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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4942 Data: 09 de setembro de 2014
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ASSOVIOS NO RÁDIO MEMÓRIA
PARTE I
-Hoje, não temos Sérgio Fortes.
-Mas temos Simon Khoury. - ouvimos o
próprio com a sua inconfundível voz roufenha.
Com a ausência anunciada pelo Jonas
Vieira, viu-se obrigado a se pôr no papel de Homem-Calendário, porque não podia
deixar de aludir à independência do Brasil no dia 7 de setembro.
-Dom Pedro deu o grito de “Independência
ou Morte” às margens do Ipiranga.
Não quis se alongar no tema, por isso
preferiu a versão oficial que Pedro Américo consolidou na sua famosa pintura.
Deixou para lá a crua realidade, que Dom Pedro montava uma mula, alimária bem
mais resistente do que um cavalo e que sofria de diarreia. Tinha pressa de
anunciar a atração do programa:
-Simon Khoury trouxe 200 músicas do
mundo inteiro que têm o assovio como instrumento.
Já houve um Rádio Memória assoviada do
princípio ao fim, há uns dois anos; também me lembrei de ter escrito, na
ocasião, sobre a minha frustração de não ter embocadura para assoviar e sim,
boca dura. E aludi, na ocasião, ao interessante documentário a que assisti, na
TV a cabo: o Campeonato Mundial de Assobio, que ocorre todos os anos em
Louisburg, Carolina do Norte. Vale nos determos por alguns parágrafos nesse
festival de onde sai o “Campeão Mundial de Assobio”.
O começo se deu em 1973, quando um
concorrente do festival de música, anterior ao campeonato, pediu aos juízes
para assoviar a sua composição em vez de cantá-la. O êxito foi tamanho que o
evento anual se tornou a Convenção Nacional de Assobiadores os Estados Unidos.
Muitos participantes bebem água gelada
minutos antes de subir ao palco porque – dizem – o gelo contrai o tecido
labial, tornando o som mais agradável e suave, permitindo que o ar flua correntemente.
Evitam, por outro lado, selinhos, bitocas, beijos, principalmente os
desentupidores de pia, porque deixam os lábios moles.
A grande vencedora de 2013 foi uma
adolescente de 14 anos, a japonesa Marina Kato, que sempre assoviava enquanto
fazia as tarefas escolares. Como se estuda muito no Japão, ela assoviou por
muitas horas até que se tornou invencível nesse ano em Louisburg.
Fechados os parênteses, voltemos, agora,
para o Rádio Memória.
-Que novidades teremos dessa vez?...
A curiosidade do titular do programa não
era menor do que a dos ouvintes.
-Qual é a primeira, Simon?
-Para não entrar em detalhes, para não
parecer majestoso, vamos lá.
Fez uma pequena introdução sobre o
autor, o romeno Wladimir Cosma, cujo sobrenome lhe lembrava Joseph Kosma, que compôs
a inspirada “Folhas Mortas”.
Depois da última nota assobiada, voltou
o Simon Khoury.
-Que tal, senhores ouvintes? Essa
seleção de músicas que o Simon Khoury trouxe não toca no Brasil nem que uma
vaca cante ópera.
É verdade que Machado de Assis escreveu
sobre baleia (ou seria elefante?) com rouxinol na garganta, na ópera, mas era
também uma metáfora.
Como o Rádio Memória não é musical de
ponta a ponta, também é uma tribuna, Simon Khoury reclamou dos serviços dos
Correios, “uma das poucas coisas do governo que funcionava”. Logo, Jonas Vieira
se juntou a ele, reclamando da demora da entrega de dois livros que enviou de
Laranjeiras a Copacabana.
Para descontrair, mais assovios.
-Agora, um compositor que nós amamos de
paixão, Luiz Bonfá: “Samba do Assobio”.
-Ele e a Maria Helena Toledo. -
seguiram-se as palavras do Jonas Vieira às do Simon Khoury.
Após a gravação, os dois falaram deste
periódico, enviaram-me demorados abraços e nós, penhorados, agradecemos. Simon
Khoury foi além e nos dedicou o próximo número musical, nada mais nada menos do
que a “Marcha Turca”, de Mozart, assobiada por um húngaro, cujo nome não
escreveremos para não errar, só conseguimos escrever corretamente o nome dos
jogadores da seleção magiar de 1954.
Que fôlego! Parecia o Jean-Pierre Rampal
ou o Altamiro Carrilho tocando flauta. A homenagem do Simon Khoury foi
caprichada.
Então, o Simon Khoury contou o primeiro
causo do dia que, veremos, em seguida, serviria de introdução para a próxima
música. Tratava-se de um voo de uma trupe de artistas para Manaus em que se
encontrava o ator Hélio Ary. Os
artistas, muito medrosos, ficaram ainda mais assustados quando embarcaram duas
vacas e um piano de cauda. Quando sobrevoavam a floresta amazônica, segundo o
narrador, um dos motores da aeronave pegou fogo. As duas vacas foram atiradas
para fora do avião. No meio do pânico, uma atriz lindíssima da peça se
sobressaía pelos seus berros, foi quando o Hélio Ary avistou uma tabuleta.
Disse o Simon Khoury que, tentando tranquilizar seus colegas, apontou para essa
tabuleta e gritou: “Calma, gente, neste avião, John Wayne filmou “Um Fio de
Esperança”. Alguém perguntou: “De quando é esse filme?” “De 1953.” - respondeu
o Hélio Ary; e o sujeito caiu duro.
Agora, a entonação da voz do Simon
Khoury não era de contador de causos.
-Eu quero mostrar para vocês a música da
trilha sonora do “Um Fio de Esperança”, que se chama “The High and Mighty”.
- Dimitri Tiomkim, com a orquestra de
Lester Young. - acrescentou o Jonas Vieira.
Sem mais delongas, diria o Sérgio Fortes,
se lá estivesse, ouvimos a bela “The High and Mighty” soprada com a mais
refinada arte. (*)
(*) No filme,
John Wayne assovia a música.
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