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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4217 Data: 27
de junho de 2013
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A MÃE DA RÁDIO FM E DO SIMON KHOURY
Quando o Jonas Vieira anunciou mais um
programa com o Simon Khoury, logo me assanhei prevendo que mais casos com
celebridades do mundo artístico seriam contados, ainda mais quando o Sérgio
Fortes interveio para falar da grande repercussão do programa no domingo
passado, porém o titular do programa assinalou que tratariam, ali, da
introdução das frequências moduladas nas nossas emissoras. E a mãe do Simon
Khoury, Anna Khoury, foi o nome fundamental para esse avanço na radiofonia
brasileira.
Jonas Vieira se reportou à grande
amizade que nutriu por ela, houve piadas de que foi mais do que a amizade, mas
Simon Khoury retrucou com a impotência do amigo. Depois desse momento de
descontração, passaram à seriedade que a história exige.
-Anna Khoury fez uma rádio FM com
música instrumental apenas. - acentuou o titular do programa.
-Mamãe não queria aqueles anúncios: “Casas
Bahia!...” Coisa horrorosa, que ferem os ouvidos. Ela queria os reclames
musicados e, assim, juntamente com Radamés Gnatalli, criou inúmeras vinhetas.
Jonas Vieira pediu a primeira música a
ser ouvida naquele “Rádio Memória” ao filho da Anna Khoury. A gravação era
“Valsa das Fores”, que, informou ele, com a orquestra de um dos maridos da Lana
Turner. Não sei por que, mas sempre que falam nos consortes da atriz que, somados
com seus amantes, enchem um estádio de futebol, vem-me logo à mente o gangster
Jonnhy Stompanato, talvez por ter sido esfaqueado até a morte pela enteada
quando surrava a sua mãe.
Ouvido
o último compasso ternário, Simon Khoury investiu contra as “titicas” que,
hoje, são chamadas de bandas. Sérgio Fortes e Jonas Vieira teceram loas às
orquestras do passado, o convidado do programa aludiu às boas músicas
instrumentais que, no exterior, ainda são compostas e revelou o quanto está
apavorado com a atual situação da música popular brasileiro.
Na verdade, neste mundo globalizado, o
Brasil escancarou as portas para o lixo musical que vem do estrangeiro, não
bastasse o nosso, que não é pouco.
Mas o assunto do Rádio Memória era Anna
Khoury e a sua importância em amplitude modulada e, principalmente, em
frequência modulada. Assim, Simon Khoury seguiu com seu depoimento.
-Quem ajudou muito mamãe foi Tancredo
Neves.
Em seguida, ele passou do ministro da
Justiça do governo Getúlio Vargas para o presidente Eurico Gaspar Dutra.
-Eurico Gaspar Dutra vinha almoçar com
a mamãe, em Copacabana, vindo a pé de Ipanema. Hoje, os deslocamentos são de
helicópteros. Papai recebia o presidente de pijama.
Enquanto Jonas Vieira e Sérgio Fortes
riam, nós assinalamos que o seu pai se chamava Michel Khoury, destacado criador
de peças em metais preciosos. Depois, Simon Khoury falou da simplicidade do
presidente da República e o Jonas Vieira da influência que Dona Santinha, a
Carmela Dutra, exercia sobre o marido.
-Ela era muito religiosa, fez com que
ele acabasse com o jogo...
-Entre muitas outras bobagens...
Esses e outros comentários sobre o
casal foram feitos pelo trio até que Jonas Vieira informou que ela entregava
papéis que o presidente assinava sem ler. Lembrei-me, então, de um conhecido
que investia em ações na extinta Corretora Caravello, dizendo que o Largo da
Carioca era chamado pelos populares de “Balaio da Dona Santinha”.
Segundo Edoardo Pacelli (depois
falaremos mais dele), Anna Khoury, pelos esforços envidados, recebeu o direito
de possuir sua própria emissora, ainda em AM e, para coroar seu sonho dourado,
denominou “Rádio Eldorado”.
-Mamãe combinou com Gilberto Martins
que os anúncios seriam em vinhetas, com eu já disse.
-A Rádio Eldorado foi um “boom”. -
interveio o Sérgio Fortes.
-A Rádio Eldorado só perdia para a
Rádio Nacional.
E o filho tinha toda razão de se
orgulhar da mãe, pois a Rádio Nacional tinha toda a força do governo federal
por trás dela.
-E, agora, musicalmente, Simon Khoury?-
cobrou-lhe Jonas Vieira.
-Aprendi a mexer com a internet. - foi
a sua introdução antes de anunciar a próxima gravação.
-E tenho descoberto muitas coisas. -
acrescentou.
Assim, fez a ligação da valsa com
banjo, que fora ouvida no programa passado no Rádio Memória com o compositor do
filme “Românticos Anônimos”, Pierre Adenot.
-Ouçam como ele gosta da nossa música,
é pura Bossa Nova.
Sim, ali estava as batida da Bossa
Nova, com uma bela melodia e harmonização que o Sérgio Fortes e o Jonas Vieira
exaltaram.
Então, voltou-se a falar do grande
passo dado na radiofonia brasileira pela Anna Khoury.
-Então, a Rádio Eldorado se transformou
na Rádio Imprensa. - disse o Jonas Vieira.
-Mamãe fez bobagem. Para levar a Rádio
Eldorado para São Paulo, ela entrou em sociedade com um diretor do Estado de
São Paulo de 18 milhões, ficando com a metade. Esse diretor passou a metade das
ações ao Herbert Levy...
Simon Khoury não se deteve nas
patranhas dessas sociedades em que as raposas, através de subscrições esmagam
o(s) sócio(s) menos endinheirados para alijá-lo(s) do negócio. Foi o golpe
baixo que deram na Anna Khoury.
-Com o dinheiro que restou, o que fez
mamãe?... Viajou pelo mundo e retornou com uma novidade: a rádio FM. Era uma
rádio sem estática.
Nesse instante, eu relembrava a minha
agonia para ouvir a Rádio Ministério da Educação, principalmente nas
transmissões das óperas do Teatro Municipal. Emissora que melhorou bastante com
o ministro Sérgio Motta, justiça seja feita.
Mas prossigamos com o valioso
depoimento:
-Ela procurou Assis Chateaubriand, que
gostou dela, mas considerou que era desequilibrada emocionalmente. Mamãe
procurou, então, Nascimento Brito. Nada. Roberto Marinho. Nada. Então, sozinha,
ela fundou a primeira rádio FM da América Latina.
-A Rádio Imprensa. - antecipou-se o
Sérgio Fortes.
Como se trata do depoimento do seu
filho, vamos repercutir um trecho de uma página do Edoardo Pacelli.
“... Quem nasceu pioneira, todavia, não
pode se render a uma derrota (a rasteira dos sócios, registro nosso). Aceitando
o desafio, fundou, em janeiro de 1955, a Rádio Imprensa, a primeira emissora em
modulação de frequência do País e, como
sentia que sua tarefa era a de inovar, criou o serviço de música ambiente, que
permanece no ar 24 horas, funcionando por assinatura, como canal privativo
irradiado simultaneamente na mesma banda da emissora principal. Aí nasceu o
primeiro serviço de teledifusão por assinatura: os receptores eram locados a
clientes que ouviam música no ambiente de trabalho”.
Continua
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