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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4952 Data: 22 de setembro de 2014
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UM NOBRE NO RÁDIO MEMÓRIA
Jonas Vieira anunciou a ausência do
Sérgio Fortes, nesse último Rádio Memória, devido a um pisão que dera num
buraco que lhe torceu o tornozelo. Não investiu furiosamente contra as
autoridades que escorcham os contribuintes com impostos e não fazem a sua
parte, pelo contrário, Jonas Vieira deu a notícia rindo. Os leitores podem
julgar o titular do programa Rádio Memória um discípulo do Marquês de Sade, mas
os ouvintes, como nós, sabem que era um riso nervoso.
Isso posto, nossos leitores já imaginam
que não tivemos o calendário, mas para o Biscoito Molhado houve sim e vamos a
ele.
-Dia 21 de setembro. - empostou o Sérgio
Fortes a voz e seguiu adiante.
-Em 1621, o Rei James I da Inglaterra
cedeu o Canadá a Alexander Stirling.
E voltou-se para o seu parceiro.
-Naquele tempo, um país parecia um
imóvel que passa de um dono para outro.
-Não mudou muito, Sérgio: Cuba é do
Fidel Castro, e o Maranhão, do Sarney.
-Em 1792, é declarada a primeira
República da França.
-A primeira de uma série de cinco,
Sérgio. Uma não dava certo e os
franceses mudavam tudo.
-Se os brasileiros fizessem a mesma
coisa, já estaríamos na vigésima república. - acrescentou o Sérgio.
-Em 1863, a Espanha reconhece a
independência da Argentina.
E mais uma vez se voltou para o seu
parceiro.
-Nossos hermanos levaram mais
tempo do que nós para se tornarem independentes.
-Chupa, Maradona. - diria o Jonas Vieira
caso fosse um destrambelhado torcedor de futebol.
-Em 1893, foi dirigido pela primeira vez
um automóvel à gasolina.
-Você, como colecionador, não poderia
deixar essa data em branco. - assinalou o Jonas Vieira.
-Em 1939, Colinescu é assassinado por
legionários da Guarda de Ferro, na Romênia.
Pausa.
-Você conheceu Colinescu, Jonas?
-Eu, não, mas o Simon Khoury,
certamente, conheceu.
Se lá estivesse, Simon Khoury diria que
quem tem Colinescu tem medo, e com razão.
-Nascimentos. - vibrou a voz do
Homem-Calendário.
-Em 1411, nascia Ricardo, Duque de York,
protagonista da Guerra das Rosas. E eu que pensava que a rosa só brigasse com o
cravo.
-Brigaram debaixo de uma sacada, mas
depois ficaram amigos. - lembrou o Jonas o cancioneiro infantil.
-Em 1866, nasceu H.G. Wells.
-Grande escritor de ficção científica. -
interrompeu o Jonas.
-Em 1926, nascia a Eliana Macedo.
Mais uma vez se voltou para o Jonas.
-Era a namoradinha do Brasil, na época
das chanchadas da Atlântida. Vieram, depois, as novelas da Globo e a Regina
Duarte tomou o título dela. Quem será hoje a namoradinha do Brasil?
Silêncio. Ouvem-se, depois, risos e a
voz do Sérgio Fortes:
-Peter é um gozador... Essa é a madrasta
do Brasil.
-De novo, o calendário: em 1935, nascia
Norma Bengell.
-É a minha favorita. - declarou o Jonas
Vieira.
-Ela protagonizou o primeiro nu frontal
do cinema brasileiro, isso em 1962.
-A primeira nudez do cinema foi da Hedy
Lamarr, na década de 30, antes de ir para Hollywood. - assinalou o Jonas
Vieira.
-No cinema americano, naquele época, um
casal não podia aparecer na cama ou num sofá sem que a câmera mostrasse os pés
deles no chão.
-Isso mesmo, Sérgio.
-Era uma censura do Código... Creio que
é Código Hays, sujeito à averiguação.
-Falecimentos.
Agora, a voz do Homem-Calendário fica em
ré menor, a tonalidade do Réquiem de Mozart.
-Em 19 a.C. Virgílio, o poeta latino.
Era o poeta dos poetas que, por mais de
15 séculos, exercia influência na poesia, como em “Os Lusíadas”, de Camões.
-Lembra-se, Jonas, que, no último
domingo, eu citei a data da morte do Dante Alighieri? Na Divina Comédia, ele
escreveu que foi conduzido por Virgílio.
-Sim, mas na hora de entrar no paraíso,
ele deixa o Virgílio pra lá.
-1860, morria Arthur Schopenhauer, o
filósofo do pessimismo.
-Um machista, Sérgio, dizia que as
mulheres têm os cabelos longos e a inteligência curta.
-Ele influenciou, com o seu pensamento,
Wagner, quando compôs “Tristão e Isolda”. - registou o Sérgio Fortes.
-Em 1998, morreu a velocista americana
Florence Griffith-Joyner.
E de novo voltou-se para o Jonas.
-Ela pintava as unhas, passava batom nos
lábios. Era muito bonita, Sérgio, bateu
o recorde dos 100 e 200 metros, que ainda persistem.
-Viveu só 34 anos. - lamentou.
-Morreu de tanto correr dopada. Está
dizendo o Peter. - disse o Sérgio Fortes antes de prosseguir.
-Hoje é o Dia da Árvore.
-Deveria ser celebrado todos os dias. -
enfatizou o titular do programa.
-Também é o dia do... Não me lembro,
Jonas.
-Eu também não, Sérgio...
-Ah, sim: hoje, é o Dia Mundial de
Combate Mundial ao Alzheimer. - lembraram.
-O santo do dia é São Mateus.
-Ele é muito importante, é um dos
evangelistas. - salientou o Jonas Vieira.
-É melhor procurarmos outros protetores
porque São Mateus é muito solicitado. - aduziu o Sérgio Fortes.
Encerrados o calendário e a participação
do Sérgio Fortes, passemos para o convidado do programa.
-Trazemos hoje uma das minhas maiores
admirações, Paulo Marquez.
E o convidado do Sérgio Fortes emitiu um
sonoro bom dia, indício de que a sua voz ainda estava em forma.
Jonas Vieira foi peremptório.
-Vamos começar com música: de Valdemar
Gomes e Marino Pinto, “Mais um drama da vida”; do genial Wilson Batista, “A
Mulher que eu gosto”; e do Geraldo Almeida e Jorge de Castro, “Você está
sumindo.”
Apesar da quantidade, a duração das
músicas não foi longa.
-Você é mineiro?
-De Uberaba.
-Vai votar em quem?
Não, Jonas Vieira não fez a pergunta
acima, ainda não foi contagiado pelo clima eleitoral como nós do Biscoito
Molhado.
Na verdade, ele indagou do Paulo Marquez
sobre o ano em que ele veio para a Capital Federal. Veio em 1955, poucos meses
antes de o Juscelino Kubitschek vir de Minas Gerais para cá. (Como escrevemos
no parágrafo acima, estamos tomados pela política).
-Seu nome de batismo é José; por que
Paulo? - foi pergunta subsequente.
-Porque José não era um nome sonoro para
o rádio, só existia um, o mexicano José Mojica. Então, o diretor artístico da
Rádio Guarany, ainda em Minas, me batizou de Paulo.
-Por que Marquez?
-Este é o meu sobrenome mesmo.
Nada a ver com o Marquês de Sade,
lembrado quando da torção do pé do Sérgio Fortes. Esse, que estava no Rádio
Memória, era de boa índole.
A próxima atração musical encerrou essa
primeira sessão de perguntas e respostas.
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