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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4953 Data: 23 de setembro de 2014
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UM NOBRE NO RÁDIO MEMÓRIA
2ª PARTE
-Agora, Paulo Marquez canta de Vadico e
Noel Rosa “Cem Mil Réis”.
-Sensacional! - exultou o Jonas Vieira
por todos os centavos da música.
-Posso contar sobre essa gravação?
Evidentemente que o Jonas Vieira deu o
sinal verde ao seu convidado.
-Ricardo Cravo Albin produziu um disco,
que só falava em dinheiro, para a inauguração de uma agência do Banco do
Brasil, no Japão, eu contribuí com duas músicas: “Cem Mil Réis” e “Pra que
dinheiro?”, do Martinho.
Disco, suponhamos, que o Tio Patinhas
deve ter na sua discoteca em Patópolis.
-Vamos ouvir, agora, Mário Lago?...
Como Simon Khoury, Paulo Marquez também
é um contador de causos:
-Liguei para o Mário Lago, e ele ouviu a
minha interpretação, pelo telefone, da sua música “Fracasso”. No fim, ele me
perguntou por que eu não cantava na época em que ele lançou o disco.
-A primeira gravação foi do Francisco Alves.
- assinalou o titular do programa.
E “Fracasso”, que não ouvíamos desde 8
de julho deste ano, quando o Brasil jogou com a Alemanha, foi ao ar, dessa vez
com resultado bem melhor.
-Você veio para o Rio cantar no rádio?
-Cantei na Mayrink Veiga, quando fiz um
teste.
-E se saiu bem.
-Estreei no programa de sábado do Carlos
Henrique.
-Você gravou muita coisa do Orlando
Silva.
-Sou fã dele até hoje. Com oito anos de
idade, eu já cantava Orlando Silva.
-Gosto do Orlando Silva, cantado por
você, “Noutros Tempos Era Eu.”
Paulo Marquez não hesitou e cantou à
capela a canção “Noutros Tempos Era Eu”.
-O vozeirão está bom.
E nós acrescentaríamos às palavras do
Jonas Vieira a memória do cantor.
Atendendo ao pedido do anfitrião, Paulo
Marquez falou que, atualmente, se apresenta na produção de Haroldo Costa
“Músicas de bar em bairros”, começou na Tijuca, na rua Garibaldi, depois passou
pela Penha, Guaratiba, Anchieta, e a próxima apresentação, o encerramento,
seria no Parque Madureira no dia 23 de setembro.
-Quando foi a sua primeira gravação?
-Em 1956, cantei o samba de Renato
Oliveira “Perua”, num 78 rpm para a Colúmbia.
E acrescentou que a sua voz romântica
também se adapta ao samba.
-Quanta praga jogaram na perua! -
criticou o Jonas Vieira a letra em tom jocoso depois da audição.
Voltou-se de novo para o convidado do Rádio
Memória:
-Você regravou uma pérola da música
popular brasileira, “Tive Sim”, do Cartola.
-O Cartola queria que o Cyro Monteiro
gravasse um LP com as suas composições, mas houve um problema de gravadoras, o
Cyro era da RCA Victor. Comigo, estava
tudo certo.
-Como se vê, você continua a fazer shows.
-Faço até hoje, eles me chamam e eu vou,
mas tenho autocrítica, se não estiver bem, não faço.
Veio a “Pausa para meditação”, crônica
do Fernando Milfont na locução do José Maurício. O tema “Amoladores” ia das
tesouras aos chatos. Seguiram-se à pausa, os amoladores, propriamente ditos, ou
seja, os candidatos pedindo nossos votos
no próximo dia 5 de outubro.
Agora, a segunda parte.
-Rádio Roquette Pinto. 94.1. FM. Rádio
Memória, hoje com Paulo Marquez, e sem Sérgio Fortes que está com o pé inchado.
O convidado voltou à “aurora da sua
vida”, como Casimiro de Abreu chamava os seus oito anos de vida, mas, em vez de
ficar “naquelas tardes fagueiras à sombra das bananeiras, debaixo dos
laranjais” como o poeta, soltava a voz e infernizava os outros, segundo suas
palavras.
Jonas Vieira lembrou mais uma vez
Orlando Silva, e Paulo Marquez repetiu que é fã incondicional do cantor, o
maior do Brasil.
-O Orlando era um fenômeno mundial. -
frisou o Jonas.
