por isso, um colega meu, que chega ao trabalho de
bicicleta, informou-me que as coisas estavam pretas pelo lado do Jacarezinho.
-Bandido é muito burro, por causa de um, já perderam
quatro. Esse Diogo não dura muito também.
-A pouca inteligência desses traficantes é indiscutível.
- concordei.
O Gordinho se animou.
-Você viu na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão?...
Eles desafiaram a polícia e viram cair sobre eles a polícia militar, a polícia
civil, o BOPE, o Exército...
-A Marinha, não esqueça a Marinha que, com aqueles
tanques de fabricação suíça, ultrapassou os obstáculos que eles colocaram no
caminho. - acrescentei.
-Bem lembrado, a Marinha.
-Rua Modigliani. - falei como se colocasse um ponto
final na nossa conversação.
No dia subsequente, peguei o carro do Bob Esponja.
-Estou mais ou menos. - antecipou-se a uma pergunta
sobre ele que eu não fizera.
-Levei o rádio do meu táxi para o conserto e a coisa
vai ficar em 280 reais. Vou ter de rodar muito para cobrir esse prejuízo.
-O táxi, desde a implantação do taxímetro, recebeu
poucas modificações, mas uma delas foi a entrada do rádio através das
cooperativas. - manifestei-me com o cuidado de não me mostrar erudito.
-Sem o rádio, temos de pegar o passageiro da maçaneta.
-É aquele passageiro que sinaliza para o taxista na
rua?...
-Esse mesmo; a minha sorte é que um amigo me emprestou
o rádio.
Como o Bob Esponja fala muito e escuta pouco,
prosseguiu:
-Para tirar o meu prejuízo, tenho como quase certa uma
corrida para Campo Grande, serão 200 reais na minha caixinha.
Pensou em voz alta nas outras maneiras de conseguir em
curtíssimo prazo os 280 reais até me deixar no meu destino.
No dia seguinte, embarquei no carro do Cláudio, o
Gaguinho, antes, porém, um dos seus colegas esticou o braço e pediu para que eu
não entrasse logo no carro. Em seguida, espanou com a mão a suposta poeira que
havia no banco em que eu sentaria.
-Agora sim, o carro está em condições de receber o meu
amigo.
Quando ele se afastou com a expressão de quem
exagerara na cerveja, comentei com o Gaguinho.
-O pessoal do ponto do ônibus, ali em frente, olhou
espantado para o que ele fazia.
Gaguinho reagiu com um balançar desolado de cabeça.
Como ele é a pessoa em que mais confio de todos ali,
contei-lhe sobre as peripécias do 081.
-Entrou naquela rua à esquerda, que vamos passar
agora, mesmo eu lhe dizendo que era contramão.
-Ele é maluco. - diagnosticou.
Quando parou em frente à minha casa, o carro dele
retrocedeu e bateu numa falha do asfalto, porque o freio de mão estava escangalhado.
-Ele é maluco. - insistiu o Gaguinho.
48 horas depois, estava eu de novo no carro do Bob
Esponja;
-E o rádio do táxi?
-Amigo, o defeito não foi o imaginado: em vez de 280
reais, o conserto ficou em 30. Papai do céu ajuda quem trabalha.
Nesse instante, tirou o celular do bolso, deu uma
olhada no visor e fez cara feia.
-São essas mulheres que a gente pega na internet;
agradam por alguns momentos, mas, depois, falam muito. Mulher é uma desgraça
quando abre a boca.
E passou toda a corrida sonhando em voz alta com as
mulheres mudas.
(*) O
Departamento de Pesquisas do seu O BISCOITO MOLHADO obteve na Wikipédia o
seguinte texto:
A pintura de 1707 "Les
deux carrosses" de Claude
Gillot mostra uma carroça tipo
riquixá em uma cena cômica. Essas carroças, conhecidas como vinagretes
por causa de sua semelhança com os carrinhos de mão de produtores de vinagre,
foram utilizados nas estradas de Paris nos
séculos XVII e XVIII. (Fresnault-Deruelle, 2005)
Os riquixás surgiram no Japão por volta
de 1868, no início
da Restauração Meiji. Eles logo
se tornaram um meio de transporte popular, pelo fato de serem mais rápidos que
as liteiras utilizadas
anteriormente (e o trabalho humano era consideravelmente mais barato do que a
utilização de cavalos).
A identidade do inventor (se houve um) permanece
incerta. Algumas fontes citam o ferreiro estadunidense Albert Tolman, a quem é
atribuída a invenção do riquixá por volta do ano de 1848 em Worcester
(Massachusetts) para um missionário. Outros
afirmam que Jonathan Scobie (ou W.
Goble), um estadunidense
missionário para o Japão, inventou riquixás por volta de 1869 para
transportar sua esposa inválida pelas estradas de Yokohama.
Outros ainda dizem que o riquixá foi projetado
por um pastor evangélico americano em 1888. Essa
hipótese certamente está incorreta, pois um artigo de 1877 de um correspondente
do The New York Times declarava que o "jin-riki-sha, ou
carruagem de tração humana" estava sendo popularmente utilizado, e tinha
sido inventado provavelmente por um americano em 1869 ou 1870.
Fontes japonesas frequentemente creditam Izumi
Yosuke, Suzuki Tokujiro, e Takayama Kosuke, que teriam, segundo eles, inventado
os riquixás em 1868, inspirados nas carruagens de cavalos que tinham sido
introduzidas nas estradas de Tóquio pouco
antes. Começando em 1870, as
autoridades de Tóquio emitiram para esses três homens uma permissão para
fabricarem e venderem riquixás. A assinatura de um desses inventores também era
exigida em todas as licenças para operar um riquixá.
Em 1872, cerca de 40.000 riquixás estavam sendo
utilizados em Tóquio.
Eles logo se tornaram o principal meio de transporte público
no Japão. (Powerhouse Museum, 2005; The Jinrikisha story, 1996)
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