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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4943 Data: 10 de setembro de 2014
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ASSOVIOS NO RÁDIO MEMÓRIA
PARTE II
Antes de seguirmos na nossa narrativa,
queremos nos reportar ao causo contado pelo Simon Khoury, na primeira parte,
sobre as vacas que foram atiradas para fora do avião em que viajava uma trupe
de artistas, enquanto sobrevoava a floresta amazônica. Também jogaram vacas de um avião, nesse caso,
no Extremo Oriente e uma delas vitimou uma moça, num barco, no momento em que
era pedida em casamento. Mote para uma joia do recente cinema argentino, “Um
Conto Chinês”.
-Rádio Roquette Pinto 94.1 FM. Programa
Rádio Memória. - localizou os ouvintes o Jonas Vieira que, segundo o Sérgio
Fortes, é advertido por ele porque se esquece de dizer isso.
-Hoje, com a seleção trazida pelo Simon
Khoury.
Ele, que cresceu consideravelmente no
meu conceito, ao me dedicar a “Marcha Turca”, de Mozart, arregaçou as mangas:
-A próxima atração é o grande Laurindo
de Almeida, um compositor que gravou mais de mil trilhas sonoras de filmes nos
Estados Unidos. Lá, ele mostrou também gravações de chorinho.
E foi ao ponto:
-Laurindo de Almeida fez uma gravação
bonita de “Garota de Ipanema”: violão e assobio.
Jonas Vieira, empolgado com a música que
ouvira, chamou o Laurindo de Almeida de gênio que foi para os Estados Unidos e
seguiu adiante com o grande artista:
-Laurindo de Almeida gravou uma peça do
Radamés Gnattali e enviou para ele. Radamés, gentilmente, me deu de presente e
eu emprestei a um amigo que nunca mais me devolveu.
Ao lamento do Jonas Vieira seguiu-se o
do Simon Khoury:
-Eu quero pedir ao Egberto Gismonti que
me devolva uma entrevista lindíssima que o Nélson Cavaquinho me concedeu.
Logo, contou uma parte dessa entrevista,
em que o genial sambista lhe disse que morreria à meia-noite, numa sexta-feira
e que, sempre nesse dia e hora, se preparava para receber a “indesejada das
gentes”, como dizia o poeta Manuel Bandeira.
Mas o Simon Khoury não parou por aí:
-Jaguar, me devolva a fita do Milton
Nascimento. Eu ficaria tão grato.
-Só se você der um porre nele. -
interveio sadicamente o Jonas Vieira.
-Como ele agora, Simon, toma cerveja sem
álcool, vai ficar mais difícil ainda. - acrescentou.
Aproveitando que foi aberta a seção de
reclamações, nós, do Biscoito Molhado, pedimos ao Dieckmann que, por gentileza,
nos devolva um documentário americano de 60 minutos de duração sobre as dez
maiores marcas de carro de todos os tempos. Lá estão o Ford Mustang e o Dodge
Charger do filme Bullit, que citamos uns dois Biscoito Molhado atrás. (*)
Fazendo coro ao Jonas Vieira e ao Simon
Khoury:
-Devolva.
Ah, sim, quase esqueci que o Dieckmann
também está, há séculos, com o Dicionário Sefaradi de Sobrenomes do revisor
deste periódico, o Elio, o nosso olho de lince que vê erros até do tamanho de
uma vírgula. (**)
De novo, os momentos luminosos do Rádio
Memória, a música.
-Agora, Debussy. Gostou da pronúncia,
Simon? - provocou.
-Muito afrescalhada. - rebateu.
Depois de uma rápida polêmica sobre a
afrancesada ou afrescalhada pronúncia de Debussy, foi apresentada a sua criação
mais popular “Clair de Lune”; peça que deixava a nossa maior novelista tão
enlevada, que nela se inspirou para a confecção do seu sobrenome: Janete Clair.
Bem, Jonas Vieira e Simon Khoury
dedicaram tanto tempo para pronunciar o sobrenome do autor, que não consegui
entender direito o nome de quem assoviou, falha nossa também, reconhecemos, que
cada vez mais entendemos errado as palavras estrangeiras (as nacionais em menor
grau). Teria sido Pierre Chateau? Vá lá Pierre Chateau, pois, nessa questão,
nem o Google nos ajudou.
“Um autêntico bico de ouro”.
Concordamos inteiramente com o Jonas
Vieira; ele seria um canário belga caso não tivesse nascido na França.
