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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4231 Data: 16 de
julho de 2013
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INVERTERAM-SE OS PAPÉIS NO SABADOIDO
PARTE II
Recebi o Luca, enquanto o Claudio dava
cabo da laranja que descascara sobre o prato.
-E o Elio, Luca, que sumiu?
-Pois é, Carlinhos, eu já me preocupo.
Estará doente? Viajou?...
-Ele faz falta, tem um olho de lince
para descobrir erros do Biscoito Molhado.
-E o Dieckmann não revisa?
-Só quando ele é protagonista. (*)
Escrevi que os meus pais, casados, só assistiram ao filme “Uma Noite Sonhamos”,
pulei “pais”, na redação e ele divulgou assim mesmo. Ora, quando nós
escrevemos, o nosso cérebro já processa palavras que ainda não digitamos, ele
vai à frente. O Elio é ótimo para pegar esses deslizes.
-Por que você não telefona para ele? -
sugeriu.
-Enviei um e-mail para o Dieckmann que,
por sua vez, repassou para o webboteco (a rede de amigos), mas as respostas não
foram esclarecedoras, só galhofeiras.
Nesse instante, meu irmão apareceu.
Julguei que fosse falar do fusquinha que pretende comprar, haja vista que o
Luca completou bodas de prata com um, de chapa SW 3200, até trocá-lo por um
mais novinho, e pelo fato de os dois já terem conversado sobre o sonho de
consumo do meu irmão, mas não, o assunto foi jogo de bicho.
-Claudiomiro, meu pai, se vivo fosse,
faria 104 anos.
Embora eu não faça minha “fézinha”, sei
que, para um jogador, não estão envolvidos apenas os três algarismos citados,
como data de nascimento e outras, por isso, o Luca inverteu no milhar, além da
centena.
-Ganhou? - teve curiosidade meu irmão,
além de mim.
Luca disse o valor que abiscoitou, não
tal elevado quanto a data do aniversário do Chico Buarque, mas compensador.
Depois, passou a falar do jogo de
pingue-pongue.
-Você vem jogando com fratura por
estresse na perna?- abismei-me.
-Estou jogando, Carlinhos.
Será que os seus críticos, que dizem que
ele olha para os seus incômodos físicos com os olhos no telescópio Hubble estão
certos? - perguntei-me.
-O Carlinhos ainda escreveu que, se você
não destrói aquilo que ama, aquilo que ama o destruirá. - lembrou.
-Sim, o Cassius Clay obtivera o que
todos julgavam impossível: derrotar o George Foreman no Zaire. Por amar o boxe,
continuou no ringue, mesmo sentindo o peso da idade, foi espancado até pelo
ex-sparring dele, o Larry Holmes, e isso contribuiu com a doença dele.
-O Éder Jofre parece que está com o Mal
de Alzheimer. Muito soco na cabeça. - acrescentou meu irmão.
-Soubemos depois que a morte da sua
mulher, há dois meses, Maria Aparecida, o fez baixar a guarda, segundo o filho
dos dois.
E o tema mudou:
-Essa ECAD, que não recolhe como devia
os direitos... - comentou o luca meio reticente, reportando-se talvez a um
e-mail que eu lhe repassei que chamava me múmias artistas, como Caetano Veloso e
Roberto Carlos, que se deixaram fotografar ao lado da presidente da República e
da ministra da Cultura, “em busca de migalhas do banquete da corruptíssima
ECAD.”
-Você leu, Luca, que, na Câmara dos
Deputados, o Caetano Veloso reclamou porque nenhum político prestava atenção
no orador e a promotora cultural Paula
Lavigne o chamou à realidade: “Caetano,
aqui não há plateia, todos são artistas”?
Luca sorriu, enquanto eu pensava que não
era só na Câmara dos Deputados.
Passamos para outra leitura do jornal, dessa
vez a página inteira do segundo caderno do Globo, do dia anterior, dedicada à
Ingrid Bergman.
