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O BISCOITO MOLHADO
Edição
4933 Data: 28 de agosto de 2014
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MEMÓRIAS DE AGOSTO NO RÁDIO
2ª PARTE
-Bom-dia, David Ganc. -
saudou-o o Jonas Vieira.
O convidado do Rádio
Memória retribuiu as saudações dos anfitriões e enalteceu o programa em que
estava, porque valoriza a boa música, aquela que é eterna.
-Esse lixo que está na
mídia impede que as boas músicas apareçam. - rezingou o Jonas Vieira.
-Mas não vamos falar no que
o Pixinguinha chamava de “não música”, vamos falar da boa música que é tocada
aqui. - pediu o David Ganc.
-Vamos ouvir o quê?
Simon Khoury se interpôs.
-Ele gravou um disco com 14
músicas minhas...
-São minhas também. -
contrapôs o Jonas Vieira.
Simon Khoury preferiu
contar um momento na gravação do CD a discutir e revelou que não conseguia
entoar uma nota para o entendimento do David Ganc. Depois de muitas peripécias
que poderiam ser chamadas de “Em Busca da Nota Perdida”, foi interrompido pelo
titular do programa:
-David, qual é a sua
versão?
-São tantas notas que nem
me lembro mais.
Foi Simon Khoury que
apresentou a primeira atração musical:
-”Aroeira”, com arranjo
magistral de Vittor Santos, com 4 saxofones, 1 clarone, piano, baixo e bateria.
-Essa é a faixa de abertura
do disco, Simon?
-Não, o disco abre com uma
valsa ibérica, depois vêm uma toada, um chorinho...
Jonas Vieira se voltou para
o convidado:
-David, você tem vários CDs?
-Eu tenho 4 em meu nome,
são mais de 190 faixas gravadas com instrumentais.
-Você trabalhou muito com
Mário Sève? - inquiriu de novo.
-Sim; fizemos um trabalho
sério de resgate do Pixinguinha, não só em CD, como em 2 livros didáticos sobre
os contrapontos do Pixinguinha.
Coube ao Simon Koury pedir
a segunda atração musical do programa.
David Ganc achou melhor
fazer uma retrospectiva da sua carreira partindo do primeiro disco, “Baladas
Brasileiras” que foi lançado no Brasil e na França simultaneamente.
-Temos a sorte de ser
contemporâneos de um gênio, Hermeto Pascoal; eu fiz um arranjo para uma
composição dele, “São Jorge”.
Entrou no ar “São Jorge”
com a flauta reinando absoluta.
-Que fôlego! - abismaram-se
todos.
-Eu comecei a tocar flauta
porque fui um garoto muito asmático; então, obrigaram-me a fazer terapia com
esse instrumento. A terapia acabou, mas a música ficou.
Jonas Vieira fez uma brecha
para enviar demorados abraços para o Monarco, irmão e mais uma e outra pessoa.
Simon Khoury também aproveitou a brecha, transformada em recreio, para contar
mais uma das suas inúmeras histórias com o Carlão (o ator Carlos Kroeber), que
não podemos reproduzir porque há crianças na redação do Biscoito Molhado.
-”São Jorge” é uma
composição sua? - deu o Jonas Vieira a devida atenção ao convidado.
-Não, é do Hermeto; a
minha eu gostaria de mostrar
agora. Ela é do disco seguinte: “Caldo de Cana”.
Entra “Caldo de Cana” que,
na sua primeira frase musical, já agrada aos nossos ouvidos.
-Esse nome “Caldo de Cana” por quê? - quis saber
o Simon Khoury.
E ele logo esclareceu:
-Fiz uma homenagem ao “Zé
da Flauta”; e também é uma homenagem ao nordeste com seus vários artistas. Essa
minha música saiu de harmonias contemporâneas misturadas com a influência
nordestina.
Simon Khoury interrompeu a
digressão do David Ganc sobre a riqueza musical dessa região do Brasil, com uma
pergunta:
-Qual a diferença entre
pífaro e pífano?
-Nenhuma.
-A ignorância atravanca o
processo. - alfinetou o Jonas Vieira seu parceiro.
-Pífaro ou flauta? - voltou
à carga o Simon.
-São timbres diferentes,
mas eu gosto de dizer que toco pife.
-Pífaro é a flauta
nordestina.
-Isso, Simon.
Nesse momento didático e
descontraído, Jonas Vieira interveio em tom sério.
-Vou pedir licença ao David
para homenagear uma das maiores cantoras brasileiras, Aracy de Almeida. O
centenário do seu nascimento é neste mês, e ela foi homenageada num show em São
Paulo que teve gente “saindo pelo ladrão”. Aqui, no Rio de Janeiro, que é o
berço dela, nada. Passa em brancas nuvens.
E quebrou a sua justa
indignação voltando-se para o Simon Khoury:
-Você tem uma história com
a Aracy de Almeida.
-Não dá para contar.
Para o Simon se conter, a
coisa deve ser do arco da velha.
E Jonas Vieira retornou à
seriedade.
-Devemos a Araci o
ressurgimento de Noel Rosa, que andava maio esquecido. Vamos ver se aqui, no
Rio, alguém se anima e preste a homenagem que ela merece.