Veio a “Pausa para Meditação”, do
Fernando Milfont, sobre sua atração pelas bandas, intitulada “Hinos”. Tudo a
ver com o dia 7 de setembro.
Na volta, foi a vez de o Jonas Vieira
fazer a “Pausa nos assobios”, para pôr no ar a Banda Filarmônica do Rio de
Janeiro sob a conduta de Antônio Henrique Seixas, que já esteve no Rádio
Memória levado pelo Sérgio Fortes. Ouvimos, então, não um dos hinos citados
pelo Fernando Milfont, mas o chorinho “Delicioso”, de Severino Araújo, que faz
justiça ao título.
De novo, os assovios.
Imaginei que viria, agora, Sílvio Silva,
o “Garoto Assobiador”, que tanto êxito alcançou nas décadas de 50 e 60, mas
não; Simon Khoury não foi tão simples assim, tanto que escolheu uma peça
musical e, em seguida, desafiou o Jonas Vieira:
-Quem é o autor? Quem interpreta? E qual
o nome da valsa?
Revivia, assim, os seus tempos da Rádio
Jornal do Brasil quando, vez ou outra, lançava essas charadas para os ouvintes
decifrarem. Meu irmão até hoje se queixa
de ter acertado uma delas e ganhado, de presente, uma viagem na Challenger, o
ônibus espacial que explodiu em 1986.
Se o Jonas Vieira não soube responder,
imagine o caro leitor nós, por isso, passemos para a próxima atração.
-Agora, para vocês, o tema do penúltimo
filme da Catherine Deneuve.
Simon Khoury fez, então, a resenha do
filme, dizendo o seu nome “Potiche”.
E ouvimos o tema do filme num assobio
afinadíssimo de um francês chamado Pierre.
-Qual é o nome do filme, Simon?
-Esqueci.
Foi a vez do Jonas Vieira se vingar:
primeiramente riu, depois disse que ele não sabia nem que estava na Rádio
Roquette Pinto e que o redator do Biscoito Molhado devia estar se divertindo.
Sendo sincero, diverti-me muito mais num
Rádio Memória em que o Dieckmann anunciou uma peça instrumental e nós ouvimos o
vozeirão de um cantor (***). Além do mais, Simon Khoury, depois de me dedicar a
“Marcha Turca”, de Mozart, está perdoado de tudo, até de enviar meu irmão ao
voo da Challenger.
Apesar de o número musical seguinte ser
assobiado, quem o apresentou foi o Jonas Vieira:
-Agora, o lindíssimo “El Condor Pasa”;
música tradicional da América Latina, do Peru.
-Os americanos se meteram, mas a música
é latina. - assinalou com alguma veemência o Simon Khoury, aludindo,
provavelmente, a versão de Simon & Garfunkel de 1970.
-E aí, Simon?
-Vamos fechar com o maior compositor
vivo do mundo; compôs mais de 400 trilhas sonoras para o cinema e não recebeu
Oscar algum, mas ele não dá a mínima bola para isso. Chama-se Ennio Morricone.
Ouviremos “Por Uns Dólares a Mais”.
Simon Khoury não exagerou, foi até
comedido; na verdade, Ennio Morricone foi responsável pela composição e arranjo de mais de 500 filmes para o cinema e a televisão.
Foi o fecho de ouro das obras musicais
assoviadas, porque o Jonas Vieira ressaltou o centenário do Orlando Silva, que
acontecerá em 3 de outubro de 2015, e pediu o samba-canção “Coqueiro Velho”, de
Fernando Martinez Filho e José Marcílio, gravação de 1940.
Depois, foi enfático:
-Os centenários de grandes artistas têm
passado em branco ou estão passando em branco...
-Este é o ano do centenário do Lupicínio
Rodrigues e não é festejado. - aparteou o Simon Khoury.
-Com o Orlando Silva, isso não vai
acontecer porque eu não vou deixar. - assegurou o Jonas.
E encerrou o Rádio Memória da
Independência com o costumeiro abraço aos senhores ouvintes.
(*) O
Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO tentou, em vão, localizar o Dieckmann,
que não respondeu a nenhuma das mensagens enviadas. Parece que a devolução não
ocorrerá, talvez devido ao excesso de fungos que há em Santa Teresa.
(**) O
Distribuidor se lembra deste caso. O Dieckmann entregou o livro,
interessantíssimo, por sinal, a alguém, que sumiu.
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