-É um livro de fotografias dela. -
interveio a Gina, que retornara da sua rápida saída à rua.
-Numa das fotografias mostradas no
Globo, ela ainda adolescente. Lindíssima.
-Meu comentário contagiou o Luca.
-Ela está deslumbrante no “Casablanca”,
não havia mulher mais bela no cinema.
O espírito polemista do meu irmão logo
aflorou:
-Espera lá, Luca: houve atrizes tão
bonitas quanto ela, Grace Kelly, Kim Novak.
Luca voltou-se para mim em dúvida:
-Kim Novak atuava em 1942?
As duas atrizes citadas pelo Claudio
eram de uma geração posterior à musa sueca, mas meu irmão tinha na memória uma
galeria de beldades do cinema e citou a primeira:
-Paulette Goddard.
-Eu pensei na Hedy Lamarr, que me
visitara recentemente, mas sem me manifestar, pois considero discussões sobre a
beleza uma espécie de enxugamento de gelo.
Felizmente, a polêmica não rendeu porque
a Gina se reportou a uma reportagem que versava a saúde, especificamente em
chegar aos 100 anos com qualidade de vida.
-Eu não acredito em nada disso. -
atalhou ela.
-Eles falam que uma coisa faz bem hoje, amanhã
dizem que faz mal. - disse o Luca.
-O ovo era o vilão do colesterol, agora
foi reabilitado. - exemplificou a Gina.
Pensei no Brito, um corpulento jogador
de futebol, que foi considerado o mais saudável da Copa do Mundo de 70, que
declarava que comia dez ovos por dia, desprezando os conselhos do médico Lídio
Toledo, que lhe falava, apreensivo, dos malefícios desse alimento.
-Algumas coisas nós sabemos que faz mal,
como o cigarro. - declarou o Luca.
Novamente aflorou o espírito polemista
do meu irmão.
-O Zanela, que trabalhou com o
Augustinho (seu sogro) bebia muito e fumava como uma chaminé, no entanto,
passou dos 90 anos com saúde.
-Claudio, isso é exceção que confirma a regra.
- contemporizei.
-Deixei de fumar, depois de 38 anos de
tabagismo, por medo, porque apareceram problemas na minha garganta, mas sinto
saudades. Certa vez, no avião, pedi para ficar na ala dos fumantes para sentir
o cheiro.
-O cigarro só faz mal.- bradou a Gina, a
única do quarteto que sempre foi avessa a cigarro.
E prosseguiu:
-Trabalhei na Sousa Cruz e via aquelas
máquinas com os resíduos da nicotina, era uma cena de filme de terror.
-Eu confesso que comecei a fumar com 13
anos de idade por causa do cinema.
-Vendo as tragadas do Humphrey Bogart, Carlinhos.
- permeou com risos suas palavras o Luca.
-Parei de fumar, depois de tantos anos,
embora o cigarro não me fizesse mal.
Chamei meu irmão à realidade:
-Você parou de fumar depois de um acesso
de soluço que durou todo um dia.
-Esses soluços nada tinham a ver com os
cigarros.
-Há estudiosos que garantem que o Saci-Pererê
não tem uma perna por causa do cachimbo que fuma. - argumentei.
Com a chegada do Daniel, o clima do
Sabadoido ficou descontraído e, assim, foi até o seu final.
(*) O olho de
lince fêmea do Elio é inigualável. O Dieckmann exerce a condição de revisor
depois que o Windows aponta, aqui e ali, incorreções. Dificilmente detecta
erros que passam pelo corretor, seja ou não, protagonista. - Em relação, entretanto,
às baboseiras que o redator do seu O BISCOITO MOLHADO escreve a meu respeito,
ressalva Dieckmann, aí presto atenção para não deixar o passado como o redator
quer e sim como foi. Dito isso, pediu ao Distribuidor que prestasse mais
atenção ao texto, para não deixar o leitor na mão.
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