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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4229 Data: 13 de
julho de 2013
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GÊMEOS ATÉ NA VOZ
PARTE II
E o duo Santoro prosseguiu proseando:
-Piazzolla é um argentino de que todos
os brasileiros gostam. O único, aliás.
-Temos agora o papa. - lembrou o Sérgio
Fortes.
-Você fecha os olhos, quando José
Staneck toca e parece que ouve um bandoneón. É incrível o que ele faz com a
gaita. - ressaltou Paulo Santoro
-E o que vocês gravaram com José
Staneck? - atalhou Sérgio Fortes.
-”Primavera Portenha”.
Eu ouvia e me lembrava do programa
“Sala do Concerto”, do Lauro Gomes, das sextas-feiras, às 17h, na Rádio MEC, em
que eles foram anunciados para uma programação de uma hora com o repertório de
Astor Piazzolla, somente. O tempo era assustador, naquele dia, com o céu
carregado e a ameaça de mais uma enchente no Rio de Janeiro, porém, eles se
fizeram presentes, mais ainda quando começaram o concerto, que até afugentou as
nuvens negras.
-Acabamos de ouvir “Primavera Portenha”,
de Astor Piazzolla com o Duo Santoro e José Staneck. - fez-se o Sérgio Fortes
de Jonas Vieira, ou mesmo, de Roberto Dieckmann.
Lembraram os gêmeos a seguir o pai:
-Sandrino Santoro fez mais de duzentos
alunos, ainda faz até hoje. Mas o que ele fez bem foi filhos.
Sérgio deu uma risada de aprovação à
autoestima dos violoncelistas.
-Temos um irmão mais novo sete anos, Sávio
Santoro, que toca e divulga a viola sinfônica, e exporta alunos. É o orgulho da
família.
Se Ricardo e Paulo Santoro não
enfrentaram o contrabaixo, e sim o violoncelo, porque aprenderam a tocar com 4
anos de idade, imaginei que o caçula
aprendeu bebê, pois ficou com a viola em vez do violoncelo.
-E agora? - pediu mais música aquele
que forma um duo com o Jonas Vieira, e, às vezes um trio com o Dieckmann, ou
com o Fernando Borer, ou com o Luzer.
-Vamos ouvir agora o lado mais popular
do CD. Não é que Piazzola não seja popular, ele fica na fronteira entre o
clássico e o popular. - disse o Ricardo Santoro (ou teria sido o Paulo
Santoro?)
-E a música – prosseguiu – é Tico-Tico
no Fubá, de Zequinha de Abreu.
Estivesse lá o Dieckmann e diria,
depois da audição que todos nós aqui rebolamos. Seu companheiro de muitos anos
foi mais contido:
-Essa incursão na música popular é fundamental.
- disse pensando, talvez, que o seu pai, Paulo Fortes, gravou um LP de serestas
estimulado pelo Hermínio Bello de Carvalho.
Eles concordaram imediatamente.
-Sim, para fisgar o público da música
popular para a música clássica, isso potencializa o nosso público.
Para uns, Placido Domingo gravando com
Simone e Luciano Pavarotti com Roberto Carlos e quejandos, vulgarizaram a
música erudita, mas tocar uma peça como
“Tico-tico no Fubá” não desagrada, a nosso ver, os ouvintes exigentes,
apenas aqueles que cultivam a afetação intelectual.
Sérgio Fortes anunciou uma pausa para
meditação, crônica do Fernando Milfond, que tratou de sexo. Como o cronista não
era o Simon Khoury, pularemos essa parte.
Encerrada a meditação, que nada tinha
com o budismo e com a busca da iluminação, vieram os reclames da Rádio Roquette
Pinto, e um deles chamou a nossa atenção: o programa apresentado por André
Cardoso todas as segundas-feiras, às 22h, “Concertos UFRJ”.
-Damos prosseguimento ao Rádio Memória,
que tem a honra de receber os Irmãos Santoro.
