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quarta-feira, 3 de julho de 2013

2418 - mais calado do que nunca 4


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4218                                    Data:  28 de  junho de 2013
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A MÃE DA RÁDIO FM E DO SIMON KHOURY
PARTE II

No princípio, era só uma FM, a Rádio Imprensa.
-Nós ligávamos a FM à música ambiente. - comentou o Sérgio Fortes.
-Sim, mamãe não queria música de impacto, que tirasse a atenção de quem estava trabalhando.
-Era também a música dos elevadores. -lembraram.
A palavra voltou para o filho da grande pioneira da radiodifusão do nosso país.
-O seu pai, Serginho (o barítono Paulo Fortes), sabia melhor do que ninguém que o sucesso vinha de baixo para cima.
Talvez ele aludisse, sem verbalizar, ao fato de Verdi ter escondido, até a estreia do Rigoletto, a ária La donna e mobile, já prevendo o êxito popular  estrondoso que alcançaria.
-O povo é que fazia o sucesso, cantando marchinhas no carnaval, por exemplo. O sucesso vinha de baixo para cima em todo lugar, como o Torna Sorriento, La Paloma... Hoje, é o contrário: a mídia é que impõe. Coloca-se, por exemplo, uma titica numa dessas telenovelas da Globo e está todo mundo ouvindo, cantando essa porcaria.- prosseguiu Simon Khoury com palavras ainda mais contundentes do que as que aqui estão reproduzidas.
Jonas Vieira interveio com uma exceção: a novela das 9h “Amor à Vida”.
-Uma trama muito bem urdida a dessa novela do Walcyr Carrasco.
Foi interrompido pelo seu convidado:
-Você sabe que o Walcyr Carrasco tem uma teoria, que todos somos homossexuais, mas que alguns relutam, não querem brincar?...
-Jonas está na linha do Arthur Xexéo, que diz que não assiste mais às novelas.
-Não se tratada disso – retorquiu – os atores são excelentes, o enredo é muito bem amarrado.
Sérgio Fortes citou os clichês das telenovelas, Simon Khoury acrescentou mais alguns. Jonas Vieira, diante da provocação, disse que não discutiria isso, mas acentuou que as exigências mercadológicas muitas vezes obrigam o autor a espichar os capítulos, o que é lamentável. E citou a palavra inglesa que expressa uma história bem urdida.
-Você sabe como é café em árabe?- devolveu o Simon Khoury.
-Qahwa. - respondeu.
Antes que um fumegante qahwa fosse servido, Jonas Vieira lhe pediu a próxima música a ir ao ar.
-Eu cantei a pedra que “O Artista” ganharia o Oscar de 2012. - foi a sua introdução antes da escolha.
-A trilha sonora é do Ludovico Bource e é uma das suas composições que vamos ouvir.
-C' est magnifique. - foi a reação afrancesada do Jonas Vieira.
Simon Khoury se queixou do lixo musical que varejam nos nossos ouvidos, enquanto fica de fora, no Brasil, um compositor francês e arranjador, como Ludovico Bource, que é influenciado por Ravel, Debussy e Prokofiev.
Depois, o titular do programa aludiu rapidamente ao avanço da FM, Sérgio Fortes acrescentou o AM digital, talvez com um som ainda mais limpo, e o diálogo enveredou para o avanço da ciência. Jonas Vieira enalteceu a criatividade tecnológica dos americanos, Sérgio Fortes ressaltou que esses cientistas são os estrangeiros que vão para os Estados Unidos, Simon Khoury concordou:
-Não vou discutir isso, mas, na verdade, são os americanos.
A nosso ver, os Estados Unidos deveriam se chamar Países Unidos da América do Norte, pois foram os imigrantes que para lá foram que tornaram esse país tão avançado no amplo espectro da ciência, sem esquecer os cientistas alemães aprisionados na Segunda Grande Guerra. Na política, dois dos maiores presidentes desse país tinham ascendência holandesa, Theodore Roosevelt e Franklin Delano Roosevelt. 
Jonas Vieira investia agora, com toda razão a nosso ver, contra os brasileiros que, em geral, discutem o sexo dos anjos. Incrivelmente, Simon Khoury ouviu a palavra sexo e não contou piada alguma.
