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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

2696 - Josefina assovia para sua mãe


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4946                                  Data: 15 de  setembro de 2014
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CARTAS DOS LEITORES

-”É fato sabido por mim e a torcida do Flamengo que um lindo menino nasceu em 6 de outubro. Peço vênia para mandar um presente antecipado para que vosmecê depreenda que isto não é uma biografia, é um manual de sobrevivência na selva. Não sei (já soube) quem disse a respeito da Revolução e do corso “Os franceses, fartos de se matarem dentro da França, saíram pela Europa matando todo o mundo.” Não vou pesquisar na minha combalida memória, já padeci para identificar que o o autor do “espírito da escada” foi o enciclopedista Diderrrrost (leia Diderot, “s' il vous plaît”) passou um gato sobre o meu arrazoado, como se aproximam como prova de amor nunca os enxoto.
Estou combatendo uma dolorosa tendinite no ombro direito, mais um ultraje de Cronos. Sou basicamente destra, preciso educar a sinistra. Nada a ver com o livro. Tenho um vasto repertório de fábulas do Piauí, incluindo um menino, seu colega hidráulico, que, à noite, inundava a rede e deixava matutina poça no chão. Tiveram a ideia genial de colocar uma bacia. Passaram todos a noite em claro ouvindo o plim-plim-plim na bacia. Aproveite seu natalício, os primeiros 60 anos podem ser difíceis, depois nos encouraçamos. Vai aparecer na “Rádio Memória”? “Rosa Grieco

BM: Rosa, desde 1998, quando meu pai morreu a dois meses da Copa do Mundo, na França, que ninguém me chamava de menino, é verdade que a minha mãe me trata como tal, mas me chamando pelos nomes dos seus outros dois filhos até acertar o meu, nunca recorrendo ao “menino”.
O meu presente de aniversário é o livro da escritora inglesa Kate Williams sobre a vida de Josefina, mulher de Napoleão. Com a sua aguda visão, Rosa chama a biografia de manual de sobrevivência na selva. Originária da Martinica, por isso crioula, ela chega a Paris com 16 anos de idade, suas maneiras eram rudes, seus dentes enegrecidos pelo excesso de açúcar (seu pai era dono de engenho), além de não primar pela beleza física. Motivo da zombaria das aristocráticas francesas e de alguns homens, estes, apenas no início, pois logo os cativava. Ela sobreviveu naquele ambiente venenoso e alcançou o título de imperatriz da França, a mulher do mais poderoso homem do mundo.
Sem ser livro de autoajuda, essa biografia é muito mais convincente do que todos eles, não é, Rosa?
Li no jornal desta semana: “Só Deus sabe, disse a mãe para o filho, e o filho respondeu: Deus e o Google.” Isso posto, tentei ajudar a nossa amiga na descoberta do autor da frase que ela cita sobre a sanguinolência francesa, pesquisei até no Google e nada. Rosa, a mãe do garoto tem razão: só Deus sabe.
Teria sido o Calígula, o felino que esbarrou na sua mão enquanto escrevia o nome do filósofo?  Só sei que não foi o Cipião, recentemente falecido.
A expressão francesa de Diderot evocada pela nossa amiga, já traduzido por ela,l' espirit d' escalier, que significa não ter a resposta na ponta da língua, ou algo parecido, muitas vezes é provocado por lapsos de memória, às vezes por estar combalida depois dos 60 anos, embora estejamos encouraçados. Meu amigo e médico, Dr. Jeronymo, de 89 anos de idade, usa outra palavra em vez de encouraçados – curtidos.
Encouraçados e curtidos, vamos em frente.
Quanto ao Rádio Memória, todos os preparativos do titular do programa, Jonas Vieira, convergem para o centenário do Orlando Silva no dia 3 de outubro de 2015. Eu mesmo pretendo ajudar dentro do possível preparando-me para receber a visita do “Cantor das Multidões” na minha casa. Falando nisso, Rosa, ele morou no Cachambi, segundo o Luca, na Rua Marília de Dirceu, você sabe alguma coisa dele para ser rememorada?
Beijos, Rosa e muito obrigado pelo mimo.

-“As falhas são o tempero da refeição dos críticos. Por falar nisso, escreveu-se tanto sobre assovios e nenhum dos mencionados e laureados, falantes ou escreventes, lembrou-se de mencionar o Oscar do assovio, a Marcha do Colonel Bogey, uma composição de 1914 que se tornaria célebre na trilha sonora do filme A Ponte do Rio Kwai. A trilha do filme recebeu o Oscar, merecidamente, na humilde opinião deste distribuidor”.
Dieckmann
BM: O remetente se refere à edição 4941 deste periódico, que resenhou o programa Rádio Memória em que as atrações musicais, trazidas pelo Simon Khoury, foram músicas assobiadas por autênticos “bicos de ouro”, para usar a expressão do Jonas Vieira.
Quase ao mesmo tempo dessa carta, o Luca me telefonava para reclamar de uma história que omiti quando eu era um autêntico garoto assoviador, pois tinha 15 ou 16 anos de idade. Aqui vai a minha explicação: esse não foi o primeiro Rádio Memória, com assovios, que me levou a escrever uma resenha.  Eu tinha certeza que escrevera sobre essa música e, por isso, não quis repetir isso na edição citada pelo Dieckmann.
Constato, agora, que me enganei, que a trilha sonora da Ponte do Rio Kwai estava em outro contexto, no nº 3877 do Biscoito Molhado de 7 de janeiro de 2012. Na ocasião, eu falava do Luiz Mendes, do TV Rio Ring, que ele apresentava com o Léo Batista a que eu assistia na casa da minha avó e, mais tarde, na casa do Seu Dilmar, um vizinho alegre e divertido. As minhas reminiscências correram soltas e ainda correm.
Nós morávamos numa vila, a minha casa era a 20 e a do Seu Dilmar, 23. Havia duas saídas, uma delas era um beco que nos conduzia até a rua Americana. Os muros altos da nossa casa e a de nº 18 ladeavam esse beco. Um dia, eu assoviava a Marcha do Colonel Bogley, enquanto o Seu Dilmar rumava para a Rua Americana. Ele via o meu pai, mas não me via.
-Seu Amaury, quem está assoviando? - perguntou.
-É o Carlinhos.
-Carlinhos, vai assoviar mal assim na puta que pariu.
Essa é a minha história de assoviador fracassado.

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