Isso posto, ouvimos a Aracy
de Almeida cantando “Pela Décima Vez”, uma das 300 criações inspiradas do Noel
Rosa.
Em seguida, agradeceu ao
Fernando Milfont por ter cedido o tempo da sua crônica para que a cantora fosse
lembrada.
-E agora, David?
-Seguindo a Araci... na
mesma época, anos 40 e 50, o maior violonista brasileiro era o Garoto.
Então, David Ganc aludiu ao
disco em que ele reverencia Tom Jobim com a ideia de mesclar as criações do
grande compositor com flauta, cordas e percussão.
-A primeira música que
gravei foi “Garoto”, uma homenagem do Tom Jobim a ele.
Depois de ouvida a dupla
homenagem, do David Ganc a Tom Jobim e deste a Garoto, Jonas Vieira exclamou:
-Que beleza!
-É lindo misturar Tom Jobim
com o um quarteto de cordas (no caso, o Quarteto Guerra Peixe).
Simon Khoury quando não
conta um caso, pergunta, e, dessa vez, perguntou:
-A flauta é mais difícil do
que o saxofone?
-São dois instrumentos
difíceis. Eu levei vantagem porque comecei com a flauta e, depois, o saxofone.
As embocaduras são bem diferentes, e quem começa com o saxofone sai
prejudicado.
-Você chama os músicos para
uma gravação, e eles não perguntam quanto vão ganhar, trabalham por prazer,
creio que até de graça se for o caso. Há uma exceção, cujo nome não dirá. -
manifestou-se o Simon Khoury.
-E agora, David?
-O meu próximo disco, com o
Mário Séve, é uma homenagem ao Pixinguinha. Nós revivemos a dupla que ele fez
com Benedito Lacerda. Trata-se de uma música bem alegre, “Seu Lourenço no
Vinho”.
O vinho podia ser “Sangue
de Boi”, mas Pixinguinha, com o seu talento, o transformou num “Chateau
Margaux”. E David Ganc demonstrou
todo o seu virtuosismo como flautista.
Após a última nota ou gole
do “Seu Lourenço”, David Ganc destacou a participação do Jorginho do Pandeiro.
-Foi do conjunto Época de
Ouro, tocou com Dino Sete Cordas. - acrescentou o Jonas Vieira.
Então, o Simon Khoury
abordou o convidado com uma elucubração:
-David, vamos supor que uma
mulher riquíssima, com casa nas ilhas gregas, prometesse sustentá-lo por toda a
vida desde que você largasse a música, o que você faria?
-Eu odeio a Grécia e amo a
música. - foi a resposta.
-Como você faz uma pergunta
com tal besteira? Você é um boboca. - irritou-se o Jonas Vieira e parecia que a coisa era séria.
-Você não pode falar
palavrões no ar. - censurou-o o Simon Khoury.
-Eu não disse palavrão, eu
disse que você é um boboca.
-Eu entendi babaca.
-É um babaca mesmo.
Deus do céu! Cadê o Sérgio
Fortes para desapartar?
Como os dois brigam há 50
anos, segundo o próprio Sérgio Fortes, a rusga foi logo contornada. Jonas
Vieira passou a falar do verdadeiro circo dos horrores na atual campanha
eleitoral, citando alguns dos nomes mais estrambóticos dos 25.366, candidatos
para arrematar com a solicitação que todos os eleitores devem exercer
conscientemente o seu direito do votar, evitando votos nulos e em branco que só
auxiliam os corruptos.
Encerrado o minuto
eleitoral, voltou-se para o seu convidado.
-Vamos fazer uma homenagem
a um amigo... disco que gravei nos anos
80, quando se iniciou a minha carreira.
O amigo era o Nando
Carneiro, que na gravação a ser ouvida -disse – tocava violão e Mingo Araújo,
percussão.
-A música instrumental, que
não tem letra, às vezes diz mais do que um poema, porque o ouvinte pode levar a
imaginação para onde quiser. - disse orgulhoso da obra que acabara de ser
tocada.
-Qual é o nome?- quis saber
o Jonas Vieira.
-”O Peregrino”, autoria do
Nando Correia. - respondeu.
-A pergunta seguinte, ele
dirigiu ao Simon Khoury, uma temeridade.
-Quem é o nosso operador,
Simon?
-Ele é gostoso... O Bolinho
de Arroz.
-E para encerrar, David?
-Vamos voltar ao S.
O “S” era de Simon
Khory e ao CD que dera início à
programação musical desse Rádio Memória de 24 de agosto de 2014.
Confirmando o que o
proeminente convidado dissera sobre a música instrumental, que instiga a
imaginação e leva a pessoa para onde ela quiser, Simon Khoury declarou que fora levado para a Noruega com o Carlão e, por isso,
chamou essa composição de “Cu de Foca” (sic).
O Rádio Memória se encerrou
com o David Ganc, atendendo ao pedido do Jonas Vieira sobre os seus discos,
onde são encontrados:
-www.davidganc.com.br
-E na Arlequim. -
acrescentou o Simon Khoury, encerrando-se o programa antes que ele contasse
mais uma história do Carlão.
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