Chegou, então, a pausa para meditação, crônica do Fernando Milfont na locução do José Maurício.
Aproveito e faço também a minha meditação. Nos anos 70, quando frequentei assiduamente o consultório do Dr. Jerônymo, a sintonia na Rádio Imprensa era imprescindível para que todos ficassem relaxados. Em 1977, quando trabalhei no Jornal do Brasil, no faraônico prédio da Avenida Brasil 500, que afundou de vez os órgãos de imprensa do Nascimento Brito, o orgulho de todos lá era a Rádio Cidade, mas sobre ela, Simon Khoury falaria  mais tarde.
Descobri, depois, que o Edoardo Pacelli, que já mencionamos, apresentava um programa na Rádio Imprensa com trechos operísticos, nas noites de domingos e me tornei ouvinte assíduo. Recentemente, soube que apresentava um programa na Rádio Roquette Pinto, Italiamiga, em que tive oportunidade de ouvir o Hino Nacional Italiano na soberba voz do tenor Mario Del Monaco. Falando em hino, o da Espanha até que poderia ser tocada na Rádio Imprensa, pois não tem letra.
Encerrada a pausa para meditação, Jonas Vieira pediu uma música ao seu convidado.
Simon Koury surpreendeu com o tango Por una cabeza, dos turfistas Carlos Gardel e Alfredo Le Pera, gravação do “Sax at the Movies”, num arranjo que mistura saxofone e bandoneón.
Sérgio Fortes e Jonas Vieira teceram elogios a esse tango e ao gênero musical num sentido mais amplo.
-Quem foi o saxofonista?
-Foram cinco saxofonistas se revezando. - esclareceu  Simon Khoury.
Na gravação seguinte, Simon Khoury exacerbou a expectativa de todos falando que se tratava de um tema que teve 14 versões diferentes. Constatou-se, depois, que era um tema por demais conhecido dos apreciadores da boa música instrumental. Simon Khoury fez uma correção, não era Ray Anthony, e sim Ray Conniff.
-São todos da família Ray. - contemporizou o Sérgio Fortes.
O titular do programa depois de afirmar a sua preferência por Ray Anthony, disse que os dois pertenceram à orquestra de Glenn Miller.
-Glenn Miller é como o Noel Rosa no Brasil, está sempre presente. - arrematou.
-Simon, quando começou a propagação da FM?
À pergunta do Sérgio Fortes, ele se reportou a um sobrinho da Condessa Pereira Carneiro, diretora-presidente do Jornal do Brasil, que, ao viajar para Miami, trouxe de volta uma emissora FM para jovens, nos mesmos moldes de lá, que viria ser a Rádio Cidade. Era o avesso da programação da Rádio Imprensa.
Quando foi abordado para optar pela próxima gravação, Simon Khoury deu mais um presente aos “madrugadores” daquele domingo: um arranjo do Henry Mancini de um pout-pourri que começava e fechava com composições de Michel Legrand e, no meio, uma dolente música de Francis Lay.
No meio dos elogios ao convidado, Sérgio Fortes registrou que o cachê do Simon Khoury é apenas 14 copos de café ou qahwa.
E o ponteiro do relógio correu muito e já se aproximava das 9h da manhã. Tempo ainda para Simon Khoury acentuar, orgulhosamente, que nasceu na mesma data de Antônio Carlos Jobim.
-Tom Jobim está em péssima companhia. - não perdeu o Jonas Vieira a piada.
Enquanto ele e Sérgio Fortes terminavam o brilhante programa daquele domingo, nós encerraremos esta edição do Biscoito Molhado com as palavras do Edoardo Pacelli.
“A Rádio Imprensa FM tem o mérito, também, de ter realizado o primeiro transmissor construído no Brasil, devido às dificuldades de importação. E a própria emissora, com o comando da sua Presidente, teve de iniciar a primeira indústria de rádios receptores de FM. Com programação exclusivamente musical, sem qualquer locução, a Rádio Imprensa era, até 1976, a única emissora em FM no ar no Brasil. Somente 20 anos depois de sua inauguração, com o boom das FM, surgiram as outras emissoras.”
“Anna Khoury, a pioneira, a mulher que soube fazer de um sonho dourado, um Eldorado sonho.”




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