A palavra retornou ao convidado:
-Eu cantava todo o repertório do Orlando
Silva. Na Escola Guerra Junqueira, onde fiz o curso primário, eu cantava dele
“Jardim de Infância”.
Logo em seguida, põe-se a cantar à
capela essa criação de 1939, de Nássara e Cristóvão de Alencar, e mais uma vez
surpreendeu os ouvintes daquela manhã de domingo pela sua memória e voz, apesar
de octogenário.
De novo, a sua história:
-Com nove anos de idade, de férias na
roça, na Festa de Santos Reis, cantei “Jardineira”, lançado no carnaval de
1939.
1938. - corrigiu o Jonas Vieira o ano do
lançamento da marchinha e salientou o fato único de o Orlando Silva ter lançado
quatro sucessos de carnaval em um só ano.
Citado outro sucesso do ídolo maior do
Jonas Vieira, também gravado pelo seu convidado, o fox-trot “Naná”, de
Custódio Mesquita, Geysa Bôscoli e Jardel Bôscoli, Paulo Marquez se pôs a
cantá-lo, mais uma vez, à capela.
-Você está em plena forma física e
técnica. - fez o elogio que não queria calar.
Passaram, então, para um repertório mais
recente, no caso, “Camelô”, de Billy Blanco. Paulo Marquez contou que Billy
Blanco recebeu a luz verde para fazer um LP, escolheu, então, o Radamés
Gnattali, e, quanto ao cantor: “ele me quis porque considerava boa a minha
dicção para as partes recitadas. Na época, eu só tinha gravado aquele disco 78
rpm de que já falei.”
-Rádio Roquette Pinto 94.1 FM Programa
Rádio Memória. O melhor da música do Brasil e do mundo inteiro.
-O título do programa é primordial. Da
turma do meu tempo morreu o último, Miltinho. O único vivo sou eu.- registrou o
Paulo Marquez.
-Atuando, sim; o Gilberto Milfont está
vivo, mas não atua.
-Há o Cauby – lembrou -, mas inteirão só
eu.
-Agora,
“Feiura” não é nada”, de Billy Blanco, com Paulo Marquez.
Depois, Jonas Vieira investiu contra a
mídia, que dedica poucas linhas, algumas vezes, nenhuma, aos artistas
brasileiras que morrem.
-Morre um artista estrangeiro, e
divulgam. - indignou-se.
-Quando eu me for, estou chegando aos 90
anos anos, também não serei lembrado.- concluiu o Paulo Marquez.
-Ano que vem é o centenário do Orlando
Silva, não deixarei passar em branco.
-Estarei lá no evento. - garantiu o
cantor.
Com o retorno do clima de descontração,
Paulo Marquez aludiu que sempre era convocado pelo Fernando Lobo, na TV
Educativa, porque a sua voz se ajustava ao baião, à música de carnaval e às
canções românticas.
-Qual a música do Orlando Silva de que
você mais gosta?
-”Duas Vidas”.
-Uma das minhas paixões. - encantou-se o
Jonas Vieira.
Paulo Marquez pôs-se a entoar a canção à
capela e ainda esnobou:
-Quer a segunda parte?
E cantaram em dueto. Se o Sérgio Fortes
não tivesse machucado o pé teríamos os Três Tenores? Cartas para a redação.
De novo, o Billy Blanco.
-Paulinho... (brasileiro é assim, logo
toma intimidade com a nobreza; Didi não abraçou o rei da Suécia na final da
Copa de 58?...).
-Paulinho, quando o presidente de
Portugal Craveiro Lopes esteve no Brasil, o Billy Blanco compôs uma música.
-Sim, derrubaram o morro de Santo
Antonio, fizeram o Aterro, e Radamés Gnattali e Billy Blanco compuseram
“Obrigado, Excelência.”
Segue-se outra criação da dupla,
“Requerimento”, um protesto bem-humorado contra a sujeira jogada na rua pelo
povo.
-Eu gravei em 1958, mas foi composta
antes desse ano.
-Por problema de educação, jogam tudo na
rua. Essa lei do prefeito só chegou agora. - comentou o Jonas Vieira.
O programa se aproximava do seu término,
mas ainda houve tempo para relembrarem Orlando Silva, e cantarem, novamente, à
capela, “A Primeira Vez”.
-É muita honra para um pobre Marquez. -
agradeceu o convite.
-Gostei do Trocadilho.
E o Rádio Memória se encerrou deixando o
sentimento de que as comemorações do centenário do Orlando Silva já começaram.
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