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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

2702 - o tornozelo melódico


 

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 4952                                 Data: 22 de  setembro de 2014

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UM NOBRE NO RÁDIO MEMÓRIA

 

Jonas Vieira anunciou a ausência do Sérgio Fortes, nesse último Rádio Memória, devido a um pisão que dera num buraco que lhe torceu o tornozelo. Não investiu furiosamente contra as autoridades que escorcham os contribuintes com impostos e não fazem a sua parte, pelo contrário, Jonas Vieira deu a notícia rindo. Os leitores podem julgar o titular do programa Rádio Memória um discípulo do Marquês de Sade, mas os ouvintes, como nós, sabem que era um riso nervoso.

Isso posto, nossos leitores já imaginam que não tivemos o calendário, mas para o Biscoito Molhado houve sim e vamos a ele.

-Dia 21 de setembro. - empostou o Sérgio Fortes a voz e seguiu adiante.

-Em 1621, o Rei James I da Inglaterra cedeu o Canadá a Alexander Stirling.

E voltou-se para o seu parceiro.

-Naquele tempo, um país parecia um imóvel que passa de um dono para outro.

-Não mudou muito, Sérgio: Cuba é do Fidel Castro, e o Maranhão, do Sarney.

-Em 1792, é declarada a primeira República da França.

-A primeira de uma série de cinco, Sérgio.  Uma não dava certo e os franceses mudavam tudo.

-Se os brasileiros fizessem a mesma coisa, já estaríamos na vigésima república. - acrescentou o Sérgio.

-Em 1863, a Espanha reconhece a independência da Argentina.

E mais uma vez se voltou para o seu parceiro.

-Nossos hermanos levaram mais tempo do que nós para se tornarem independentes.

-Chupa, Maradona. - diria o Jonas Vieira caso fosse um destrambelhado torcedor de futebol.

-Em 1893, foi dirigido pela primeira vez um automóvel à gasolina.

-Você, como colecionador, não poderia deixar essa data em branco. - assinalou o Jonas Vieira.

-Em 1939, Colinescu é assassinado por legionários da Guarda de Ferro, na Romênia.

Pausa.

-Você conheceu Colinescu, Jonas?

-Eu, não, mas o Simon Khoury, certamente, conheceu.

Se lá estivesse, Simon Khoury diria que quem tem Colinescu tem medo, e com razão.

-Nascimentos. - vibrou a voz do Homem-Calendário.

-Em 1411, nascia Ricardo, Duque de York, protagonista da Guerra das Rosas. E eu que pensava que a rosa só brigasse com o cravo.

-Brigaram debaixo de uma sacada, mas depois ficaram amigos. - lembrou o Jonas o cancioneiro infantil.

-Em 1866, nasceu H.G. Wells.

-Grande escritor de ficção científica. - interrompeu o Jonas.

-Em 1926, nascia a Eliana Macedo.

Mais uma vez se voltou para o Jonas.

-Era a namoradinha do Brasil, na época das chanchadas da Atlântida. Vieram, depois, as novelas da Globo e a Regina Duarte tomou o título dela. Quem será hoje a namoradinha do Brasil?

Silêncio. Ouvem-se, depois, risos e a voz do Sérgio Fortes:

-Peter é um gozador... Essa é a madrasta do Brasil.

-De novo, o calendário: em 1935, nascia Norma Bengell.

-É a minha favorita. - declarou o Jonas Vieira.

-Ela protagonizou o primeiro nu frontal do cinema brasileiro, isso em 1962.

-A primeira nudez do cinema foi da Hedy Lamarr, na década de 30, antes de ir para Hollywood. - assinalou o Jonas Vieira.

-No cinema americano, naquele época, um casal não podia aparecer na cama ou num sofá sem que a câmera mostrasse os pés deles no chão.

-Isso mesmo, Sérgio.

-Era uma censura do Código... Creio que é Código Hays, sujeito à averiguação.

-Falecimentos.

Agora, a voz do Homem-Calendário fica em ré menor, a tonalidade do Réquiem de Mozart.

-Em 19 a.C. Virgílio, o poeta latino.

Era o poeta dos poetas que, por mais de 15 séculos, exercia influência na poesia, como em “Os Lusíadas”, de Camões.

-Lembra-se, Jonas, que, no último domingo, eu citei a data da morte do Dante Alighieri? Na Divina Comédia, ele escreveu que foi conduzido por Virgílio.

-Sim, mas na hora de entrar no paraíso, ele deixa o Virgílio pra lá.

-1860, morria Arthur Schopenhauer, o filósofo do pessimismo.

-Um machista, Sérgio, dizia que as mulheres têm os cabelos longos e a inteligência curta.

-Ele influenciou, com o seu pensamento, Wagner, quando compôs “Tristão e Isolda”. - registou o Sérgio Fortes.

-Em 1998, morreu a velocista americana Florence Griffith-Joyner.

E de novo voltou-se para o Jonas.

-Ela pintava as unhas, passava batom nos lábios. Era muito bonita, Sérgio,  bateu o recorde dos 100 e 200 metros, que ainda persistem.

-Viveu só 34 anos. - lamentou.

-Morreu de tanto correr dopada. Está dizendo o Peter. - disse o Sérgio Fortes antes de prosseguir.

-Hoje é o Dia da Árvore.

-Deveria ser celebrado todos os dias. - enfatizou o titular do programa.

-Também é o dia do... Não me lembro, Jonas.

-Eu também não, Sérgio...

-Ah, sim: hoje, é o Dia Mundial de Combate Mundial ao Alzheimer. - lembraram.

-O santo do dia é São Mateus.

-Ele é muito importante, é um dos evangelistas. - salientou o Jonas Vieira.

-É melhor procurarmos outros protetores porque São Mateus é muito solicitado. - aduziu o Sérgio Fortes.

Encerrados o calendário e a participação do Sérgio Fortes, passemos para o convidado do programa.

-Trazemos hoje uma das minhas maiores admirações, Paulo Marquez.

E o convidado do Sérgio Fortes emitiu um sonoro bom dia, indício de que a sua voz ainda estava em forma.

Jonas Vieira foi peremptório.

-Vamos começar com música: de Valdemar Gomes e Marino Pinto, “Mais um drama da vida”; do genial Wilson Batista, “A Mulher que eu gosto”; e do Geraldo Almeida e Jorge de Castro, “Você está sumindo.”

Apesar da quantidade, a duração das músicas não foi longa.

-Você é mineiro?

-De Uberaba.

-Vai votar em quem?

Não, Jonas Vieira não fez a pergunta acima, ainda não foi contagiado pelo clima eleitoral como nós do Biscoito Molhado.

Na verdade, ele indagou do Paulo Marquez sobre o ano em que ele veio para a Capital Federal. Veio em 1955, poucos meses antes de o Juscelino Kubitschek vir de Minas Gerais para cá. (Como escrevemos no parágrafo acima, estamos tomados pela política).

-Seu nome de batismo é José; por que Paulo? - foi  pergunta subsequente.

-Porque José não era um nome sonoro para o rádio, só existia um, o mexicano José Mojica. Então, o diretor artístico da Rádio Guarany, ainda em Minas, me batizou de Paulo.

-Por que Marquez?

-Este é o meu sobrenome mesmo. 

Nada a ver com o Marquês de Sade, lembrado quando da torção do pé do Sérgio Fortes. Esse, que estava no Rádio Memória, era de boa índole.

A próxima atração musical encerrou essa primeira sessão de perguntas e respostas.

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