E continuou o Sérgio Fortes:
-Destaco uma característica de vocês:
atuam em várias frentes; orquestra, trio, quarteto... Vocês são operários da
música.
E, então, anunciou que ouviríamos o
quarteto...
-Agora não é o quarteto, é o trio... -
foi corrigido num clima de muita descontração.
-Vamos ouvir o Trio Aquarius formado
por Ricardo Amado, no violino, Flávio Augusto, no piano, e Ricardo Santoro, no
violoncelo.
-E o que será?
E o irmão que participa do trio
respondeu:
-Vamos ouvir o quinto movimento das
“Miniaturas Brasileiras”, de Villani Cortes, Baião.
Do
trio passou-se para o quarteto, do baião para a valsa, do Ricardo para o Paulo,
pois só este, dos Santoro, pertence ao Quarteto Radamés Gnattali.
-Eu adoro o Radamés Gnattali e a
composição que vamos tocar é “Valsa”.
-O grande Radamés Gnattali! - vibrou de
admiração o Sérgio Fortes e a valsa foi ao ar.
-É uma valsa que nada tem a ver com as
valsas vienenses, é uma valsa carioca. - disseram.
Lembrei-me, então, de uma frase de
Schumann sobre as valsas de Chopin:
-Não é uma valsa para o corpo dançar e
sim para o espírito.
-O Quarteto Radamés Gnattali é formado
por Carla Rincón e João Carlo Ferreira, nos violinos, Fernando Thebaldi, na
viola, e eu, no violoncelo. - concedeu créditos a todos.
-E o futuro? ... Eu sei que vocês vão
gravar novos CDs, música popular como “Tico-Tico no Fubá”'
-Sim, vamos gravar música popular
brasileira com convidados. Provavelmente, teremos um pandeiro no “Tico-Tico no
Fubá”. Vamos nos apresentar em vários eventos: Festival de Domingo Martins,
Festival de Vassouras, Campos de Jordão...
-Encontro referências no jornal sobre o
CD de vocês que está muito bem divulgado.
-O Globo fez uma crítica de meia página
sobre nosso CD. É claro que a Filarmônica de Berlim merece uma página inteira,
mas meia página sobre música clássica nacional ... enfatizou o Ricardo Santoro
o êxito da divulgação.
-E agora? - pediu o substituto do Jonas
Vieira mais música.
-De um ícone para outro, de Radamés
para Francisco Mignone. Ele foi meu tema de mestrado, assim como o do Paulo.
Tocaríamos com a Filarmônica de Berlim, além do Villa Lobos, Francisco Mignone.
Depois dessa introdução, disse o que
ouviríamos:
-Vamos tocar “Modinha”, que ele compôs
para fagote e nós, facilmente, adaptamos para violoncelo.
Depois, Sérgio anunciou que o programa
seria acelerado para que escutássemos mais gravações.
-Alexandre Schubert, um jovem
compositor, fez para nós, especialmente, “Duo”, com três partes: jovial, lento
e vivo.
-Apesar do nome Schubert, ele é jovem. -
esqueceu o Sérgio a aceleração que pedira, para não perder a piada.
Depois da gravação, elogiou a
versatilidade dos irmãos que gravaram até os Beatles.
-Vamos ouvir “Eleanor Rigby”.
Bem, George Martin, o quinto Beatle,
tinha formação clássica, por isso, a nosso ver, a canção soou tão bem aos
ouvidos, como outras do quarteto de Liverpool soariam.
Rádio
Memória chegava ao final. Sérgio Fortes exultou:
-Um luxo! O Jonas Vieira não sabe o que
perdeu.
Nos agradecimentos, o clima ficou ainda
mais descontraído quando o Sérgio Fortes informou que os irmãos também são
excelentes cozinheiros, que trariam um mimo comestível para ele, mas que a
esposa de um dos gêmeos não deixou, infelizmente, que trouxessem. Se tivessem
trazido, Sérgio se lembraria inevitavelmente do glutão Dieckmann e modificaria
sua frase:
-Dieckmann, você não sabe o que perdeu.
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